Quintal tamanho família
São 500 hectares de verde, mas apenas 10% da área do Jardim Botânico de Brasília está aberta ao público. É o suficiente para usufruir da natureza, conhecer espécies, fazer piquenique e compartilhar com amigos um dos locais mais queridos e aprazíveis da cidade
A área de visitação pública tem atraído cada vez mais pessoas nas manhãs de terça a domingo. Isso é facilmente percebido pela quantidade de famílias e grupos de amigos reunidos na área de piquenique, primeiro local de repouso após a trilha. Ali, mesas e coretos misturam-se a brinquedos. A quantidade de crianças frequentadoras da área é impressionante. Super-homens, Batmans e Homens-Aranhas se unem a princesas de todos os reinos em brincadeiras à moda antiga. Longe de toda a tecnologia de informação. Aliás, o uso de celulares e tablets é basicamente para o registro do momento.
Caminhando mais um pouco se chega à outra área repleta de visitantes. Nas dependências do Jardim há um bistrô famoso por seu café da manhã servido em mantas no chão, como se fossem mesas. O espaço é uma boa alternativa para quem esqueceu a canga, mas quer aproveitar o ambiente de piquenique. Mas é bom chegar cedo, porque rapidamente o local fica lotado.
Contudo, o entretenimento oferecido aos visitantes não é só relacionado à comida. Há o Jardim Evolutivo, com espécies diferentes como vitórias-régias em um laguinho com peixes. Há também uma antiga casa de chá. Apesar de vazia, permite aos visitantes uma bela vista. Mais à frente há o orquidário com espécies instaladas em troncos e galhos de árvores, espécies terrestres, rupestres e aéreas.
O espaço aberto à visitação é apenas uma pequena porção do Jardim Botânico e voltou para o cotidiano do brasiliense com mais força há poucos anos. “Aumentou muito a visitação, mas isso foi um processo. Tivemos de vencer alguns desafios para atrair as pessoas”, explica o diretor executivo do JBB, Jeanitto Sebastião Gentilini Filho. “As coisas foram mudando porque fomos qualificando mais o espaço, criando atrativos. Há um esforço dos jardins botânicos de socializar a informação que é produzida no meio acadêmico.”
Poucos sabem, mas o Jardim Botânico de Brasília está situado numa categoria institucional que desenvolve pesquisa, tem obrigação de fazer publicações científicas e ainda conta com uma interface muito forte de educação ambiental. Por isso, há as estruturas de visitação pública. O desconhecimento sobre a sua função é um dos motivos que levam muitas pessoas, erroneamente, a colocá-lo na categoria de parque.
Seu espaço total é de 500 hectares. Cinquenta deles destinados à área de visitação e à administração. O restante do espaço é a unidade de conservação, não aberta ao público.
A estrutura do Jardim é diferente. No DF, está vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do governo local. Também é associado a uma rede nacional de jardins botânicos e se articula a uma rede internacional. O trabalho é amplo. Um deles é o plano de ação dos JB de serem fiéis depositários de coleções botânicas. Os espaços se comprometem a ter em suas instalações coleções de plantas ameaçadas de extinção.
A área guarda em seu arquivo espécies da flora do JBB, do DF, de outros estados, da floresta amazônica e de alguns outros países. Provê informações precisas sobre as plantas e coordenadas georreferenciais do local de coleta. Além disso, conta com uma carpoteca – destinada ao armazenamento de uma coleção de frutos in natura –, uma xiloteca – arquivo de madeiras –, e um cactário. Este, composto em grande parte por doações da família do pesquisador Gilberto Brasil, desaparecido em meados dos anos 2000.
No herbário, por sua estrutura de climatização e conservação, encontra-se a coleção completa do livro Flora brasiliensis produzida no século 19 por Carl Friedrich Philipp von Martius, August Wilhelm Eichler e Ignatz Urban. A obra contém tratamentos taxonômicos de 22.767 espécies reunidos em 15 volumes, divididos em 40 partes.
Há no JBB uma coleção de 3.420 espécies de orquídeas, tanto no orquidário quanto nas dependências do laboratório de pesquisas. A diretora de manejo de recursos naturais, Lílian Breja conta que o espaço receberá doação de espécies pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama). Entre as plantas que virão está a “maior orquídea do mundo”, apelido dado à espécie Grammatophyllum speciosum.
No laboratório é realizada grande parte do trabalho de pesquisa do JBB. O espaço conta com uma cozinha onde se preparam as sementes de orquídeas para reprodução in vitro. O próximo passo é a incubação em ambiente com condições ambientais controladas. Dependendo da espécie, pode demorar até cinco anos para que a planta esteja em condição de ser transportada para a estufa, onde há muitas espécies em extinção. Há outra área que abriga mais de 2 mil espécies de orquídeas nativas e híbridas. Nessa parte, ficam as mais sensíveis, que exigem um cuidado maior, diferentemente das expostas no orquidário.
O Jardim Botânico é um espaço ecológico. Isso faz com que a pesquisa desenvolvida lá não seja só botânica. Precisa ser mais abrangente. Por isso, as Gerências de Preservação e de Monitoramento e Controle realizam projetos de preservação dos animais. A maioria dos projetos envolve identificação, monitoramento, atualização e controle tanto de aves, mamíferos, animais domésticos e outros. Nesse trabalho, já identificaram 18 espécies de serpentes, além de relatos da presença de veados, tamanduás e gatos-do-mato.
Poucos pontos da cidade abrigam tamanha diversidade ecológica e promovem esse tipo de lazer. Mesmo aos fins de semana, quando chega perto do limite de sua capacidade, o que predomina no Jardim Botânico de Brasília é o som da natureza. Os funcionários são poucos, mas a maioria gosta do que faz, e isso é perceptível aos visitantes. As trilhas de bicicleta e a pé, os locais para meditação, a gastronomia, os ambientes para curtir com a família, amigos e até mesmo sozinho são sempre uma boa opção. z