..
  • (0) Comentários
  • Votação:
  • Compartilhe:

COMPORTAMENTO »

Meu ídolo, quase um pai

Personalidades de Brasília contam quem são as pessoas que inspiraram suas carreiras, seus princípios ou estilos de vida

Mariana Laboissirère - Redação Publicação:05/09/2016 10:14Atualização:05/09/2016 10:57
Quando tinha 12 anos, Leila Barros sequer imaginava que trilharia o caminho do voleibol profissional e que chegaria à seleção brasileira. Na época, a menina, que se achava baixa, ainda treinava no Centrão, como é conhecido popularmente o Centro Educacional 2, em Taguatinga. Na década de 1980, a família não vislumbrava que o sonho se transformaria em realidade, mas o treinador Celso Ávila sempre confiou no que o destino reservaria a ela. Ele quem deu força para Leila aceitar novas propostas e seguir no esporte. Hoje, passados vários anos, ela não tem dúvida em atribuir a Celso o papel de mentor e de inspiração para sua carreira.
'Lado paternal' aflorado: o treinador Celso Ávila sempre confiou no que o destino reservaria a Leila no vôlei, e, assim, foi seu mentor e inspiração para a carreira (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
"Lado paternal" aflorado: o treinador Celso Ávila sempre confiou no que o destino reservaria a Leila no vôlei, e, assim, foi seu mentor e inspiração para a carreira

No início do mês, a pedido de Encontro Brasília, os dois se reencontraram para falar sobre os velhos tempos, em ambiente um tanto familiar, o Parque Ecológico Saburo Onoyama, palco de inúmeros treinos da equipe escolar da ex-jogadora. "Na 8ª série, ele já via em mim um grande potencial e uma aptidão para o esporte. Tanto é que, quando recebi a proposta para sair do Centrão, ele foi à minha casa para conversar com meus pais. Naquele tempo, as pessoas não levavam a sério o desporto escolar e foi muito difícil vencer o paradigma de sair de Taguatinga. Foi ele quem me ajudou nessa transição", relembra Leila, que hoje é secretária de Esportes do Governo de Brasília. "O diferencial do Celso é que ele se interessava em saber como estavam seus alunos. Sempre nos reunia para conversar e entender o que nos preocupava fora da quadra. Ia além do universo competitivo e não deixava de nos passar ensinamentos. De fato, ele tem um lado paternal e eu gostava disso nele. Sem dúvida, era mais do que um técnico."

Leila conta ainda que o professor cobrava disciplina, lançava desafios nos treinos e motivava a equipe, com um visão otimista do futuro que fazia questão de transmitir aos pupilos. "Ele alimentava os nossos sonhos. Sempre foi muito família e nos tratava como parte dela. Hoje, quando nos revemos, é como se o tempo não tivesse passado. É coisa de alma. E o Celso tem aquele sorriso 'gaiato' que me faz lembrar minha infância, quando eu ainda sonhava em ser uma jogadora", exclama Leila, que afirma ter aprendido com o treinador a ser um bom exemplo para as pessoas, tanto na vida pessoal como na profissional.

Embora Celso reconheça ter construído uma relação próxima com todas as atletas que treinou, ele revela que Leila foi a que melhor compreendeu as orientações, o norteamento e os valores que transmitiu. "A minha preocupação não era se ela seria uma jogadora de sucesso ou não. Queria prepará-la para a vida. O vôlei era a minha ferramenta de educar, de formar cidadãos. E, se a Leila não tivesse uma cabeça bem formada, não chegaria aonde chegou. Talento, muita gente tem, mas, sem determinação e controle emocional, não adianta", opina.  Aos 62 anos, Celso é treinador no Colégio JK, onde trabalha com mais de 100 alunos e diz manter a mesma filosofia profissional.

Assim como Leila, outras personalidades notórias de Brasília gostam de contar histórias com seus ídolos, especialmente em agosto, o mês dos pais. Familiares, amigos e até mesmo famosos foram inspirações para pessoas que, hoje, inspiram outras. Esse é o caso de Ivone Carvalho, dona de dois restaurantes tradicionais de Brasília, o BierFass e o Taypá. Empresária de sucesso, Ivone perdeu o pai há mais de 20 anos. Embora não tenha abandonado os ensinamentos do patriarca, agregou as figuras do tio, Albano Ribeiro, e do irmão, Antônio Carvalho, como grandes aconselhadores. Atualmente, os três dividem a sociedade nos estabelecimentos.

Ao falar sobre o assunto, Ivone se emociona: "A lembrança mais marcante que tenho do meu tio foi aos 2 anos de idade, quando ele me levou para passear de moto pelo bairro. Ao voltar, ele me deixou em casa achando que eu iria procurar pela minha mãe, mas não foi o que aconteceu. Por ter deixado o portão aberto, fugi atrás dele e uma vizinha quem me encontrou no meio da rua. Começava ali uma grande parceria. Até hoje, ele é meu companheiro no trabalho, nos momentos de festas, em tudo. E me dá um grande suporte", diz.
Ivone Carvalho entre o tio Albano Ribeiro e o irmão, Antônio Carvalho: 'Eles são grandes aconselhadores', diz a empresária  (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
Ivone Carvalho entre o tio Albano Ribeiro e o irmão, Antônio Carvalho: "Eles são grandes aconselhadores", diz a empresária

Para Ivone, Albano é a representação da união familiar, da alegria e da jovialidade. "Ele sempre me disse que eu tinha capacidade de executar qualquer função, desde que tivesse responsabilidade, ética e valores. Além de me apoiar em todas as situações. Na carreira, estamos juntos. Na vida pessoal, da mesma forma. E passo esses ensinamentos para os meus filhos", reforça.

Com o irmão não é diferente. Aos olhos de Ivone, Antônio é a personificação da ética e da luta. "É alguém disposto a ajudar o próximo, também muito parecido com o meu pai. Nosso pai dizia: 'se você deu a sua palavra, faça de coração e cumpra’. Assim é ele", menciona. Para a empresária, alguns valores fazem diferença na vida de um ser humano, como participar da rotina das crianças e sentar-se à mesa a cada refeição. "São gestos simples, mas que simbolizam a unidade. E, quando você tem isso, consegue superar qualquer problema da vida", diz.

Foi em 1987 que a família de Ivone desembarcou no Brasil, quando iniciaram no ramo da gastronomia então no Gilberto Salomão. Com o tempo, o negócio foi crescendo. Antônio relata que tinha 21 anos quando o pai morreu. Desde então, ele confessa tentar transmitir ao máximo o que aprendeu no ambiente em que foi criado. "A perda é algo muito difícil. É um processo complicado de se passar. Mas eu sabia que tinha uma missão. Ao longo desses anos, fiz o possível para transmitir à Ivone o sentimento de proteção e de incentivo, mostrando que ela era capaz de concretizar os planos que elaborasse", conta. Albano completa: "Sinto-me muito feliz por ser essa referência para ela. Ser um chefe de família, hoje, exige muita responsabilidade", diz.

Reitor da Universidade de Brasília (UnB) desde 2012, Ivan Camargo é o primeiro aluno da instituição a alcançar este posto. Está vinculado à unidade desde o fim da década de 1970, quando ingressou no curso de engenharia elétrica. Ele confidencia que desde a graduação se mirou no exemplo do colega, também engenheiro elétrico, José Mário Abdo, com quem teve a oportunidade de trabalhar em diversos momentos da vida. Um dos primeiros contatos entre os dois foi na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), quando Abdo era diretor geral da entidade. Em seguida, na Eletronorte, época em que Ivan Camargo se recorda com muito carinho: "Gosto muito do jeito como ele trabalha. Além de forte liderança, sempre foi um engenheiro e pai de família exemplar e respeitado. Sem falar que é uma pessoa muito querida. Entre as características mais notáveis estão o papel de conciliador, de pessoa atenta às demandas da sociedade e de empreendedor. Sempre quis copiar isso." O reitor conta que, quando tem grandes dúvidas, liga para seu ídolo ou tenta marcar um almoço para conversarem.
Ivan Camargo, primeiro aluno a se tornar reitor da UnB, sempre se inspirou no colega José Mário Abdo (dir.): 'ele é um pai de família exemplar e respeitado' (Mariana Laboissiére/Esp. Encontro/DA Press)
Ivan Camargo, primeiro aluno a se tornar reitor da UnB, sempre se inspirou no colega José Mário Abdo (dir.): "ele é um pai de família exemplar e respeitado"

Para Abdo, Ivan "tem luz própria" e, por isso, a admiração é recíproca. "Temos experiências de vida e ideias parecidas. Quase fomos contemporâneos na mesma UnB. Tivemos a rara oportunidade de conviver em diversos momentos da carreira profissional." Segundo ele, Ivan faz parte de um seleto grupo de pessoas que não vive olhando para o próprio umbigo, mas que pensa em um todo, no melhor para o país. "Por causa disso, ele tem conquistas extraordinárias, como a posição de reitor da UnB. É mérito dele", relata. Os amigos de longa data brindam 34 anos de convivência.
COMENTÁRIOS
Os comentários estão sob a responsabilidade do autor.

BRASILIENSES DO ANO