Centros oncológicos dos hospitais do DF estão cada vez mais modernos
Além de bem equipados para tratar todos os tipos de câncer, centros estão atendendo de forma cada vez mais personalizada
Os avanços recentes nos tratamentos do câncer vêm ampliando as alternativas para a luta contra um dos males que mais aflige a população nas últimas décadas. “Nos últimos anos temos visto grande avanço nos tratamentos disponíveis para a maioria dos tumores”, destaca o médico Márcio Almeida, da Aliança Oncologia. Mais modernos, os tratamentos ganharam em precisão e estão menos agressivos, aumentando os percentuais de cura e proporcionando uma recuperação mais rápida e com menos sequelas. O sucesso dos procedimentos, no entanto, está diretamente relacionado ao diagnóstico precoce.
Os avanços no combate à doença corroboram a importância tanto do rastreamento precoce quanto da prevenção de alguns cânceres, principalmente dos tipos que são mais incidentes na sociedade brasileira. O tumor de pele não-melanoma é o principal em termos de números, mas não se traduzem em mortalidade. Os tipos que mais matam no Brasil aparecem de forma diferente em cada gênero. Entre os homens, o mais incidente é o de próstata, seguido pelo de pulmão e de cólon (intestino grosso) e reto. Entre as mulheres, o câncer de mama é o mais frequente nas regiões Sul, Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste. No Norte, ele fica atrás apenas do câncer de colo de útero. Os dois tipos são os que mais matam mulheres no país, apesar de o de pulmão também ter alta incidência.
O tratamento da doença é multidisciplinar. “O ideal é que sempre os casos sejam discutidos entre as especialidades envolvidas no cuidado do paciente. A elaboração de um plano terapêutico depende não apenas do sítio de origem do tumor, mas também da extensão da doença (localizada ou disseminada)”, diz Eduardo Vissotto, oncologista clínico do Centro de Oncologia Santa Lúcia. O especialista aponta que, em geral, os os procedimentos envolvidos são cirurgia, radioterapia e tratamentos sistêmicos (isolados ou combinados). E os avanços tecnológicos estão em todas as áreas.
Muitas das cirurgias oncológicas já são robóticas, como câncer de próstata e de pulmão. A incorporação de máquinas com mais precisão no uso da radioterapia faz com que esse tipo de tratamento agrida menos tecidos saudáveis próximos ao tumor, reduzindo a incidência de efeitos colaterais. Há também a terapia-alvo e, mais recentemente, a incorporação da imunoterapia. “Na era da oncologia personalizada, em meio a muitas inovações, a quimioterapia ainda é uma modalidade terapêutica importante para a maioria dos tumores, seja isolada ou associada a outros agentes”, afirma Vissotto.
O médico Andrew Sá, oncologista do Hospital Santa Marta, explica didaticamente que a imunoterapia faz o tumor tornar-se novamente visível ao sistema imune: “O tumor tem um mecanismo de ocultar-se, pela destruição das nossas células, para passar como se fosse uma parte integrante do nosso corpo e não uma célula estranha”, diz o especialista. Esse mecanismo de fazer com que essas células se tornem novamente expostas ao nosso organismo de defesa faz com que o organismo consiga destruir as células tumorais.
O oncologista Igor Morbeck, do Hospital Sírio-Libanês, destaca a imunoterapia como uma das principais armas para tratar o câncer de pulmão. Ela tem sido empregada em vários tipos de tumores, incluindo os de pulmão, de rim, de pele (conhecidos como melanoma) e de bexiga. Todos esses casos têm sido tratados com sucesso pela imunoterapia, mesmo em pacientes com doença avançada. Isso não significa cura do câncer, mas, sim, maior taxa de controle dele. Existem vários mecanismos que desencadeiam a proliferação das células tumorais. A medicina atualmente já consegue identificar alguns dos pontos que expressam mutações características de câncer. A terapia-alvo, então, é usada para bloquear essa mutação. “Com ela, conseguimos parar essa cascata de proliferação celular”, explica o oncologista Andrew Sá. Hoje, existem drogas que são direcionadas para determinadas mutações, o que é feito por pesquisa genética: trata-se do mapeamento genético.
A prevenção continua sendo o melhor remédio para qualquer doença, principalmente para o câncer. Outubro Rosa e Novembro Azul são campanhas de conscientização sobre o rastreamento precoce do câncer de mama e de próstata, respectivamente. “A grande importância dessas campanhas é disseminar informação e, assim, aumentar a aderência da população aos programas de rastreamento”, afirma Eduardo Vissotto. Caso o paciente desenvolva o câncer, é possível diagnosticá-lo em fases precoces e, dessa forma, aumentar significativamente as chances de cura, considerando, inclusive, os avanços nos tratamentos. Estima-se que 68 mil brasileiros são diagnosticados com câncer de próstata por ano, quantidade capaz de lotar o Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Esse tipo de câncer mata cerca de 20% dos pacientes, mas resultados de cura vêm sendo conquistados, inclusive com a preservação das funções erétil e urinária, quando a doença é diagnosticada precocemente, segundo Luiz Angelo Martins, urologista do Hospital Brasília. As mulheres devem iniciar o rastreio para o câncer de mama aos 40 anos, por meio da mamografia anual. Ao iniciar a atividade sexual, o preventivo ginecológico, com o exame Papanicolau, deve ser coletado anualmente para a pesquisa de lesões precursoras do câncer de colo de útero, principalmente relacionadas ao HPV. Os cânceres de colo de útero e de mama somam 50 mil óbitos por ano, segundo o Instituto de Câncer do Rio de Janeiro. As mortes podem ser evitadas com prevenção ou rastreamento precoce. “A forma é absurdamente simples para prevenir o câncer de colo de útero, já que é feita por meio da vacina contra o HPV”, alerta Evandro Oliveira da Silva, ginecologista da Maternidade Brasília e Hospital Brasília. O vírus do HPV é responsável por mais de 95% das causas desse tipo de câncer. A vacinação, porém, não descarta a necessidade do uso de preservativo, já que a transmissão do vírus é por meio do contato em relações sexuais. “A vacina ajuda, mas não substitui o preservativo nem o Papanicolau”, diz o especialista. O exame faz o rastreamento das lesões que podem tornar-se câncer. Ele não serve para saber se a mulher tem o câncer uterino e, sim, para prevenir que as lesões evoluam para a doença.O HPV não é tratado com comprimido ou creme vaginal; é feito pela retirada da lesão apontada no Papanicolau.
No Distrito Federal, morre uma mulher com câncer ginecológico (principalmente de útero e ovário) a cada quatro dias. “Se a mulher sexualmente ativa fizer um único exame de Papanicolau durante a vida, ela consegue reduzir em até 50% a chance de ter câncer de colo”, afirma Evandro Oliveira, que explica: “O câncer de colo de útero não aparece do dia para a noite. Ele é silencioso e tem evolução arrastada”. Também é importante que se faça uma avaliação imunológica visando melhor a imunidade da paciente que apresentar a lesão.