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Uma tendência em alta

Nem só de garrafa vivem as cervejas artesanais. Cervejarias do Distrito Federal começam a aderir à comercialização da bebida em lata, seguindo uma tendência mundial

Maíra Nunes - Publicação:13/02/2020 16:20Atualização:13/02/2020 19:01

Elas têm a sustentabilidade como bandeira e a resistência de parte dos consumidores como desafio. A Cerra­do Beer, cerveja artesanal do cerrado, traz no nome mostras dos motivos que levam a empresa a comercializar 80% da produção dela em lata. “Nos­sos rótulos todos remetem à fauna e à flora e parte dos nossos lucros é doado ao cerrado. Nada mais lógico do que se preocupar com a susten­tabilidade”, explica Denilson Postai, cofundador da microcervejaria. A questão-chave é mesmo a sustentabi­lidade. “Não dá mais para poluir. Pre­cisamos pensar no rastro de poluição que deixamos e os produtos 0% po­luição serão o mercado no futuro”, aposta Denilson.

 

No Distrito Federal não há indús­tria de reciclagem de vidro. Por ser descartado como lixo comum, o ma­terial acaba em aterros sanitários. Nos últimos anos, empresas priva­das começaram a recolher e a tri­turar o vidro descartado na capital, mas precisam enviar para outras ci­dades para serem reciclados. Quando a Cerrado Beer abriu as portas, há três anos, toda a produção tinha como des­tino a garrafa de vidro ou o barril de inox. Segundo Denilson, houve uma transição gradual para as latas. Hoje, a cervejaria comercializa em lata 50% do total que antes seria engarrafado.

Ana Luisa Siqueira, da Metanoia, na Tap House da cervejaria: todo o projeto visual foi pensado para a comercialização em latas, produzido por artistas e grafiteiros locais (Wallace Martins/Esp. Encontro/DA Press)
Ana Luisa Siqueira, da Metanoia, na Tap House da cervejaria: todo o projeto visual foi pensado para a comercialização em latas, produzido por artistas e grafiteiros locais
 

Os barris também sofreram mu­danças. Metade da produção que vai para o barril é vendida em barril inox e a outra metade em barril feito por um material pet reciclável. “A tendência é chegar a um patamar que seja possí­vel abolir o vidro”, diz Denilson. Ele destaca dois países precursores quan­do o assunto é cerveja artesanal em lata: Estados Unidos e Holanda. O primeiro tem uma cultura bem difun­dida de cervejas artesanais enlatadas, enquanto o segundo é pioneiro na reciclagem de lixo e em ações ligadas à sustentabilidade. Atualmente, até a embalagem do pack da Cerrado Beer é feito com polietileno 100% reciclado, que emprega menos petróleo, energia e gases de efeito estufa em relação à produção de plástico virgem.

 

Há quase duas décadas, o Brasil é líder mundial de reciclagem de alu­mínio, com índices acima dos 90% de latas recicladas. Uma lata descar­tada pode levar menos de um mês para voltar às prateleiras. Em 2017, foram reaproveitados 97,3% das latas 303.900 toneladas de latas de alumí­nio para bebidas comercializadas no Brasil. Os dados foram publicados pela Associação Brasileira do Alumí­nio (Abal) e pela Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas), em dezembro de 2018.

 

 

Segundo o gestor ambiental Bruno Souza, pós-graduado em geografia de análise ambiental pela Universidade Estadual de Goiás, a acessibilidade das latinhas para os catadores é fator determinante para o sucesso da reci­clagem do alumínio no Brasil. “Por ser um material fácil de conduzir, leve e implicar em menos riscos de corte no manuseio do que o vidro.” Vale consi­derar que, no Brasil, a geração de ren­da com o catador é uma opção para muitas pessoas em situação de vulne­rabilidade econômica.

 

Mas, se ela é amiga do meio am­biente, a lata das cervejas artesanais enfrenta uma resistência maior do que as garrafas entre os consumido­res, segundo empresários do setor em Brasília. “O público em geral, que não é especializado, prefere consumir cerveja artesanal em garrafa, por acre­ditar que tem maior valor agregado, ser mais robusta e parecer dar mais credibilidade”, afirma Rodrigo Braga, um dos sócios da Cruls Cervejaria Ar­tesanal. Ainda assim, ele diz que mi­grar para a lata é uma tendência do mercado, tanto que a empresa planeja estrear os produtos em lata no primei­ro semestre de 2020.

Rodrigo Braga (à dir.), da Cruls, com os sócios Pedro Capozzi e Filipe Gravia: mesmo com o sucesso das cervejas em garrafa, eles vão estrear os produtos em lata no primeiro semestre de 2020 (Carlos Vieira/CB/DA Press)
Rodrigo Braga (à dir.), da Cruls, com os sócios Pedro Capozzi e Filipe Gravia: mesmo com o sucesso das cervejas em garrafa, eles vão estrear os produtos em lata no primeiro semestre de 2020
 

Além da sustentabilidade, a con­servação do produto é outro motivo apontado pelo mestre cervejeiro. Se­gundo Marcos de Paula, gerente de qualidade da Cruls Cervejaria e mes­tre em biologia, podem existir algu­mas diferenças de qualidade entre a cerveja em garrafa e a em lata. Há dois grandes inimigos da cerveja depois que ela está pronta: oxigênio e luz. “Como a garrafa é de vidro, os raios de luz conseguem entrar e acabam por ajudar a oxidar a cerveja, o que pode interferir na qualidade, e existe o risco de a tampinha não estar bem vedada. Enquanto a lata é 100% vedada contra luz e oxigênio”, explica.

 

Ele diz que, por outro lado, a maio­ria dos exemplares de cervejas de guarda ou rolhada (produzidas jus­tamente para terem uma vida mais longa) são tradicionalmente feitas mais em garrafa do que em lata. “Va­mos fazer um trabalho em relação à mudança de mentalidade. Com muita conversa, esclarecimento e dados, va­mos provar que o produto não perde qualidade na lata”, diz Denilson Postai. “Não é falta de glamour nenhum tro­car a garrafa pela lata”, defende.

 

A Cervejaria Metanoia foi funda­da pelo casal Tiago Mota de Almeida e Ana Luisa Siqueira há três anos com todo o projeto visual pensado para a comercialização em latas, produzido por artistas e grafiteiros locais. Apesar disso, os dois começaram o negócio com cerveja artesanais apenas em gar­rafas. “As fábricas em volta do DF eram todas de garrafas, porque o proces­so de envasamento em lata era mais caro”, diz Tiago.

 

Segundo a Associação da Cerveja Artesanal do DF (Abracerva), Brasília tem 30 cervejarias locais cadastradas, que são responsáveis pela produção de 150 mil litros da bebida. Delas, ape­nas duas contam com rótulos em lata e cinco têm fábrica no DF. As demais funcionam como ciganas, caso da Me­tanoia, que usa maquinário alugado de outras fábricas. “Ficamos tempora­riamente produzindo 100% nas garra­fas e, depois que as fábricas começa­ram a envasar em lata, partimos para a lata”, afirma Tiago.

Os sócios Denilson Postai e Leonardo Ribeiro, donos da da Cerrado Beer: fundada há três anos, a cervejaria comercializa em lata 50% do total que seria engarrafado (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press )
Os sócios Denilson Postai e Leonardo Ribeiro, donos da da Cerrado Beer: fundada há três anos, a cervejaria comercializa em lata 50% do total que seria engarrafado
 

O estoque de garrafa da Metanoia acabou e todos os rótulos de linha da marca são em lata. Segundo o empre­sário, as fábricas foram adquirindo o envasamento em lata nos últimos dois anos. A logística do armazena­mento, transporte e da comercializa­ção das cervejas em lata também se revela mais fácil do que com garrafas de vidro, o que se reflete no preço do produto. Devido ao receio em relação à receptividade do consumidor, po­rém, as cervejarias que começam a aderir ao enlatamento estão adotando uma certa precaução, justamente para não perder mercado.

 

DA LATA

Alguns rótulos de cervejas artesanais de Brasília vendidos em lata

 

è SERIEMA

 

Fábrica: Cerrado Beer

 

Tipo: German Pilsner

 

Descrição: cereja clara, puro malte, com lupulagem equilibrada e presente (ABV 5% e 20 IBU)

 

Preço: R$ 18,90 (473 ml)

 (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press  )
 

è LOBO GUARÁ

 

Fábrica: Cerrado Beer

 

Tipo: Double IPA

 

Descrição: cereja clara, puro malte, com lupulagem equilibrada e presente (ABV 9%e 90 IBU).

 

Preço: R$ 24,90 (473ml)

 (Raimundo Sampaio/Esp. Encontro/DA Press  )
 

è FIGHT! NEW ZEALAND IPA

 

Fábrica: Cervejaria Metanoia

 

Tipo: American IPA

 

Descrição: de corpo médio, sabor único e bem aromática. Foram utilizados em sua receita apenas lúpulos neozelandeses que trazem notas de frutas tropicais (ABV 6.5% e IBU 55)

 

Preço: De R$ 25 a R$ 27 (473 ml)

 

è FIGHT! WEST COAST IPA

 

Fábrica: Cervejaria Metanoia

 

Tipo: American IPA

 

Descrição: aromática, em que os lúpulos americanos usados trazem notas cítricas, proporcionado mais sabor à cerveja. O final seco pede um gole atrás do outro (ABV 6.5% e IBU 60)

 

Preço: De R$ 25 a R$ 27 (473ml)

  

 (Divulgação )

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