Guloseimas alternativas
Marcas sem loja física fazem sucesso em eventos ao ar livre comercializando produtos com versões e apresentações diferenciadas
Para a barista Thamy Bruno, fazer brownies para vender foi uma medida emergencial. Uma fonte de renda após abandonar o emprego, ao fim da licença-maternidade do primeiro filho, no início de 2013. Desempregada, a atual sócia-proprietária da Biscoitíssimo explorou no dom para a cozinha, e no faro apurado por novidades, o início para uma nova carreira. “Não tínhamos expectativa nenhuma”, lembra. Tanto que um dos primeiros pontos de comercialização do bolinho norte-americano era a porta do colégio do filho, em Águas Claras. Após o convite para participar de uma pequena feira, veio o estalo para o potencial que esse tipo de evento viria a ganhar: “Hoje, é o que mais nos sustenta”, afirma, depois de ter aumentado seu leque de produtos para três sabores na versão do brownie em pedaço (chocolate meio amargo, chocolate branco com castanha-do -pará e chocolate meio amargo com pedaços de doce de leite caseiro) e quatro para a receita de colher – seu carro-chefe –, como a que mescla o pedaço do doce com camadas de brigadeiro de amarula, creme branco e nozes.
Com presença em encontros pequenos e até em grandes festivais, a Biscoitíssimo acabou alterando o rumo da história que Thamy havia imaginado. “É um trunfo para quem ainda não tem loja física. É um veículo fantástico de divulgação”, constata.
Ex-coordenadora de eventos da Associação Brasileira de Sommeliers, Eidra usou o conhecimento em bebidas alcoólicas para chegar às suas principais receitas. Brigadeiros de uísque com chocolate 80% cacau, cupcakes de espumante com morango e macarons de tequila com raspas de limão são apenas algumas das criações que lembram um balcão de drinques ornamentados. Apresentar novos produtos e experimentar receitas, vendo de perto a aceitação do público, é um dos pontos altos que esse tipo de negócio alcança, acredita a microempresária. Por isso até que ela prefere participar de feiras com foco no viés gastronômico. “As pessoas estão mais dispostas a ir e provar coisas diferentes”, indica, lembrando eventos como o Deguste!, em que grandes chefs de Brasília apresentam seus trabalhos ao lado de profissionais que estão começando.
O preconceito com pão de mel, “um doce de balcão de padaria”, não poderia ter se provado mais contrário na vida de Luciana Fernandino. Foi a pedido de um dos seus professores do cursinho que veio o desafio de fazer uma versão diferente do quitute. “Eu não posso fazer uma coisa tão óbvia”, lembra-se do pensamento que teve no fim de 2012, quando fazia brigadeiros para vender nas horas vagas. E foi então que surgiram os sabores pouco convencionais. Dos mais caseiros, como o abóbora e abacaxi com coco, aos bem combinados chocolate com pimenta, café e doce de leite com flor de sal, e até o integral. Mas foi só um ano depois que veio o convite para participar, com os produtos gourmet, do lançamento de uma coleção, em um ateliê da cidade. Primeiros contatos feitos e, um mês depois, estava acertada sua participação no Quitutes da Ermida Dom Bosco. “Esse evento foi totalmente um divisor de águas”, conta, ao citar as 500 unidades do doce vendidas horas antes do fim da edição.
Lilian Lopes tem a mesma impressão: “A quantidade de likes que aparece na página do Facebook na semana das feiras é impressionante”, frisa a confeiteira que, após ingressar em três cursos superiores diferentes, diz que encontrou sua profissão de vocação. “Eu descobri o que eu quero fazer da vida”, conta, em meio a dezenas de bolinhas envoltas de chocolate e ornamentadas em palitinhos decorados. Fã de doceria, ela apostou nos popcakes (cakepops, nos Estados Unidos) e acertou.
Hoje, os estandes liderados por Lilian, que em breve devem receber a patente da marca Boníssimo, continuam com a versão brasileira do pirulito de bolo, em 17 sabores (negresco com cream cheese, red velvet, nutella e ovomaltine são os que mais saem), mas não param de receber novidades. A limitação fica apenas pela linha de produto que escolheu seguir: “Eu trabalho com bolo”, explica, para apresentar as muitas formas que a receita surge. De brigacakes, potinho com a massa recheada por diferentes tipos de brigadeiros, a nakedcakes incrementados, passando por bolos envoltos por chocolate KitKat. “Esse é o foco: o cake”, enfatiza.
Tendo como referência a cozinha mediterrânea – fruto da experiência de um ano morando na Europa –, Bárbara ganhou destaque por fazer versões que fogem do comum e exploram o conceito do pouco sal e pouca gordura. Assim, sua carta de cheesecakes vem em quatro sabores (frutas vermelhas, goiabada cascão com redução de vinho, macadâmia com figo e chocolate trufado com café), todos disponíveis também em versão sem açúcar e sem lactose.
Para quem está acompanhando a cena que tem se construído na cidade, fica em evidência a atmosfera de ânimo aos novos empreendimentos. “A pessoa começa a pensar em produtos diferentes, em possibilidades e até fornecedores diferentes surgem com a conversa com outros expositores”, descreve a produtora Carol Monteiro. Otimista, desde os primeiros esboços para os projetos que viriam, ela assume que o cerrado superou suas expectativas. “Nós sabíamos que lidaríamos com uma grande energia, um grande movimento. Brasília estava com sede!”, conclui.