O melhor é se vacinar
Com a febre amarela se espalhando pelo Centro-Sul do país, todo mundo quer saber: quais vacinas é preciso tomar no Brasil e como são distribuídas as doses
Uma das mais importantes descobertas da medicina, a vacina é, hoje, item de primeira necessidade, principalmente quando o assunto é saúde pública. E, com a popularização desse método de imunização, ela passou a fazer parte do cotidiano de todo indivíduo, desde o nascimento. Mesmo diante de constantes campanhas de esclarecimento por parte do governo, no entanto, a população ainda tem muitas dúvidas sobre o assunto.
Especialistas revelam que a adesão aos programas de vacinação no território nacional diminuiu com o passar dos anos. Nas décadas de 1980 e 1990 esse percentual chegava a 95% do público-alvo. Atualmente, em alguns casos, menos de 70% das pessoas que deveriam receber a vacina são atingidas. Diante disso, os infectologistas são categóricos quanto à importância de se ter sempre o cartão de vacina em mãos. Além disso, de estar de olho na atualização das vacinas por faixa etária.
Para o chefe da comissão de Controle de Infecção e Imunização do Hospital Santa Lúcia, Werciley Júnior, além da falta de espaço na mídia, os movimentos de contrainformação concorrem como barreiras para a efetiva ação das campanhas. Ele destaca ainda que tais correntes se disseminam via redes sociais e pelo boca a boca: “A oposição, geralmente, vem em função de efeitos colaterais e situações incomuns. Mas é preciso ter noção de que a vacinação de massa é um mecanismo de baixo custo, com ampla disseminação e excelente para realizar o controle de doenças infectocontagiosas se comparado ao custo do tratamento de uma doença”, afirma.
Neste ano, a administradora Kathleen Vale, de 40 anos, moradora de São Sebastião, ainda não levou os dois filhos ao posto de saúde para conferir o cartão de vacinas – motivo pelo qual está preocupada. Ela conta que a intensificação das ações de esclarecimento sobre a febre amarela a deixaram confusa: “Tenho dois filhos, a Ana, de 2 anos, e o Arthur, de 8. Eles ainda não receberam essa última vacina que anunciaram. Eu também não sei se tenho de me vacinar. Aliás, não sei como funciona para nós, adultos, e quais os riscos”, conta.
A médica Eliana Bicudo, que também é coordenadora de Infectologia da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), esclarece que a região Centro-Oeste, assim como a Amazônia, é considerada endêmica, ou seja, local onde há muitas ocorrências da doença. Portanto, no calendário vacinal já existe a recomendação de imunizar crianças contra a febre amarela, ou seja, os filhos de Katheleen já deviam estar protegidos da doença.
A mesma orientação é dada a turistas que viajarem para países estrangeiros com grande incidência de algumas doenças. O marido de Katheleen, o técnico de suporte Kayller Vale, de 39 anos, precisou vacinar-se contra a febre amarela antes de ir para a África do Sul: “Mesmo tendo tomado a vacina no Brasil, precisei fazer o cartão internacional e tomar novamente”, conta.
A Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) estima que entre 1º de janeiro até a última semana de fevereiro deste ano foram distribuídas 123 mil doses contra a febre amarela nos postos de saúde do território. A recomendação é de que a primeira etapa da vacina da febre amarela seja dada aos 9 meses de idade, enquanto o reforço, aos 4 anos.
Os especialistas explicam que nenhuma vacina induz 100% de proteção. Algumas são feitas com vírus atenuado, ou seja, vivo. E por esse motivo não podem ser aplicadas em pessoas com baixa imunidade. No caso da febre amarela, idosos e gestantes devem apresentar laudos médicos antes de tomar a vacina. O primeiro grupo, porque corre o risco de desenvolver doenças semelhantes, e o último grupo pela possibilidade de desencadear problemas ao feto.
Grávida do terceiro filho, a dona de casa Lílian Oliveira, de 37 anos, tenta colocar em dia as vacinas da família. No início de março, ela esteve em um posto de saúde de Taguatinga, onde reside, para atualizar a carteira e descobriu que só faltava uma dose da vacina de hepatite B para estar totalmente protegida. “Nesse meio-tempo, tomei duas. Devo receber a última no segundo semestre da gravidez”, diz. “Outra que tomei foi a DTPA, que protege contra o tétano. Estou sempre atenta ao meu cartão e aos dos meus filhos. Acredito que as campanhas cumprem o seu papel”, afirma.
Lílian conta ainda que o filho mais novo, Pedro Lucas, de 3 anos, teve forte reação à vacina tetravalente, voltada à imunização da difteria, tétano, coqueluche e meningite. Para cuidar do filho, ela recorreu ao tratamento caseiro: “Sabia que era normal acontecer isso. Então, cuidei com banho morno e remédios para febre. Depois de um dia, ele já estava bom”, diz Lílian.
Para a infectologista Eliana Bicudo, quatro vacinas figuram entre as mais importantes a serem tomadas ao longo da vida. São elas: a tríplice viral, para sarampo, caxumba e rubéola; a TT, para o tétano; além das voltadas ao combate do HPV e da hepatite B. Ela ressalta, contudo, que há outras muito importantes que são encontradas somente na rede particular. São os casos da pneumo13, para pneumonia; da meningococo, para meningite e meningococcemia; e da voltada à gripe, que inclui H1N1. “Infelizmente, há muitos mitos envolvendo a vacina. Tanto é que em 2015 o governo jogou fora um estoque para gripe. Então, obviamente, é preciso uma maior adesão por parte desses públicos”, diz.
A rede pública de saúde do DF oferece mais de 30 variedades de vacinas. Elas estão disponíveis nas Unidades Básicas de Saúde (antigos postos de saúde). De acordo com a Secretaria de Saúde, os estoques estão abastecidos e não há registro de ausência de nenhum tipo no momento.