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Cresce na capital a procura por escolas bilíngues e internacionais

Quanto mais cedo, melhor? Especialistas concordam que, em se tratando de aprender uma segunda língua, a resposta é sim

Teresa Mello - Publicação:13/11/2017 13:12Atualização:13/11/2017 14:20

Clarice Muniz tem 7 anos e sabe cantar Peixe Vivo, uma das canções favoritas do fundador de Brasília, Juscelino Kubtischek, e The Sound of Music, da trilha do filme Noviça Rebelde. Aprendeu as duas canções na escola bilíngue Maple Bear, no Sudoeste, onde estuda há dois anos. O mundo globalizado pela internet elegeu o inglês como idioma oficial, e pais zelosos, sempre buscando o melhor para os filhos, ficam diante de um leque educacional variado: cursos de línguas, programas bilíngues em instituições regulares e ainda escolas bilíngues e colégios internacionais. Nos dois últimos, criados inicialmente para atender ao corpo diplomático – há 135 embaixadas na capital –, as aulas ocorrem em dois idiomas. Assim, o futuro pode significar um curso superior em universidades estrangeiras.

A economista Márcia Muniz e o servidor público Paulo Cavalcanti Muniz, com os filhos Clarice e Mateus: as crianças se divertem com um aplicativo de leitura em inglês (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
A economista Márcia Muniz e o servidor público Paulo Cavalcanti Muniz, com os filhos Clarice e Mateus: as crianças se divertem com um aplicativo de leitura em inglês
 

Começar a estudar um idioma na infância é realmente melhor? Os especialistas afirmam que sim. A maioria define a criança como uma esponjinha, graças à capacidade de aprendizado e assimilação. Por outro lado, os professores são treinados em metodologia e didática para evitar atropelos na alfabetização da língua pátria, que costuma ocorrer por volta dos 6 anos. “As crianças têm mais facilidade para idiomas, percebem os sons, aprendem mais rapidamente”, afirma Cinthia Andrade Franco, professora de inglês dedicada a alunos de 3 a 7 anos na Casa Thomas Jefferson. A aula de 90 minutos é repleta de atividades para conquistar a atenção da turma. Para isso, ela faz telefone sem fio, coloca palavras no chão para os meninos pularem em cima, reproduz sons de animais em seu tablet... Cinthia usa ainda os recursos de contação de histórias, livros e fantoches. “As crianças aprendem vivenciando, por experiência”, diz a professora, que morou no Canadá durante sete anos. Formada em relações internacionais, resolveu estudar pedagogia e admite: “Eu me encantei com a profissão”.

 

Cinthia diz que, no curso regular de inglês – com mensalidades a partir de 325 reais –, a escrita é trabalhada quando os alunos estão no 2º ano do ensino fundamental. “Evitamos introduzir a escrita antes de a criança ser alfabetizada”, confirma a superintendente acadêmica Isabela Villas Boas, ex-aluna e ex-professora da casa, com doutorado em educação. Ela aponta as vantagens em aprender na infância: “A criança tem menos barreiras, é mais desinibida, não tem medo de errar. O segundo idioma melhora a capacidade cognitiva e amplia a consciência internacional.”

'Evitamos introduzir a escrita antes de a criança ser alfabetizada', conta Isabela Villas Boas, superintendente acadêmica da Casa Thomas Jefferson  (Vinícius Santa Rosa/Esp. Encontro/DA Press)
"Evitamos introduzir a escrita antes de a criança ser alfabetizada", conta Isabela Villas Boas, superintendente acadêmica da Casa Thomas Jefferson
 

Em 1963, pouco depois da inauguração de Brasília, a Thomas Jefferson começou a funcionar na W 3 Sul. Hoje, são seis unidades no Distrito Federal: Asa Sul, Asa Norte, Lago Sul, Águas Claras, Taguatinga e Sudoeste, por onde circulam 228 professores e cerca de 15 mil alunos. “Temos cursos de inglês em 18 escolas convencionais e, em 2018, teremos conteúdos escolares em inglês em cinco colégios de Brasília”, conta Isabela, que fez uma palestra para os pais, em 19 de outubro, sobre educação bilíngue, ao lado da pedagoga e especialista em linguística Denise de Felice. “Estudos da neurociência concluem que quanto mais cedo se aprender um idioma, é melhor, porque o cérebro está mais aberto para as conexões neurais, além de aprimorar a concentração”, afirma Denise.

 

Henrique Santos, de 8 anos, estuda inglês desde os 3. “Às vezes, eu estou falando português e acabo falando inglês”, conta ele, que também aproveita as aulas para entender as músicas do ídolo Justin Bieber. “É importante para o futuro profissional e para que ele seja um cidadão do mundo”, acredita a mãe, a advogada Daniela Santos. A funcionária pública Paula Souto, mãe de Catarina, de 6 anos, concorda: “A criança é uma esponjinha, a pronúncia não fica com vício e é fundamental para ela ter contato com outras culturas e saber respeitar as diferenças”.

A advogada Daniela Santos, mãe de Henrique, da Casa Thomas Jefferson (na foto com a irmã, Mariana): 'Aprender uma segunda língua desde cedo é importante para o futuro profissional'  (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
A advogada Daniela Santos, mãe de Henrique, da Casa Thomas Jefferson (na foto com a irmã, Mariana): "Aprender uma segunda língua desde cedo é importante para o futuro profissional"
A funcionária pública Paula Souto com sua filha, Catarina, de 6 anos: 'A criança é uma esponjinha, a pronúncia não fica com vício e é fundamental para ela ter contato com outras culturas'  (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
A funcionária pública Paula Souto com sua filha, Catarina, de 6 anos: "A criança é uma esponjinha, a pronúncia não fica com vício e é fundamental para ela ter contato com outras culturas"
 

Com 9 anos, João Calebe Rocha quer estudar na Inglaterra quando ficar mais velho. Além da terra da rainha Elizabeth II, já conheceu os Estados Unidos, a Jamaica e o Panamá. Quando viaja, aproveita para treinar o inglês em lojas, enquanto compra artigos como “t-shirts”. “Gosto muito de ler em inglês e sempre tento fazer traduções de música”, diz ele, ao lado da mãe, a fonoaudióloga Vanessa David Rocha.

João Calebe Rocha, com a mãe, a fonoaudióloga Vanessa David Rocha: 'Gosto muito de ler em inglês e sempre tento fazer traduções de música' (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
João Calebe Rocha, com a mãe, a fonoaudióloga Vanessa David Rocha: "Gosto muito de ler em inglês e sempre tento fazer traduções de música"
 

Na escola bilíngue Maple Bear, os cerca de 300 professores brasileiros não são chamados de tia e tio e, sim, de Miss e Mister. Há 11 anos em Brasília, o colégio canadense educa 1.150 alunos dos 2 anos até o fim do Ensino Fundamental. Com mensalidades a partir de R$ 2,3 mil, acaba de abrir matrículas para a nova unidade em Águas Claras. “É uma cidade jovem e com muitas crianças”, diz a diretora de admissões, Sylvia Tzemos. Há lista de espera, com prioridade para irmãos e primos de alunos. O calendário é o brasileiro, ao contrário de escolas internacionais na capital. No vidro de uma sala do segundo andar, os estudantes colocaram comentários sobre Machado de Assis. Gostaram de ler Conto de Escola, que mostra como era um colégio em 1840, e foram vestidos com roupa de época.

'Crianças de 2, 3 e 4 anos têm imersão total em inglês, por meio de conversas e brincadeiras; não existe escrita, elas ouvem e falam', explica Sylvia Tzemos, diretora de admissões da escola canadense Maple Bear (Raimundo Samapaio/Esp. Encontro/DA Press)
"Crianças de 2, 3 e 4 anos têm imersão total em inglês, por meio de conversas e brincadeiras; não existe escrita, elas ouvem e falam", explica Sylvia Tzemos, diretora de admissões da escola canadense Maple Bear
 

As aulas de geografia e história são em português, e as de matemática e ciências, em inglês, assim como as de educação física e de teatro. “Crianças de 2, 3 e 4 anos têm imersão total em inglês, por meio de conversas e brincadeiras; não existe escrita, elas ouvem e falam”, explica a diretora. “Aos 5 anos, recebem 40% de aulas em português e 60% em inglês e, dos 6 aos 14, metade em cada língua. A partir de 6 anos, eles leem e produzem textos nos dois idiomas todos os dias.” A metodologia canadense de ensino bilíngue estimula o raciocínio lógico, a resolução de problemas e o trabalho em grupo. Todo o conteúdo curricular segue as normas do Ministério da Educação (MEC). Espanhol já está na grade a partir do 6º ano.

 

“Gosto muito da aula de ciências”, diz Arthur, de 6 anos, desde os 2 no colégio do Sudoeste. “Para ele, inglês é como se fosse uma língua materna”, diz a mãe, a servidora pública Taís Cândida da Silva. O pai, Adailton Teixeira, acrescenta que o segundo idioma ajuda no conhecimento, no acesso a pesquisas e será um diferencial na profissão do filho, que também estuda francês extraclasse, duas vezes por semana.

A servidora pública Taís Cândida, com o marido, Adailton Teixeira, e o filho Arthur: 'Para ele, inglês é como se fosse uma língua materna', diz a mãe  (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press )
A servidora pública Taís Cândida, com o marido, Adailton Teixeira, e o filho Arthur: "Para ele, inglês é como se fosse uma língua materna", diz a mãe
 

“Eles brincam de aula, brincam de falar inglês”, conta o servidor público Paulo Cavalcanti Muniz, pai de Clarice, de 7 anos, e Mateus, de 5. “É uma escola lúdica, divertida”, diz a mãe, a economista Márcia Muniz, 41. Os filhos se divertem com um aplicativo de leitura, em que lêem em voz alta, respondem a perguntas e ganham pontos. Como se fosse um game.

 

Nas escolas internacionais duolinguísticas, no fim do Ensino Médio o aluno pode prestar exames para diplomas como o IB (International Baccalaureate) e o AP Capstone, passaportes para trilhar o ensino superior em universidades estrangeiras. O objetivo da Escola Americana de Brasília, em atividade desde 1961 na L2 Sul, é “preparar cidadãos comprometidos com o mundo”, abrangendo cinco áreas: acadêmica, artística, serviço à comunidade, desenvolvimento de líderes e 30 atividades extracurriculares. Tem cerca de 700 alunos de 3 a 18 anos, sendo que 55% são brasileiros. O restante vem de 40 países diferentes. Há cerca de 70 professores, 52% deles estrangeiros. A escola adota calendário norte-americano e período integral.

 

Já na Escola das Nações, fundada em 1980, há 870 alunos, sendo 778 brasileiros, todos em regime integral. As disciplinas em português no infantil e no fundamental I são português, geografia, história, educação moral (infantil) e música (Fundamental 1). As turmas do fundamental II e do ensino médio têm aulas de português, geografia, música, história (fundamental II) e matemática (médio).

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