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Qual linha é a sua?

Diferentes propostas de educação estão à disposição dos pais na hora de escolher a melhor escola para o filho. Saiba o que prega cada uma delas e como algumas instituições do DF lidam com essas teorias na prática

Isabela de Oliveira - Redação Publicação:12/12/2019 16:10Atualização:12/12/2019 17:19

O cérebro humano, sobretudo o das crianças, é complexo e incrivelmente adaptativo. As sinapses dispensam regras únicas de aprendizado: a compreensão da realidade, assim como a absorção de conhecimento, se dá de formas mais variadas e a todo momento. Mas, apesar da capacidade natural de aprender, é importante que crianças e adolescentes sejam estimulados corretamente para alcançar o maior potencial de suas habilidades. Nesse sentido, os pais sabem que escolher a escola do filho é coisa séria.

 

Maria do Carmo Martins Cavallini, diretora pedagógica da creche montessoriana La Casa dei Bambini, em Águas Claras, diz que o primeiro ponto a ser considerado pelas famílias é se as características da escola estão em harmonia com o que é projetado para a criança. Os pequenos dão a última palavra, “já que as reações comportamentais e emocionais deles é que definem a decisão da família”. Luís Filipe Anastácio, coordenador intermediário da Secretaria de Estado de Educação do DF, sublinha a importância desse ponto, porque é a criança que tem de adequar-se à escola, e não o contrário. “Então, é necessário conhecer bem a instituição antes de matricular um filho. É fundamental saber qual a proposta e a metodologia que serão usadas.”

 

Segundo Anastácio, se as atividades da escola não são de interesse da criança, há o risco de ela se sentir incapaz e frustrada, o que gera impacto direto na autoestima e no rendimento acadêmico. Com isso, Robson Arrais, sócio do Único Educacional, sublinha a necessidade de os pais conhecerem seus filhos cognitiva e emocionalmente, para terem subsídios na hora de escolher uma escola mais conteudista, mais formativa ou focada nas duas coisas.

 

Além disso, é imprescindível que a instituição tenha identidade e valores coerentes com suas ações e propostas, diz Tânia Pagano Payne, supervisora educativa do Colégio La Salle. “A escola deve ter o projeto pedagógico consolidado com sua proposta curricular. Deve estar embasada em teorias de educação, garantindo o pleno desenvolvimento acadêmico e atingindo os objetivos propostos para o ano letivo com coerência para os pais e os alunos.”

 

Leia mais, a seguir, sobre alguns métodos e veja qual deles se encaixa mais no seu perfil.

 

SOCIOINTERACIONISMO

Pai do sociointeracionismo, o bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934) entende o homem e seu desenvolvimento numa perspectiva sociocultural, na qual o indivíduo se constitui na interação com o meio em que está inserido. A relação dialética: o ser não só internaliza as formas culturais, mas também intervém e as transforma. Nesse contexto, o desenvolvimento humano e a aprendizagem são considerados processos indissociáveis que se moldam reciprocamente. A teoria de Vygotsky, portanto, dá voz às crianças para que elas exercitem o pensamento. Professores não devem cercear os alunos, mas ouvi-los para agir como mediadores, auxiliando-os na construção intelectual. No La Salle, a proposta favorece a interação, a relação afetiva, o compromisso do aluno com ele próprio e com o outro. “Ela privilegia o contato dos alunos com a natureza, valorizando todo o espaço físico do colégio. Os projetos desenvolvidos promovem a criatividade, o protagonismo, a responsabilidade, a autonomia e a afetividade”, diz Tânia Pagano Payne, supervisora educativa. Segundo ela, o La Salle aplica a teoria ativamente via experimentação, execução das tarefas diárias com pesquisa em grupo, questionamentos, oficinas, elaboração de textos e estímulo ao raciocínio lógico-matemático. “Nessa dinâmica diária, proporcionamos vivências constantes explorando os diferentes espaços da biblioteca, da Sala Google, do teatro da árvore, do parquinho, da fazendinha, da horta, da estação de tratamento do esgoto, entre outros inúmeros espaços da ampla área interna e externa do colégio.”

 (Wallace Martins/Esp. Encontro/DA Press)
 

CONSTRUTIVISMO

Nada está pronto e nem acabado, sobretudo o conhecimento. Ele não é dado, mas construído pela interação do indivíduo com o meio. É o que defende Jean Piaget (1896-1980), principal referência do construtivismo, linha pedagógica que bebe da fonte do sociointeracionismo de Lev Vygotsky (1896-1934). Para Piaget, quatro fatores são essenciais para o desenvolvimento cognitivo da criança: biológico, de experiências e exercícios, de interações sociais e de equilíbrio das ações. O Colégio Marista João Paulo II, na Asa Norte, desenvolve os quatro fatores com sequências didáticas, projetos, pesquisas e construção de soluções inteligentes diante de questões-problemas. “E o que esses caminhos podem gerar? Estudos com rigor conceitual, estudantes críticos e éticos, produção de aplicativos e pesquisas científicas”, diz Bruna Sousa dos Santos, coordenadora pedagógica da instituição. Segundo ela, metodologias que promovem o protagonismo do estudante, por meio do desenvolvimento de competências e habilidades, são as principais ferramentas de aplicação dos preceitos construtivistas no colégio. “Ancoradas em conteúdos, temáticas e objetos de estudos, essas metodologias fomentam não somente o aprender de determinado conteúdo, mas principalmente o que fazer com essa aprendizagem”, explica. Essas metodologias, diz Bruna, permitem ao estudante ir além da promoção dos aspectos acadêmicos e de teorias, mas promovem o saber fazer e a aplicabilidade do conhecimento. “Vivemos com crianças e jovens acreditando em si, realizando ações por meio de valores que prezam pela vida concatenada às competências do século XXI.”

 (Wallace Martins/Esp. Encontro/DA Press )
 

TRADICIONAL

Centrada no professor, considerado o principal disseminador da cultura e conhecimento, o sistema privilegia a tradição conteudista em que os alunos são estimulados a absorver informações aferidas por avaliações. Os sistemas tradicionais de ensino foram inspirados nos ideais emergentes da burguesia, que defendia a educação como um direito universal e um dever do Estado. Nesse contexto, instituições de ensino são essenciais para a construção e consolidação da sociedade democrática. Apesar de não ser inovadora, a fórmula passou por diversas revisões ao longo dos anos. Professor de história e sócio do Único Educacional, Robson Arrais explica que apesar de conteudista, o colégio lança mão de tecnologia e projetos baseados em pesquisas de campo focadas no aprendizado. Oferecer ensino de qualidade a todos alunos, com grande volume de conteúdo, é a regra do Único. Inclusive, a equipe de professores é a mesma, no Plano Piloto e em Taguatinga. Por isso, o padrão cognitivo, emocional e disciplinar dos alunos é homogêneo. Isso tem explicação. “Para a matrícula, o aluno passa por uma entrevista que avalia se tem condições plenas de acompanhar o grau de exigência da escola. Nessa hora, esclarecemos o regimento, os projetos, a disciplina exigida”, explica Arrais. O colégio conta com material didático próprio, elaborado de acordo com as exigências dos principais vestibulares do Brasil. Estudo e disciplina são incentivados a todo momento. “Frequentar as monitorias, fazer as lições, não estudar só em véspera de provas, não perder pontos em conceito por atraso, indisciplina ou tarefas incompletas, mas ganhar bônus no conceito com os projetos extras da escola, garantem a aprovação”, diz Arrais.

 (Wallace Martins/Esp. Encontro/DA Press)
 

MONTESSORI

A escola verdadeira não é a de quatro paredes, entre as quais as crianças são confinadas, mas a de uma casa onde possam viver em liberdade para aprender e crescer. A ideia defendida por Maria Montessori (1870-1952), primeira mulher a graduar-se em medicina na Itália, sustenta que é preciso preparar os pequenos com atividades adequadas ao desenvolvimento físico e mental deles. A médica iniciou a prática do sistema que leva seu nome, em 1907, com a Casa dei Bambini (Casa das Crianças). Na escola montessoriana, as crianças cuidam da própria higiene e da organização do espaço com supervisão do professor, que só se manifesta para guiar atividades ou impor ordem. O ambiente, inclusive, é crucial para o aprendizado: agradável, deve dispor de ferramentas e mobiliário adequados para a experimentação, desenvolvimento e absorção de habilidades. Maria do Carmo Martins Cavallini, diretora pedagógica da Creche La Casa dei Bambini, em Águas Claras, explica que as crianças são levadas a descobrir, desde muito cedo, que podem fazer e não apenas observar. Todas atividades são escolhidas e trabalhadas com o intuito de levar a criança a tornar-se segura, autônoma e colaborativa. “As crianças são convidadas a desenvolver ações simples da vida prática, proporcionando a chance de errar em várias e ricas tentativas de acertos. Quando mostramos que aprender é gostoso, divertido e empoderador, adultos e crianças não percebem um método, mas assumem um estilo de vida que os faz vencer obstáculos com garra e decisão.”

 (Wallace Martins/Esp. Encontro/DA Press )
 

WALDORF

Em 1919, o professor austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) foi convidado a criar uma escola que acolhesse os filhos dos operários da fábrica de cigarros Waldorf-Astória. A empresa já oferecia cursos para os trabalhadores, que pediram a elaboração de uma abordagem infantil do ensino. Assim nasceu a pedagogia Waldorf, que segue procedimentos artísticos para que razão e sensibilidade pavimentem o desenvolvimento cognitivo. Baseada na antroposofia, a proposta sustenta que a educação possibilita a evolução espiritual do homem consoante à adaptação social. A filosofia defende que o desenvolvimento humano obedece ciclos de setênios (sete em sete anos), fases em que o progresso do aluno é trabalhado de acordo com as dimensões físicas, psíquico-emocionais e espirituais. Chamado ninho, o primeiro setênio (0 a 7 anos) observa o desenvolvimento do corpo e capacidade motora. Professora do ensino infantil do Jardim Nosso Ninho, em Arniqueiras, Sônia Maria Salviano da Silva explica que o brincar é tão importante para criança quanto o trabalhar é para o adulto. Isso a prepara para vencer o mundo “lá fora”, diz Sônia. Os dois setênios seguintes – dos 7 aos 14 anos e dos 14 aos 21 anos – marcam, respectivamente, a percepção do eu e do outro, incluindo aí a noção de autoridade; e o autoconhecimento e descoberta da liberdade. Segundo Sônia, além de acolher a criança, a proposta também acolhe as famílias. “Tudo é feito em conjunto com os pais nos encontros que chamamos de vivência, onde todos fazem um pouco pela escola”, explica.

 (Wallace Martins/Esp. Encontro/DA Press  )
 

APRENDIZAGEM CRIATIVA

Algumas instituições, como a Escola Salesiana São Domingos Sávio, no Núcleo Bandeirante, e o Colégio Dom Bosco de Brasília, na Asa Sul, exploram múltiplas linhas teóricas. Com unidades distribuídas em seis estados brasileiros, a rede São João Bosco emprega fundamentos do Sistema Preventivo de Dom Bosco, que é pautado em um tripé de razão, religião e bondade; da concepção sociointeracionista de Vygotsky; da socioemocional de Henri Wallon (1879 -1962), que considera a afetividade como crucial para o desenvolvimento; e da aprendizagem significativa de David Paul Ausubel (1918-2008), cujo lema é “quanto mais sabemos, mais aprendemos”. Empregando a metodologia da aprendizagem criativa, as escolas salesianas formam cidadãos globais que protagonizem os processos de aprendizagem. Diretora estratégica da Inspetoria São João Bosco, Karina Bolzam explica que as unidades lançam mão de problemas para estimular os alunos a encontrar soluções contextualizadas. O programa de bilinguismo em viés CLIL, por exemplo, os encoraja a pensar em inglês. “Proporcionamos que nosso aluno saia preparado para o dinamismo do mundo Vuca (Incerto, Volátil, Complexo e Ambíguo), que requer habilidades específicas como autoconhecimento, autogestão, empatia, resiliência, adaptação, colaboração e criatividade”, diz Karina. Ela diz que além de competências cognitivas, é preciso reunir competências socioemocionais: “Somente o conteúdo não garante o preparo para a vida e para o mundo do trabalho. Múltiplas habilidades são necessárias para tratar e ressignificar o conhecimento, além de criar soluções para um ecossistema humano sustentável”.

 (Wallace Martins/Esp. Encontro/DA Press )

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