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Cerveja made in Brasília: bebidas artesanais ganharam espaço no DF

Capital acompanha o crescimento do mercado cervejeiro nacional e empresários apostam em produtos artesanais, com ingredientes e sabores diferentes

Maíra Nunes - Publicação:20/12/2018 16:15Atualização:20/12/2018 17:07

Os engenheiros de produção Pedro Capozzi e Rodrigo Braga transformaram paixão em negócio, dando vida ao projeto de graduação que apresentaram na Universidade de Brasília: criaram a Cruls Cervejaria. O negócio, fundado há um ano, incorpora a capital federal nas estatísticas que apontam para o crescimento do mercado cervejeiro no Brasil. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Associação Brasileira de Cerveja Artesanal, as cervejarias registradas aumentaram 91% no Brasil, que em 2014 tinha 356 estabelecimentos.

Pedro Capozzi, Marcos de Paula, Filipe Gravia (sentados), Rodrigo Braga e Sebastião Mota, 
da Cruls Cervejaria: fábrica foi inaugurada em fevereiro deste ano, Núcleo Rural de Santa Maria (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press )
Pedro Capozzi, Marcos de Paula, Filipe Gravia (sentados), Rodrigo Braga e Sebastião Mota, da Cruls Cervejaria: fábrica foi inaugurada em fevereiro deste ano, Núcleo Rural de Santa Maria
 

Só no ano passado, o crescimento de cervejarias artesanais foi de 37,7% no Brasil, com 186 novas fábricas – de 493 cervejarias em 2016, o país passou a ter 679 em 2017. Uma delas é a Cruls Cervejaria, que montou fábrica própria em fevereiro deste ano no Núcleo Rural de Santa Maria. Gerente de qualidade da empresa, Marcos de Paula acredita que o brasiliense está vivendo, cada vez mais, a cerveja artesanal, mas prevê que o Distrito Federal e o Entorno ainda têm muito potencial de crescimento no setor: “Tem muita gente disposta a sair da cerveja tradicional para experimentar gostos diferentes”, observa.

 

O brasiliense Paulo Cesar Peres Borges, o PC, já viajou o mundo para experimentar e conhecer cervejas. Em Brasília, ele classifica a produção de cervejas especiais como incipiente ainda, mas com potencial de crescimento para ganhar visibilidade no cenário nacional em poucos anos. O sócio-cervejeiro da Hop Capital Beer atribui o crescimento das cervejarias artesanais na capital federal aos festivais e movimentos da bebida que ocuparam as ruas da cidade. “Isso desperta curiosidade para conhecer os tipos artesanais e vai criando um público, que costuma ser fiel e bastante exigente”, observa PC. O perfil do consumidor, segundo ele, faz com que as cervejas produzidas informalmente recebam pressão para formalizar a produção.

Paulo Cesar Borges, sócio-cervejeiro da Hop Capital Beer: ele trouxe 
ideias e o laboratório da Califórinia, onde se formou e espera ganhar visibilidade no cenário nacional em poucos anos (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press )
Paulo Cesar Borges, sócio-cervejeiro da Hop Capital Beer: ele trouxe ideias e o laboratório da Califórinia, onde se formou e espera ganhar visibilidade no cenário nacional em poucos anos
 

Foi isso o que aconteceu com PC. Após se formar como mestre cervejeiro na Califórnia (EUA), em 2015, o brasiliense trouxe o laboratório onde fabricou algumas cervejas nos Estados Unidos para a cidade natal ainda com a dúvida se continuaria com a atividade como hobby ou como negócio. Com incentivo dos amigos, PC, engenheiro de formação, optou por trocar a rotina que tinha na construtora para abrir a Hop Capital, inspirada nas cervejarias californianas. A influência da região litorânea dos Estados Unidos pode ser percebida tanto nos sabores e aromas das cervejas da casa quanto na decoração do pub que também leva o nome da cervejaria e fica ao lado da fábrica.

 

Outro rótulo muito novo é o Dümf, que foi lançado em outubro e é fabricado na Stadt pela Dümf Cervejaria Sensorial, de Ugo Todde. Sua primeira cerveja leva a assinatura de Daisy Avelar Todde e Monique Ferro, e tem um sabor marcante de lúpulos americanos, segundo Todde.

 

A Cervejaria Criolina também faz parte desse grupo. Há três anos, produziu as primeiras receitas da cerveja artesanal da casa. Um dos sócios, o DJ e produtor cultural Tiago Pezão, observa que há uma tendência de valorizar a produção local não só de bebidas e alimentos, mas também de arte, cultura e tecnologia. E que boa parte dos brasilienses está nesse caminho. Em janeiro de 2017, a Criolina inovou com o galpão multicultural, que integra bar de cervejas locais, cozinha e programação cultural. Tiago Pezão conta que a ideia de produzir a própria cerveja veio, em primeiro lugar, da busca por trabalhar com aquilo que fizessem os sócios se sentir realizados. “Assim como a música e as outras formas de arte, a cerveja, quando é tomada com responsabilidade, promove encontros e conexões entre as pessoas”, justifica o empresário, que recebeu em setembro o prêmio de Melhor Carta de Cervejas de Encontro Gastrô – O Melhor de Brasília 2018.

Tiago Pezão, um dos sócios da Criolina, premiada por Encontro Gastrô 
em 2018: há três anos ele e seus sócios começaram a produzir 
as primeiras receitas da cerveja artesanal da casa (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press )
Tiago Pezão, um dos sócios da Criolina, premiada por Encontro Gastrô em 2018: há três anos ele e seus sócios começaram a produzir as primeiras receitas da cerveja artesanal da casa
 

Embora defenda que a cidade esteja começando a mudar os paradigmas sobre consumo, um dos idealizadores da Criolina ressalta que ainda há muito para crescer: “Faltam ajustes na legislação para a criação de pequenas indústrias, que poderiam impulsionar mais ainda esse mercado”, afirma Pezão. “Mesmo assim, já temos grande variedade de rótulos locais, de ótima qualidade”, completa. “A cerveja especial combina com tudo; é uma alquimia com infinitas possibilidades.”

 

Uma amplitude de possibilidades ajuda a explicar o crescimento de brasileiros que vêm descobrindo essa bebida. O que se reflete no aumento de locais que a comercializam, como barbearias, restaurantes, mercados e as próprias lojas especializadas. “A tendência é de que o consumo de cervejas artesanais deixe de ser um mercado de nicho para ampliar a oferta e ter melhores preços”, diz Fabrício Mattos, proprietário do Publican Bar, que oferece um cardápio de cervejas especiais, aberto há pouco mais de um ano na 409 Sul. O Publican nasceu da paixão por cervejas especiais cultivada por Fabrício e um casal de amigos. “No meu caso, uma paixão que cultivo há mais de 10 anos”, diz. O início dessa relação com as cervejas artesanais exigiu dedicação de Fabrício, já que era necessário recorrer a outras cidades, como São Paulo, ou até mesmo ir a outros países para encontrá-las para vender. “Tínhamos poucas opções em Brasília. Hoje, temos umas 100 vezes mais”, afirma.

Fabrício Mattos, do Publican Bar, também apostou na preferência 
por cervejas especiais: 'Tínhamos poucas opções em Brasília. 
Hoje, temos umas 100 vezes mais' (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press )
Fabrício Mattos, do Publican Bar, também apostou na preferência por cervejas especiais: "Tínhamos poucas opções em Brasília. Hoje, temos umas 100 vezes mais"
 

Há uma década, Luciana Isaac Ferreira de Souza, proprietária do Soares e Souza, observa bem de perto o mercado cervejeiro da cidade e a oferta de rótulos especiais feitos no DF. À frente do negócio, que começou como empório de bebidas, ela percebeu o interesse dos brasilienses por cervejas artesanais quando os clientes começaram a estudá-las e comprar mais opções diferentes. “Começamos a ampliar as prateleiras com cervejas até que, em 2010, mudamos o foco totalmente para cervejas especiais e importadas”, conta a empresária. Assim como as prateleiras dedicadas às cervejas aumentaram, a loja também passou a oferecer cursos sobre o tema e abraçou de vez o lema “beba menos, beba melhor”.

Luciana Isaac Ferreira de Souza, dona do empório Soares & Souza: 
ela percebeu o interesse dos brasilienses por cervejas artesanais 
e hoje promove até cursos sobre o tema  (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press  )
Luciana Isaac Ferreira de Souza, dona do empório Soares & Souza: ela percebeu o interesse dos brasilienses por cervejas artesanais e hoje promove até cursos sobre o tema

 

STADT ABRIU O CAMINHO

Pioneira na arte de fazer a própria cerveja, a Stadt Cervejaria surgiu em 2004 como um pub que vendia a própria cerveja, ainda chamado Beer Pub. Em 2015, dois novos sócios compraram o negócio. Foi quando o foco passou a ser cervejaria de fato. Atualmente, a Stadt vende para mais de 70 destinatários empreendedores, entre restaurantes, bares e eventos, segundo Julio Cesar Ribeiro, gerente comercial da marca.

Julio Cesar Ribeiro, gerente comercial da Stadt: cervejaria foi criada há 
14 anos e hoje produz 
60 mil litros por mês (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
Julio Cesar Ribeiro, gerente comercial da Stadt: cervejaria foi criada há 14 anos e hoje produz 60 mil litros por mês

 

São produzidos 60 mil litros por mês, mas a fábrica tem capacidade para 200 mil litros/mês. “O consumo de cervejas artesanais vem se intensificando em Brasília de um ano e meio para cá. Mas ainda não se intensificou o suficiente. O brasiliense está engatinhando em gostar de cervejas especiais”, avalia Julio, que também é beer sommelier, adora degustar vários rótulos do produto e diz que tem de estar em constante estudo para se atualizar.

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