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Ibaneis Rocha surge como umas das principais lideranças do MDB no país

Eleito governador do DF para os próximos quatro anos, o que pensa e o que pretende fazer o advogado que se transformou, em tão pouco tempo, na nova esperança política dos brasilienses

Helena Mader - Redação Publicação:06/11/2018 10:31Atualização:06/11/2018 11:32

Um advogado que nunca ocupou nenhum cargo público e jamais disputou eleições virou um fenômeno das urnas em sua estreia na política. Sem partido, militantes e aliados, Ibaneis Rocha Barros Junior, de 47 anos, decidiu disputar o governo do Distrito Federal às vésperas da corrida eleitoral. Com um patrimônio de 93,7 milhões de reais conquistado na advocacia, ele reservou 5,6 milhões do próprio bolso para investir na empreitada. Pragmático, sabia que precisava de exposição na propaganda eleitoral para chegar até a população. Depois de negociações com outras siglas, escolheu o MDB, segundo ele, “pela possibilidade de fazer várias alianças”. Ibaneis tinha em mãos dezenas de pesquisas que mostravam o interesse dos brasilienses por uma cara nova. Com dinheiro, tempo de televisão e uma imagem desvinculada da política tradicional, ele saiu de 1% das intenções de voto para 42% em apenas 45 dias, venceu a descrença inicial do meio político, chegou ao segundo turno e, no último dia 28, foi eleito governador do Distrito Federal.

Ibaneis em seu escritório de advocacia: ele venceu a descrença no meio político e surpreendeu a todos nas eleições no DF (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro)
Ibaneis em seu escritório de advocacia: ele venceu a descrença no meio político e surpreendeu a todos nas eleições no DF
 

A posse será em 1º de janeiro de 2019, mas o emedebista e sua equipe já começaram a preparar a futura administração e a implantação de ações emergenciais. Uma das prioridades será, ainda durante a transição, negociar convênios com entidades para aumentar o número de vagas em creches no primeiro mês de gestão. Outra meta é reabrir todas as delegacias, recompor as equipes do Programa Saúde da Família, preparar o cronograma de reforma das escolas e criar o programa de valorização do servidor público. Quer tirar esses projetos do papel em tempo recorde, até o fim de janeiro. Para garantir recursos a fim de cumprir todas as promessas, Ibaneis diz que vai melhorar a estrutura da Secretaria de Fazenda. Aumento de impostos, nem pensar. “Temos de simplificar a vida do empresário, e não penalizá-lo”, afirma. “Serei um advogado de defesa daqueles que querem investir e que acreditam em Brasília.” Apesar do jeito firme, é conhecido por ser bem-humorado e conciliador. “Sou duro, mas de fácil trato”, costuma dizer.

 

Enquanto prepara o terreno para a posse, Ibaneis é constantemente questionado sobre como se transformou em um dos fenômenos brasileiros das eleições 2018. Tem a resposta na ponta da língua: “Desde que decidi entrar na política, eu trabalho com pesquisas. Gosto de sentir o sentimento das pessoas. As qualitativas que tínhamos em mãos mostravam que a população do DF queria renovação”. Segundo ele, sua história de vida também ajudou. “Sou de uma família humilde, que não é tradicional na cidade. Nasci aqui, tenho uma trajetória como profissional liberal. Isso tudo mostrou para Brasília que sou uma proposta nova, longe da política tradicional”, diz.

 

Sócio de Ibaneis há 25 anos, desde a abertura do primeiro escritório, o advogado Marlúcio Lustosa Bonfim credita o desempenho do amigo nas urnas à firmeza de seu discurso. Duas décadas e meia de sustentações orais nos tribunais deram desenvoltura à fala de Ibaneis, característica que o fez destacar-se nos debates. “Ele é uma pessoa séria e convicta, fala com firmeza, consistência e propriedade, sempre olhando nos olhos das pessoas. Esse é o grande diferencial do Ibaneis”, afirma o sócio. “Ele escuta todos os lados, mas, quando forma sua opinião, não se deixa influenciar”, acrescenta. Ibaneis tem sido criticado por ser correligionário de políticos investigados, como o ex-vice-governador e ex-deputado federal Tadeu Filippelli, presidente regional do MDB, preso e denunciado na Operação Panatenaico. “Qualquer partido do país tem pessoas com problemas, tem frutas podres. Mas o Ibaneis conduz tudo com pulso firme e jamais aceitaria se deixar levar por alguém”, garante Marlúcio. O governador eleito também já afirmou que “ninguém que estiver sofrendo processo por corrupção vai ocupar cargo em meu governo”, referindo-se a Filippelli.

Com a mulher, a advogada Mayara Noronha: eles esperam o filho Mateus para dezembro (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro)
Com a mulher, a advogada Mayara Noronha: eles esperam o filho Mateus para dezembro
 

Com os resultados surpreendentes dessas eleições, Ibaneis emerge como uma das principais lideranças nacionais do MDB. O advogado intitulou a chapa Pra Fazer a Diferença de “aliança do bem contra o mal” e chega ao Palácio do Buriti tendo como vice Paco Britto, presidente do Avante-DF. Sua coligação reúne outros 15 partidos: Avante, DC, PSL, PPL, PP, PSD, PSDB, Podemos, Patriota, PMB, PHS, PRB, PPS, PRP e Solidariedade. Para Ibaneis, a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) à Presidência pode render bons frutos ao Distrito Federal. “Ele gosta de Brasília, mora aqui há anos e sua mulher [Michelle] é de Ceilândia”, diz. “Tenho certeza de que seremos grandes parceiros e de que ele será sensível às causas de Brasília que dependem do apoio federal.”

 

Ibaneis nasceu em 10 de julho de 1971, no Hospital de Base, a maior unidade pública de saúde da capital federal. Filho de piauienses, foi o primogênito e herdou o nome do pai. Aos 8 anos, ele, os dois irmãos mais novos e os pais se mudaram para Corrente, no Piauí, terra natal do patriarca. O pai, professor, havia sido transferido para a Universidade Federal do Piauí, onde trabalhou em um projeto de desenvolvimento da soja na região. A mãe, auxiliar de enfermagem, priorizava os cuidados com a família.

Ibaneis e a irmã Érica nos tempos de criança: eles se mudaram para o Piauí com os pais e guardam boas lembranças dessa época (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro)
Ibaneis e a irmã Érica nos tempos de criança: eles se mudaram para o Piauí com os pais e guardam boas lembranças dessa época
 

Irmã de Ibaneis, a servidora pública Érica Borges Barros Nazareth, de 44 anos, lembra que, ainda menino no Piauí, o primogênito da família já queria buscar autonomia. “Ele trabalhou como empacotador e vendeu verduras na feira. Sempre quis ser independente, mas a custo de muito trabalho”, conta. Para Érica, o crescimento expressivo de Ibaneis na campanha é explicado pela personalidade do irmão. “Ele gosta de gente e sempre foi agregador. O Ibaneis transita muito bem tanto entre os ricos quanto entre os mais simples”, diz. “Nunca fomos ricos e, no interior do Piauí, vimos a miséria de perto. Então, ele tem empatia e entende os sentimentos das pessoas.”

A servidora pública Érica Nazareth lembra que o irmão sempre foi determinado: 'Ele trabalhou como empacotador e vendeu verduras na feira. Sempre quis ser independente, mas a custo de muito trabalho', diz (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro )
A servidora pública Érica Nazareth lembra que o irmão sempre foi determinado: "Ele trabalhou como empacotador e vendeu verduras na feira. Sempre quis ser independente, mas a custo de muito trabalho", diz
 

Aos 16 anos, Ibaneis voltou sozinho a Brasília para cursar o segundo grau e foi morar com uma tia. Era grande a pressão para que prestasse vestibular para medicina. “Fiz a prova da UnB sem muita vontade de passar e, ainda assim, quase fui aprovado. Eu era muito estudioso”, conta. Ibaneis fez o vestibular para o curso de direito escondido e foi aprovado em segundo lugar no Uniceub. Na época de estudante, fez estágio no Banco do Brasil, na Embrapa, e teve uma farmácia. “Trabalhava até me acabar”, relembra.

 

Em 1993, já com o diploma e com a carteira da Ordem em mãos, o advogado recém-formado vendeu a farmácia e montou o primeiro escritório. Optou pela área trabalhista porque havia muita demanda e o retorno seria mais rápido. Depois, passou a advogar para empresas prestadoras de serviço. “Larguei a área porque vi como elas exploravam o trabalhador. Demitiam sem pagar, escondiam patrimônio. Fui advogar para os trabalhadores dessas mesmas empresas.”

 

A virada profissional aconteceu quando ele teve a oportunidade de representar uma associação de servidores do Ministério Público do Trabalho. Venceu uma grande ação relacionada à seguridade social. Com o sucesso, ganhou outros clientes, principalmente do Judiciário. Hoje, o escritório de Ibaneis tem mais de 40 advogados e uma carteira de 80 mil clientes, em todo o Brasil. “Atuei nas primeiras ações contra o Plano Real, para garantir a recomposição da URV”, conta. “Virei um case da advocacia bem cedo e, aos 26 anos, já ganhava dinheiro na profissão.”

 

Nessa época, o jovem profissional achava a Ordem dos Advogados do Brasil uma entidade fechada e elitizada. Apesar disso, a convite de um amigo, foi trabalhar na campanha da advogada Estefânia Viveiros para a presidência da OAB-DF. Engajou-se na disputa e a colega, que não estava entre os favoritos, ganhou a eleição. Ibaneis ficou com a presidência da Comissão de Defesa de Prerrogativas dos Advogados e estreitou seu contato com os colegas de profissão. “Eu passei a ser reconhecido nessa área em âmbito nacional. A primeira liminar que permitiu um advogado fazer questionamentos em uma CPI fui eu que consegui no STF, com o ministro Celso de Mello.”

 

Diante do destaque que ganhou na advocacia, resolveu concorrer à presidência da Ordem. Perdeu a primeira eleição para o advogado Francisco Caputo por 400 votos, mas levou na disputa seguinte, em 2012, com uma vantagem de mais de 2,4 mil votos (de um total de quase 15 mil advogados votantes). “Fiz uma gestão na OAB que é considerada pelos advogados uma das melhores de todos os tempos”, diz. “Eu abri a Ordem, passei a tratar todos de forma igual. Trabalhei de portas abertas, respeitando o Judiciário, mas sem abrir mão das prerrogativas dos advogados e exigindo um respeito muito grande à minha instituição.”

O presidente da OAB-DF, Juliano Costa Couto, elogia o colega: 'Ibaneis é um trator para trabalhar. É um homem assertivo, que sempre age com a capacidade de se colocar no lugar do outro' (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro)
O presidente da OAB-DF, Juliano Costa Couto, elogia o colega: "Ibaneis é um trator para trabalhar. É um homem assertivo, que sempre age com a capacidade de se colocar no lugar do outro"
 

Com a popularidade no segmento, elegeu o sucessor, Juliano Costa Couto, atual presidente da entidade. No fim de novembro, os advogados vão às urnas novamente e o candidato apoiado por Ibaneis, Jacques Veloso, é franco favorito. “O Ibaneis é um trator para trabalhar. É um homem assertivo, que sempre age com a capacidade de olhar a ótica do outro, de se colocar no lugar do outro”, diz Juliano Costa Couto. “É detentor de uma coragem fora do comum. Não teme os desafios que se colocam à sua frente.”

 

Cozinhar com os amigos é o grande hobby do novo governador, que faz questão ainda de ir à fazenda da família, no Piauí, a cada três meses. “É um momento de grande relaxamento. Gosto de conversar com as pessoas, chego lá e quem cozinha para todo mundo sou eu”, conta Ibaneis. Os amigos garantem que o advogado é habilidoso nas panelas. “Ele adora fazer comida nordestina, como buchada. Às vezes, vai à Feira do Guará, escolhe os produtos e prepara uma galinhada. Os amigos ficam em volta conversando”, conta o sócio Marlúcio Bonfim.

O sócio Marlúcio Lustosa Bonfim diz que as duas décadas e meia nos tribunais ajudaram Ibaneis a se destacar nos debates: 'Ele fala com firmeza, consistência e propriedade, sempre olhando nos olhos das pessoas' (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro)
O sócio Marlúcio Lustosa Bonfim diz que as duas décadas e meia nos tribunais ajudaram Ibaneis a se destacar nos debates: "Ele fala com firmeza, consistência e propriedade, sempre olhando nos olhos das pessoas"

 

O tempo ao lado dos filhos, Caio, de 20 anos, e João Pedro, de 13, é o mais precioso para Ibaneis. Os garotos são fruto da união de 24 anos com a contadora Luzineide, que é sócia e administradora do patrimônio da família. O casal se separou, mas mantém uma boa relação. A atual mulher de Ibaneis, a advogada Mayara Noronha, de 30 anos, está grávida do terceiro filho do advogado. Mateus nasce em dezembro. “E não pretendo parar por aí”, avisa o pai, em relação à família. Essa frase também vale para a política? – pergunta Encontro. “Isso, o tempo dirá”, diz ele. Mas quem conhece Ibaneis sabe que o que ele gosta mesmo é de grandes desafios. O MDB, portanto, que se prepare!

Com o filho mais novo, João Pedro, na votação do primeiro turno na Escola François Mitterrand: Ibaneis deixou para trás políticos de carreira (Marcelo Ferreira/CB/DA Press )
Com o filho mais novo, João Pedro, na votação do primeiro turno na Escola François Mitterrand: Ibaneis deixou para trás políticos de carreira
 

O QUE IBANEIS DIZ SOBRE

Cinco frases que definem o novo governador

 

SETOR PRIVADO

 

“Para entender e incentivar o setor privado, de forma honesta, tem de ter cabeça de empreendedor, cabeça voltada para resultados, cabeça de empresário”

 

SEU ESTILO

“Brasília vai ter um governador que trabalha muito”

 

CORRUPÇÃO

“No meu governo não haverá corrupção e, se aparecer algum corrupto, quem vai ajudar a colocá-lo na cadeia sou eu”

 

EMPRESARIADO

“Os empresários do DF são empresários do bem. Chegaram aqui da mesma forma que eu cheguei, puxando a cachorrinha, sem ter nada”

 

PRIORIDADE

“Governo deve ser para o pobre, porque o rico não precisa de governo. Precisa, sim, que o governo não o atrapalhe”

 O advogado fala ao microfone no último debate do primeiro turno, promovido pelo Correio Braziliense com candidatos ao GDF: ele se saiu bem em todos os embates (Marcelo Ferreira/CB/DA Press)
O advogado fala ao microfone no último debate do primeiro turno, promovido pelo Correio Braziliense com candidatos ao GDF: ele se saiu bem em todos os embates

 

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