O buldogue francês Spyk Tyson acompanha os donos Fernanda Rocha e Luiz Gustavo Guimarães ao Parque da Cidade: tem cansaço, mas sobra alegria
Adotar um estilo de vida ativo não é importante só para os humanos. As- sim como seus donos, os pets precisam se exercitar. Uma pesquisa da Associação para Prevenção da Obesidade Animal (Apop, sigla em inglês) revelou que, nos Estados Unidos, 57,6% dos gatos e 52,6% dos cães estão acima do peso ou obesos, condições que podem desencadear osteoartrite, diabetes, doenças cardíacas e câncer, bem como diminuir a já curta expectativa de vida dos animais domésticos. Além de garantir a saúde dos pets, praticar esportes com eles é um momento único de cumplicidade e muita diversão.
Mantê-los longe do sedentarismo pode ser mais empolgante que a caminhada básica pela quadra. Que o diga a professora de educação física Tatiana Holanda. Há oito anos, ela divide o dia a dia com Dust, um jack russel terrier, que tem pique de filhote. Como é fã de esportes ao ar livre e não abre mão de estar com o pet, Tatiana o habituou, desde cedo, a manter as patinhas ativas.
Dust, o jack russel terrier de Tatiana Holan- da, tem pique de filhote: com 8 anos, já cor- reu até maratona e é fã de esportes ao ar livre
Quando Dust tinha 2 anos, por exemplo, a professora treinava para uma meia maratona, acompanhada do melhor amigo. Ao ver que ele estava cansado, Tatiana acomodava o cão na mochila e continuava a passos largos. O mesmo acontece nos dias em que anda de bicicleta. Dust vai na calçada, no ritmo da dona, até pedir arrego e pular para a bolsa.
A intimidade do jack russel com os esportes, porém, começou ainda filhote, aos 6 meses de idade. Para não deixá-lo sozinho em casa, Tatiana o levava para a faculdade. “Brinco que ele é formado em educação física”, diz. Nas aulas ministradas pela personal trainer, Dust também vai junto. “Ele que é o professor”, diverte-se Tatiana. O pet está tão acostumado a acompanhá-la que é só vê-la pegar as chaves que ele já se levanta, pronto para sair.
No Parque da Cidade, Dust é bem conhecido dos esportistas que jogam frescobol perto do quiosque do atleta. Outro point da mascote é o Lago Paranoá. Inimigo de banho, ele adora, porém, passear pelas águas mansas do cartão-postal de Brasília, a bordo da prancha de Tatiana. O praticante de stand up paddle (SUP) pula para a prancha e fica quietinho na ponta, en quanto a dona rema pelo lago. Tanta atividade física parece ter rejuvenescido Dust. “Ele tem muito gás!”, comemora a professora.
O publicitário Raphael Pontual faz exercícios com os golden retriever Fly, de 5 anos, e Zen, de 3 anos: antes dos câes, era sedentário; de- pois, perdeu 50 kg
Para o publicitário Raphael Pontual, os exercícios com os animais fazem bem à própria saúde. Antes dos golden retriever Fly, de 5 anos, e Zen, de 3 anos, ele era sedentário. Mas, há três anos, quando decidiu que teria um cachorro, tudo isso mudou. O primeiro a chegar foi Zen, ainda filhote. “Por causa dele, comecei a fazer caminhadas. Quando resolvi ter cachorros, escolhi dar a melhor qualidade de vida para eles. Meu compromisso era deixá-los exaustos, porque cachorro cansado é cachorro feliz”, afirma.
Ele já havia abandonado o sedentarismo quando adotou Fly, que veio adulto, de uma casa onde ficava trancafiado o dia inteiro em um canil. O animal chegou estressado, querendo morder todo mundo, mas as longas caminhadas e corridas com Raphael mudaram o temperamento do golden. “Hoje, você pode colocar um cachorro na boca dele que ele não faz nada”, garante.
A rotina do publicitário mudou para oferecer o bem-estar que os cães merecem. Às segundas e quintas, eles passam o dia em um day care canino, de onde chegam exauridos. Às terças, quartas e sextas, a dupla cor- re no Lago Sul com Raphael. Nos fins de semana, é quando o exercício fica mais puxado. “Começo levando os dois para nadar,depois vão brincar soltos no gramado da Esplanada”, diz. Isso sem contar com as caminhadas aceleradas. “Não é uma corrida para mim, é um exercício para eles”, esclarece. Contudo, ao sair para cansar seus cães, Raphael acabou tomando gosto pela atividade física. Resultado: per- deu 50 kg.
O publicitário, porém, recomenda a outros tutores que tenham cuidado com os excessos e os horários. “Há pessoas que correm com o cachorro ao meio-dia no asfalto quente”, critica. O próprio Zen, apesar de todos os cuidados, acabou rompendo um ligamento de tanto se exercitar. “Foi uma cirurgia complicada, ele ficou três meses se recuperando. É muito importante ter cuidado. Conheço golden que enfartou”, relata.
A médica veterinária Ana Catarina Vale, da clínica NaturalPet, esclarece que, antes de colocar o pet para malhar, o ideal é levá-lo para uma consulta mais completa. “É necessário checar se o animal não tem nenhuma desordem em seu organismo antes de começar os treinos”, diz. Segundo ela, outro cuidado é vacinar contra leishmaniose o pet que faz esportes em trilhas e no lago. “Seria indicado, pois ele estará exposto a um ambiente diferente e pode existir o vetor da doença. A vacina não tem 100% de eficácia, porém é a única maneira de prevenir a doença hoje”, diz.
Vacinar o pequeno Spyk Tyson, de 6 meses, para que ele possa se divertir no Lago Paranoá está nos planos do casal Fernanda Rocha e Luiz Gustavo Guimarães de Azevedo. Malhadores de carteirinha, a recepcionista e o brigadista não pretendem deixar o buldogue francês de fora das atividades físicas que costumam fazer. “Sempre pensamos em colocar o Spyk para fazer um monte de coisa para ele ficar bem forte. Ele não vai ser gordinho não”, avisa Fernanda. Como todo filhote, o buldogue é bastante ativo e adora brincar de disputar com Luiz Gustavo seus brinquedos, em especial, um pneuzinho de plástico.
Em breve, o pet vai ganhar um pneu de kart de verdade, para puxar no campo de areia: Spyk será um praticante de crossfit. Assim que estiver um pouco mais velho, o buldogue também deve acompanhar os “pais” em uma atividade que ambos adoram: correr. “Vamos começar aos poucos, ele não pode correr muito porque o focinho é achatado”, observa Luiz Gustavo, que já encomendou o pneuzinho em uma borracharia.
Se Spyk Tyson será treinado para ganhar músculos, o vira-lata Caju é quase um maratonista. Há quatro anos, ele chegou à casa do jornalista Daniel Malva sem ser convidado. “Ele apareceu na minha garagem e foi ficando, ficando...”, recorda. A família se apaixonou pelo cãozinho, que se transformou no companheiro de corrida de Daniel. “Hoje ele é meu parceiro”, conta. “Eu já corria, mas ele virou meu parceirão. Corro com ele três, quatro vezes por semana, e garanto meu dia de paz. Quando ele não corre, fica nervoso”, diz o jornalista.
O vira-lata Caju é o parceiro de corrida do dono, o jornalista Daniel Malva: "Quando ele não corre, fica nervoso"
Caju está acostumado a corridas de até 10 km. E está com um preparo físico invejável: “Antes, ficava cansado, mas agora está supercondicionado”, orgulha-se Daniel. Mas, na volta para casa, o vira-lata entrega os pontos e passa o dia inteiro deitado, recuperando-se do treino. O pet gosta tanto da atividade que, ao ver Daniel se preparar para sair, pega, ele mesmo, a guia com a boca e acompanha, feliz, o dono, rumo a mais uma sessão fitness.