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Brasília: Patrimônio Mundial há 30 anos

Primeiro conjunto urbano do século XX a ser reconhecido pela Unesco, capital federal tem muito a comemorar, mas também encara o desafio de preservar seus belos monumentos pelas próximas décadas

Teresa Mello - Publicação:03/07/2017 13:17Atualização:03/07/2017 14:35
Aos 27 anos, a jovem Brasília foi considerada Patrimônio da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O título atendeu plenamente à candidatura pleiteada em 1986 com incentivo do então governador do Distrito Federal (1985-1988), o mineiro José Aparecido de Oliveira (1929-2007). “Ele apontava a importância da capital para a história da humanidade”, afirma o superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no DF, Carlos Madson Reis. “É o primeiro conjunto urbano do século XX a ser reconhecido como Patrimônio Mundial da Unesco, porque os outros estão em locais centenários, milenares”, compara. O ineditismo fez com que o tombamento federal viesse só depois, em 1990. “Esse reconhecimento antes do próprio tombamento é algo inusitado. E a cidade que nasceu de um projeto tão magnífico ter reconhecimento rápido é extraordinário”, diz a oficial de projetos de cultura da Unesco no Brasil, Isabel de Paula.
 
Quando se comemoram os 30 anos da outorga mundial, a preservação do patrimônio encontra desafios – como as transformações da sociedade e as ações do tempo – para manter as características traçadas por Lucio Costa em quatro escalas: monumental, residencial, gregária e bucólica. Por isso, há dois anos, foi firmado um acordo de cooperação entre Iphan e Governo do Distrito Federal (GDF) para a gestão compartilhada da área tombada, que é todo o projeto urbanístico do Plano Piloto, conhecido como avião, e espaços limítrofes, que vão da margem oeste do lago Paranoá até a Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia). “São 112 km², o maior conjunto urbano tombado do mundo”, diz Carlos Madson. 
 
Em Brasília há 14 anos, Isabel, mineira de Iturama, chama atenção para um componente especial da cidade: o céu, que ilumina ainda mais o conjunto arquitetônico. Na cidade desde 1962, o maranhense Carlos Madson, que estudou arquitetura na Universidade de Brasília, admira os espaços públicos democráticos e declara: “Adoro morar em uma superquadra, me formei como cidadão aqui, meus filhos foram criados aqui. Eu me naturalizei candango”. Um apaixonado pela cidade, ele integra o quadro de especialistas que assinam o recém-lançado livro Patrimônio em Transformação – Atualidades e Permanências na Preservação de Bens Culturais em Brasília e colaborou na seleção dos monumentos que ilustram esta reportagem.
 
O PALÁCIO INAUGURAL 

Palácio do Alvorada – “Dedicamos às colunas a maior atenção, estudando-as cuidadosamente nos seus espaçamentos, forma e proporção, dentro das conveniências da técnica e dos efeitos plásticos que desejávamos obter. Esses efeitos nos levaram a uma solução de ritmo contínuo e ondulado que confere à construção leveza e elegância, situando-a como que simplesmente pousada no solo”, explica o arquiteto Oscar Niemeyer. Primeiro palácio a ser construído na nova capital, a residência oficial do presidente da República abriga preciosidades, como uma biblioteca de 3.400 volumes e obras de arte, como as do mezanino, onde estão as esculturas Outono e Inverno, de Alfredo Cheschiatti, os bancos Marquesa, de Niemeyer, e três urnas funerárias criadas por índios marajoara, além da tapeçaria Múmias, de Di Cavalcanti, na parede.
 (Antonio Cunha/CB/DA Press)
 (Antonio Cunha/CB/DA Press)
 (Antonio Cunha/CB/DA Press)
 
 
 (Marcelo Ferreira/CB/DA Press  )
MOMENTO DE FÉ

Catedral de Brasília – A pedra fundamental da Catedral Metropolitana Nossa Senhora Aparecida foi lançada em 1958, em 12 de setembro – aniversário de Juscelino Kubitschek. Na área externa, estão enfileirados Os Evangelistas, quatro esculturas em bronze com 3 metros de altura: São Mateus, São Marcos, São João e São Lucas, assinadas por Alfredo Ceschiatti, com a colaboração de Dante Croce. No interior da nave, pairam três anjos suspensos por cabos de aço: o menor tem 2,22 m de comprimento e 100 kg; a média, 3,40 m e 200 kg; e a maior delas, 4,25 m e 300 kg. A cobertura da nave tem um vitral composto por 16 peças em fibra de vidro em tons de azul, verde, branco e marrom, criado por Marianne Peretti, a via-sacra é uma obra de Di Cavalcanti, na entrada há passagens da vida de Maria assinadas por Athos Bulcão. O altar foi doado pelo papa Paulo VI, e a imagem da Padroeira do Brasil é uma réplica da original que se encontra em Aparecida (SP).
 (Antonio Cunha/CB/DA Press )
 
 
À ESPERA DA RESTAURAÇÃO  

Teatro Nacional – A pirâmide de 45 mil m2 abriga duas salas principais, além de salas de balé, camarins, espaço para oficinas cênicas e amplo foyer para exposições. A área externa é revestida por blocos de concreto criados por Athos Bulcão em 1966, em obra de 125 m na base maior e 27 m de altura. Segundo a Fundação Athos Bulcão, o arquiteto Oscar Niemeyer teria dito ao artista que o Teatro Nacional precisaria ter um aspecto sólido, pesado e ao mesmo tempo leve. Para isso, Athos criou uma série de paralelepípedos com volumes variados batizada de O Sol Faz a Festa. Dão a sensação de leveza com a luz do sol e de peso, com a sombra. Interditado desde fevereiro de 2014 devido à irregularidades nas estruturas elétrica e hidráulica apontadas pelo Corpo de Bombeiros, o Teatro Nacional Claudio Santoro deve ser restaurado por meio de ações governamentais em parcerias público-privadas. 
 (Ana Rayssa/Esp. CB/DA Press )
 (Minervino junior/CB/DA Press )
 
 
ESPAÇO PARA A ARTE
 
Palácio do Itamaraty – Há 50 anos, era aberta a sede do Ministério das Relações Exteriores. Com paisagismo de Burle Max, é rodeado por um espelho d’água no qual flutua a escultura O Meteoro, de Bruno Giorgi. “É uma releitura de elementos medievais, na qual essa água permite o isolamento do prédio em relação ao entorno”, define o arquiteto Carlos Madson, superintendente do Iphan. O térreo ostenta um vão de 2,8 mil m2 sem colunas, apenas paredes laterais. A arte espalha-se pelo prédio de três andares. No último deles, na Sala Dom Pedro I, está um óleo sobre tela que retrata o Grito do Ipiranga, de Pedro Américo, e a Pomba da Paz, de João Alves Pedrosa. Na Sala Portinari, há dois anjos barrocos feitos em madeira em 1737 e, no aposento Duas Épocas, pode-se apreciar móveis do século XVIII e obras da artista contemporânea Maria Martins. 
 (Marcelo Ferreira/CB/DA Press )
 (Marcelo Ferreira/CB/DA Press )

O PRIMEIRO TEMPLO

Igrejinha – Na entrequadra da 307/308 Sul, está o primeiro templo em alvenaria erguido em Brasília. Inaugurado em 1958, a Igreja Nossa Senhora de Fátima foi projetada por Oscar Niemeyer em forma de chapéu de freira com 25 m de base e 29 m de altura. No interior e na fachada, recebeu os famosos azulejos de Athos Bulcão, nos quais a pomba representa o Espírito Santo e uma estrela, a Estrela de Belém, que guiou os reis magos até o Menino Jesus. A Arquidiocese de Brasília diz que a igreja teria sido construída em 100 dias para pagar uma promessa de dona Sarah Kubitschek em favor da saúde de uma das filhas. 
 (Kleber Lima/CB/DA Press)
 (Hugo Gonçalves/Esp. CB/DA Press)
 
LUGAR BOM PARA MORAR 

Superquadra 308 Sul – Um trecho do relatório do Plano Piloto de Lucio Costa estabelece: “Dentro dessas superquadras, os blocos residenciais podem dispor-se da maneira mais variada, obedecendo, porém, a dois princípios gerais: gabarito máximo uniforme, talvez seis pavimentos e pilotis, e separação do tráfego de veículos do trânsito de pedestres”. Considerada a quadra modelo, por seguir à risca o planejamento, o espaço residencial localizado na 308 Sul abriga característica marcantes da escala gregária: blocos com pilotis e com áreas internas de circulação arejadas por cobogós, amplos espaços de convivência para adultos e crianças traduzidos em gramados, praças e árvores de grande porte, e ainda espelho d’água, escola-parque e jardim de Burle Marx e proximidade à quadra comercial. 
 (Zuleika de Souza/CB/DA Press)
 (Daniel Ferreira/CB/DA Press)
 
FRUTO DE MENTE INQUIETA

Universidade de Brasília – Inaugurada em 1962, no aniversário da capital, 21 de abril, a Universidade de Brasília nasceu da mente inquieta do antropólogo mineiro Darcy Ribeiro, da genialidade de Oscar Niemeyer e do modelo pedagógico criado pelo educador Anísio Teixeira. “Só uma universidade nova, inteiramente planificada, estruturada em bases mais flexíveis, poderá abrir perspectivas de pronta renovação do nosso ensino superior”, estabelece o Plano Orientador da instituição. Darcy e Anísio escolheram cientistas, professores e artistas para assumir as salas de aula. “Eram mais de 200 sábios e aprendizes, selecionados por seu talento para plantar aqui a sabedoria humana”, escreveu o antropólogo em A Invenção da Universidade de Brasília. Como destaque entre os 120 prédios no Campus Darcy Ribeiro, na Asa Norte, está o Instituto Central de Ciências, o Minhocão, com seus 800 m de extensão entremeados por jardins.  
 (Marcelo Ferreira/CB/DA Press)
 (Zuleika de Souza/CB/DA Press)

 
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