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Quando o pequeno é grande

O ano foi marcado pela chegada dos motores de três cilindros, alguns turbos, mostrando o lado positivo da crise e provando que potência nem sempre depende de tamanho

Fábio Doyle - Publicação:16/01/2017 11:56
 (Divulgação)
Será um ano difícil de esquecer, esse 2016. Crise foi a palavra de ordem, crise moral, crise econômica, crise política, crise ética. Um ano para se esquecer, mas vai ser difícil, tamanhas foram as feridas que deixou. Todos os setores sofreram. O da indústria automotiva brasileira não é exceção. Ocorreu regressão de uma década. O desempenho da indústria em 2016 se igualou ao de 2006.

As agruras do ano não serão as primeiras nem as últimas. Há quem aposte que os próximos 12 meses serão também tenebrosos. Como lamentar é se afundar ainda mais, apesar dos pesares, o setor não se deixou dominar pelo pessimismo e arregaçou as mangas. Foi um período negativo, mas também de novidades, lançamentos e busca de soluções inovadoras. É a tal história: se tudo vai bem a tendência é a acomodação, já diante de dificuldades a saída é ser criativo e trabalhar duro em busca de saídas.

Há quem considere ter sido o ano dos SUVs, os utilitários-esportivos, que se tornaram o objeto de desejo de quase todos. Mas essa já é uma tendência iniciada há mais tempo. O que de fato deverá ser a marca de 2016 na história da indústria automobilística brasileira será o esforço tecnológico de downsizing dos motores. Ou seja, fazer com que um motor pequeno, leve, de baixa cilindrada, seja também potente e ao mesmo tempo econômico.

 (Divulgação)
Tudo começou há cerca de dois anos, quando discretamente a coreana Kia trouxe o subcompacto Picanto equipado com propulsor de apenas três cilindros. Embora ele já existisse desde 2011/2012, foi em 2014 que os motores de três cilindros ganharam produção local e passaram a equipar carros nacionais. Esses motores 1.0 são mais potentes e econômicos do que seus %u201Cancestrais%u201D quatro cilindros: a potência passou de 48 cv no Mille de 1990 para 85 cv nos motores atuais %u2013 e eles chegam a registrar níveis de consumo antes inimagináveis, de mais de 20 km/l.

Com o amadurecimento e a conscientização do consumidor brasileiro, a necessidade de reduzir despesas com combustível e o desejo de contribuir com o meio ambiente, reduzindo a poluição emitida pelo cano de descarga de seu carro, a indústria foi aos poucos reconhecendo que essa era uma das saídas da crise e investiu nesse campo. A primeira foi a Volkswagen, com o seu motor 1.0 de três cilindros, que, experimentalmente, equipou a versão Bluemotion do Fox e depois o alavancou com um projeto ousado e totalmente novo e moderno: o Up! Hoje o seu motor três cilindros pode ser encontrado também sob o capô do Gol e até do Golf em sua modalidade turbo, que também equipa a versão TSi do Up! A partir daí os motores de três cilindros 1.0 e 1.2 litro foram chegando, um atrás do outro: na Ford com o Ka, na Nissan com o March, na Peugeot com o 208, na Citroën com o C3, na Fiat com o Uno e Mobi e, fechando o ano, na Renault com o Logan e o Sandero.

A expectativa é de que agora essa onda de motores três cilindros conquistem as fábricas que ainda relutam em investir na tecnologia, como a General Motors. Os modelos Chevrolet foram os últimos a aderir ao PBEV (Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular). Neste período a engenharia estudou o ciclo de medição de consumo em laboratório e concluiu que estava apta a atender ao programa, com nota A no segmento, a preço conveniente e sem necessidade de investir em um novo propulsor. Mas até o final deste ano, com a segunda rodada do PBEV a vigorar em 2018, ela deverá trazer para o Brasil o motor de três cilindros da marca já existente na Europa.

O Ford Fiesta, o VW Up! e o Peugeot 208, modelos com motor três cilindros: níveis de consumo elogiáveis (Divulgação)
O Ford Fiesta, o VW Up! e o Peugeot 208, modelos com motor três cilindros: níveis de consumo elogiáveis
Enquanto isso, os propulsores de três cilindros turbinados continuarão chegando. Afinal, o consumidor quer economia, mas gosta muito de potência, principalmente se originada em um motor com baixo nível de emissão de poluentes. Por enquanto, apenas três marcas se aventuraram nesse campo. A Volkswagen foi, mais uma vez, a primeira. A versão 1.0 TSi do Up! já é sucesso e equipa não apenas o subcompacto, mas também uma versão do novo Golf, que recentemente voltou a ser produzido no Brasil, na unidade do Paraná. A coreana Hyundai também oferece a versão turbo para seu propulsor 1.0 três cilindros do HB20 e a Ford importa do México para o Fiesta o premiado motor 1.0 três cilindros EcoBoost, que supera os demais em todos os sentidos.

Aumentar a participação dos motores turbos pequenos, de 1.0 e 1.2 l, é o desafio de 2017 para a indústria. O gargalo é o preço, que o consumidor considera muito elevado para um compacto. Com poucas exceções, a mentalidade vigente é de que o nível de preço de um carro é proporcional às suas dimensões e tamanho do motor, o que, em uma análise técnica e mais profunda, nem sempre é verdade.
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