Roberta Lima Fraga com a filha Clarice: antes de passar uma fase de mudanças bruscas, a mãe buscou ajuda para a filha superar traumas, como o medo de lugares escuros
Em alguns momentos elas ficam mais quietinhas, em outros tornam-se agressivas. Também podem desenvolver medos e fobias, apresentar queda no rendimento escolar, deixar de gostar de atividades que antes despertavam seu interesse. Ao notar esses sinais, os pais não devem ignorá-los. Podem ser sintomas de que os filhos precisam de ajuda para lidar com questões como ansiedade, baixa autoestima, estresse e, até, depressão.
Ainda encarado com preconceito por muitas pessoas, o tratamento psicológico – e, em alguns casos, psiquiátrico – para crianças e adolescentes é uma ferramenta essencial para evitar prejuízos mais sérios no futuro. “É uma estratégia preventiva que impede que os quadros psicopatológicos evoluam”, diz a psicóloga infantojuvenil Flávia Lacerda.
A militar Fabíola Mattia percebeu quando Isabella mudou o comportamento e a levou ao psicólogo: em um mês na terapia, a menina de apenas 7 anos já sabe lidar com suas crises de pânico
Segundo a especialista, a ansiedade é a principal causa de os pais procurarem tratamento para os filhos. Queda no desempenho escolar e alterações nos padrões do sono e de alimentação também são queixas bastante frequentes. “Além disso, há uma procura grande de pais que querem educar seus filhos com amor e respeito. A terapia tem sido um veículo de prevenção”, revela.
Foi exatamente o que fez a servidora pública Roberta Lima Fraga, de 38 anos. Quando ela e o ex-marido decidiram se separar, há três anos, a principal preocupação foi com o bem-estar mental da filha, Clarice Fraga, de 8 anos. Afinal, as mudanças eram muitas: além do fim da união, a menina passaria pela alteração de endereço e transferência de escola. Para aprender a conduzir o processo de forma saudável, Roberta bateu à porta do consultório de Flávia Lacerda. “Foi mais por uma questão de como proceder para evitar danos”, explica a mãe.
“Eu tive dificuldades no colégio novo. Algumas pessoas começaram a me rejeitar. Eu também tinha muito medo do escuro”, conta Clarice. Na terapia, a menina aprendeu a se tornar mais confiante e a enfrentar os medos. Roberta lamenta que muitos pais deixem de cuidar da saúde mental dos filhos por preconceito: “Eu acho a terapia uma coisa natural e saudável. É autoconhecimento”, diz.
Isabella Mattia, de 7 anos, está começando a fazer terapia. Os pais procuraram um psicólogo assim que ela exibiu sinais de pânico. Outra mudança observada em seu comportamento foi uma agitação excessiva. A mãe, a militar Fabíola Mattia Dickel, de 32 anos, acredita que os sintomas possam estar relacionados ao estresse da família, que está construindo uma casa, e com a mudança de escola, no início do ano. Em apenas um mês de terapia, porém, a filha já apresenta bons progressos. “Ela já sabe identificar quando vai entrar em pânico e consegue se acalmar”, comemora Isabella.
Para a a psicóloga infantojuvenil Flávia Lacerda, sintomas como ansiedade, queda no desempenho escolar e alterações nos padrões do sono e de alimentação são queixas frequentes: "A terapia tem sido um veículo de prevenção"
Às vezes, além da visita ao psicólogo, crianças e adolescentes podem precisar de acompanhamento psiquiátrico. É o caso de pacientes com transtorno de hiperatividade com déficit de atenção (THDA), o motivo que mais leva os pequenos ao consultório psiquiátrico, de acordo com a psiquiatra Júlia Torres, que atende o público infantojuvenil. A médica explica que o transtorno chega a incomodar a própria criança, que, além de começar a se sair mal na escola, passa a ser evitada pelos colegas. Os sinais manifestam-se entre os 6 e os 12 anos. Júlia lamenta que haja muita desinformação sobre psiquiatria infantil: “Há preconceito e medo da prescrição desnecessária de medicamentos ou que, com o tratamento, a criança vire um robozinho. Isso é mito. O tratamento não muda a personalidade nem tira a autonomia”, explica a especialista.
A psiquiatra Helena Moura lida com jovens dependentes químicos e recomenda atenção aos sinais que eles apresentam: "O uso de drogas pode ser manifestação de sofrimento"
Entre adolescentes, alterações bruscas de comportamento podem ser um sinal de uso de drogas, alerta a psiquiatra Helena Moura, especialista no atendimento de jovens com dependência química. “Ele pode ir bem na escola e, de repente, o rendimento cair muito. Também pode perder o interesse por atividades das quais gostava antes e se envolver em brigas”, exemplifica. O uso de drogas, incluindo álcool, é mais perigoso para adolescentes porque o cérebro ainda está em desenvolvimento. Os danos podem persistir por toda a vida. “É importante eles passarem por uma avaliação para entendermos o que está acontecendo. O uso de drogas pode ser manifestação de sofrimento”, alerta a médica.