Matemático mostra qual é a receita da felicidade
Christian Bayer garante que modelo ideal de satisfação combina aumentos progressivos de renda, mesmo que pequenos, e horário moderado de trabalho. Segundo o estudo, grandes ganhos financeiros não são garantia de bem-estar
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Quem fez o estudo não foi um psicólogo ou especialista em comportamento. Christian Bayer é economista matemático e seu trabalho foi publicado na revista American Economic Journal. Bayer e Falko Jüssen, da Universidade de Wuppertal, também da Alemanha, desenvolveram uma nova abordagem para investigar a influência do dinheiro na satisfação. Em vez de uma relação puramente estatística — comparar a renda das pessoas com a autoavaliação que têm da felicidade —, eles optaram por considerar a dinâmica dos ganhos financeiros. “Um aumento de renda progressivo e duradouro tem um efeito completamente diferente na satisfação do empregado, comparado a um ganho temporário, mesmo que esse último seja substancial”, observa Bayer.
O matemático explica que, embora a literatura sobre o tema seja robusta, o questionamento a respeito da influência das condições econômicas individuais na percepção da felicidade ainda carece de respostas. Para desenvolver a própria fórmula, Bayer utilizou dados do Painel Socioeconômico Alemão Anual (Soep), um estudo longitudinal que inclui dados de composição familiar, emprego, renda, saúde e indicadores de satisfação. Os pesquisadores pegaram resultados de 1984 a 2010, focando em provedores e seus companheiros com idades de 25 a 55 anos, de renda média. No fim, eles trabalharam com informações de 77.112 indivíduos.
Ocupação
Como o Soep acompanhou essas pessoas por um longo período, sempre avaliando as mesmas questões, foi possível verificar de que maneira a flutuação de renda impactou o índice de satisfação dos participantes, que sempre respondiam à pergunta “O quão insatisfeito ou satisfeito você está com sua vida no geral?”, em uma escala de 1 (nada satisfeito) a 7 (completamente satisfeito). Um dado sobre o qual os pesquisadores se debruçaram foi o relativo ao mercado de trabalho: se a pessoa estava empregada e, em caso positivo, quantas horas semanais de trabalho.
Na semana passada, outra pesquisa associou o contracheque mais polpudo à felicidade. “Satisfação na vida e felicidade aumentam, e a ansiedade diminui, à medida que a riqueza familiar cresce”, observou o Escritório Inglês de Estatísticas Nacionais (ONS, sigla em inglês), equivalente ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em um comunicado de imprensa. O ONS pediu às pessoas para dar notas de 0 a 10 a questões como o quanto se sentiam felizes com suas vidas e quais tipos de coisas elas achavam importantes para sua satisfação. As respostas foram, então, cruzadas com dados sobre riqueza familiar e renda mensal. De acordo com o relatório da ONS, o nível “de bem-estar pessoal está fortemente associado ao nível de riqueza da casa em que vive”.
Tipo de gasto de dinheiro é determinante
Para o psicólogo John Grohol, pesquisador de comportamento humano e escritor na área de saúde mental, a felicidade que o dinheiro traz não necessariamente está associada a um estilo de vida mais perdulário. “O dinheiro compra felicidade, mas isso depende do uso que se faz dele”, avisa. O editor da comunidade on-line Psych Central cita um trabalho de 2008 no qual se investigou, em três estudos, a relação entre os hábitos de consumo dos americanos e a autopercepção que eles têm da felicidade.
A primeira pesquisa foi conduzida com 632 americanos de várias partes dos Estados Unidos, que deveriam informar sua renda e detalhar como gastavam o dinheiro. Além disso, tinham de dizer o quão felizes se consideravam. Os pesquisadores encontraram duas coisas que estavam correlacionadas significativamente a níveis maiores de felicidade — maior renda e gastos em presentes para outras pessoas ou em doações para caridade. No segundo estudo, 16 trabalhadores foram perguntados sobre seus níveis de felicidade antes e depois de receberem o bônus anual da empresa. “Não importava o valor do bônus, aqueles que gastaram mais com outras pessoas ou com caridade reportaram mais satisfação geral que aqueles que gastaram mais come eles mesmos”, revela Grohol.
Finalmente, o último estudo, feito com 46 indivíduos, mostrou que os participantes que gastavam pequenas quantias com outros (US$ 5 a US$ 20) relatavam mais sentimentos de felicidade que aqueles que usaram a mesma quantidade de dinheiro com eles próprios. “Esses princípios altruístas podem ser aplicados para as esferas públicas. Países onde a distribuição de renda são mais igualitárias tendem a ser mais felizes. Um estudo indicou que as pessoas seriam mais felizes se pudessem escolher para onde vão seus impostos, e há quem defenda que, se tivéssemos essa opção, reclamaríamos muito menos de pagá-los porque nos sentiríamos felizes em imaginar que estávamos fazendo uma caridade, e não simplesmente gastando nossos salários com taxas e mais taxas”, observa Francis Flyyn, professor de comportamento organizacional da Faculdade de Negócios de Stanford.
Outra pesquisa recente citada pelo psicólogo John Grohol lança mais luz sobre a relação entre felicidade e renda. Os pesquisadores da Universidade Estadual de San Francisco perguntaram a 154 pessoas de 19 a 50 anos como gastavam seu dinheiro e de que forma essas escolhas afetavam a felicidade de cada uma. Os cientistas descobriram que os participantes que investiram nos últimos três meses em experiências eram mais propensos a considerar o dinheiro bem aplicado e dizer que aquele gasto os fez felizes na época e no tempo atual, comparado aos que fizeram compras materiais. “Se você quer que o dinheiro te faça feliz, considere guardar para investir em uma experiência pessoal. Não gaste com mercadorias”, disse, à época, Jeremy Dean, principal autor do estudo