Amizade é festejada diariamente por quem tem esse privilégio
Segredo é compartilhar não só as afinidades, mas também as diferenças
Lilian Monteiro - Estado de Minas
Publicação:29/09/2013 13:01Atualização: 29/09/2013 09:20
Mozart, músico há mais de 60 anos, ainda hoje na estrada tocando no projeto Minas ao Luar, do Sesc, e com apresentações fixas nos bares Godofredo e A Casa, tem a companhia de Zé Carlos também no palco, ainda que esporadicamente, há 45 anos. "Zé Carlos é bacana, alegre, cômico, faz cada careta! Num primeiro momento, foi a música que nos uniu, depois nossos corações. Ninguém é sem defeito, mas nesses anos todos confesso que ainda não cheguei a uma conclusão se ele tem algum." Zé Carlos devolve a gentileza. "Nós nos conhecemos no Bar do Bolão, do Raimundo Reis. Fui vê-lo tocar e não nos separamos mais. Mozart é sinônimo de fidelidade, caráter, responsabilidade e nunca diz não. Não fala mal de ninguém, não critica, é discretíssimo, contador de piadas e está sempre disposto a ajudar."
A única confidência que Zé Carlos revela sobre Mozart é que "ele gosta de tomar suas biritas por aí". O defeito? "Nunca teve um deslize. Até tentei descobrir, mas nada. Agora, sei que não está bem quando faz um bico. É sinal de que tem fofoca na turma, alguém falando que o outro é desafinado ou algo assim. Ele não gosta. Jamais brigamos e a amizade só fortalece. Impossível ficar longe." Emocionado, voz embargada, Zé Carlos encerra a conversa: "Mozart é o grande prêmio que ganhei na vida".
BOINA
A festa já está confirmada, falta acertar a data. No carnaval de 2014, o motorista Aleir Domingos de Oliveira e a vendedora Jovelina Francisca Campos, a Jô, completam 25 anos de amizade e vão comemorar bodas de prata em grande estilo. O ritmo não deve ser de Momo, garantido mesmo só pela boa música. Exigência da dupla. Esse encontro começou na folia de 1989 em Santana do Riacho, na Serra do Cipó, no bar e rodoviária Zé Juquinha.
Aleir e sua turma eram os forasteiros da capital e Jô, da terra. Os visitantes queriam saber o point da farra e a dona do pedaço se interessou por um certo rapaz do grupo. Feitas as devidas apresentações e informações trocadas, Jô entrou para a turma. Quem estava de olho não foi para frente, mas ela ganhou seu melhor amigo, Aleir. "Ele se tomou amigo da família. É padrinho do meu casamento com o Silvano e fui eu que apresentei a ele a Beth, sua mulher. Mas somos bem diferentes. No início, batia de frente. Ele é radical e dá palpite em tudo. Meu pai tem um lar de idosos na cidade e Aleir participa e ajuda. Às vezes é turrão, mas tem coração imenso. Marcou a vida de muita gente. É um querido", entrega Jô, que revela ainda que nesse tempo todo "ficamos um mês se conversar. Não aguentei e, claro, eu liguei. Agora, me divirto com seu jeito. Meu marido deu até um apelido para ele, Coronel, já que adora dar ordens".
Jô conta que ela é relax e prática. E Aleir, detalhista. "Quero comemorar as bodas com quem estiver por perto. Ele quer encontrar todo mundo de 1989, resgatar cada um daquele carnaval. É meu confidente, com quem divido alegrias e tristezas.” Aleir não é de falar muito. Cavalheiro, não quis entregar possíveis deslizes da amiga. "Não sei explicar, mas nos identificamos. Talvez por sermos da mesma faixa etária e gostarmos das mesmas coisas. E essa cumplicidade só aumenta. É amizade para a vida toda.”
Elas são inseparáveis
A servidora pública Alana Márcia de Oliveira e a bancária Andréia de Cássia Ferreira Silva Arcanjo são amigas há 24 anos. E tudo começou com uma freada. "Nosso primeiro encontro foi dentro do ônibus, que parou bruscamente e, ao comentarmos o tranco, descobrimos que íamos para a mesma escola de inglês estagiar. Não nos desgrudamos mais", lembra Andréia. "A vida inteira Andréia morou perto da minha casa, mas não éramos próximas, até esse encontro casual, que se tornou eterno", completa Alana.
A proximidade foi tanta que uma é madrinha do casamento da outra. "Andréia é alto astral, brincalhona, prestativa e risonha. A gente se parece e na perda da minha mãe e no nascimento da minha filha, Beatriz, ela foi fundamental", conta Alana. "Virou marca registrada. Onde estou é bem provável encontrar Alana. Somos inseparáveis. E nos conhecemos tanto que uma sabe pela voz da outra se está bem ou não. Temos um trato, falar a verdade, o que pensamos. Levo e dou puxão de orelha. Juntas rimos o tempo inteiro."
Nessas mais de duas décadas, Alana lembra que por mais de 10 anos a dupla fez caminhada. "Às vezes, chovendo, a preguiça pintava, e Andréia jogava pedrinha na janela do quarto para colocar eu e meu marido para fora da cama. É generosa e está sempre pronta para me atender. Numa época de baixo astral, fomos para uma colônia de férias e nos divertimos com um carroceiro que nos levava à praia. Ela pegou no meu pé dizendo que me tornei o terror dos carroceiros. Andréia é amiga da família, cabe em todos os nossos compromissos e sempre na minha vida." "Nunca brigamos. Somos confidentes e temos afinidades. Alana esteve o tempo todo ao meu lado, quando fiz tratamento para engravidar e não consegui. Processo doloroso que ficou mais suave com sua presença. No seu aniversário de 40 anos, tinha viagem marcada e não pude ir à festa. Ela ficou brava porque todos perguntavam: ‘E a Andréia?’".
Saiba mais...
Para ser amigo precisa ter gostos iguais? As mesmas vontades? Personalidades parecidas? Não obrigatoriamente. A amizade não precisa ocorrer com pessoas espelhos umas das outras. As diferenças também atraem e essa relação tem a função, além de compartilhar desejos e ideias semelhantes, de acrescentar ao outro. Quando há afinidades, a sintonia é perfeita. E, se essa união tem como testemunha a música, é para toda a vida. Assim ocorreu com Mozart Secundino de Oliveira, de 90 anos, que se esmerilha no violão, é autoridade no choro, fã de Altamiro Carrilho e tocou ao lado de Valdir Silva, Nelson Gonçalves e Clara Nunes, e José Carlos Corrêa Choairy, o Zé Carlos, de 78 anos, fera no cavaquinho (companheiro inseparável há 63 anos) e admirador de Jacob do Bandolim. Amigos desde o fim da década de 1960, já completaram bodas de ouro de uma parceria que emociona não só os dois, mas todos ao redor.- Amigos de décadas revelam como afinidade se transforma em relação para vida inteira
- Especialista diz que amigo é aquele que proporciona bem-estar
- A amizade é uma forma especial de amar: veja histórias
- Você sabe o que é frequência afetiva?
- Jovens de hoje têm menos amigos íntimos; entenda os motivos
- Estudos confirmam: amizades virtuais não substituem as da vida real
- Estudo revela que amigos são geneticamente como primos distantes
- Pesquisa diz que as pessoas mantêm o mesmo número de amigos ao longo da vida, entenda
José Carlos Corrêa Choairy e Mozart Secundino de Oliveira são companheiros de palco há 45 anos e jamais brigaram
A única confidência que Zé Carlos revela sobre Mozart é que "ele gosta de tomar suas biritas por aí". O defeito? "Nunca teve um deslize. Até tentei descobrir, mas nada. Agora, sei que não está bem quando faz um bico. É sinal de que tem fofoca na turma, alguém falando que o outro é desafinado ou algo assim. Ele não gosta. Jamais brigamos e a amizade só fortalece. Impossível ficar longe." Emocionado, voz embargada, Zé Carlos encerra a conversa: "Mozart é o grande prêmio que ganhei na vida".
BOINA
A festa já está confirmada, falta acertar a data. No carnaval de 2014, o motorista Aleir Domingos de Oliveira e a vendedora Jovelina Francisca Campos, a Jô, completam 25 anos de amizade e vão comemorar bodas de prata em grande estilo. O ritmo não deve ser de Momo, garantido mesmo só pela boa música. Exigência da dupla. Esse encontro começou na folia de 1989 em Santana do Riacho, na Serra do Cipó, no bar e rodoviária Zé Juquinha.
Aleir Domingos de Oliveira e Jô Campos vão comemorar bodas de prata pela amizade de 25 anos. A única briga séria da dupla envolveu a boina usada por ela nesta imagem
Jô conta que ela é relax e prática. E Aleir, detalhista. "Quero comemorar as bodas com quem estiver por perto. Ele quer encontrar todo mundo de 1989, resgatar cada um daquele carnaval. É meu confidente, com quem divido alegrias e tristezas.” Aleir não é de falar muito. Cavalheiro, não quis entregar possíveis deslizes da amiga. "Não sei explicar, mas nos identificamos. Talvez por sermos da mesma faixa etária e gostarmos das mesmas coisas. E essa cumplicidade só aumenta. É amizade para a vida toda.”
Alana de Oliveira e Andréia Arcanjo se conhecem há 24 anos. A sintonia é tão grande que uma sabe exatamente o que a outra está pensando
A servidora pública Alana Márcia de Oliveira e a bancária Andréia de Cássia Ferreira Silva Arcanjo são amigas há 24 anos. E tudo começou com uma freada. "Nosso primeiro encontro foi dentro do ônibus, que parou bruscamente e, ao comentarmos o tranco, descobrimos que íamos para a mesma escola de inglês estagiar. Não nos desgrudamos mais", lembra Andréia. "A vida inteira Andréia morou perto da minha casa, mas não éramos próximas, até esse encontro casual, que se tornou eterno", completa Alana.
A proximidade foi tanta que uma é madrinha do casamento da outra. "Andréia é alto astral, brincalhona, prestativa e risonha. A gente se parece e na perda da minha mãe e no nascimento da minha filha, Beatriz, ela foi fundamental", conta Alana. "Virou marca registrada. Onde estou é bem provável encontrar Alana. Somos inseparáveis. E nos conhecemos tanto que uma sabe pela voz da outra se está bem ou não. Temos um trato, falar a verdade, o que pensamos. Levo e dou puxão de orelha. Juntas rimos o tempo inteiro."
Nessas mais de duas décadas, Alana lembra que por mais de 10 anos a dupla fez caminhada. "Às vezes, chovendo, a preguiça pintava, e Andréia jogava pedrinha na janela do quarto para colocar eu e meu marido para fora da cama. É generosa e está sempre pronta para me atender. Numa época de baixo astral, fomos para uma colônia de férias e nos divertimos com um carroceiro que nos levava à praia. Ela pegou no meu pé dizendo que me tornei o terror dos carroceiros. Andréia é amiga da família, cabe em todos os nossos compromissos e sempre na minha vida." "Nunca brigamos. Somos confidentes e temos afinidades. Alana esteve o tempo todo ao meu lado, quando fiz tratamento para engravidar e não consegui. Processo doloroso que ficou mais suave com sua presença. No seu aniversário de 40 anos, tinha viagem marcada e não pude ir à festa. Ela ficou brava porque todos perguntavam: ‘E a Andréia?’".