Charles Lindberg,
com a filha Isabelle,
de 6 anos: "Se ela ficasse em casa
à tarde, não faria
uma atividade física, nem interagiria
com outras crianças"
É cada vez maior o número de pais que optam pela educação integral dos filhos, mesclando atividades esportivas, lúdicas e educacionais. Por vezes, os responsáveis preferem deixar as crianças, por comodidade ou por já estar familiarizado com a estrutura da escola, o dia todo na mesma instituição de ensino, realizando atividades que não fazem parte do currículo obrigatório no chamado período de contraturno. Outras opções envolvem deslocamentos, mas a criança tem a oportunidade de vivenciar ambientes diferentes e conviver com outros amigos. Seja qual for a escolha, alternativas para todos os tipos de exigência e preferências dos pais têm se espalhado pela cidade.
Gileo Douglas, gerente de unidade da
academia Unique: "As modalidades
são escolhidas de forma criteriosa,
com base em literatura especializada"
Um pouco diferente é a proposta do Colégio Internacional Everest Brasília. A instituição segue o calendário brasileiro, mas a rotina é mais parecida com as escolas do exterior. O dia letivo começa às 8h e segue até as 15h45. As aulas extracurriculares são oferecidas das 16h às 17h, mas o aluno só pode cursar uma por dia. Apesar de as atividades serem ministradas por empresas parceiras da escola, a grade extracurricular foi montada alinhada à proposta institucional, segundo a qual o aluno precisa, depois de um dia de estudos, de atividades esportivas. “Mas, às 17h, as crianças têm de estar em casa. É hora de tomar um banho, descansar, fazer o dever de casa, para poderem conversar com os pais à noite”, explica a diretora, Ivana Cavalcante Fabrino.
As aulas extracurriculares são voltadas para os alunos no ensino fundamental I e desenvolvidas por meio de parceiros: escolinha do Guga, Cardim Sports e companhia de dança Carol Dornas. Além deles, a própria escola oferece aulas de xadrez. Nesta turma, se o aluno faltar mais de duas vezes, perde a vaga. “É um oferecimento do colégio, então tem de dar valor”, explica a diretora. Todo início de semestre, é enviado um comunicado para os pais informando quais atividades serão oferecidas e os contatos das empresas. “Por isso, buscamos a dedo os parceiros, porque são pessoas que estarão aqui dentro, cuidando do espaço, dos alunos. Os pais acreditam que a escolha que fazemos é a melhor para oferecer a eles.”
Aula de ginástica na academia Unique: os pais escolhem as atividades de uma grade fixa
Uma opção para crianças cujas escolas não contam com aulas extracurriculares ou regime integral são os programas oferecidos pelas academias esportivas. No Setor Sudoeste, a Unique Kids conta com atividades físicas, artísticas e recreativas para crianças de 3 a 9 anos. Na grade horária para essa faixa etária, há uma série de modalidades esportivas, lúdicas e relacionadas à motricidade. Além disso, há um serviço de apoio pedagógico. Nele, a criança pode fazer os deveres de casa com supervisão de uma pedagoga ou ser estimulada por meio de histórias, leitura e trabalhos manuais.
Gileo Douglas, gerente da unidade, explica que, todo ano, a equipe responsável pela escolha das modalidades se reúne e faz uma análise das atividades. “A inclusão de uma modalidade é muito cautelosa. Só é feita se acreditarmos que aquela modalidade vai atingir, de alguma forma, os objetivos buscados.” Esses objetivos, segundo o gerente, são as habilidades que a literatura especializada indica para o desenvolvimento em cada faixa etária.
Coordenadora da Boobambu, Mariana
Fernandes, diz que o espaço oferece
três programas de acordo com a faixa
etária: até bebês têm seu lugar
Na academia, não há a possibilidade do pai matricular a criança em apenas uma modalidade e os profissionais orientam os pais na escolha das atividades para não sobrecarregar a criança. “Precisa haver um equilíbrio entre estímulo e recuperação. Quando formatamos a grade com os pais, damos assistência para ele não colocar atividades estressantes demais.” O responsável escolhe dois dias na semana, segunda e quarta ou terça e quinta, em um dos turnos, e assim pode selecionar as modalidades para cada um dos horários. As sextas-feiras são diferentes. As modalidades esportivas tradicionais e lúdicas dão espaço para gincanas, teatro e competições.
Quem é adepto de alternativas para o contraturno da filha é o consultor de seguros Charles Lindberg. Ele optou por deixar Isabelle, de 6 anos, praticando atividades fora da escola onde estuda, ainda que o local ofereça período integral. Essa foi uma maneira de a menina fazer as modalidades em outro ambiente, conhecendo pessoas diferentes. Um atrativo para Charles foi a possibilidade de a pequena ficar em um espaço com segurança, sendo orientada nas atividades. “Se ficasse em casa à tarde, não faria uma atividade física, nem interagiria com outras crianças.” Há três anos, Isabelle tem em sua rotina aulas de circo, ginástica, balé, capoeira e mais modalidades, além de recorrer ao serviço de apoio pedagógico.
Aula de zumba kids: dança para animar a garotada do LED, programa da Asbac, pioneiro em Brasília
Aula de futsal no colégio Everest, onde o turno já é estendido: várias atividades extras são oferecidas no contraturno das aulas
Unir o apoio escolar às práticas esportivas também faz parte da proposta da Associação dos Servidores do Banco Central (Asbac) desde a década de 1990 com o programa Práticas Infantis (PIN). Em 2009, este foi substituído pelo Departamento de Lazer, Educação e Desporto (LED). Nele, as crianças têm, além de modalidades esportivas e educacionais, a opção de usar um serviço de apoio pedagógico para auxiliá-las em seus deveres de casa. Em uma hora, os profissionais de pedagogia acompanham, tiram as dúvidas e corrigem as tarefas, além de, quando necessário, ajudarem a fazer trabalhos escolares.
As aulas não são apenas para associados e são oferecidas de segunda a sexta-feira, mas é possível frequentar menos vezes durante a semana. Podem-se escolher três modalidades por turno, cada uma com cerca de uma hora de duração. Nas sextas-feiras, a proposta é de socialização. Normalmente, as crianças são divididas por faixa etária, mas nesse dia participam de atividades, brincadeiras e dinâmicas que envolvem a todos. “É importante a criança saber interagir. O grupo fica homogêneo, todo mundo se conhece”, conta o professor do programa Luiz Renato Llorca Lopes.
Na Boobambu, professora dá aula de
leitura para as crianças:
liberdade para
aprender com brincadeiras e jogos
Uma opção que engloba de bebês a crianças de 9 anos é a Boobambu, localizada nas dependências de uma academia esportiva do Sudoeste. A proposta do local é desenvolver, com as aulas, os aspectos sociais, afetivos, motores e cognitivos das crianças por meio de uma metodologia própria.
A coordenadora Mariana Fernandes explica que o local surgiu com a ideia de ter um programa diferente, para trabalhar não só disciplinas específicas, mas desenvolver um ser humano de forma integral. São três programas diferentes, cada um com atividades voltadas a determinada faixa etária. Para os bebês, é apenas uma aula por turno, com duração entre 30 e 50 minutos. “Eles são muito pequenininhos e as aulas exigem muita concentração deles.”
Para os de 2 e 3 anos, há uma grade fechada, com aulas de leitura, psicomotricidade, entre outros. No programa kids, para alunos de 4 a 9 anos, eles podem montar a grade dentro das opções e não tem tempo definido, podem ficar o período todo ou frações.
Na Infante Day Care, as crianças podem ser matriculadas ou ficar apenas por um dia, sem vínculo: bastante procura das famílias com bebês
Aula de judô, uma das mo-
dalidades oferecidas na LED,
da Asbac: programa não é
exclusivo para sócios do clube
Para os pequeninos, de poucos meses de idade, há a proposta da Infante Day Care. O espaço de estimulação e cuidados diários funciona de acordo com as necessidades dos pais, podendo os matriculados ficarem no local de duas vezes na semana em meio período até cinco dias em período integral, por exemplo. Há crianças que não são matriculadas, mas passam o dia no local, dependendo de agendamento e disponibilidade da instituição. Eles participam das mesmas atividades e brincadeiras, têm os mesmos cuidados, mas não têm vínculo de matrícula. O local funciona desde setembro. Contudo, a data de inauguração, fora do calendário letivo usual, não atrapalhou as matrículas. “Essa faixa etária tem muita procura o ano inteiro, porque as mães voltam da licença-maternidade todos os meses”, explica a diretora e proprietária Tatiane Segato. A procura é grande principalmente para as crianças de 4 e 5 meses. Com um público tão novo, Tatiane explica que a escolha das atividades a serem realizadas foi feita por meio de pesquisa com crianças e famílias. “A nossa intenção era de que não fosse uma extensão da escola e sim uma extensão de casa.”