..
  • (0) Comentários
  • Votação:
  • Compartilhe:

Polo Verde, bem perto do Lago Norte, é mais do que uma área destinada a viveiros de mudas

Boa opção de passeio até mesmo para quem não tem jardim em casa, conta com espaços variados para a ioga, biblioteca e café

Paloma Oliveto - Publicação:16/04/2019 16:09Atualização:16/04/2019 16:25

No início da década de 1990, um jovem engenheiro agrônomo e um bi- ólogo passaram a acompanhar todos os comícios do então governador Joaquim Roriz. Não era tanto nas falas do político que eles estavam interessados. O que Ido Pellicano e Nicolas Behr queriam, na verdade, era serem ouvidos. Reivindicavam uma área no Lago Norte para vender mudas de qualidade. “Na época, vários caminhões ficavam parados nas saídas de Brasília, vendendo plantas, mas não tinham nenhum cuidado, vendiam mudas doentes”, recorda o engenheiro Ido. A insistência da dupla deu certo. “O Roriz autorizou, mas disse que estávamos proibidos de voltar aos comícios”, conta, rindo.

O Espaço Aroeira é um misto de viveiro
e loja colaborativa: nele comerciantes e
prestadores de serviço oferecem produtos
e atividades, como pintura e ioga  (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
O Espaço Aroeira é um misto de viveiro e loja colaborativa: nele comerciantes e prestadores de serviço oferecem produtos e atividades, como pintura e ioga
 

Esse foi o embrião do Polo Verde, uma área de 10 mil metros quadrados dividida por sete viveiros da Associação de Produtores de Mudas Frutíferas e Ornamentais de Brasília. Em 1994, já no governo Cristovam Buarque, o espaço foi licitado e comprado pelos associados, realizando, assim, o sonho de Pellicano e Behr. Mais do que vender plantas selecionadas e todo o tipo de artefatos para jardinagem e paisagismo, o local vale a visitação, mesmo de quem mora em apartamento sem varanda. Isso porque o Espaço Aroeira, do engenheiro agrônomo Ido Pellicano, deixou de ser apenas um viveiro para se transformar em loja colaborativa, onde comerciantes e prestadores de serviço arrendam espaços para oferecer uma série de produtos e atividades.

 

São 12 empresas funcionando dentro do viveiro de 3 mil metros quadrados: há desde aula de ioga a café comandado por um chef, passando por cursos de mosaico, bordado e história da arte, loja de essências e cosméticos naturais, e centro de terapias alternativas e complementares. Completam o cardápio uma loja de toldos, outra de pisos ecológicos, um escritório de paisagismo (que oferece, eventualmente, cursos de horta) e um serviço de locação de pequenas máquinas. Sem falar na biblioteca comunitária, montada em charmosos caixotes pregados à parede, onde qualquer pessoa pode pegar livros emprestados sem prazo de devolução.

O engenheiro agrônomo Ido Pellicano é idealizador do projeto:
'Vender planta é muito pouco para um espaço tão bonito' (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press  )
O engenheiro agrônomo Ido Pellicano é idealizador do projeto: "Vender planta é muito pouco para um espaço tão bonito"
 

Todas as atividades são realizadas em um pequeno oásis farto de iluminação natural, rodeado por lagos ornamentais, fontes de água, todo tipo de árvores e jardins irrigados de forma sustentável. Numa atmosfera acolhedora, é fácil sentir ali a conexão com a natureza. Seja para comprar mudas, tomar um chazinho de ervas colhidas no quintal ou simplesmente contemplar as muitas belezas dali, quem visita o local tem a impressão de ser bem-vindo. “Este é um lugar maravilhoso. Já chego agradecendo por poder enxergar o verde. Sinto uma renovação total”, conta a designer de joias Vanessa Lima, de 49 anos. Ela sempre frequentou o viveiro para comprar plantas ou levar o neto para ver os lagos de peixes. Hoje, além dessas atividades, faz ioga duas vezes por semana ao ar livre, nos fundos do Aroeira. “É uma terapia completa. Além de uma atividade física, é um momento de autocura e autoconhecimento”, defi ne Vanessa.

 

A empresária Giovana Lima, de 24 anos, acompanha a mãe nas aulas, nas manhãs de segunda e quarta-feira. “Fazer ioga no meio da natureza é perfeito”, defi ne. Quem comanda a atividade é Karla Pellicano, irmã de Ido. Durante um ano, ela deu aula para apenas uma pessoa. Hoje, tem turmas pela manhã e à tarde, todos os dias. A instrutora também trabalha em academia tradicional e diz que praticar ioga em meio à natureza é diferente. “Você recebe toda a energia. Isso transforma, muda tudo. Amplia a percepção”, diz.

Fábio Padilha, paisagista e engenheiro agrônomo, ensina a fazer horta orgânica e ministra oficinas: 'A
sensação de trabalhar em um ambiente aberto e cercado pela natureza é libertadora' (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press )
Fábio Padilha, paisagista e engenheiro agrônomo, ensina a fazer horta orgânica e ministra oficinas: "A sensação de trabalhar em um ambiente aberto e cercado pela natureza é libertadora"
 

O artista plástico Renato Klein afi rma que o ambiente cercado por água e verde aguça a criatividade. Há dois anos, ele dá aulas de mosaico no Aroeira, depois de trocar o ateliê de Sobradinho pelo Polo Verde. “A gente se estressa em casa e vem aqui para desestressar”, brinca. Com 10 turmas montadas, Renato passa o dia inteiro no viveiro, menos às segundas-feiras. “Tem dia que estão fechando a loja e ainda estou aqui dentro. O contato com a natureza desperta o lado criativo. Isso aqui é uma terapia, o tempo todo”, defi ne, enquanto junta as pequeninas peças coloridas que formarão, no fi m, a imagem de flores.

 

Caçula do espaço colaborativo, o chef Felipe Hermes de Lima Pacheco está há oito meses no comando do Café Aroeira, servindo bolos, salgados, café e chás orgânicos, feitos com as ervas que ele colhe nos fundos do viveiro. Formado em gastronomia, é a primeira vez que tem um negócio do tipo e confessa que entrou por acaso. “Tinha uma sócia, ela me chamou e depois saiu. Caiu no meu colo”, conta. Ter se arriscado valeu a pena, diz: “Aqui é bom demais, muito tranquilo. Sempre tem muita gente por causa dos cursos e do próprio viveiro”.

Felipe Hermes, chef-proprietário do Café Aroeira, vende quitutes e bebidas:
chás orgânicos são feitos com as ervas que ele colhe nos fundos do viveiro (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
Felipe Hermes, chef-proprietário do Café Aroeira, vende quitutes e bebidas: chás orgânicos são feitos com as ervas que ele colhe nos fundos do viveiro
 

Para o paisagista e engenheiro agrônomo Fábio Padilha, “a sensação de trabalhar em um ambiente aberto e cercado pela natureza é libertadora”. Ex-professor universitário, ele fez uma sociedade com a agrônoma Julcéia Camillo e montou a Plantas e Planos, onde presta consultoria para projetos de paisagismo, revitalização e reflorestamento de áreas degradadas. Em vez de optar por um escritório fechado, acomodou-se no Aroeira. Lá também grava cursos on-line na área e, eventualmente, oferece oficinas de horta orgânica para pequenos espaços.

 

Ido Pellicano está, cada vez mais, afastando-se da parte administrativa do Aroeira para se dedicar aos projetos da loja colaborativa. Quando a reportagem de Encontro Brasília chegou ao local, ele tirava, cuidadosamente, a poeira dos livros que se avolumam nos caixotes de madeira da biblioteca comunitária. “Começamos há seis meses com um caixote só. Desde lá, só aumenta. É um processo muito rico. Vários funcioná- rios dos viveiros estão utilizando a biblioteca, pedem indicações de livros”, orgulha-se. “Vender planta é muito pouco para um espaço tão bonito”, diz Ido, justificando a ampliação da oferta de lojas e serviços no Aroeira.

Há dois anos, o artista plástico Renato Klein dá aulas de mosaico em um dos ambientes:
'A gente se estressa em casa e vem aqui para desestressar' (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
Há dois anos, o artista plástico Renato Klein dá aulas de mosaico em um dos ambientes: "A gente se estressa em casa e vem aqui para desestressar"
 

Uma das “meninas dos olhos” do engenheiro agrônomo é a feira Aroeira Cultural, que acontece duas vezes ao ano, com objetivo de arrecadar recursos para a Ação Social Irmã Paula Franssinetti, uma creche para crianças em situação de vulnerabilidade social. Cinquenta artesãos, além de food trucks, tomam conta do Viveiro durante o dia todo. A próxima edição já está marcada: 4 e 5 de maio.

 

SAIBA MAIS

Espaço Aroeira – Setor de Habitações Individuais Norte, trecho 3ª

Informações sobre cursos e oficinas: (61) 98373 – 9600

Instagram: espacoaroeira

Facebook: AroeiraEspaco

 

COMENTÁRIOS
Os comentários estão sob a responsabilidade do autor.

BRASILIENSES DO ANO