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O despertar místico

Autoconhecimento, curiosidade, previsões do futuro: que motivações levam os brasilienses a buscar orientações nos oráculos?

Sara Campos - Publicação:26/02/2016 08:15Atualização:26/02/2016 12:02
A curiosidade pelo universo holístico permeia a mente humana desde a antiguidade. Na história das civilizações, a ciência e os oráculos eram vertentes diretamente relacionadas. Um dos grandes exemplos dessa relação, a astrologia atraiu os estudos de Isaac Newton e René Descartes, nomes com trajetórias popularmente marcadas pela racionalidade. O mapa astral, uma das ferramentas astrológicas mais utilizadas para autoconhecimento, era tomado pelos monges nos templos budistas para confirmar o que eles acreditavam ser a chegada das reencarnações de Buda Sakyamuni. Já a quiromancia era defendida como estudo por Platão e Aristóteles e a numerologia tem como pai ninguém menos que o matemático grego Pitágoras.
'Muitas pessoas recorrem aos búzios procurando magia, mas isso não existe', esclarece o pai de santo Veber Brasil (Vinícius Santa Rosa/Encontro/D.A. Press)
"Muitas pessoas recorrem aos búzios procurando magia, mas isso não existe", esclarece o pai de santo Veber Brasil

A inclinação da capital do país para formas alternativas de autoconhecimento e previsões do futuro reflete uma população aberta a interpretações de diferentes origens. “Brasília é um local de salvação e busca espiritual muito forte. As pessoas daqui são mais espiritualizadas e estão abertas a perceber que a espiritualidade está presente em tudo. Elas são mais educadas para estudá-la e recebê-la”, ressalta Murici Galasso, diretor do site Guia Lótus, dedicado a conteúdos do universo holístico. Para adentrar nesse universo, Encontro Brasília entrevistou cinco renomados especialistas que revelam a história e a essência dos oráculos mais procurados na capital.

'O café tem muita energia,
mostra o momento atual e
 qual será será o próximo
 passo', explica a cafeomancista 
Lidija Milovic
 (Vinícius Santa Rosa/Encontro/D.A. Press)
"O café tem muita energia,
mostra o momento atual e
qual será será o próximo
passo", explica a cafeomancista
Lidija Milovic
As viagens da mãe pelos países do Oriente Médio durante missões na Cruz Vermelha fizeram com que Lidija Milovic, mais conhecida como Linda, tivesse contato com a cafeomancia desde cedo. Os desenhos formados na xícara com resíduos de borra de café passaram a ser objeto de estudo da iugoslava que chegou ao Brasil em 1998, fugindo de uma das guerras civis que dividiram o país.
Ao entrar em um apartamento repleto de esculturas feitas pela própria Linda, o cliente recebe uma xícara de café e espera aproximadamente 10 minutos antes de bebê-lo. “Isso é para garantir que toda a borra vá para o fundo da xícara”, esclarece ela. Depois desse período, a cafeomancista indica que o consultante esvazie a mente, abandone a ansiedade e beba o café. Em seguida, Linda vira a borda da xícara em direção ao pires: o movimento faz com que os resíduos da borra de café formem os desenhos, números e símbolos que são posteriormente interpretados por ela.

“O café tem muita energia. A xícara fala através dos cheiros, cores, texturas e formas. Ela mostra o momento atual e qual será o próximo passo”, destaca Linda, que garante que há famílias inteiras que não tomam decisões antes de consultá-la.

A numerologia, que também tem muitos adeptos brasilienses, passa, através dos números, uma avaliação praticamente completa do perfil psicológico integrado à data de nascimento. A soma de vogais e consoantes resulta em números que receberam significados pelo matemático Pitágoras, considerado o precursor do oráculo.
Arlete Citrini utiliza as análises da numerologia para complementar o atendimento pelo tarô: dedicação aliada à intuição (Raimundo Sampaio/Encontro/D.A Press)
Arlete Citrini utiliza as análises da numerologia para complementar o atendimento pelo tarô: dedicação aliada à intuição

A taróloga Arlete Citrini utiliza as análises da numerologia para complementar o atendimento às cartas ciganas. “Na numerologia é possível desarmar as pessoas: a essência delas fica evidenciada, e isso me ajuda a interpretar o resultado das cartas”, ressalta a profissional, que trabalha na área há 30 anos e iniciou o contato com o oráculo em Pelotas (RS). Para ela, as cartas ciganas são uma ferramenta de respostas diretas que exige intuição do jogador. “A intuição é 80% de um jogo eficiente. Não adianta o tarólogo entender o significado das cartas se ele não tiver uma boa intuição”, analisa a taróloga, que acredita que as cartas ciganas contribuem para que as pessoas se preparem para as transformações que estão por vir.

Dois anos antes da chegada do 
pequeno Jorge Otávio, Carolina 
dos Santos foi alertada pelas cartas 
ciganas que ficaria grávida (Vinícius Santa Rosa/Encontro/D.A. Press)
Dois anos antes da chegada do
pequeno Jorge Otávio, Carolina
dos Santos foi alertada pelas cartas
ciganas que ficaria grávida
Uma grande mudança na vida da estudante Carolina dos Santos tinha sido alertada dois anos antes pelas cartas ciganas. Segundo ela, a espera por Jorge Otávio, que nasceu em outubro deste ano, foi sinalizada em vários jogos. Frequentadora de cartomantes há oito anos, Carolina costuma consultar o oráculo para diversas áreas da vida: profissional, familiar, amorosa e de saúde. “Acredito que as cartas dão uma orientação sobre as tendências da minha vida. Sempre jogo de coração aberto”, ressalta ela, que começou as consultas por intermédio de duas amigas.
 
Para quem busca uma profunda análise de autoconhecimento, o mapa astral se apresenta como um dos oráculos mais completos. A movimentação dos planetas foi um fator que atraiu Carlos Maltz, ex-baterista da banda Engenheiros do Hawaii, para a astrologia. Estudioso do tema há mais de 15 anos, o astrólogo é enfático ao dizer que não faz previsões do futuro no mapa astral, mas sim análises sobre o reflexo dos astros no cotidiano. “Minha leitura em astrologia não é voltada para a adivinhação do futuro. Eu a uso para autoconhecimento nas questões mais difíceis de natureza psicológica e espiritual”, esclarece.

Entre as religiões de matriz africana, o candomblé encontra nos búzios uma forma de orientação a quem os consulta. O jogo é feito por um pai de santo e não é necessário que o consultante siga a religião. Para o pai de santo Veber Brasil, é essencial que o jogo de búzios seja realizado em centros de candomblé e conduzido por pessoas realmente envolvidas com a religião. “É importante buscar quem chamamos de pessoas iniciadas, candomblecistas com mais de sete anos no candomblé. Esse período é o que faz com que o religioso esteja apto a jogar para pessoas de fora da religião”, esclarece. De acordo com os preceitos, o orixá Exu, ligado ao movimento, ao caminho e à comunicação, é o responsável por orientar o jogo.
Carlos Maltz, estudioso de astrologia: 'Eu a uso para autoconhecimento em questões de natureza psicológica e espiritual' (Raimundo Sampaio/Encontro/D.A Press)
Carlos Maltz, estudioso de astrologia: "Eu a uso para autoconhecimento em questões de natureza psicológica e espiritual"

As perguntas são feitas na mesa de jogo envolta por colares que representam diferentes orixás. São 16 peças cujas combinações têm diferentes significados. “Muitas pessoas recorrem aos búzios procurando magia, mas isso não existe. O que existe são caminhos predestinados, e a atitude de cada um direciona a um caminho específico. Os búzios orientam as pessoas a seguir os melhores passos para trilhar seus caminhos”, diz Veber.

'As linhas são únicas e vêm traçadas,
 mas no decorrer da vida o seu 
livre-arbítrio pode mudá-las', enfatiza 
 Valéria Medeiros, quiromancista (Vinícius Santa Rosa/Encontro/D.A. Press)
"As linhas são únicas e vêm traçadas,
mas no decorrer da vida o seu
livre-arbítrio pode mudá-las", enfatiza
Valéria Medeiros, quiromancista
Já a prática da quiromancia, que, ao longo de décadas foi marginalizada, vem resgatando a importância de outros tempos. Popularizada pelos ciganos, a leitura de mãos tem sua raiz histórica na astrologia e por meio dela determinadas áreas da palma da mão, chamadas de montes, são relacionadas a planetas. “Cada planeta representa um aspecto da vida: Saturno está relacionado à profissão e Marte mostra o nível de resiliência de cada um”, esclarece a quiromancista Valéria Medeiros, que aprendeu a prática milenar através dos livros e a aprimorou com a própria intuição.

Segundo Valéria, um dos equívocos mais comuns de quem procura o oráculo pela primeira vez é o pensamento determinista. “As linhas são únicas e vêm traçadas, mas no decorrer da vida o seu livre-arbítrio pode mudá-las. Cada um tem a força para mudar sua própria história.” Apesar das linhas fixas, todos os traçados são únicos, assim como as impressões digitais e o destino de cada um de nós.
 
 
 (Reprodução/Encontro)
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