O mercado da parcialidade
Essas cenas no tablado mostram, a partir do surgimento dos jornais e dos grupos de mídia, que muitas práticas de séculos passados ainda servem para fermentar manchetes em pleno terceiro milênio. E as entrevistas, em sua grande maioria, convergem na conclusão de uma falência e da pouquíssima influência dos jornais na formação das opiniões e dos conceitos dos leitores, cada vez mais esporádicos. Além da crise do papel e de seu inevitável desaparecimento, da realidade da internet, com toda sorte de blogs e de redes sociais, há uma descrença com os nossos tradicionais meios e conglomerados, que rasgaram de vez a fantasia, deixando de escanteio o bom jornalismo para priorizar os seus interesses econômicos e políticos.
Pelas palavras do bem-humorado decano, o grande Janio de Freitas, hoje colunista da Folha de S. Paulo, desde a ascensão do governo do presidente Lula, houve um nítido desvio de rota. Observa-se uma má vontade, na cobertura do atual sistema político, com os aliados/vizinhos da América do Sul, sem falar dos programas sociais de governo. Seguido por nomes como Paulo Moreira Leite, Luis Nassif, Mauricio Dias, Raimundo Pereira e Mino Carta, para citar alguns depoentes pinçados por Jorge Furtado, chegamos à evidente e assumida sentença que parte significativa da nossa maior imprensa tomou para si o papel “legítimo” de fazer oposição.
Nos trechos do depoimento da insuspeita Renata Lo Prete, esse rito perigoso funciona, até mesmo pela debilidade que devasta a atual oposição política brasileira. Ao comentar sobre as fontes, Renata relembra que, quando o PT era oposição, o “material” fornecido aos jornalistas, para eventuais denúncias, era bem mais consistente e corriqueiro que o ofertado agora. Se fossem esperar pela colaboração e pelo esforço dos congressistas de fora da situação, os jornais deixariam de defender seu pirão, entre as fartas verbas publicitárias, que sempre estiveram em jogo.
Com a mesma audácia do inesquecível Eduardo Coutinho, Jorge Furtado não esconde seu espanto com a onda de pessimismo trazida sempre nas primeiras páginas, frente a uma realidade de consumo e novos acessos diametralmente oposta. Sem se esquecer das injustiças e dos absurdos, como o exemplo máximo do caso da Escola Base em São Paulo na década de 1990, com O Mercado de Notícias exalta a defesa, sempre na ordem do dia, de princípios fundamentais ao Estado Democrático de Direito.
A escolha certa: seria muito bom que um filme brasileiro aparecesse entre os cinco selecionados no próximo Oscar para concorrer na categoria de melhor estrangeiro. Por isso, é fundamental a consciente e responsável escolha por parte da comissão reunida pelo Ministério da Cultura. E pelo segundo ano (em 2013, O Som ao Redor foi o indicado), a seleção acertou em cheio com a aposta de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho como o pré-indicado para a consideração dos figurões da Academia em Los Angeles. O filme de estreia do diretor Daniel Ribeiro trata da descoberta da sexualidade de um adolescente cego. Um projeto feito com o coração, delicado, pensado para o público adolescente, que discute em momento crucial, a urgente pauta da diversidade sexual em nosso país.