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Vozes femininas no samba

Veteranas, novatas, intérpretes ou compositoras: qualquer que seja sua preferência, não faltam talentos para bem representar as sambistas brasilienses

Cecília Garcia - Redação Publicação:19/11/2014 12:00Atualização:19/11/2014 13:25

Carol Nogueira, uma das grandes revelações do samba brasiliense, fala da cena na cidade: 'Às vezes as vozes femininas se destacam, às vezes as masculinas. Mas acho que agora está bem equilibrado' (Vinícius Santa Rosa / Encontro / DA Press)
Carol Nogueira, uma das grandes revelações
do samba brasiliense, fala da cena na cidade:
"Às vezes as vozes femininas se destacam, às
vezes as masculinas. Mas acho que agora está
bem equilibrado"

Rodas de samba compostas por homens cantando, tocando diversos instrumentos e, ao lado, mulheres dançando. Apesar de batida, essa imagem não reflete a realidade na maioria das cidades brasileiras, incluindo Brasília. Inspiradas por ícones como Dona Ivone, Clara Nunes, Beth Carvalho, entre tantas outras, as sambistas da capital comandam bailes, casamentos, shows em bares e espetáculos nos mais diversos estilos. As representantes são inúmeras e não se limitam a cantar músicas de mulheres. Seus repertórios agregam canções de nomes como Noel Rosa, Cartola, Paulinho da Viola, João Nogueira e Martinho da Vila.


Uma influência comum para grande parte das cantoras do ritmo é a familiar. De origem carioca, ou de lares com aficionados pelo ritmo, são integrantes de casas onde pai, mãe, avós e outros parentes usam o samba como forma de comemoração e distração. Esse é o caso de Cris Pereira. A brasiliense de família carioca-capixaba teve “no berço” o primeiro contato com o estilo. A profissionalização na música, no entanto, aconteceu na adolescência, participando de corais. “Gostava muito do coral e, de lá, surgiram outros horizontes. Comecei a acompanhar muitas rodas de choro e samba que dialogavam muito aqui nessa época, no começo dos anos 2000”, conta.  Sua primeira banda foi a Batucada de Samba, e a carreira solo começou em 2005.


Além de cantar, Ana Reis compõe letras no estilo samba-canção: influências de mestres como Paulinho da Viola (Vinícius Santa Rosa / Encontro / DA Press)
Além de cantar, Ana Reis compõe letras no
estilo samba-canção: influências de mestres
como Paulinho da Viola
Hoje Cris é historiadora e tem mestrado em história cultural, mas sua ocupação principal continua sendo a música. Ela tem uma produtora cultural e gosta também de montar espetáculos, shows. “Do samba, eu me interesso mais pelas coisas antigas. Gosto muito de Dona Ivone, Cartola. Ou mais meio-termo, como Luiz Carlos da Vila.” Apesar de delimitar suas preferências, a cantora acredita que Brasília tem espaço para todo mundo. Para ela, as intérpretes daqui têm trabalhos diferentes dentro de cada estilo e isso reforça que as artistas fazem uma boa pesquisa musical para compor seus repertórios. “É um cenário bem democrático, diverso e unido. Todo mundo se conhece”, diz.


Kris Maciel, também cantora, não compartilha totalmente as ideias da xará. “Concordo com Cris, sim, quando ela diz que há essa amplitude, mas quanto à união, acho que poderia ser um pouco mais.” Segundo a sambista, Brasília é muito musical e acredita que a cidade tem cantoras belíssimas trazendo de tudo um pouco dentro do samba. “O cenário musical daqui está crescendo, recebendo várias pessoas. Os novos artistas que estão chegando são muito bons e quando junta todo mundo nessas grandes rodas dá para perceber a junção dessas características. Fica superbacana”, diz.


Para Kris Maciel, o cenário musical daqui está crescendo: 
'Os artistas que estão chegando são muito bons', diz (Vinícius Santa Rosa / Encontro / DA Press)
Para Kris Maciel, o cenário musical daqui está crescendo: "Os artistas que estão chegando são muito bons", diz
Para Kris, o trabalho na capital é complicado – as questões de horário e barulho limitam a ação das casas de shows. Além disso, nem sempre o trabalho agrada ao produtor de determinadas casas. “Mas eu procuro estar sempre no circuito. Não sou de recusar trabalho, a não ser que não tenha agenda.” Ela diz ainda que adora fazer voz e violão e prefere um repertório mais antigo. Versátil, há dois anos puxa samba-enredo na avenida.


Uma das grandes revelações do samba em Brasília, na opinião de Kris, é Carol Nogueira. A carioca de origem, mas brasiliense desde os 6 anos de idade, teve seu primeiro contato com a música quando cantava junto ao grupo jovem da igreja São Camilo, na adolescência. Mais tarde passou a frequentar sambas e há cinco anos começou a cantar profissionalmente em bares pela cidade. Houve uma época em que deixou a música um pouco de lado para se dedicar à faculdade de direito, mas ficou apenas no diploma. Hoje sua profissão é cantar, tendo projeto financiado por meio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC).


'É um cenário bem democrático, diverso e unido. Todo mundo se conhece', diz Cris Pereira, sobre os amantes das rodas de samba em Brasília (Vinícius Santa Rosa / Encontro / DA Press)
"É um cenário bem democrático, diverso e
unido. Todo mundo se conhece", diz Cris
Pereira, sobre os amantes das rodas de
samba em Brasília
Com relação à participação das mulheres no samba, Carol acredita que está em pé de igualdade com os homens. “São ondas, marés. Às vezes as vozes femininas se destacam, às vezes as masculinas. Mas acho que agora está bem equilibrado”, comenta. Carol é intérprete, mas está trabalhando em algumas composições. Gosta de cantar músicas de Cartola, Noel Rosa e João Nogueira.


Uma representante das compositoras entre as cantoras é Ana Reis. A criação de músicas começou quando foi contemplada no FAC para gravar um disco. O produtor do projeto, João Ferreira, foi quem deu um empurrãozinho para que ela começasse a compor. “Ele foi meu maior incentivador”, conta ela. Assim como Carol Nogueira, Ana começou a tocar em bares em 2005. Antes disso, cantava em igrejas. Foi um amigo que a apresentou ao mundo do samba, a Noel Rosa e a Cartola.


Ana compõe letras e seu estilo é o samba-canção, parecido com o de Paulinho da Viola. Por não fazer a parte musical, sempre acaba recorrendo a parcerias para seus projetos. Inclusive, já tocou projetos com Cris Pereira. Formada em farmácia, vive a complicada rotina de combinar as duas profissões. “É difícil. Sempre convivi nessa encruzilhada”, conta. Atualmente, não toca mais em bares. Está se dedicando ao DVD que vai gravar no ano que vem. Fora isso, só eventos fechados. Os bares ficaram para trás.

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