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Centro Cultural Renato Russo está de volta à cena

Reaberto no ano passado, depois de obras de mais de 6 milhões de reais, centro consolida-se como um dos mais importantes da capital federal

Julyerme Darverson - Publicação:16/04/2019 17:04

Cultura é sinônimo de conhecimento e coletividade de indivíduos, e sem cultura um povo não existe. Infelizmente, muitos espaços destinados a ela no Distrito Federal clamam por socorro ou simplesmente estão fechados, sem previsão de reabertura. Mas ainda há uma luz no fim do túnel. Após cinco anos fechado, o Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul, foi reaberto ao público em meados do ano passado, notícia muito celebrada pela população, que torce para que outros locais também sejam reformados. Uma das expectativas é para que o mesmo ocorra com o Teatro Nacional, principal centro de cultura do DF, fechado desde 2014.

Fachada do centro cultural homenageia
o cantor e compositor, que viveu em
Brasília: reforma contemplou, entre
outras coisas, a reparação da estrutura
predial, revisão das instalações hidráulica
e elétrica, sistemas de luz e som (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
Fachada do centro cultural homenageia o cantor e compositor, que viveu em Brasília: reforma contemplou, entre outras coisas, a reparação da estrutura predial, revisão das instalações hidráulica e elétrica, sistemas de luz e som
 

De acordo com a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), o investimento na reforma do Espaço Renato Russo foi de 6,2 milhões de reais, com recursos do Banco do Brasil. Foram entregues a sala multiuso, o Teatro Galpão, cineteatro, mezanino, saguão e duas galerias. A reforma contemplou também a reparação de toda a estrutura predial, revisão das instalações hidráulica e elétrica, sistemas de luz, som e projeção para salas e galerias, além de intervenções para garantir a acessibilidade, como a instalação de elevador.

 

Segundo o secretário de Cultura do Distrito Federal, Adão Cândido, alguns investimentos ainda serão feitos no espaço. “Queremos manter as características do lugar, fazer esses investimentos que faltam. Vamos também procurar parceiros para transformá-lo em grande polo de formação de economia criativa e de difusão de atividades culturais, dentro da plenitude do local”, afirma. “A primeira ideia é manter o espírito do espaço, que é de acesso às artes, tanto de poder assistir aos espetáculos como ter aulas de artes cênicas e visuais”, conta Leonardo Hernandes, representante do Instituto Bem Cultural (IBC), organização da sociedade civil que gerencia o Renato Russo com a Secretaria de Cultura.

O secretário de Cultura do DF, Adão Cândido, diz
que alguns investimentos ainda serão feitos no
espaço: 'Vamos procurar parceiros para transformá-lo
em grande polo de formação de economia
criativa e de difusão de atividades culturais' (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
O secretário de Cultura do DF, Adão Cândido, diz que alguns investimentos ainda serão feitos no espaço: "Vamos procurar parceiros para transformá-lo em grande polo de formação de economia criativa e de difusão de atividades culturais"
 

Adão Cândido explica que uma das prioridades para 2019 é preparar os estúdios da rádio Cultura FM – emissora pública sediada no mesmo edifício –, que não foram contemplados no projeto da reforma. “Hoje, a rádio ocupa o espaço da biblioteca, então temos a necessidade de preparar os estúdios com isolamento acústico, para que a rádio possa instalar-se definitivamente em suas salas e liberarmos a biblioteca para uso”, destaca o secretário.

 

A programação após a reabertura já trouxe mais vida ao lugar, além de ter de volta os grupos de teatro e circo, exposições e o movimento de pessoas pelo saguão, com a realização de eventos semanalmente. Entre as atividades desenvolvidas no local estão oficinas, cursos, além de exposições e apresentações teatrais e circenses. “Nada melhor que um espaço desses, vivo e ativo, para que tenhamos na população a defesa de recursos e fomento à cultura. Às vezes, parece que só os artistas sentem falta da cultura, mas ela é fundamental para a saúde social da cidade e do país. Ela é formadora de coesão social, é um instrumento de tolerância e produção de empatia. A cultura é elemento formador do indivíduo no convívio social. Não existe um processo de desenvolvimento possível sem cultura”, diz Leonardo Hernandes. “Os eventos já estão ocorrendo. O espaço comporta música, cinema, teatro, mostras e mais uma área de biblioteca, além da rádio. É um centro cultural bem completo. Podemos ter uma ação cultural muito presente naquela área. Esse é o nosso principal instrumento de difusão cultural no DF hoje”, afirma Adão Cândido.

 

A história do espaço se confunde com a própria história da cidade, servindo também como parte essencial da formação artística e cultural do DF. O local, palco de momentos importantes, foi criado em 1974, quando galpões da extinta Fundação Cultural do Distrito Federal foram transformados no Teatro Galpão. Em 1977, foi ampliado e come- çou a contar com o teatro, o Galpãozinho e galerias de artes, sendo rebatizado de Centro de Criatividade. Em 1993, o lugar recebeu o nome de Espaço Cultural 508 Sul e, em 1999, ganhou o nome de Espaço Cultural Renato Russo, em homenagem ao líder da banda Legião Urbana. “É extremamente gratificante para a nossa família e uma grande honra ter no coração da cidade essa memória cultural com o nome do Renato Russo. Inclusive, ele se apresentou lá, frequentava o espaço e é bacana o nome dele estar nesse lugar. É um presente para a família e para a cidade”, afirma Carmem Manfredini, musicista e irmã do cantor e compositor Renato Russo, que morreu em 1996, aos 36 anos.

 

Carmem relembra que foi no Teatro Galpão que ela viveu um dos momentos mais marcantes de sua vida, na companhia do irmão, na adolescência: “A família Manfredini tem uma veia artística, todo mundo canta, todo mundo pinta, todo mundo dança. Mas foi nesse evento, organizado por Jota Pingo, que se chamou de O Último Rango, no início da década de 1980, que eu realmente descobri que queria ser artista de alguma forma. Foi uma catarse, foi uma loucura. Ali, eu disse ‘eu quero participar dessa coisa artística, bacana, louca e cultural’. Tenho uma memória muito boa daqui”.

Carmem Manfredini, irmã de Renato Russo, destaca
a importância do espaço para a capital: 'Com
certeza, a cidade merece tudo isso. O Renato
amava muito Brasília, que foi muito importante
em toda a formação cultural da vida dele' (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
Carmem Manfredini, irmã de Renato Russo, destaca a importância do espaço para a capital: "Com certeza, a cidade merece tudo isso. O Renato amava muito Brasília, que foi muito importante em toda a formação cultural da vida dele"
 

A musicista conta, ainda, que essa é uma das memórias afetivas mais queridas e bacanas que tem do lugar, importante para a cena cultural de Brasília. “Foi uma das coisas mais loucas e geniais da cidade, que foi unir todos os artistas, desde acrobatas até o que você puder imaginar, todos estava ali concentrados naquele galpão. E uma dessas pessoas era o Renato Russo com a banda Aborto Elétrico. Eu fui para ver meu irmão, para prestigiá-lo, mas o que vi me deixou tão extasiada, com tudo de diferente que tinha ao mesmo tempo naquele galpão, que aquilo para mim foi inesquecível”, diz.

 

A reabertura do Espaço Renato Russo, segundo Carmem, fortalece ainda mais o fomento e expansão da cultura em Brasília, em todas as suas áreas e reafirma o poder que ela tem na sociedade: “A cultura, apesar de todas essas dificuldades, nunca parou. Tenho amigos que abriram seus próprios espaços culturais nos últimos anos. Então, mesmo com todos os problemas, as pessoas continuam produzindo e isso é o mais legal”, afirma Carmem. “Vamos fazer esse espaço ser mais presente na vida da cidade. Precisamos preencher a vida das pessoas de beleza e sentido e esse espaço é muito especial, porque foi ocupado pela sociedade. Era apenas um galpão de obra e as pessoas chegaram e o transformaram. Deram um significado de arte e identidade a um lugar da cidade. A identidade cultural de Brasília foi e é feita aqui”, completa Hernandes.

 

Em breve, um acervo com objetos pessoais de Renato Russo estará em exposição para o público. O projeto ainda está em fase de concepção e diálogo entre a família e os gestores do espaço. “Com certeza, a cidade merece tudo isso. O Renato amava muito Brasília, que foi muito importante em toda a formação cultural da vida dele. Foi aqui que ele escreveu praticamente 90% de todas as letras, como Faroeste Caboclo e Eduardo e Mônica. É muito icônico e bacana ter um espaço desses e ainda mais no centro da cidade”, diz Carmem.

 

O Espaço Renato Russo tem oficinas especiais com grupos âncoras ou coletivos residentes no espaço, que além de compor a programação da 508 com seus trabalhos/espetáculos do repertó- rio, oferecem cursos de longa duração abertos à sociedade em geral, para o público iniciante ou experiente, a partir de 15 anos. Para inscrições, datas e disponibilidade de cursos ofertados, é preciso consultar a programação no site ou nas redes sociais.

Vocalista da banda Legião
Urbana, Renato Russo, durante
um show em 1986: artista
frequentava o centro cultural
que hoje leva seu nome (Mila Petrillo/CB/DA Press)
Vocalista da banda Legião Urbana, Renato Russo, durante um show em 1986: artista frequentava o centro cultural que hoje leva seu nome
 

FOMENTANDO A CULTURA

Centro cultural tem várias atividades destinadas à produção artística. Confira a programação fixa

 

Grupos residentes: Agrupação Teatral Amacaca (ATA), Instrumento de Ver, Coletivo Transverso, Grupo de Teatro Celeiro Das Antas, Grupo Víceras, Mulher do Mundo e Saída Sul

 

Rolê Cultural (para escolas): programa de mediação cultural para alunos das escolas dos ensinos fundamental e médio. Consiste em uma vivência imersiva no espaço, envolvendo o contato com obras de arte e práticas artísticas diversas. De terça a sexta, das 10h às 20h, mediante agendamento

 

Cursos e oficinas nas áreas de teatro, circo, pintura, desenho, grafite, gravura, escultura, fotografia, quadrinhos, história da arte: Construção de personagens; Iniciação à pintura; Oficina de lambe-lambe; Aquarela para iniciantes; Performance para músicos no palco; Grafffiti! Venha fazer com a gente; Audiovisual: técnica para atores e não atores; História da arte brasileira (vários módulos); Usina de Projetos Culturais (oficinas de capacitação para empreendedores culturais); A arte do parkour (turma para adultos: mulheres e homens; turma para adolescentes; e turma para crianças); Mirar: escrita criativa; Iniciação às acrobacias; Circo íntimo; Elaboração de projetos

 

Endereço: Via W3 Sul, Comércio Residencial Sul 508, Asa Sul

 

Funcionamento: de terça a sábado, das 10h às 20h; domingo, das 10h às 19h www.espacoculturalrenatorusso.com.br www.facebook.com/espacoculturalrenatorusso

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