Autor do livro 'Alegria e fé' faz relato de um paciente na fila de espera por um transplante
Henrique Traspadini Reis foi diagnosticado com insuficiência renal crônica terminal há 25 anos. Ele completa 24 anos de hemodiálise e sete de palestras para pessoas que andam doentes do físico e da alma
Lilian Monteiro - Estado de Minas
Publicação:08/11/2013 14:00Atualização: 08/11/2013 14:27
A pessoa altruísta é impactante. Diante dela, a reação é: como consegue? como tem força?. Ao pensar primeiro nos outros do que nela própria, mesmo vivendo problemas tão ou mais graves, ela se torna sinônimo de generosidade. Assim é Henrique Traspadini Reis, diagnosticado com insuficiência renal crônica terminal há 25 anos, dos quais 24 fazendo hemodiálise e há sete cuidando das pessoas que andam doentes do físico e da alma com palestras motivacionais. "Tropeçar, cair e levantar." Esse é o seu lema que segue graças a "Alegria e fé" e a "Paixão pela vida", tatuagens que carrega no corpo para jamais reclamar, titubear, desanimar, lamentar ou desesperar. "Ponho em prática uma frase de Abraham Lincoln: ‘E no final das contas não são os anos em sua vida que contam. É a vida nos seus anos bem vividos’".
Difícil apontar algum defeito em Henrique. Certamente, ele tem. Mas diante de tanta sabedoria, o mais importante é absorver o que ele oferece para aliviar a carga pesada da vida. Instigado a fazer chegar a mais pessoas seus pensamentos do bem, ele lança quinta-feira Alegria e fé – convivendo com a doença e a felicidade - Relato de um paciente na fila de espera por um transplante, onde sem pieguice ou choros nos prova a dádiva de viver. Religioso desde criança, o que ele espera é mostrar que é possível sempre ver o outro lado. "Nunca tive dó de mim. O que não posso, não ligo. O que posso, curto mais. Acredito que o livro vai atingir pessoas na minha situação ou não."
Henrique passou a viver outra vida. Cheia de restrições (não pegar peso, não comer chocolate, feijão, 800 mililitros de líquido por dia, nada de batata frita) e lidando da melhor forma com as doenças secundárias vindas da insuficiência, como problemas cardíacos, nos ossos, tireoide, anemia. "Chorei por causa da batata frita, mas encarei com tranquilidade. Não me revoltei contra Deus. Às vezes, fico bravo, mas jamais largo sua mão. Não foi o fim, mas o início de uma nova vida. Cuido-me, controlo, faço exercícios, vou ao bar tomar um copo de cerveja e meia caipirinha. Detesto e me arrepia a coisa do ‘tadinho.’ Acordo sorrindo todos os dias porque estou vivo."
ÓRGÃOS
Henrique tem uma incrível história de superação. A cada dia acumula vitórias pessoais que estimulam quem está ao seu lado, o conhece ou escuta suas palavras. Ele fez dois transplantes. O primeiro rim veio do irmão, Frederico. Aos 21 anos. Tudo ia bem, mas com dois meses passou mal, sofreu infarto do miocárdio e perdeu o rim. O motivo ninguém sabe. A suspeita é o efeito de um remédio contra a rejeição dado pela farmácia do SUS. "Seria de farinha, mas não me revoltei ou processei. Procurei, sim, avisar a todos que o tomavam. Aliás, o remédio foi retirado do mercado e o laboratório sumiu. Voltei para a fila e para a hemodiálise."
O segundo veio de doação, aos 24 aos, de uma moça de 23 que num acidente teve morte cerebral encefálica. "Rezo todos os dias agradecendo. A mãe da jovem, que era filha única, me liga todo 21 de junho para perguntar se estou bem. Acho que era o dia do aniversário da filha." Com o segundo transplante Henrique diz que renasceu, reviveu e foi assim por 11 anos. "Mas perdi porque o rim transplantado não dura para sempre. Entre parentes de sangue, a média é de 30 anos e se o órgão vier de não parentes são 15. Então, de novo, estou na fila do MG Transplantes e de volta à máquina, que virou minha amiga, parceira, como se fosse a bengala de um velho. Não reclamo."
Aposentado por invalidez, Henrique nunca parou de trabalhar, viaja pelo Brasil para dar palestras nas cidades onde tem boas clínicas de diálise e jamais foi tratado como doente pela família. A mãe, Arlete, foi a guerreira que teve ao lado, além do irmão Frederico, a irmã Angela, outro anjo da guarda, assim como as sobrinhas, que considera filhas, amigos e, especialmente a mulher, Miriam. Aliás, ele começou a namorá-la aos 18 anos, quando teve o diagnóstico. Eles se casaram e estão juntos há 23 anos. "Ela me aceitou, me deu a mão e nunca me abandonou. É quem me motiva, põe para frente, é alegre e otimista. E tem de ser assim, senão os dois adoecem. Tem pessoas que não acreditam que sou assim, perguntam se não é uma casca. Não é. Casca logo se quebra e eu estou inteiro. Posso até cair, mas levanto pela minha mulher, por mim e pela vida. Digo que tenho duas dores. A maior é não ter dado filhos a Míriam porque fiquei estéril. Mas minhas sobrinhas suprem. E a segunda é ter perdido o rim do meu irmão."
O livro, que escreveu por três anos, teve 95% do custo pago por doação dos Encontros de Casais com Cristo (ECC) e Encontros de Jovens com Cristo (ECJ), para quem Henrique dá palestras.
Henrique Traspadini Reis, escritor, conta sua experiência
Difícil apontar algum defeito em Henrique. Certamente, ele tem. Mas diante de tanta sabedoria, o mais importante é absorver o que ele oferece para aliviar a carga pesada da vida. Instigado a fazer chegar a mais pessoas seus pensamentos do bem, ele lança quinta-feira Alegria e fé – convivendo com a doença e a felicidade - Relato de um paciente na fila de espera por um transplante, onde sem pieguice ou choros nos prova a dádiva de viver. Religioso desde criança, o que ele espera é mostrar que é possível sempre ver o outro lado. "Nunca tive dó de mim. O que não posso, não ligo. O que posso, curto mais. Acredito que o livro vai atingir pessoas na minha situação ou não."
Saiba mais...
Hoje ele tem 43 anos e até os 18 Henrique tinha vida normal. Trabalhava, estudava hotelaria, corria na praia e ainda fazia fotos como modelo. Morava em Nova Almeida (ES), para onde a família se mudou depois que o pai, Josafá, recuperou-se de um câncer de rim. Um dia, ao acordar, estava com olhos, boca e pés inchados, dor no quadril e percebeu a urina com muita espuma. "Pela experiência do meu pai, ele me disse que estava com problema no rim. Fiz exames que apontaram uma leve infecção renal. Com proposta de emprego num grande hotel, voltei para BH e pouco depois tive nova crise. O diagnóstico foi insuficiência renal crônica terminal. O rim não iria se recuperar. As saídas eram hemodiálise ou receber um novo rim."- Pesquisadores criam guia para tratamento de pacientes que fizeram transplante de fígado
- BH ganha nova unidade de transplante de medula óssea
- Ser ou não ser doador: conheça os mitos e ajude a aumentar a rede de solidariedade
- Doação de rim demanda cuidados prolongados
- Redes sociais ajudam a multiplicar doadores de órgãos
Henrique passou a viver outra vida. Cheia de restrições (não pegar peso, não comer chocolate, feijão, 800 mililitros de líquido por dia, nada de batata frita) e lidando da melhor forma com as doenças secundárias vindas da insuficiência, como problemas cardíacos, nos ossos, tireoide, anemia. "Chorei por causa da batata frita, mas encarei com tranquilidade. Não me revoltei contra Deus. Às vezes, fico bravo, mas jamais largo sua mão. Não foi o fim, mas o início de uma nova vida. Cuido-me, controlo, faço exercícios, vou ao bar tomar um copo de cerveja e meia caipirinha. Detesto e me arrepia a coisa do ‘tadinho.’ Acordo sorrindo todos os dias porque estou vivo."
ÓRGÃOS
Henrique tem uma incrível história de superação. A cada dia acumula vitórias pessoais que estimulam quem está ao seu lado, o conhece ou escuta suas palavras. Ele fez dois transplantes. O primeiro rim veio do irmão, Frederico. Aos 21 anos. Tudo ia bem, mas com dois meses passou mal, sofreu infarto do miocárdio e perdeu o rim. O motivo ninguém sabe. A suspeita é o efeito de um remédio contra a rejeição dado pela farmácia do SUS. "Seria de farinha, mas não me revoltei ou processei. Procurei, sim, avisar a todos que o tomavam. Aliás, o remédio foi retirado do mercado e o laboratório sumiu. Voltei para a fila e para a hemodiálise."
O segundo veio de doação, aos 24 aos, de uma moça de 23 que num acidente teve morte cerebral encefálica. "Rezo todos os dias agradecendo. A mãe da jovem, que era filha única, me liga todo 21 de junho para perguntar se estou bem. Acho que era o dia do aniversário da filha." Com o segundo transplante Henrique diz que renasceu, reviveu e foi assim por 11 anos. "Mas perdi porque o rim transplantado não dura para sempre. Entre parentes de sangue, a média é de 30 anos e se o órgão vier de não parentes são 15. Então, de novo, estou na fila do MG Transplantes e de volta à máquina, que virou minha amiga, parceira, como se fosse a bengala de um velho. Não reclamo."
Aposentado por invalidez, Henrique nunca parou de trabalhar, viaja pelo Brasil para dar palestras nas cidades onde tem boas clínicas de diálise e jamais foi tratado como doente pela família. A mãe, Arlete, foi a guerreira que teve ao lado, além do irmão Frederico, a irmã Angela, outro anjo da guarda, assim como as sobrinhas, que considera filhas, amigos e, especialmente a mulher, Miriam. Aliás, ele começou a namorá-la aos 18 anos, quando teve o diagnóstico. Eles se casaram e estão juntos há 23 anos. "Ela me aceitou, me deu a mão e nunca me abandonou. É quem me motiva, põe para frente, é alegre e otimista. E tem de ser assim, senão os dois adoecem. Tem pessoas que não acreditam que sou assim, perguntam se não é uma casca. Não é. Casca logo se quebra e eu estou inteiro. Posso até cair, mas levanto pela minha mulher, por mim e pela vida. Digo que tenho duas dores. A maior é não ter dado filhos a Míriam porque fiquei estéril. Mas minhas sobrinhas suprem. E a segunda é ter perdido o rim do meu irmão."
O livro, que escreveu por três anos, teve 95% do custo pago por doação dos Encontros de Casais com Cristo (ECC) e Encontros de Jovens com Cristo (ECJ), para quem Henrique dá palestras.