Exemplo de administração
Há 10 anos na presidência da Rede Sarah, psicóloga gaúcha comanda instituição que tem índices comparados aos melhores hospitais do mundo e planeja novas conquistas para 2018
Existe uma filosofia a orientar o funcionamento de excelência nas nove unidades da Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. Com 100% de recursos da União, 5 mil profissionais atendem gratuitamente 1,5 milhão de pacientes por ano no Brasil, e o índice de satisfação de quem cruza o tapete branco atoalhado dos estabelecimentos chega a 98,8%. Traçados pelo médico-fundador Aloysio Campos da Paz Júnior e pela neurocientista gaúcha Lúcia Willadino Braga, alguns dos princípios de conduta ensinam que é preciso transformar cada pessoa em agente de sua própria saúde e que é necessário viver para a saúde, e não sobreviver da doença.
Mas como um hospital público de grande porte consegue sucesso no Brasil? A receita de gestão da presidente da Rede Sarah não tem ingredientes secretos. De pensamento ágil e com brilho nos olhos, Lúcia Braga vai listando os itens com empolgação: “Todos os nossos funcionários são concursados, trabalham em tempo integral e com dedicação exclusiva”, destaca a gestora de 59 anos, nascida em Porto Alegre. “Nosso pessoal da higiene, da cozinha, da lavanderia, aprende sobre bactérias e é tratado como agente de saúde, e a taxa de infecção hospitalar é de 0,2%, enquanto a dos Estados Unidos é de 5%”, afirma. Acrescente-se a isso um sistema rígido de compras e de controle de estoques e transparência nas licitações. “Nossas contas são aprovadas sem ressalvas pelo Tribunal de Contas da União e pela Controladoria-Geral da União”, completa.
A informatização é outro ingrediente fundamental. Desde 1996, o Sarah adota o prontuário eletrônico, e a inscrição para atendimento é feita pelo site (www.sarah.br), sem burocracia ou apadrinhamento. “A resposta é breve”, afirma Lúcia. “Mães de bebês de até 18 meses, por exemplo, já saem com data marcada.” Na consulta, a humanização aproxima médico e paciente. No crachá dos profissionais, não há Doutor. Apenas o primeiro nome.
Em 2017, a presidente conta que as principais ações foram a ampliação das consultas de admissão em 25% e das cirurgias em 20%; a informatização da área administrativa e nove acordos de cooperação internacional com a França, a Alemanha, os Estados Unidos e a Holanda (Universidade de Haia), entre outros. “Antes, a ponte aérea era o contrário. Agora, são eles que vêm estudar aqui”, comenta Lúcia, que chegou à capital na inauguração da cidade, em abril de 1960, com apenas 1 ano.
Para 2018, os projetos envolvem a neurotecnologia, com criação do smart lab, onde o planejamento mental e a atenção são estimulados por meio de jogos interativos. Outro setor é o da reabilitação ecológica, em que o paciente vai continuar o tratamento em casa: “Ele pode fazer um treino de fala em um aplicativo de celular”, explica a pesquisadora. “Tudo com comprovação científica.” Não à toa, na agenda dela estão marcadas seis palestras no exterior.
Para ter energia, Lúcia corre: “Corro todo dia, ao ar livre”. O lazer é junto à família, aos três filhos e à neta, além de eventos culturais: “Gosto muito de arte, não perco um bom teatro, um bom concerto, uma boa exposição”. O prédio onde está a presidência, na W3 Sul, já é uma obra de arte por si. Projetado pelo arquiteto João da Gama Filgueiras Lima, o Lelé, tem painéis de Athos Bulcão e belíssimos jardins internos. No fim do ano, a exposição da fotógrafa Rosa Berardo, Xingu – Tradição e Modernidade, enfeitava o corredor do térreo.