Há quem não goste da vida esportiva dentro de uma academia, e por isso a busca de alternativas ao ar livre tem atraído cada vez mais as pessoas aos parques de Brasília. Esse fenômeno trouxe uma atividade física do passado à tona, a calistenia, a nova onda (não tão nova assim) dos esportistas da cidade. Com o uso do próprio corpo, a modalidade trabalha equilíbrio, agilidade e coordenação motora. Para isso, bastam algumas barras para iniciar os exercícios.
Manhã de sábado no Parque Águas Claras: um dos lugares mais procurados pelos brasilienses para praticar o exercício físico
O nome pode ser considerado até estranho, mas a prática é bem antiga, desenvolvida há mais de um século, e vem basicamente do treino militar. Calistenia vem do termo grego kallistenés e significa cheio de vigor e força harmoniosa. Na sua versão mais atual, ela vem como uma solução e tanto para atletas entediados das sequências prontas e repetitivas da musculação. A modalidade combina movimentos como abdominais, flexões de braço e exercícios na barra.
Em parques como de Águas Claras, Taguatinga e Parque da Cidade é possível encontrar algum grupo fazendo acrobacias nas barras, embalados por alguma música eletrônica. Foi essa possibilidade de se exercitar ao ar livre que atraiu a produtora de eventos Cinara Faria, de 36 anos. Ela pratica a modalidade, apresentada por um amigo, há cinco meses, quando se apaixonou pelos exercícios, já que estava em busca de uma atividade fora da academia: “O uso de barras para moldar o corpo e os treinos ao ar livre me incentivaram”, diz. Na visão de Cinara, a calistenia também quebra paradigmas, uma vez que as barras já foram vistas como equipamentos apenas para homens. “Não é um esporte masculino. É muito gratificante para nós, mulheres, saber que somos capazes de sustentar nosso corpo. Minha autoestima melhorou”, diz.
Para a fisioterapeuta Adriane Salomão, que mostra a postura correta no treino com a filha Jéssica, as lesões podem ocorrer se o atleta não respeitar seus limites: "Atletas de fim de semana devem ter muito cuidado"
Em um nível mais avançado, Troia Lucas Lima, de 25 anos, já participa de campeonatos da modalidade. O estudante de educação física e também militar conheceu a prática quando entrou no Exército. Até então, não tinha sequer ouvido a palavra. “Nosso treinamento é baseado na calistenia. Sempre pratiquei esportes, joguei futebol na adolescência, depois vôlei. Quando conheci a modalidade me interessei. É um constante desafio. Treinamos para nos superar e conseguir executar os movimentos. Isso é gratificante quando alcançado”, afirma Troia. Ao longo do tempo, o atleta percebeu algumas mudanças no corpo. “A primeira foi a definição muscular, consequência da prática.”
A ideia ganhou tanto espaço que uma nova área de calistenia foi construída no Parque de Águas Claras. O mesmo foi feito no Taguaparque e para este ano há previsão de construção de espaços em outros parques, como de Samambaia e da Cidade.
Há quase um ano, o estudante de educação física Antônio Almeida montou um área de barras no fundo de sua casa: "Minha performance mudou. Antes, eu me sentia pesado, sem flexibilidade, e agora estou bem"
O professor de educação física e personal trainer Lindon Johnson Rodrigues explica que o esporte é aconselhado para todas as idades e que é fundamental a orientação de um profissional da área: “A calistenia é indicada desde a infância. A partir do momento em que a criança aprende a subir numa árvore, ela começa a fazer trabalhos de sustentação. Isso já é calistenia. Para idosos, por exemplo, é muito usada para o alinhamento postural, o fortalecimento de joelhos e o encaixe visceral”, explica.
Segundo o especialista, é importante que a prática seja agregada a outros tipos de exercícios: “A musculação pode evitar lesões, um trabalho aeróbico pode auxiliar na queima de gordura, por exemplo”. Lindon Johnson explica que a calistenia contribui para a construção muscular, queima de gordura, correção postural e condicionamento físico. “É uma das atividades mais antigas do mundo e benéfica por vários motivos. É possível o praticante ver até mesmo seus limites para exercícios físicos. Ela pode ser feita em casa, na rua ou nos parques, em grupos coletivos. Para quem quer se iniciar na prática, o importante é começar bem devagar. Realizar todos os grupos musculares no mesmo dia com menos repetições é uma estratégia positiva”, afirma.
A produtora de eventos Cinara Faria queria uma atividade fora da academia e é entusiasta da calistenia há cinco meses: "O uso de barras para moldar o corpo e os treinos ao ar livre me incentivam"
O estudante de educação física Antônio Almeida, de 23 anos, descobriu a calistenia na internet, quando morava em Unaí (MG). Quando se mudou para a capital, montou uma área de barras no fundo de casa. “Sempre pratiquei musculação e vi que com a calistenia minha performance mudou. Antes me sentia pesado, sem flexibilidade, e agora estou bem. Os exercícios me ajudaram a desenvolver esses fatores. Meu treinamento é à base do meu peso mesmo”, afirma o jovem, que pratica há oito meses.
A modalidade traz muitos benefícios, mas é preciso passar por avaliação médica antes de começar os treinos. É o que lembra a fisioterapeuta supervisora da Faculdade Unieuro, Adriane Salomão. Ela alerta que é o esporte com menor registro de lesões, mas elas podem ocorrer se não forem respeitados os limites dos praticantes. Por isso é fundamental a observação do desempenho. “As pessoas devem respeitar o seu limite. Atletas de fim de semana, por exemplo, querem fazer grande esforço de uma única vez e é aí que ocorrem as lesões. É preciso ter muito cuidado”, diz.
O atleta Troia Lucas Lima, que já praticou outros esportes, hoje participa de campeonatos da modalidade: "Quando conheci a calistenia me interessei logo, porque é um constante desafio
Segundo ela, a calistenia trabalha com progressão e regressão. Conforme se ganha mais resistência, aumenta-se a intensidade de exercícios. “A regressão é usada para prevenir lesões”, diz. Ainda de acordo com a especialista, os tipos de lesões mais comuns são nos tendões, punhos e ombros, que são os mais exigidos na modalidade. “É preciso observar os movimentos para notar se estão sendo executados corretamente. Por isso, é fundamental o acompanhamento de um profissional”, ressalta Adriane.
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Domingo, às 10h
PARQUE DE ÁGUAS CLARAS
Qualquer dia da semana
TAGUATINGA PARQUE
Qualquer dia da semana
O professor de educação física e personal trainer Lindon Johnson Rodrigues recomenda a calistenia para todas as idades: "Para os idosos, por exemplo, é muito usada para o alinhamento postural, o fortalecimento de joelhos e o encaixa visceral"
EU TENHO A FORÇA!
Conheça algumas das vantagens da calistenia e os cuidados na hora de praticá-la:
Os benefícios da atividade:
Flexibilidade: os praticantes ganham capacidade de uma articulação mover-se com facilidade em toda a sua amplitude de movimento
Agilidade: a modalidade proporciona a mudança da posição do corpo no menor tempo possível
Coordenação motora: o atleta adquire a capacidade de sincronizar os movimentos usando cérebro, músculos e articulações
Equilíbrio: o praticante passa a combinar ações musculares com o propósito de assumir e sustentar o corpo contra a gravidade
Massa muscular magra: a pessoa desenvolve a hipertrofia e tonificação da musculatura
Força muscular: o praticante passa a contrair os músculos e exerce uma tensão com ou sem movimento
Resistência física: quem faz calistenia passa a resistir à fadiga, ganhando condicionamento físico e cardiorrespiratório
OS CUIDADOS A SEREM TOMADOS:
Faça alongamentos precisos antes da atividade física
Procure consumir algum tipo de carboidrato antes do treino
Observe os limites do seu corpo
Dor é sinal de que algo está errado
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