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As belezas e as agruras de ser mães

Cinco mulheres de diferentes profissões dizem como veem a maternidade e dão dicas de como experimentar a delícia de criar uma família

Mariana Froes - Publicação:21/05/2019 16:27Atualização:28/05/2019 16:08

Desafiadora e sublime, a maternidade tem diversas nuances. Idealizada e romantizada por muitas mulheres, é quase senso comum que a realidade está muito aquém de qualquer história contada e, por isso, precisa ser vivida com coragem. Com o passar dos anos e a inserção da mulher no mercado de trabalho, várias mudanças se desenharam na sociedade e, inclusive, na constituição das famílias. Muitas mulheres, hoje, têm filhos mais tarde para se dedicarem à profissão ou para que a maternidade caiba dentro de um “plano de voo” minimamente aceitável.

 

Nessa mudança de contexto, muitas mulheres tentam equilibrar funções, mas quase sempre relatam sentimento de culpa e de frustração por não conseguir atender tantas expectativas. Mas, fato é que cada vez mais mulheres testemunham que mergulhar de cabeça nesse universo nem sempre significa um salto no escuro. Por isso, cada vez mais mães compartilham – seja por meio das redes sociais, internet e/ou em encontros presenciais – experiências e estratégias sobre criação e educação dos filhos. As linhas de pensamentos e experiências práticas são diversas, mas uma coisa geralmente é unânime: o testemunho do amor incondicional. Reunimos as histórias de cinco moradoras do DF, que decidiram compartilhar relatos e pontos de vistas sobre a maternidade.

 

ELE SEMPRE QUER COLO

“Eu não planejei engravidar, mas sempre pensei em ser mãe. Mas, mesmo que tivesse planejado, acho que, na prática, seria diferente de qualquer previsão. O Hero me acompanha em tudo, desde os 40 dias de nascido. É uma criação com apego. Como meu marido trabalha em outro país e vem para o Brasil por temporadas, foi a forma que encontrei de estar com meu filho e continuar trabalhando.

 

Como tenho de cuidar dele sozinha, cuidar da minha empresa, dar as minhas aulas, além de amamentá-lo em livre demanda, nunca foi fácil. Muitas vezes, tenho de dar aula com ele no colo. Isso acontece sempre e ele tem 10 kg. Sim, muitas vezes ele quer colo, quer ficar comigo, está com sono. E isso tudo enquanto estou ensinando. Mas ele é a minha prioridade e as minhas alunas maravilhosas entendem quando tenho de parar. Fora isso, tenho de arrumar casa, fazer comida, mas, como muitas mulheres, sou forte, proponho-me e consigo fazer.”

 

A maior dificuldade em ser mãe é: “Conseguir atender às demandas e expectativas próprias, dos outros e do próprio filho”.

Um conselho a quem ainda vai ser mãe: “Queira ser mãe, não só tenha um filho”.

Amura Zahra, de 33 anos, empresária, professora de dança do ventre e bailarina. Mãe do Hero Baeza Lima, de 1 ano

 (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
 

VERDADE SOBRE SER MÃE

“Engravidei do Augusto logo após o meu casamento. Não foi algo planejado e isso me assustou um pouco. Imaginava ter o meu primeiro filho depois de 30 e poucos anos. Mas logo me apaixonei pela ideia. Embarquei naquela de fazer chá de revelação, ler vários livros, seguir blogueiras e, mesmo assim, eu me senti perdida. Estava tudo certo para a chegada dele. Ao menos, era isso que eu achava, mas o Augusto nasceu prematuro e eu não sabia como era isso, não tinha lido em lugar algum. Pensei que mantendo a calma ficaria tudo bem. Mas, nesse tempo, chorei e sofri muito com cada notícia. Ele passou dias na UTI neonatal, teve parada, pneumotórax, transferência de hospital. Fiquei com medo e muita angústia, mas mantive a fé. Depois de seis dias de nascido, eu ainda não o tinha segurado no colo, mas quando isso aconteceu, eu descobri a verdade sobre ser mãe. E, hoje, tento aproveitar ao máximo os instantes com o meu filho.”

 

A maior dificuldade de ser mãe é: “Querer sempre fazer o melhor e se sentir frustrada por achar que não conseguiu”.

Um conselho a quem ainda vai ser mãe: “Aproveitar cada minuto com seu filho, pois, pode ser difícil, mas passa rápido e você pode se lamentar”.

Ana Sara Fontenele, de 32 anos, servidora pública do TST, biblioteconomista e blogueira. Mãe do Augusto Rosa Fontenele Neves, de 3 anos

 (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press  )
 

REDE DE APOIO

“O Francisco foi planejado. Sendo advogada autônoma, quando não se tem licença maternidade, é importante programar. O primeiro mês foi muito difícil, muitas novidades, muita informação... Marinheiro de primeira viagem fica muito inseguro. Mas, eu já tinha conversado com amigos e já estava de certa forma preparada. Não romantizava a situação. Quando você tem uma rede de apoio – seja sogra, babá, mãe, marido – fica mais suave. É importante ter com quem contar e confiar. Eu não tenho babá. Por isso, depois dos 4 meses dele, montei o nosso cronograma. Trabalho no home office pela manhã, levo-o para a minha mãe, à tarde, e o meu marido busca à noite. Quando chego, fico com ele e dou atenção para a qualidade do tempo com meu filho. Além disso, presto muita atenção aos horários, pois vejo que a criança gosta disso e se sente mais amada, mais acolhida, quando segue uma rotina.”

 

A maior dificuldade em ser mãe é: “Administrar o tempo e as prioridades”.

Um conselho a quem ainda vai ser mãe: “Ter uma rede de apoio para evitar frustrações. Isso permite à mulher ter uma maternidade mais serena”.

Ana Carolina Andrada Arrais Caputo Bastos, de 33 anos, advogada, presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais da OAB-DF. Mãe do Francisco José Caputo Bastos Andrada, de 8 meses

 (Arquivo Pessoal  )
 

TURBILHÃO DE DEMANDAS

“Criar um filho é viver intensamente e aprender a lidar com muito amor e grandes preocupações, ao mesmo tempo. Eu e meu marido decidimos ter filhos depois de quatro anos de casados. Aproveitamos bem essa primeira etapa. Viajamos bastante, curtimos os prazeres de um casal sem filhos, mas quando eles chegaram a rotina mudou completamente. Surgiram necessidades e prioridades diversas que sequer imaginava antes. É um verdadeiro turbilhão de demandas que ocupam muitas horas do dia. A rotina de mãe de gêmeos, como profissional liberal, que conduz seu próprio escritório de arquitetura, é bastante intensa. É preciso desdobrar-me para dar conta das demandas e cuidar das crianças e da casa. Tivemos de aprender a fazer mais com menos tempo, com pouco descanso e ainda manter a sanidade. Definitivamente, não é tarefa fácil. Temos a sorte de poder contar com a ajuda de meus pais, dos avôs, de parentes que estão sempre dispostos a ajudar nos cuidados com as crianças. A ajuda profissional também é indispensável: temos uma babá e uma empregada doméstica para nos auxiliar na rotina diária com os bebês e com as tarefas da casa. Apesar de todo o trabalho, nada se compara aos sorrisos espontâneos e inocentes dos meus filhos nos meus braços. É um momento sublime. Para mim, é a realização plena, reflexo de um amor incondicional, que transborda qualquer cansaço ou frustração do dia.”

 

A maior dificuldade em ser mãe é: “Lidar com o sentimento de culpa por não estar dedicando todo o meu tempo a eles, pois tenho que dividir, por exemplo, com o trabalho”.

Um conselho a quem ainda vai ser mãe: “Seguir uma rotina. Bebês precisam dela, pois geram conforto e tranquilidade”.

Débora de Oliveira Brayner, de 40 anos, arquiteta, dona de um escritório de arquitetura e interiores. Mãe dos gêmeos Matheus de Oliveira Brayner e Isadora de Oliveira Brayner, de 9 meses

 (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press )
 

OPORTUNIDADE ÚNICA

“Quando eu era mais jovem eu não queria ter filhos, não enxergava a maternidade como hoje. Eu via experiências ruins, de mulheres sobrecarregadas e homens omissos. Então, não queria constituir família, queria dedicar-me a ser a melhor na minha carreira. As coisas mudaram quando conheci o meu marido, que queria ser um pai presente. Então, eu percebi que estava me negando uma oportunidade única, de experimentar a mais profunda forma de amor, por causa das experiências ruins dos outros. Mudei a minha concepção e, três meses depois do casamento, engravidei da minha primeira filha. Foi, então, que decidimos estudar sobre parentalidade sob uma perspectiva mais amorosa, mais consciente. Eu sou uma pessoa privilegiada por ter um marido que é muito presente, muito cuidador, parceiro e a minha principal rede de apoio. O que torna a maternidade mais pesada é a falta de uma rede de apoio ou uma rede de apoio com muitos contrastes, ou seja, com pessoas que tenham pensamentos muitos diferentes dos seus. Fiquei grávida da minha segunda filha e continuamos estudando a melhor forma de educá-las. Mantenho uma rotina de brincar, ler para elas e sigo os princípios da Maria Montessori, que estimula a autonomia e o respeito às crianças.”

 

A maior dificuldade em ser mãe é: “Compreender e aceitar com leveza que a vida não será mais a mesma e que você será outra mulher, em processo de reconstrução. Que a entrega que a maternidade exige é maior do que estamos preparadas para dar”.

Um conselho a quem ainda vai ser mãe: “Estude mais sobre parentalidade e desenvolvimento infantil do que sobre a gravidez e o parto e ouça mais o seu coração do que os palpites, por mais bem intencionados que pareçam”.

Paula Gomes Lima de Lacerda, de 31 anos, ginecologista, obstetra e médica de família e comunidade. Mãe da Paloma Lima de Lacerda, 1 ano e 10 meses, e da Ana Lima de Lacerda, de 1 mês

 (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press )
 

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