Referência Nacional
Ela escolheu a pediatria ainda criança e fez dela verdadeira vocação de vida. Seu trabalho pelo aleitamento materno e bancos de leite humano lhe rendeu até um prêmio nacional
Quando fala sobre a profissão que escolheu aos 4 anos de idade, os olhos de Miriam dos Santos ficam marejados. De devoção. Pediatra da Secretaria de Saúde do Distrito Federal desde 1994, a brasiliense de 51 anos está no comando do Aleitamento Materno e Banco de Leite Humano (BLH) da SES desde 2008 e é consultora técnica e participa de missões internacionais como vice-presidente da Comissão Nacional de Banco de Leite Humano da Fiocruz/Ministério da Saúde. Esteve no Uruguai, Panamá, Moçambique, Angola e Cabo Verde. Por onde vai, prega a importância do aleitamento materno, promove capacitações, luta contra o preconceito. Ensina que é natural amamentar em público, assim como dar o peito a crianças de 2 anos. “Precisamos combater a cultura da chupeta e da mamadeira”, afirma. “Se cada um fizer o seu papel, podemos mudar o mundo.”
Miriam receita o aleitamento como a melhor forma de conseguir a saúde da criança e reduzir a mortalidade infantil. Deve ser exclusivo até os 6 meses e pode se estender até os 2 anos. “O bebê se torna um adulto com menos chances de ter hipertensão, diabetes, obesidade”, informa. “E melhora o intelecto”, completa. Ela conta que o primeiro BLH no DF foi o do Hospital Regional de Taguatinga (HRT), inaugurado em 19 de setembro de 1978. Dezesseis anos depois, tornava-se residente no hospital, na unidade de neonatologia, ao lado de Wilson Marra, pediatra tradicional de Taguatinga e de Brasília: “Quando eu tinha uns 4 anos, falei para ele que queria ser médica igual a ele”. Os pais, sócios antigos do Lions Clube, contribuíram para que a medicina fosse adotada pela jovem como uma missão: “Aprendi a enxergar o outro, a ajudar”.
Moradora de Taguatinga, ela se orgulha de ter contribuído para o DF ser referência em BLH no país: “Brasília é uma cidade que amamenta. O primeiro Disque Amamentação foi em 1985, na época do orelhão”, comenta. “No DF, 65% das crianças menores de seis meses são amamentadas no peito, enquanto a meta da Organização Mundial de Saúde (OMS) é chegar aos 50% em 2030.” Hoje, existe uma rede de 4,8 mil mulheres doadoras de leite, em um total de 14 mil litros em benefício de 8 mil crianças. Não satisfeita, Miriam acelera o projeto de criar mais bancos de leite, por enquanto disponíveis em 15 das 31 regiões administrativas e em outros três postos de coleta: “A secretaria está implantando bancos em nove unidades de saúde do DF e em 2018 precisamos avançar no Itapoã, na unidade rural de Brazlândia e no Sol Nascente”.
A gestora e pediatra – que nos momentos de lazer gosta de ler e viajar – aponta os destaques da sua atuação em 2017: o lançamento, em maio, do site e aplicativo Amamenta Brasília, para doação de leite materno; a consolidação da parceria com o Corpo de Bombeiros Militar, que ajuda na coleta desde 1989; e o atendimento a uma equipe de Trinidad e Tobago, que esteve em Brasília em novembro. “Temos uma política de saúde, não de governo. E, como gestora da SES, tenho muito a agradecer pelo reconhecimento do trabalho, mas nada mais sou do que regente de uma grande orquestra”, compara ela, premiada, em maio, com o Troféu Walter Schmidt, destinado ao setor de saúde no Brasil. “Meu sonho é de que todas as crianças do DF sejam amamentadas e a rede de BLH possa apoiar as mães e oferecer leite humano a quem precisa”, diz.