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ESPORTE | Comportamento »

Várias modalidades em uma só

Ao trabalhar sensualidade e força, pole dance conquista adeptas que querem, ao mesmo tempo, se sentir poderosas e praticar um esporte

Karoline Diniz - Publicação:29/06/2016 14:54Atualização:29/06/2016 15:04
Brasilienses em Londres: Vera Lúcia e Talytta Torres conquistaram 
vaga na categoria dupla para disputar o Campeonato Mundial de Pole Sports, em julho (Arquivo pessoal)
Brasilienses em Londres: Vera Lúcia e Talytta Torres conquistaram vaga na categoria dupla para disputar o Campeonato Mundial de Pole Sports, em julho
Uma mistura de esporte e dança, que trabalha o corpo de forma desafiadora, tem constante espaço nas agendas de academias do mundo todo, mesmo não sendo tão popularizada. Em Brasília, não é diferente: o pole dance tem sido a opção de diversas pessoas que se cansaram das atividades tradicionais, reunindo em uma mesma modalidade ex-bailarinos, ginastas, artistas circenses e pessoas que até então eram sedentárias e não haviam se identificado com nenhum outro tipo de exercício.

O pole dance une força física, elasticidade, acrobacias, equilíbrio e certa dose de coragem. Os movimentos são muitas vezes semelhantes aos do balé, a não ser por um detalhe: todos são executados suspensos em uma barra vertical. As aulas contemplam alongamento e aquecimentos iniciais, e nenhum dia é igual ao outro, ou seja, perfeito para quem não curte a rotina da academia e de outros esportes. Mas fazer pole dance pode sair mais caro do que a maioria das outras atividades físicas. Os preços vão, em média, de 200 a 300 reais mensais, a depender do local, número de aulas e frequência.

Na capital do país, existem diversos estúdios com estilos e metodologias diferentes. Alguns priorizam a dança e outros, o fitness com o objetivo de formar atletas para disputar campeonatos. A modalidade, por ora, não é reconhecida como esporte pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), mas já coleciona atletas premiadas em categorias solos e duplas pelo mundo afora. No Brasil, a Federação Brasileira de Pole Dance (FBPOLE) existe desde 2009 e tem o objetivo de disseminar a prática como atividade física. Ela oferece certificação e credencia atletas para competições internacionais.

Duas atletas brasilienses vão representar o Brasil na disputa internacional da modalidade, que será realizada no mês que vem, em Londres. Vera Lúcia e Talytta Torres venceram o Campeonato Brasileiro de Pole, em novembro de 2015, e tornaram-se as únicas brasilienses a conquistar uma vaga na categoria dupla para disputar o Campeonato Mundial de Pole Sports.

Laryssa Teles é instrutora da modalidade há quatro anos: as aulas contemplam alongamento e aquecimentos iniciais, e nenhum dia é igual ao outro (Vinícius Santa Rosa/Esp. Encontro/DA Press)
Laryssa Teles é instrutora da modalidade há quatro anos: as aulas contemplam alongamento e aquecimentos iniciais, e nenhum dia é igual ao outro
Vera atualmente mora nos Estados Unidos e trabalha como cheerleader do Miami Dolphins, time de futebol americano dos EUA. Ela foi aprovada nas seletivas que foram realizadas no Rio de Janeiro. Agora, as atletas estão treinando separadamente e pretendem se encontrar duas vezes antes da competição, para trabalhar a coreografia e a sincronia dos movimentos. “A Tallyta vem em junho para Miami e eu vou em julho para Brasília, para treinarmos e deixarmos a coreografia sincronizada”, explica Vera.

A disputa mundial exige apresentações perfeitas. A dupla terá quatro minutos para executar a coreografia, que precisa conter 11 movimentos obrigatórios. As ações em barras diferentes são, obrigatoriamente, sincronizadas. E as componentes da dupla necessitam executar, juntas, atividades no poste fixo e no giratório. Movimentos de força, flexibilidade, queda e equilíbrio também são avaliados, elas demonstram segurança e grande capacidade de representar bem nossa cidade.

A prática do pole dance traz uma gama de benefícios. Melhora, por exemplo, o condicionamento cardiovascular, o fortalecimento dos músculos, aumenta a flexibilidade, coordenação motora e equilíbrio. As praticantes garantem que, fora os ganhos físicos (como braços e pernas tonificados), a modalidade interfere fortemente na autoestima.

A turismóloga Rafaela Vieira pratica pole dance há oito meses e conta que procurava uma atividade lúdica, que a ajudasse a lidar com seu empoderamento. “No pole, trabalhamos ao mesmo tempo a sensualidade e a força. Isso é muito poderoso”, revela. “Do mesmo jeito que precisamos de equilíbrio na barra, procuramos nos equilibrar na vida com uma dose maior de coragem e autoconfiança.”

Instrutora da modalidade há quatro anos, Laryssa Teles já era acrobata de circo quando descobriu o pole em pesquisa na internet. Com pouco mais de um ano de prática, ela se qualificou para dar aulas. Laryssa afirma que a transformação com a prática do esporte é positiva em todos os aspectos e que, mesmo mulheres acima do peso ou que não praticam algum tipo de dança, conseguem evoluir e se superar. “A partir do momento que as alunas entram em contato com outras mulheres comuns, que também têm celulites e estrias, elas vão ficando mais relaxadas e confiantes. Daí a melhora é gradual e visível”, conta a instrutora.

Entretanto, ainda existe o estigma de que o pole dance é praticado apenas por strippers ou garotas de programa. O preconceito está diretamente ligado à falta de informação. “As mulheres não têm mais vergonha de contar que fazem pole e já defendem o esporte. O preconceito tem sido quebrado”, afirma Laryssa Teles.
Damiana Rodrigues, proprietária de um dos maiores e mais antigos estúdios de pole dance de Brasília, acredita que, fora a desmistificação sobre os praticantes do pole dance, a transformação começou quando as pessoas começaram a ver a modalidade como esporte que dá resultados. A empresária conta que o “boom” da modalidade aconteceu dois anos atrás, e que, de lá para cá, a procura pelo esporte continua grande. “Pelo menos 3 mil pessoas já passaram por aqui para fazer uma aula experimental”, contabiliza Damiana.

Apesar de as mulheres serem a maioria esmagadora nos estúdios, homens também preenchem as turmas, para acompanhar as parceiras ou não. “Já tive casais fazendo aula juntos. Eles gostam porque o resultado aparece rápido e os benefícios maiores são nos membros superiores: costas, ombros e abdômen”, ressalta Damiana.

'O pole mexeu com minha vida de forma geral, principalmente, no empoderamento feminino', garante Bárbara Hollanda (Vinícius Santa Rosa/Esp. Encontro/DA Press)
"O pole mexeu com minha vida de forma geral, principalmente, no empoderamento feminino", garante Bárbara Hollanda
O Divas Pole Dance tem duas salas preparadas para as aulas. São nove barras em cada uma e muitos espelhos pelo ambiente. Grande parte das instrutoras é atleta e disputa campeonatos anualmente. Bárbara Hollanda é uma delas. Formada em psicologia, estava estudando para concurso quando conheceu o pole. Apaixonou-se e abriu mão de outros planos para investir no esporte. “O pole mexeu com minha vida de forma geral, principalmente, no empoderamento feminino”, garante Bárbara.

A instrutora afirma que o esporte é bastante desafiador e requer muito conhecimento corporal. “A dinâmica do desafio e da conquista é muito forte”, explica Bárbara, que, em

períodos de campeonato, chega a treinar diariamente, por pelo menos três horas por dia. Com uma força impressionante, a atleta coleciona vitórias. Em 2015 ficou em segundo lugar no Sul-Americano Amador, categoria dupla.

Uma das primeiras alunas do estúdio, a médica Paula Garcia de Araújo conheceu o pole em um workshop para casais. Logo ficou interessada em dominar aquela novidade tão sensual. Começou a fazer aulas duas vezes por semana, periodicidade considerada ideal pelas instrutoras, e comprou uma barra para instalar em casa. “O desafio é estimulante. Eu tento, tento, tento, até conseguir”, garante. Um tanto quanto perfeccionista, a médica começou a fazer pilates para conseguir ter mais elasticidade. “O ganho de força muscular é excelente, agora quero fazer todos os movimentos bem executados”, diz.

Um ambiente menor e mais intimista também pode agradar. No estúdio de Valéria Vianna a regra é ter apenas quatro alunas por turma e duas instrutoras que se revezam nas aulas. A parede e o chão cor-de-rosa dão um toque feminino ao lugar. A proprietária explica que prioriza tanto o fitness quanto a dança. “Não tem essa de malhar e não poder tomar um chope. Não somos rígidas. Aqui as coreografias são contemporâneas com leveza e flexibilidade”, conta.

A sensualidade está presente, claro. A beleza dos movimentos impressiona. Formada em educação física, Valéria defende o sensual e o distingue claramente do que é vulgar e erótico. “Existe o preconceito, mas muitas das vezes é pura hipocrisia. Porque o sensual é, antes de tudo, bonito”, finaliza.
Beleza dos movimentos impressiona:a instrutora Valéria Vianna defendeque o sensual é, antes de tudo,bonito (Vinícius Santa Rosa/Esp. Encontro/DA Press)
Beleza dos movimentos impressiona:a instrutora Valéria Vianna defendeque o sensual é, antes de tudo,bonito
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