À frente de projetos cheios de personalidade, uma nova safra de designers de interiores está emergindo na capital federal
Conheça alguns deles e suas ideias para transformar o desejo de clientes em realidade
Se depender da nova geração de designers de Brasília, não vai faltar personalidade, criatividade e vigor nos ambientes projetados por eles. São fãs de Oscar Niemeyer que bebem de fontes diversas, dos quatro cantos do planeta, com um smartphone a tiracolo. Nessa corrente, as redes sociais, como Instragram, Facebook e Pinterest surgem como fortes aliados, seja na hora da pesquisa, seja na hora da divulgação do trabalho. Fato é que eles estão cada vez mais conectados com as novas tendências e com as necessidades do público-alvo.
Nos bancos das faculdades, o perfil de alunos também vem mudando, mesmo que timidamente. “As pessoas estão se informando mais sobre a carreira. Estão vendo que é um curso com empregabilidade quase imediata e que existem muitas áreas de atuação”, afirma a coordenadora do curso de design de interiores do Instituto Superior de Brasília (Iesb), Larissa Cayres. Mesmo assim, ela sinaliza que aproximadamente 60% do público continua sendo formado por pessoas que já têm uma graduação, mas procuram uma realização pessoal. O Iesb foi a primeira faculdade de Brasília a investir num curso de tecnólogo na área, impulsionado, segundo Larissa, pela demanda do mercado.
Raphaell Cruz, de 24 anos, representa bem esse coletivo em movimento. O jovem convicto e de personalidade forte, imprime com maestria traços distintos nos projetos que realiza. Com predileção pelas referências neoclássicas e pelo rococó, ele busca traduzir os estilos para linguagens mais contemporâneas. Tem foco claro na área de design e confessa não fazer planos para a arquitetura: “Eu me vejo na profissão para o resto da vida. É algo que amo. Cada projeto é único e em cada um deles depositei algum tipo de sentimento”, diz.
Thais Borges, de 27 anos, por sua vez, vai além da criatividade para cativar os clientes. Empatia é o segundo nome dessa designer que tem como objetivo facilitar o sonho daqueles que a contratam. Admiradora do designer Leo Romano, ela busca, assim como ele, imprimir personalidade nos projetos que assina. “Deixar a sua marca e se fazer reconhecer pelo trabalho é algo fantástico”, destaca.
No caso de Paloma Ávilla, de 37 anos, pode-se dizer que ela mudou da água para o vinho, ao deixar a carreira de farmacêutica e bioquímica para ingressar na arquitetura e no design. “Sempre foi a minha vocação, só faltava coragem para exercê-la”, revela. Embora o mercado tenha se aberto para ela há apenas dois anos, a profissional demonstrou que o sangue de designer sempre correu nas veias. Foi vencedora do I Prêmio Correio Braziliense CasaCor 2017, quando assinou a Sala Íntima.
Nas próximas páginas, conheça a história destes e de outros designers que atuam no DF. Entre eles, muitas diferenças, mas uma interseção: a paixão pelo “criar”.
ELA QUER APRENDER MAIS
Ela se descobriu designer de interiores no último ano do curso de arquitetura. E, embora gostasse de projetar edificações e de fazer grandes plantas, sentia falta de estudar interiores, revestimentos, minúcias dos projetos. Foi quando decidiu ingressar em uma pós-graduação na área. Há cinco anos no mercado, Hannah Brown Costa Cruz, de 27 anos, orgulha-se do caminho que percorreu. Mas acredita ter ainda muito a aprender. A nova empreitada é um curso de especialização em Barcelona, Espanha, e as aulas já têm data para começar: janeiro de 2018. “A Elisava é uma escola dedicada às áreas de design e engenharia. Farei uma imersão por alguns meses. A meta é me aperfeiçoar, voltar e continuar atuando no mercado de Brasília”, explica Hannah, que é nascida e criada na capital federal.
Os rótulos não fazem parte do vocabulário da designer, que considera primordial atender as expectativas dos clientes, além de projetar ambientes funcionais e esteticamente agradáveis. Mesmo assim, ela destaca a predileção por propostas cleans, áreas aconchegantes e sofisticadas. Sua assinatura está em apartamentos, casas, loja de roupas, de produtos naturais, clínicas odontológicas, brinquedotecas, condomínios residenciais, entre outros. Além disso, por duas ocasiões a designer participou da CasaCor. Em uma delas, desenvolveu, junto com os profissionais da Pollis Arquitetura, um lounge para o Banco de Brasília (BRB). “O meu ideal como profissional é proporcionar bem-estar às pessoas. Meu artigo de pós-graduação, inclusive, foi sobre a humanização de áreas hospitalares”, conta. No texto, ela destaca a grande influência que o ambiente tem sobre o estado físico e emocional das pessoas.
Inspirada pelo trabalho de Rem Koolhaas, ela elogia a capacidade do arquiteto de empregar técnica e criatividade em diferentes tipos de espaços e formas de arte: “Ele, com certeza, é um exemplo de profissional completo, algo que almejo ser”.
GERAÇÃO CONECTADA
Ela se descreve como uma pessoa “fora da caixinha”, que ama o irreverente e gosta de sair do usual – características que não passam despercebidas nos projetos que assina. Para Maju Hosken, de 34 anos, o design é mais do que uma combinação de técnicas e criatividade para paginar um ambiente: é algo que integra comportamento e a essência do ser humano. “Minhas maiores influências são as pessoas. Meus projetos representam muito o estilo de vida e da personalidade dos meus clientes”, explica. “Pego todas as informações e a leitura que faço do projeto, e as somo com as tendências do mercado. A assinatura dos meus espaços precisa vir da digital do meu cliente”, frisa.
Com essa perspectiva, Maju criou o método “Design de dentro para fora”, que segundo ela associa o desenvolvimento de um ambiente ao modo com o qual as pessoas se comportam. “Um influencia o outro e eles se completam”, esclarece. À frente de um escritório no Lago Sul há dois anos, a profissional afirma estar em uma trajetória de aprendizagem, crescimento e descobertas, e não se limita a projetos de interiores. Embora destaque o espaço onde trabalha como um dos queridinhos na lista dos que já desenvolveu. “Gosto de ramificar, criar outras portas para se trabalhar a beleza e funcionalidade que a profissão agrega”, afirma.
Além de designer de interiores, Maju é designer de casamentos, coaching e escritora. Com trabalhos na área comercial e residencial, ela faz questão de “postar”, sempre que pode, fotos da rotina e dos projetos como designer no Instagram. Enquanto muitos analisam a juventude como algo negativo nesse nicho, Maju prefere manter o otimismo. “Vejo esse aspecto como algo promissor para aqueles que estão mais antenados e percebem com rapidez mudanças do mundo. Nós nos conectamos com muita velocidade para atender aos desejos do cliente. Faz parte da nossa geração”, diz.
O MAIS JOVEM TALENTO
Raphaell Cruz tem apenas 24 anos, mas demonstra maturidade e segurança nos ambientes que assina. Entre eles, imponentes salas de estar, cozinhas sofisticadas e luxuosos quartos. A maioria deles, inspirados em referências neoclássicas e do rococó. Este jovem, da nova safra de profissionais de design de interiores, é natural de São Luís do Maranhão e há quatro anos estabeleceu-se em Brasília com o objetivo claro de trabalhar na área em que se graduou. “Eu sempre gostei da parte de decorar, de mudar os móveis de lugar. Eu fazia isso quando era criança”, conta. “Quando decidi começar o curso de design de interiores, ainda na adolescência, percebi que estava conhecendo a minha grande paixão na vida”, completa.
Em 2017, Raphaell participou de algumas das principais mostras de decoração do Distrito Federal, como a Sierra by Mainline, Prima Línea e CasaCor. Nas três, ele se destacou como o designer mais jovem a expor nos eventos. Embora perceba restrições do mercado de Brasília, principalmente para pessoas mais jovens como ele, diz nunca ter enfrentado grandes transtornos na carreira. Caminho que começou a trilhar muito novo, aos 16 anos de idade. Nessa jornada de oito anos de atuação, ele cita a Suíte da Baronesa como um de seus principais projetos – executados neste ano, na Mailine. “É um quarto clássico, que reflete bem a minha assinatura projetual”, afirma. “Criei esse ambiente numa época de extrema transição na minha vida, então ele é repleto de vulnerabilidades, perspectivas, sonhos e, sobretudo, amor”, completa.
Diferentemente de outros profissionais que miram no título de arquiteto, Raphaell faz planos de continuar no caminho do design de interiores e de abrir escritório próprio. O nome da mineira Cybele Barbosa, que atua no mercado brasiliense desde 1995, aparece na lista de suas inspirações: “Além dos belos trabalhos, admiro-a por ter conseguido vencer os obstáculos da nossa profissão”.
SONHOS REALIZADOS
Para Thaís Borges, de 27 anos, o caminho do design começou a se desenhar quando ainda era criança. O senso criativo e a facilidade de se relacionar com as pessoas foram trampolins para a carreira, iniciada em 2012. Transformar ambientes é a paixão da profissional, que atualmente trabalha principalmente com reformas de residência e ocupa duas funções na área: a de designer da Líder Interiores e sócia de um escritório no segmento. “O mais interessante é poder demonstrar de quantas formas diferentes podemos trabalhar um mesmo espaço. Faço isso full time, e quando gostamos de algo, nunca é maçante”, diz. Natural de Brasília, a designer faz questão de destacar o trabalho de Oscar Niemeyer como inspiração: “Acho incrível quando alguém consegue imprimir personalidade no projeto, de tal forma que podemos reconhecer quem o fez nos detalhes”.
Como atua na área de consultoria de design, Thaís revela ter formado boa parte da carta de clientes a partir de indicações de outros clientes, satisfeitos com o trabalho realizado. “Ver alguém que está entrando no mercado ser reconhecido é algo difícil. Normalmente, isso vem com os anos e com a experiência”, diz. “Mas, observar novos profissionais em mostras tão importantes, hoje, já é um passo conquistado”, afirma. Para ela, trabalhar a paginação de ambientes é algo que vai além do gosto pessoal. Por isso, prefere interiorizar uma espécie de mantra: entregar o sonho do cliente e não o dela. “Infelizmente, vemos muita reclamação por aí, principalmente porque há muitos profissionais que se impõem mais”, diz. “Temos de conceber os diferentes perfis de clientes. E, a partir disso, entender que o nosso papel é deixar as ideias que nos trazem mais lineares e plausíveos, e sugerir alterações sem desrespeitar.”
TRABALHO A QUATRO MÃOS
Se tivesse concluído o curso da primeira graduação, Lídia Branquinho, de 33 anos, estaria muito longe do design e da arquitetura. Ela passou mais de um ano fazendo turismo, quando o que mais a fascinava eram áreas como artes, desenho e moda. Até que um dia, durante uma conversa com o pai, decidiu mudar os rumos da carreira: “Queria criar, produzir usando as mãos, tinha a necessidade de inventar algo que tomaria a minha vida”, conta a brasiliense, moradora de Águas Claras. Hoje, a profissional atua no mercado do Distrito Federal, principalmente na área de especialização: o design estratégico. Além disso, assina, junto com o sócio Marcus Leite, também de 33 anos, uma linha de mobiliário.
Diferentemente de Lídia, Marcus fazia planos do que seria desde criança. Ele diz nunca ter tido dúvida de que faria algo ligado à criatividade e às emoções: “Como também sou artista plástico, vira e mexe estou com um lápis em mãos, colocando as ideias no papel”. Embora tenha nascido em Fortaleza, no Ceará, Leite foi criado em Brasília e também mora em Águas Claras. Os dois são formados em arquitetura e urbanismo, com especialização em design, e têm um escritório, o Studio Ambo.
Recentemente, o trabalho da dupla foi apresentado na mostra CasaCor 2017. Eles montaram o Lounge Resort, espaço integrado inspirado em elementos da natureza e em tendências da hotelaria de luxo. No ambiente, também foram dispostas mobílias desenhadas pelos artistas. “Já tínhamos feito um espaço em 2016, mas, na época, o briefing era grande para um espaço reduzido”, diz Marcus. Para Lídia, visitar a Itália e poder ver de perto o design mais conceituado do mundo foi uma das experiências mais marcantes, que somou ao trabalho dela e do sócio. Ela destaca ainda uma visita à Austrália, quando se identificou com o estilo de decoração de áreas comerciais. O requinte e a sofisticação estão entre os focos desses jovens. Lídia concluiu, em São Paulo, o MBA em Arquitetura de Luxo e agora Marcus segue o mesmo caminho.
PREMIADA CASA COR
Ela deixou a farmácia – área da primeira graduação – e o Exército – onde trabalhou por oito anos – para seguir o caminho de designer de interiores. E prestes a completar os primeiros dois anos de atuação no segmento, Paloma Ávilla, de 37 anos, já mostra a que veio. Vencedora do I Prêmio Correio Braziliense CasaCor, a estudante de arquitetura teve o projeto de uma sala de estar, intitulado por ela de Sala Íntima, eleito o melhor na categoria Sonho de Sala. Uma revista especializada ainda julgou o cômodo um dos cinco melhores do evento.
Nascida e criada no interior de São Paulo, Paloma chegou a Brasília em 2006 e foi na capital do país que tomou coragem para encarar de frente o que descreve como “vocação”. Quando monta um ambiente, a designer preza pela riqueza de detalhes, pelo requinte e pelo belo: “Gosto de geometria pura e de produzir espaços amplos”, diz. Nessa mesma linha, a moradora do Noroeste assinou trabalhos de revitalização de condomínios, além de projetos residenciais e comerciais.
A juventude nunca foi encarada como um problema para ela, que se agarra ao profissionalismo e à competência como principais ferramentas na execução do ofício. Faz questão de acompanhar as tendências e analisa as redes sociais como importante instrumento de divulgação. “No Instagram, sempre publico minhas produções e aproveito para fazer pesquisas sobre o trabalho de outros designers e o comportamento do público em geral”, conta. Entre os profissionais que segue, estão no topo da lista a arquiteta paulista Fernanda Marques e a designer de interiores mineira, radicada em Brasília, Denise Zuba.