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Bruxismo: um novo mal da modernidade

Muito mais comum do que se imagina, o bruxismo está ligado ao estresse e à ansiedade, além de problemas nos dentes. Saiba quais são os tratamentos mais modernos e como os dentistas podem ajudar a tratá-lo

Isabella de Andrade - Publicação:29/05/2019 08:41Atualização:29/05/2019 11:07

Ligado ao estresse e a fatores emocionais, além de problemas de natureza bucal e outros fatores físicos, o bruxismo pode ser observado em pessoas de diferentes gêneros e idades. Considerado um mal da modernidade, por sua forte ligação a altos picos de estresse, o comportamento pode ser um fator de risco e aparece até mesmo em estados de concentração ou tensão elevados. Dor de cabeça e músculos da mandíbula doloridos ao acordar são alguns dos sintomas do problema e é bom ficar de olho para que ele não se agrave. O mundo moderno, muito tecnológico, aliado ao excesso de informações e estilo de vida com muitas cobranças, cria o ambiente perfeito para a ansiedade e o estresse. Normalmente, pessoas naturalmente ansiosas ou que estão passando por uma fase peculiar, como vestibular ou concursos, têm mais facilidade para desenvolver o comportamento.

 

O bruxismo pode afetar crianças, adultos e idosos e se desenvolve em diferentes tipos.

 

Por ter sintomas mais moderados, ele não costuma ser diagnosticado no início. No entanto, consultas de rotina ao dentista podem ajudar em um diagnóstico mais precoce, já que o profissional percebe o desgaste nos dentes do paciente. O dentista Marcos Guilherme Cunha, responsável técnico da Smile Center, lembra que o problema não deve ser considerado um distúrbio e, sim, um comportamento que pode transformar-se em fator de risco para algumas consequências clínicas.

A estudante Jéssica Silva tinha dores na mandíbula e no ouvido, até descobrir que tinha bruxismo e passar por um tratamento: 'Hoje, durmo muito melhor e não sinto mais dores nos dentes. Eu me sinto mais leve quando acordo' (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
A estudante Jéssica Silva tinha dores na mandíbula e no ouvido, até descobrir que tinha bruxismo e passar por um tratamento: "Hoje, durmo muito melhor e não sinto mais dores nos dentes. Eu me sinto mais leve quando acordo"
 

O dentista destaca que, em indivíduos com bruxismo, pode ocorrer oito vezes mais contrações musculares, produção e deglutição de saliva, do que uma pessoa sem o problema. “Um detalhe muito importante é que somente uma pequena parcela das pessoas com bruxismo chega a desenvolver algum quadro patológico. Isso ocorre somente quando se extrapola a capacidade do organismo de adaptar-se”, afirma o especialista.

 

A empresária Luciana Lomônaco, de 45 anos, descobriu que tinha bruxismo em 2017, depois de buscar o dentista com muitas dores na face, enxaquecas fortes e dores na cervical. “Esses problemas me deixavam incapacitada de realizar tarefas simples no cotidiano. Eu já acordava com muita dor de cabeça”, conta Luciana. Depois da consulta, ela passou a utilizar uma placa relaxante na boca e ajustou seus hormônios, por meio de medicamentos indicados por um médico, pois também a menopausa pode contribuir para intensificar as dores e tensões.

Adriana Borges usou a placa de proteção noturna e viu sua qualidade de vida melhorar: seu dentista também recomendou consultas com uma psicóloga e um neurologista para tratar o estresse (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
Adriana Borges usou a placa de proteção noturna e viu sua qualidade de vida melhorar: seu dentista também recomendou consultas com uma psicóloga e um neurologista para tratar o estresse
 

O comportamento pode aparecer até mesmo por falhas em neurotransmissores, como questões ligadas à captação de serotonina e alterações do sistema dopaminérgico. Além disso, problemas de ordem psiquiátrica e distúrbios do sono aumentam as possibilidades de que ele apareça. O primeiro, chamado de bruxismo acordado ou em vigília, caracteriza-se pelo ato de apertar os dentes e está ligado ao estresse e à concentração. Existe ligação também com a mordedura dos lábios, bochechas e língua. O segundo, conhecido como bruxismo do sono, acontece quando o paciente está dormindo. Ele varia de intensidade entre as noites e é caracterizado pela presença de desgastes dentais. Vale lembrar que profissionais que trabalham com alta concentração e atletas têm mais facilidade desenvolver o problema em vigília.

 

O dentista Marcos Laboissiere afirma que, inicialmente, o bruxismo em si não é tratado: “O ato de ranger os dentes é fisiológico; o problema é a intensidade e a frequência disso. O que podemos fazer é diminuir os riscos e as consequências dessa atividade”. Entre os tratamentos mais indicados estão as placas desoclusivas estabilizadoras, ou seja, uma órtese que fica entre os dentes, protegendo-os do ato de ranger. “Normalmente, pacientes com esse tipo de problema têm os dentes já destruídos. Reconstruí-los não impedirá que o paciente o faça novamente, porém ao reconstruir os dentes de forma equilibrada, essa destruição pode ser controlada”, diz Laboissiere. Segundo ele, vale lembrar que diferentes estruturas podem ser afetadas com o ato de ranger os dentes, como a musculatura da face e pescoço, a articulação temporomandibular e os próprios dentes. “Elas não estão relacionadas com o aparelho auditivo, mas com músculos e articulações, que estão anatomicamente na direção do ouvido”, explica o dentista.

A empresária Luciana Lomônaco tratou de um bruxismo que descobriu em 2017, depois de sofrer com dores na face e na cervical e fortes enxaquecas: 'Esses problemas me deixavam incapacitada de realizar tarefas simples no cotidiano', conta ela (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
A empresária Luciana Lomônaco tratou de um bruxismo que descobriu em 2017, depois de sofrer com dores na face e na cervical e fortes enxaquecas: "Esses problemas me deixavam incapacitada de realizar tarefas simples no cotidiano", conta ela
 

Jéssica Silva, de 25 anos, é recepcionista e estudante de gestão pública. Ela descobriu que estava com bruxismo em 2018, durante uma consulta no dentista, que percebeu que os dentes da paciente estavam muito desgastados. Jéssica conta que sentia dores na mandíbula e até no ouvido. “Eu não dormia muito bem, acordava incomodada. Quando iniciei o tratamento, a dor foi reduzida. Além disso, ele evita danos permanentes aos meus dentes e reduziu o ato de ranger ao mínimo possível”, afirma a recepcionista. Ela utilizou uma placa para bruxismo e colocou uma capa protetora na arcada dentária, já que seus dentes estavam muito desgastados. “Depois de iniciar o tratamento, hoje durmo muito melhor e não sinto mais dores nos dentes. Eu me sinto mais leve quando acordo”, diz.

 

Além das placas feitas especialmente para tratar o problema, tratamentos comportamentais podem ser feitos simultaneamente, para diminuir situações de estresse e tensão. Até mesmo o uso de medicamentos pode ser feito de acordo com a intensidade do bruxismo, principalmente quando ele envolve componentes ligados à depressão e à captação de serotonina.

Para o dentista Marcos Cunha, visitas frequentes ao consultório odontológico podem evitar que o problema se agrave: 'Somente uma pequena parcela das pessoas com bruxismo chega a desenvolver algum quadro patológico', diz ele (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
Para o dentista Marcos Cunha, visitas frequentes ao consultório odontológico podem evitar que o problema se agrave: "Somente uma pequena parcela das pessoas com bruxismo chega a desenvolver algum quadro patológico", diz ele
 

A aplicação de toxina botulínica nos músculos da mastigação também pode ser um grande auxiliar para as terapias. “É muito importante tambémque se faça o tratamento restaurador de casos em que já houve lesão. Pacientes que fraturaram dentes, que tiveram retrações gengivais, mobilidade dentale que chegam a até mesmo a fraturar as raízes dos dentes podem passar poresse procedimento”, diz Marcos Cunha. Podem ser feitas, segundo ele, restaurações nos dentes, facetas de porcelana ou lentes de contato de porcelana para a mudança estética. Além de colocação de implantes nas áreas em que houver perda dental.

 

A servidora pública Adriana de Souza Borges, de 40 anos, também sentia fortes dores na nuca, nas costas e na articulação ATM (perto da orelha), antes de receber um diagnóstico. “Eu tomava analgésicos, mas a dor sempre voltava. O dentista me indicou uma placa noturna e um tratamento com outros profissionais, entre eles uma psicóloga, que tem me ajudado a reduzir o estresse”, diz. No segundo ano de tratamento ela corrigiu a mordida, que era aberta. Adriana consultou também um neurologista para verificar se tinha distúrbios de sono. Ela aponta a rotina estressante e a tensão da modernidade como principais causas de seu problema: “Agora, estou na terapia, com a placa de proteção noturna e minha qualidade de vida melhorou muito”, afirma.

Segundo o dentista Marcos Laboissiere, entre os tratamentos mais indicados estão as placas desoclusivas estabilizadoras, que protegem os dentes no ato de ranger. 'O que podemos fazer é diminuir os riscos e as consequências dessa atividade', afirma (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press)
Segundo o dentista Marcos Laboissiere, entre os tratamentos mais indicados estão as placas desoclusivas estabilizadoras, que protegem os dentes no ato de ranger. "O que podemos fazer é diminuir os riscos e as consequências dessa atividade", afirma
 

10 DICAS PARA CUIDAR DO SORRISO

Veja como manter os dentes saudáveis, com cuidados básicos diários e idas regulares ao dentista

 

1 Escolher a pasta de dente correta, preferencialmente com flúor

2 Evitar fumar

3 Ir ao dentista periodicamente

4 Fazer limpezas regulares para tirar o acúmulo de placas bacterianas, evitando a gengivite

5 Limitar o consumo de açúcar entre as refeições

6 Cortar bebidas gaseificadas, que têm ácidos prejudiciais quando consumidas com regularidade

7 Escovar os dentes no mínimo três vezes ao dia

8 Usar fio dental diariamente

9 Evitar alimentos moles e pegajosos, que podem ficar presos entre os dentes

10 Usar antisséptico bucal

Fonte: especialistas consultados

 

 

CONSEQUÊNCIAS DO BRUXISMO

O que pode acontecer com quem desenvolve o problema

 

èBarulho do ranger de dentes

èDesgaste dos dentes

èFratura dental

èMobilidade dental excessiva

èRetrações gengivais

èMarcações em língua

èMá qualidade do sono

èDor nos músculos faciais e da mastigação

è Dor cervical

è Hipersensibilidade nos dentes

èDor na articulação temporomandibular

èDores de cabeça (cefaleias)

Fonte: especialistas consultados

 

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