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DEZ PERGUNTAS PARA | Guilherme Reis »

"Vamos precisar de todo mundo"

Secretário de Cultura do DF explica por que a reforma do Teatro Nacional, fechado há dois anos, vai começar agora e diz que primeira etapa só será entregue no início de 2018

Rebeca Oliveira - Publicação:08/03/2017 09:37Atualização:08/03/2017 11:47
Fechado desde 2014, depois de constatadas pelo Corpo de Bombeiros 112 irregularidades, o Teatro Nacional Claudio Santoro finalmente será reaberto. Ainda que demore – é provável que o maior palco da cultura do Distrito Federal só deva voltar a funcionar em 2018 –, reativar a imponente construção com assinatura de Oscar Niemeyer na capital foi apenas uma das promessas que o secretário de Cultura do Distrito Federal, Guilherme Reis, fez a si mesmo quando aceitou o posto, em dezembro de 2014. O atual comandante da pasta é ator, produtor de teatro e figura das mais engajadas na cultura local. Diferentemente de outros gestores, o goiano de 62 anos, que vive em Brasília desde a década de 1960, não assumiu a função burocrática e exaustiva em busca de holofotes ou de muletas para fazer carreira política. 

1 | ENCONTRO – Quando veremos o Teatro Nacional Claudio Santoro de portas abertas?   
GUILHERME REIS – Como secretário, considero que o Teatro Nacional está fechado há dois anos. Como gestor cultural, homem desse meio, realizador de eventos, ator que esteve naqueles palcos dezenas de vezes, venho acompanhando a tristeza que foi o abandono progressivo desse espaço há muitos anos. Passado esse tempo, com a dificuldade financeira que toda a população de Brasília sabe, e os governos do Brasil inteiro estão enfrentando, uma situação extremamente grave e que mexe com a cabeça das pessoas também, estamos, sim, conseguindo avançar. Comemoraremos os 30 anos do tombamento de Brasília como Patrimônio Cultural da Humanidade e iniciaremos neste ano o processo de reforma. 

2 | O que permitiu chegar a essa nova fase?
O Ministério da Cultura demonstra vontade muito clara de acelerar o processo. Estamos dialogando com eles desde janeiro de 2015, mas tudo que aconteceu no governo federal impossibilitou que avançássemos. O ministro Roberto Freire abraçou essa causa, e o setor político de Brasília também abraçou essa causa. Vamos precisar de todo mundo: Câmara Legislativa, Congresso Nacional, Ministério da Cultura, do setor produtivo e dos empresários do DF. Finalmente demos passos para viabilizar a licitação. Espero que ela saia até junho ou julho. 
 (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)

3 | Houve mudança no projeto? 
Estamos com o projeto, contratado pelo governo Agnelo Queiroz em 2013 e pago em 2014, com a mesma empresa [o escritório de arquitetura e engenharia Acunha Solé Associados, do Rio Grande do Sul], hoje quem mais entende desse processo. É um projeto extremamente caro e que será revisado. Esse teatro já é sofisticado pela própria existência dele. É um luxo, obra de arte, belíssimo exemplar da arquitetura modernista brasileira. A obra será feita por etapas, com início na Sala Martins Pena, mais simples em termos de obra civil. Até o início do ano que vem devolveremos à comunidade a primeira etapa, enquanto a reforma continua no resto do espaço. O projeto aqui foi contratado e pago, mas sem captação ou destinação de recursos. Assumimos essa tarefa. Não é tão simples, e não gosto de enrolar.  

4 | O sr. pretende reabrir os diversos equipamentos culturais fechados?
Todo brasiliense deveria se preocupar em vez de criticar. Há uma falência do Distrito Federal em todos os setores econômicos, algo real, concreto e que vem de anos. Várias ações que o governo vem fazendo são incompreendidas pela sociedade civil. O povo reclama, mas, se não forem feitas, seria uma irresponsabilidade enorme. Não é fácil lidar com essa dicotomia, assim como não é fácil lidar com a opinião pública e com as redes sociais em um Brasil doente em todos os sentidos. Isso provoca em cada um de nós uma distorção da realidade.  

5 | As mudanças no Ministério da Cultura afetaram seu trabalho? 
Isso atrasa o trabalho. Temos convênios de eventos, de circulação de espetáculos, música, fotografia e artes visuais parados desde 2014, alguns desde 2011. Em vários deles nós nos envolvemos, trabalhamos, recuperamos e depois os vimos caírem, porque a crise política está tensa. É como um cano furado, uma energia que se esvai. 

 (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
6 | E a situação da secretaria? 
Temos uma equipe técnica, não política. Encaramos determinadas discussões adiadas há muitos anos. Não basta resolver um problema de reforma de espaço cultural se não prover sua manutenção, para evitar que daqui a poucos anos ele venha a sofrer de novo um processo de desgaste e precise de reformas, algo que Brasília vem permitindo há 50 anos, e não só na cultura. No coração da capital, há obras importantes e que não tiveram nenhum cuidado. Nesse momento estou menos preocupado em pintar o Museu Nacional, mesmo sendo uma vergonha o estado em que ele está hoje, do que garantir que o ar-condicionado, o sistema de automação predial e os elevadores funcionem. Não vamos pintar a casca e deixá-lo “bichado” internamente. Mexemos no orçamento da Secretaria de Cultura, algo que não foi feito antes, deixando de fazer eventos para prover recursos, não só para este ano. 

7 | Qual é o papel da cultura no governo Rollemberg?
O governador preserva a Secretaria de Cultura de influência política. Não há nomeação nos cargos. Ele manteve o FAC [Fundo de Apoio à Cultura], embora nunca na história este tenha sido executado integralmente. Entretanto, fazemos uma maior execução de verbas ano a ano. Em um momento difícil como este, nenhum estado brasileiro fez isso. Todos cortaram geral, reduziram pela metade, quando não pararam, como aconteceu no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Os estados que avançaram foram para 8 milhões de reais e nós estamos com 32 milhões de reais. Todavia, são fatos que não se resolvem de um dia para o outro.

8 | O sr. consegue encontrar um meio-termo entre o artista e o gestor?
Não sobra uma hora no dia para dar vazão ao Guilherme Reis artista, produtor, programador, curador, porque sou tudo isso. Hoje, o foco está na gestão pública. Além de algumas alegrias, isso gera preocupações, dores musculares... É essa administração que tento fazer em termos pessoais. Tenho bom humor e não quero perder isso. Se começar a sentir que perdi, é hora de sair. 

9 | Há quem aceite cargos em secretarias como vitrine para outras funções políticas. O poder o contagiou?  
Quando vim para cá, já tinha maturidade suficiente para saber quem sou eu. Não tenho interesse em continuar na carreira política. Tenho um enorme desejo como artista, como um cara vinculado à produção de Brasília. Trouxe milhares de espetáculos gratuitos para a capital. Não ganhei dinheiro com isso. Respeito quem faz com essa meta, mas não é meu objetivo. 

10 | Em 2017, o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro completa 50 anos. O que será feito para celebrar essa data? 
Depois de um carnaval com modelo mais real e concreto de políticas públicas, queremos fazer um festival de cinema muito bonito. São 50 anos do evento, além dos 30 anos do tombamento da cidade. Músicos, artistas visuais, iluminadores, queremos todos juntos nesse momento. Eduardo Valente, que se agregou à nossa equipe no ano passado, continuará na função de diretor artístico. Traremos novidades. Talvez o festival cresça em dias, incorpore outras ações na grade de programação. A ideia é que a partir de agora dure nove ou mais dias, para não começar em uma terça-feira, mas em uma sexta-feira. 
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