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Coletivamente viável: os coworkings têm conquistado empreendedores da capital

De pequenos empresários a escritórios de grande alcance, formato despretensioso e fervilhante na criatividade - além da economia nos gastos de manutenção - são os principais atrativos para os empreendedores

Jéssica Germano - Redação Publicação:26/07/2017 12:35Atualização:26/07/2017 13:57

Ao pé da letra, trata-se de algo produzido com outras pessoas, em conjunto, com contribuição. Daí o nome: colaborativo. Em se tratando de mais pessoas, coletivo. Nesse caso, de projetos, ideias, negócios. Ocupando o segundo lugar do Brasil – atrás de São Paulo –, com maior aumento de novos espaços de coworking, Brasília já pulsa em grupos desse novo modelo de negócios. Seja em estações ou salas de reuniões, fechadas ou comunitárias, a proposta de dividir o mesmo ambiente ultrapassou a premissa de compartilhamento físico e foi exponencializada pela troca de serviços e viabilidade financeira de empreender.

Grupo trabalha em espaço de coworking, modelo que tem crescido em Brasília: bom para todo mundo (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
Grupo trabalha em espaço de coworking, modelo que tem crescido em Brasília: bom para todo mundo
 

No lucro, estão pequenos, médios e até grandes empresários que surfam no já atual formato da economia, a veia colaborativa. “Pelo menos uma vez por dia vejo um negócio sendo fechado, um cartão sendo trocado, um contato sendo compartilhado. Aquela economiazinha acontecendo ali”, resume Eduardo Mujica, que desde meados de maio tem visto a movimentação tomando conta da 206 Norte. Quadra também conhecida por sua estranheza arquitetônica, ela ganhou desde então um espaço que combina 42 estações individuais, três estúdios, duas salas de reunião, um auditório, uma copa comunitária, vestiários e até acesso ao jardim suspenso que a comercial escondia. 

 

Sob a patente de Manifesto Coworking, a iniciativa une espaços, acessórios de escritório, tecnologia – a internet do local, por exemplo, é de fibra ótica, com capacidade de 30 megabites – e design de móveis focados na produtividade e concentração. Ali, é possível ter um cantinho, para chamar de seu, por a partir de 49 reais diários ou 499 reais por mês. “Nós temos soluções para todos os tipos de perfil”, completa o empresário de 26 anos, que até então comandava uma marca de eventos universitários.

 

Atento ao mercado, Eduardo, ao lado dos sócios Leonardo Ornelas, Alexandre e Eduardo Coelho, decidiu seguir pela fatia de negócio que vem sendo um caminho do empreendedorismo há algumas temporadas. “Estamos apostando em uma tendência e não em uma moda, que vai surgir e acabar. É algo que veio para se sustentar”, afirma Leonardo, com convicção, levando em consideração a pesquisa de um ano de mercado que fizeram e a formação em economia que carrega. “Hoje, o modelo antigo de negócio não faz mais sentido”, atesta, tendo como base os 378 endereços ativos no Brasil, de acordo com o Censo Coworking Brasil 2016. O número é 52% maior do que em 2015.

Eduardo Mujica e Leonardo Ornelas, sócios do Manifesto Coworking, aberto em maio, na 206 Norte: 'Pelo menos uma vez por dia vejo um negócio sendo fechado', diz Mujica (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
Eduardo Mujica e Leonardo Ornelas, sócios do Manifesto Coworking, aberto em maio, na 206 Norte: "Pelo menos uma vez por dia vejo um negócio sendo fechado", diz Mujica
 

A inviabilidade dos moldes conhecidos por um trabalhador entre quatro paredes, por cerca de 30 anos na mesma empresa, vai de encontro à realidade econômica e social mundial. “Ninguém mais quer ter um escritório em que se gasta 4 mil reais por mês, em que se tem de fazer gestão de funcionários, de empresa de segurança, de internet”, diz Leonardo, sobre os gastos que se somam à decisão de apostar em uma sede privada.

 

Há dois meses como residente do Manifesto, Vânder Ribeiro, de 26 anos, escolheu o coworking como uma etapa seguinte ao home office, onde colocava em prática seus projetos de design, youtuber e startups. A sede da 206 Norte é o segundo espaço colaborativo que procurou, justamente em busca da interação menos formal que o tipo de locação propõe. “Aqui, as pessoas estão mais abertas a criar novos vínculos e novos negócios”, afirma o pequeno empresário.

 

Mesmo com a descontração naturalmente jovem da vertente, Vânder aponta a facilidade em ter fechado alguns contratos no novo endereço, em pouco tempo. “Tanto com pessoas que vieram para o espaço ter reunião comigo, e deram mais valor por eu estar inserido aqui, quanto pessoas que eu conheci e acabaram me indicando para alguém ou para alguma outra empresa”, conta, sobre o que muitos entendem como networking ou rede de contatos. Na capital conhecida por definições de moradores frios e distantes uns dos outros, o designer acredita que essas estruturas vieram para somar: “É um público mais isolado no quesito do empreendedorismo, pela organização da cidade mesmo. Esses espaços trazem a quebra do gelo, criando conexões para a economia colaborativa, que não tem limites.”

Pequeno empresário, o youtuber Vânder 
Ribeiro é adepto do escritório compartilhado: 
'Aqui, as pessoas estão mais abertas 
a criar novos vínculos e novos negócios' (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
Pequeno empresário, o youtuber Vânder Ribeiro é adepto do escritório compartilhado: "Aqui, as pessoas estão mais abertas a criar novos vínculos e novos negócios"
 

Para Tarso Frota, sócio-operador da distribuidora de bebidas Pulso e do evento cervejeiro Casa Bier, a configuração coletiva casou muito bem com o momento de crescimento das marcas que gerencia. “Eu estava trabalhando com caixas de cerveja atrás de mim, onde não cabia mais nada”, lembra, sobre o antigo escritório que foi realocado, desde o início do ano, para o The Brain Coworking & Storage, no Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte (SAAN) – um dos 11 espaços registrados em Brasília.

 

A transferência não poderia ter vindo em melhor hora. “Consigo estar onde eu sempre quis, em meio a propostas diferentes, mesmo com o meu business sendo muito tradicional. Está tudo fervilhando por aqui”, comemora Tarso, sem esconder a empolgação com o que chama de novo modelo. “Minha geração acredita que está vivendo uma mudança de era. Ela é muito mais hiperconectada, mais fluida, sem tanto a lógica da parede do que as gerações anteriores”, define.

Para o empresário do ramo de bebidas Tarso Frota, a proposta do negócio colaborativo 
The Brain veio a calhar com o crecimento da empresa: 'Está tudo fervilhando por aqui' (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
Para o empresário do ramo de bebidas Tarso Frota, a proposta do negócio colaborativo The Brain veio a calhar com o crecimento da empresa: "Está tudo fervilhando por aqui"
 

É ao lado de grandes empresas, como a distribuidora de Chivas e Absolut no Centro-Oeste, que o empreendedor sente o mercado e troca figurinhas que vão de fornecedores à locação de ponto. Sem contar na concentração de esforços, que passaram a ficar em um só CEP. Isso porque o The Brain une espaço para trabalho, indústria e estoque – inclusive com câmera fria e congelada –, ao longo de três galpões no mesmo endereço. Áreas essas que ainda têm como vantagem um lugar de eventos, no misto de recepção e bar do coworking, e pode ser usado com agendamento prévio pelos residentes. “Se eu fizesse eventos em outro local, eu gastaria uma grana”, compara Tarso, que fez lá, recentemente, o lançamento da edição 2017 do Casa Bier.

 

Construir essa estrutura em Brasília foi mais fácil, acredita Cristiano Diniz, um dos quatro sócios da proposta situada no SAAN. Imagine conseguir um espaço similar, de 800 metros quadrados, em uma metrópole como Rio de Janeiro, São Paulo ou Belo Horizonte! Além do alto custo, certamente não seria tão próximo do centro dessas capitais, como é aqui. Lá, por cerca de 3,5 mil reais mensais uma empresa com mais de um funcionário pode ter inclusa uma sala fixa, com serviço de secretária, água, TV, internet, telefone, sala de reuniões quantas vezes precisar e utilização do hall para eventos duas vezes por ano. Com funcionamento normal de segunda a sábado, os coworkers podem acessar as dependências a hora que quiserem, também aos domingos, por acesso com biometria. “A pessoa pode ter uma empresa pequena, que renda bem, mas com cara de grande”, afirma Cristiano.

Cristiano Diniz, do The Brain, que tem 110 nichos com itens variados de gastronomia: de azeites e vinhos a massas congeladas (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
Cristiano Diniz, do The Brain, que tem 110 nichos com itens variados de gastronomia: de azeites e vinhos a massas congeladas
 

O modelo do compartilhar, emprestar, alugar e trocar em um mesmo local tem falado tão alto ao empreendedorismo que o produto final não se limitou a apenas estações de trabalho. Na Mercearia Colaborativa, 110 nichos oferecem os mais variados itens quando o foco é a boa mesa. De azeites e vinhos a massas de grandes restaurantes congeladas, a loja combinou o varejo com gastronomia. E deu certo. Tanto que em meados de junho o ponto foi além da oferta para exposição de produtos – de 250 reais a 500 reais mensais – e alugou a área do café.

 

Intitulado Risttreto, a parte foi negociada por 2,5 mil reais por mês para os bartistas Paulinho Lima, Daniel Viana e Pedro Gabriel seguirem pelas mesclas do conceito coletivo. “Além de trabalhar com produtos da Mercearia, eles usam outros que acham interessantes de pequenos produtores”, conta André Batista, a respeito da rede de conexões. Um dos responsáveis pelo ponto gastronômico, ele cuidou de deixar o ambiente pronto para receber a operação, única com contrato anual. “Forno, geladeira, expositores frios e aquecidos, micro-ondas, pia de lavagem”, diz, lembrando que a lista sairia caro para os empresários interessados se começassem do zero.

 

“Nós pensávamos em abrir uma cafeteria, mas não tínhamos o cacife para isso”, lembra Paulinho, que antes estava à frente da empresa homônima e levava cafés para eventos sociais. “Na Mercearia, veio a oportunidade de ter um ponto já estruturado, onde o valor inicial que tínhamos de dar era bem menor do que pegar uma loja vazia no Plano Piloto e reformar.” Uma conta, estima ele, próxima a 200 mil reais, contrabalanceados aos 30 mil reais que investiram.

Daniel Viana, Pedro Gabriel e Paulinho Lima (da esq. para a dir.), sócios do Café Ristretto: 'A pessoa 
vem aqui tomar um café e, de quebra, se encanta com a loja e leva um monte de coisas', diz Paulinho (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
Daniel Viana, Pedro Gabriel e Paulinho Lima (da esq. para a dir.), sócios do Café Ristretto: "A pessoa vem aqui tomar um café e, de quebra, se encanta com a loja e leva um monte de coisas", diz Paulinho
 

Com cardápio de comidinhas e bebidas com grão torrado assinado pelos três sócios, a operação tem trazido movimento para a loja como um todo, outro ponto alto. “Dos modelos que conheço, acredito que esse seja o mais legal. A pessoa vem aqui tomar um café e, de quebra, se encanta com a loja e leva um monte de coisas. É aí que a palavra colaborativa consegue abraçar com mais carinho a proposta”, diz Paulinho.

 

Na outra ponta do avião, é sob o slogan de anticafé que a marca 55lab.co inaugurou seu mais novo braço: um endereço na 315 Sul em que o cliente paga pelo tempo no lugar. Nesse misto de loja-café-cozinha coletiva, o cliente tem direito a chá, café, cappuccino, água saborizada, duas opções de salgado e uma de doce ao longo da estada, contabilizada em um cartão entregue logo na entrada do estabelecimento. “É para tirar a pressão do tempo e atender a demanda do cliente, sem ter um garçom incomodando, querendo que ele saia logo porque não está consumindo”, explica Juliana Guimarães, sócia-proprietária, publicitária e especializada em gestão de produtos, marcas e serviços. A primeira meia hora para usufruir de qualquer um dos três andares na loja sai a 18 reais, enquanto 60 minutos custam 24 reais. Já para quem quer ficar o dia todo, o valor ganha o custo-benefício da diária a 60 reais.

 

175% crescimento de coworkings em Brasília de 2015 para 2016

 

378 endereços de coworkings ativos no Brasil em 2016, número 

 

52% maior do que em 2015 

                        Dados do Censo coworking Brasil 2016, realizado pelo Movebla, Ekonomio e Coworking Brasil

 

O formato mais low-profile não é para quem busca algo mais formal e eles nem querem isso. Aliás, isso eles já têm. Ainda em 2013 Juliana montou, junto com marido Fernando Santiago, um coworking voltado para advogados, que hoje atende por 55lab.work. Mas a demanda cresceu paralelamente à variação de público e eles abriram o leque para diferentes áreas. “Percebemos que nosso know-how era na construção da comunidade e não necessariamente na locação de espaço”, lembra a empresária, para anunciar o projeto que veio em seguida: uma iniciativa voltada para a capacitação e criação de cultura empreendedora, batizada de Acelere-me.

A publicitária Juliana Guimarães é dona do novo espaço na 315 Sul, misto de loja-café-cozinha coletiva: lugar funciona de acordo com a demanda (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
A publicitária Juliana Guimarães é dona do novo espaço na 315 Sul, misto de loja-café-cozinha coletiva: lugar funciona de acordo com a demanda
 

Foi com toda essa experiência que a empresária resolveu misturar as últimas demandas que percebeu nos brasilienses. “Não somos mais um coworking; deixamos de ser um há muito tempo”, diz. “Gostamos de ficar testando modelos toda hora. Então, somos um laboratório, mas um laboratório de coisas colaborativas.” Assim, no térreo é possível encontrar produtos expostos como em uma lojinha à la Endossa, mas não necessariamente para venda. Algumas grifes optam apenas por apresentar sua criação, disponível on-line, para que os clientes conheçam fisicamente.

 

No subsolo, uma cozinha pode funcionar independentemente, com direito a sofá e TV, para reuniões descontraídas ou até mesmo lanches mais incrementados. Já no andar de cima, mesas móveis funcionam bem para encontros mais redondos. “O espaço é adaptado para o que o pessoal quer”, avisa Juliana. “Foi uma ideia para atender uma necessidade individual, vinda de algo que é colaborativo. A comunidade que construiu o conceito”, completa.

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