Patrimônio: Palácio do Itamaraty completa 50 anos
Obra-prima de Oscar Niemeyer completa 50 anos em 2017 e guarda riqueza arquitetônica e acervo artístico que merecem ser vistos
Há cinco décadas, Brasília recebia as primeiras autoridades estrangeiras na nova sede do Ministério das Relações Exteriores (MRE), transferida do Rio de Janeiro para a recém-construída capital da República. Passados todos esses anos, o edifício, localizado no coração da cidade, na Esplanada dos Ministérios, e que é considerado a obra-prima do arquiteto Oscar Niemeyer, continua encantando e impressionando quem tem a oportunidade de visitá-lo.
Antonio Jorge Ramalho da Rocha, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), afirma que o MRE foi o primeiro dos ministérios civis a se transferir em caráter definitivo para a nova capital. Segundo ele, a construção do palácio, destacado não só pela beleza, como pela funcionalidade, incentivou as embaixadas a se mudarem também.
Encontro Brasília teve acesso a um inventário disposto em três volumes de livros desenvolvidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), onde estão catalogadas desde informações históricas, como a mencionada por Antonio Jorge, até detalhamentos arquitetônicos, de mobiliário e de peças de arte integradas ao edifício – uma centena delas.
O arquiteto e consultor do Iphan José Mauro de Barros Gabriel destaca a grande riqueza do acervo do Itamaraty, que reúne desde itens bastante conhecidos, como a famosa escultura Meteoro, de Bruno Giorgi, toda em mármore branco, instalada no espelho d’água localizado na área externa, até itens mais desconhecidos do grande público, como é o caso de um marco de pedra na lateral do palácio, virado para o Congresso Nacional.
Segundo Gabriel, a estrutura foi trazida de Portugal para o Brasil no século XVIII: “Esse marco servia para demarcar terras e foi extraído de pedras de Portugal. Mas o mais interessante é que ele se perdeu e em 1960 resgataram-no do fundo do rio Negro [no Amazonas]. Depois, ele veio para cá e então poucos sabem a história por trás da peça”, revela.
O consultor menciona ainda os pisos de granito e mármore dispostos em todos os pavimentos – térreo, segundo e terceiro (veja box) – que são placas de Athos Bulcão. Além disso, o arquiteto cita a escada helicoidal, no térreo, que dá acesso ao segundo andar, e uma treliça, no segundo pavimento, também de Athos Bulcão, que divide a Sala dos Tratados do mezanino. “A escada é um elemento de arquitetura, mas ela é quase uma escultura. Se você analisá-la, poderá perceber que guarda característica plástica. Logo à frente, também no térreo, no Ponto de Encontro, temos uma escultura que pode ser manuseada. São várias placas metálicas e as pessoas podem girá-las. Ao redor dessa escultura, há uns bancos de mármore que formam uma espécie de espiral. Essa obra toda faz referência à escada helicoidal e ao seu movimento de espiral”, detalha Gabriel.
No terceiro pavimento do prédio, entre uma infinidade de itens, chamam a atenção dois anjos barrocos de 1737, talhados em madeira, que foram resgatados da igreja de São Pedro dos Clérigos, demolida no Rio de Janeiro, e também a obra de arte Revoada de Pássaros, de Pedro Corrêa de Araújo, uma espécie de lustre afixado no teto da Sala de Coquetel Pedro I. Feita de ferro, bronze e prata, ela tem apenas um ponto de luz de baixo para cima, direcionado às estruturas e que projetam sombras assemelhadas a pássaros – motivo do nome.
Concebido nos cânones modernistas, o Palácio Itamaraty agrega inovações. Diferentemente de outros prédios do gênero, com formatos definidos – como quadrados e prismas –, o edifício da MRE recua a caixa envidraçada para dar lugar a um avarandado. “Niemeyer buscou essa característica na arquitetura das grandes fazendas coloniais e fundiu esse espírito com o modernismo”, frisa Gabriel. O estudioso evidencia ainda pontos importantes na estrutura, caso do concreto armado aparente, em que foi trabalhada uma coloração mais quente, o amarelo, e o formato das colunas da parte da frente, que têm certo volume e dão leveza ao visual.
10 CURIOSIDADES SOBRE O PALÁCIO
Alguns detalhes da história de 50 anos do Itamaraty
1 O nome da sede do Ministério
das Relações Exteriores é Palácio Itamaraty e não Palácio do Itamaraty. Esse último se refere ao edifício no Rio de Janeiro.
2 A data de aniversário do Palácio Itamaraty é 14 de março de 1967, mas ele só foi inaugurado de fato em 1970.
3 Não há primeiro andar no palácio, apenas: térreo, segundo e terceiro andar.
4 A planta do Itamaraty é quadrada e ele é praticamente todo vazado.
5 A entrada para visitação é feita pela lateral do prédio. A entrada principal, voltada para o Eixo Monumental, só pode ser acessada por autoridades.
6 Há entradas para carros de autoridades que dão acesso ao segundo pavimento do prédio.
7 A escultura Meteoro (foto) parece flutuar sobre a água, mas na verdade pesa 50 toneladas.
8 O palácio foi concebido como edifício que serviria ao propósito de apresentar o Brasil aos visitantes estrangeiros e, portanto, foi construído apenas com materiais nacionais. Seus salões abrigam obras apenas de artistas nascidos ou naturalizados brasileiros.
9 Nos três pavimentos há jardins de Burle Marx.
10 O Palazzo Mondadori, da editora Mondadori, na Itália, foi projetado por Niemeyer, inspirado no Itamaraty.
SAIBA MAIS
Para conhecer um pouco mais sobre o edifício e sobre os itens dessa grande galeria de ArtDecor, é possível agendar uma visita guiada. Elas são gratuitas e acontecem todos os dias da semana. As vagas são limitadas. Para realizar marcações, os interessados devem entrar em contato pelo e-mail: visita@itamaraty.gov.br ou o telefone (61) 2030-8051.