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PET | Comportamento »

Xô, solidão!

Para quem gosta de cachorro, mas não tem tempo de dar atenção que gostaria, listamos opções de atividades para distraí-lo enquanto o dono está fora de casa

Paloma Oliveto - Publicação:26/02/2016 10:32Atualização:26/02/2016 12:01
Eles são especialistas em partir corações. Quem tem um pet em casa sabe como é sofrido sair e deixá-lo sozinho, com aquele olhar que acompanha o dono até a fresta da porta desaparecer. Cães são, por natureza, animais sociais. Vivem em matilhas e consideram os companheiros humanos parte dela. A angústia da separação, ainda que por algumas horas do dia, pode levá-los a desenvolver comportamentos destrutivos, torná-los inseguros e, muitas vezes, deprimidos.

Mas não é preciso se encher de culpa ao sair de casa. Até porque alguém tem de trabalhar para garantir a ração e os petiscos. Além das estratégias para entreter o cãozinho nos momentos de solidão (veja quadro no final da reportagem), estão cada vez mais comuns os serviços oferecidos por dog walkers e creches caninas, onde o animal se ocupa, o dia todo, com brincadeiras, sonecas, passeios e cafunés.
Nada de tédio, estresse, objetos comidos ou mobílias destruídas: pet sitters ou creches caninas, como a Kinder Borges, são opções para donos de cães que ficam fora o dia todo (Raimundo Sampaio/Encontro/D.A Press)
Nada de tédio, estresse, objetos comidos ou mobílias destruídas: pet sitters ou creches caninas, como a Kinder Borges, são opções para donos de cães que ficam fora o dia todo

A empresária Bruna Borges buscava um lugar assim para seus cães da raça golden retriever, quando percebeu que Brasília ainda era carente desse mercado. Em 2013, ano em que abriu a creche Kinder Borges, no Cruzeiro, o máximo que havia eram os hoteizinhos tradicionais, afastados do centro da cidade. Alguns deles também ofereciam day care, mas não com o conceito urbano já difundido no exterior, principalmente nos Estados Unidos, onde as escolinhas caninas são bastante comuns.

A creche abriu com um apenas um “aluno”, mas não demorou para a turma grande se formar. Hoje, há cerca de 80 frequentadores regulares, que, em média, vão de duas a três vezes por semana, embora tenha aqueles que “estudem” todos os dias. “Normalmente, quem opta pelo day care são pessoas solteiras ou casais sem filhos, que passam o dia todo fora de casa e consideram os cachorros prioridade mesmo”, conta Bruna Borges.

Na escolinha existe uma rotina. No início da manhã, os cães são recebidos e fazem a socialização com os demais. Por volta das 9h, começam a sair as turmas de caminhada, conduzidas pelos monitores. À tarde, os animais se dividem entre aulas de natação, brincadeira de bola e adestramento básico. Os que são muito agitados ainda fazem um segundo passeio externo no fim da tarde. Isso intercalado com sonecas para os que precisam repor as energias.

Um dos mais assíduos alunos é o buldogue francês Bento, de 3 anos. Desde os 4 meses ele frequenta a creche. “Moro só e ele estava destruindo as coisas porque passava muito tempo sozinho. Sempre tinha uma surpresa quando eu chegava: ele comia parede, sapato...”, recorda a bancária Ana Célia Araújo. Depois de visitar a escolinha duas vezes, ela se convenceu de que era a melhor opção para Bento. O cachorrinho, não é preciso dizer, adorou a escolha.

“Quando chegamos lá, ele nem olha para trás. Tem dia que vou buscá-lo e ele nem quer voltar para casa”, brinca Ana Célia. Quando entra no carro, após um dia de atividades, o buldogue está exausto. Vai dormindo, acorda para comer e dorme de novo. “No começo, achei que ele estava muito esgotado e fiquei preocupada”, diz. Bruna Borges conta que essa é uma observação comum dos donos, que estranham o cansaço dos animais, pois estão acostumados a chegar em casa do trabalho e encontrá-los ansiosos e elétricos. Com tanta energia que gastam entre passeios e brincadeiras com outros animais, porém, é natural a exaustão. “Cachorro feliz é cachorro cansado”, diz um ditado comum entre veterinários.

Quando escuta a palavra 'creche', 
Spike já fica de orelha em pé: sua 
dona, Zoraia Benvenuti, adora preparar 
 a mochila e levá-lo ao day care (Raimundo Sampaio/Encontro/D.A Press)
Quando escuta a palavra "creche",
Spike já fica de orelha em pé: sua
dona, Zoraia Benvenuti, adora preparar
a mochila e levá-lo ao day care
Quem também não dispensa um dia de escola é o pastor-de-shetland Spike, de 1 ano e meio. A empresária Zoraia Benvenuti da Silva conta que, quando escuta a palavra “creche”, o agitado cãozinho já fica de orelha em pé e começa a abanar o rabo. Só para de se mexer quando sai para a escola. De mochila nas costas. Como mora perto da creche, ele vai a pé, carregando a própria bolsa, onde ficam guardadas a merendeira, a escova de dentes e a agenda, usada para fazer a comunicação entre os “tios” da creche e Zoraia. Nem é preciso dizer que faz um sucesso absoluto por onde passa...

“Quando eu morava fora, achava que era ‘frescurite’ de americano esses cuidados com os cachorros”, reconhece a empresária. Agora, faz questão que Spike frequente o day care, onde, além de se divertir, ele aprendeu a ficar mais confiante. Antes do convívio com outras pessoas e, principalmente, outros cães de todos os tamanhos, ele era medroso. Agora se transformou em um animal confiante. “Eu brinco que ele só não aprendeu a ler e a escrever porque a creche não ensinou”, diz Zoraia.

A empresária Juliana Almeida também abriu um day care canino, na Asa Norte, por necessidade própria. “Temos uma cachorrinha, a Luly, que sempre que ficava sozinha em casa se deprimia, destruía vários objetos e se assustava com tudo. Quando surgiu a ideia de abrirmos uma butique pet, a Farmvet, logo pensamos em um espaço para que os proprietários pudessem deixar seus bichinhos, enquanto fazem suas atividades rotineiras”, conta. Para ela, as vantagens de deixar o cãozinho na creche são muitas. “Nosso trabalho é dar um suporte que os donos não podem oferecer diariamente, devido ao tempo corrido. No day care, os cães brincam, interagem uns com os outros, são estimulados a fazer atividade física, respeitam o espaço de cada um e se permitem conviver de forma companheira e amigável”, diz.

Juliana conta que uma das coisas que mais chamam a atenção é o fato de alguns animais, no início, não gostarem de contato uns com os outros, tanto por medo quanto por desconfiança, territorialidade ou agressividade. Mas, com o tempo, acabam adotando uma postura diferente: “Acreditamos que tudo que fazemos com amor, atenção, carinho e dedicação faz diferença na vida dos animais e dos donos.”

Nicho de mercado: passeadora de  
cães, a estudante Ananda Lima
Hassan é contratada por pessoas 
que não têm tempo para dar 
atenção a seus bichinhos (Raimundo Sampaio/Encontro/D.A Press)
Nicho de mercado: passeadora de
cães, a estudante Ananda Lima
Hassan é contratada por pessoas
que não têm tempo para dar
atenção a seus bichinhos
Tanto luxo, claro, tem seu preço. As creches trabalham com sistema de diária ou pacotes, que podem ultrapassar os 600 reais, dependendo da quantidade de dias de frequência. A bancária Ana Célia justifica o investimento. “Eu que escolhi o Bento, que poderia estar morando em outro lugar, com mais gente. Então, seria egoísmo sair e fazer tudo, e deixar ele sozinho em casa, sofrendo”, acredita.

Outra opção para animar o dia dos pets é contratar um passeador de cães, para fazê-los gastar energia e deixá-los tranquilos até a hora da chegada do dono. Apaixonada por cachorros, a estudante Ananda Lima Hassan encontrou nesse trabalho uma forma de ganhar dinheiro e de passar o dia na companhia dos peludos. Ela e a mãe montaram o Octopet, um serviço de dog walker e pet sitter e hospedagem, na Octogonal, onde moram. “Contratam um passeador as pessoas que gostam de cachorro, querem ter, mas não têm tempo para cuidar ou dar toda a atenção”, explica Ananda.
 
 
Bento adora frequentar a escolinha: 'Tem dia que vou buscá-lo e ele nem quer voltar para casa', conta a dona, Ana Célia Araújo (Raimundo Sampaio/Encontro/D.A Press)
Bento adora frequentar a escolinha: "Tem dia que vou buscá-lo e ele nem quer voltar para casa", conta a dona, Ana Célia Araújo
 
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