BH ganha nova unidade de transplante de medula óssea
Avanços nos últimos 10 anos, com o desenvolvimento de novas terapias para o tratamento do mieloma múltiplo, aumentam a sobrevida dos pacientes
Carolina Cotta - Estado de Minas
Publicação:03/09/2013 09:09Atualização: 03/09/2013 10:10
Belo Horizonte acaba de ganhar uma nova unidade de transplante de medula óssea, com capacidade para 50 procedimentos anuais. O administrador Marcelo Augusto Andrade Reis, de 68 anos, é o primeiro a se beneficiar da estrutura do Instituto Mário Penna, localizada no Hospital Luxemburgo. Internado desde ontem, ele começa hoje um transplante autólogo, um tipo de transplante realizado com as células do próprio paciente. Não há possibilidade de cura, mas Marcelo terá a chance de tratar o mieloma múltiplo, que descobriu no início do ano.
Marcelo levava uma vida normal até o início do ano. Trabalhava, jogava tênis e fazia caminhadas. O checape anual, feito em janeiro, tinha terminado com sucesso, até que uma dor na coluna começou a incomodá-lo. A fisioterapia funcionou até certo ponto: ele já não conseguia dirigir e amarrar o sapato. Uma ressonância alertou o ortopedista e, em pouco tempo, o diagnóstico foi confirmado. A dor na região lombar e a anemia são sintomas clássicos da doença, que pode ser identificada com exames de sangue, de imagem e procedimentos como o mielograma, uma aspiração da medula, além da biópsia óssea.
Casado, pai de três filhos e às vésperas de ser avô, Marcelo está esperançoso com a recuperação, mas, antes disso, enfrentará pelo menos 20 dias de internação. O transplante autólogo de medula óssea não é uma cirurgia, e sim um procedimento em várias fases. A preparação começou há cinco meses, com as sessões de quimioterapia. Marcelo não teve queda de cabelo, mas emagreceu 10 quilos e sentiu as outras reações clássicas ao procedimento, como febre e dormência na mão. A dor que o impedia de realizar atividades rotineiras passou, dando mais conforto ao paciente.
AVANÇOS
Hoje, o tratamento do mieloma múltiplo é feito com quimioterapia e transplante, em casos elegíveis. Para o Sistema Único de Saúde (SUS), o paciente precisa ter no máximo 70 anos e não ter comorbidades significativas. "Não há possibilidade de cura, a não ser em casos excepcionais de transplantes alogênicos, de maior risco e indicado para jovens. Avanços nos últimos 10 anos, com o desenvolvimento de novas terapias, aumentaram a sobrevida dos pacientes em até 15 anos. É uma doença lenta, mas que pode tomar um curso agressivo", explica o hematologista.
Fila mais curta
A unidade de transplantes de medula óssea do Instituto Mário Penna, no Hospital Luxemburgo, foi inaugurada em julho, embora só hoje realize seu primeiro procedimento. São quatro leitos prontos para o funcionamento, dedicados ao procedimento autólogo, feito com células do próprio paciente, de beneficiados do Sistema Único de Saúde (SUS), convênios e particular. A expectativa da instituição é oferecer também o transplante de medula alogênico, realizado com células de um doador compatível, dentro de um ano. Para isso, será necessária nova vistoria do Ministério da Saúde e mais leitos.
O Instituto Mário Penna fornecerá a infraestrutura de internação, a coordenação dos serviços e os atendimentos complementares, como nutrição, exames, apoio psicológico e odontologia. Os transplantes de medula serão realizados no Hospital Luxemburgo, em parceria com a clínica hematológica, responsável pela coleta e criopreservação (congelamento) das células, além de uma equipe de seis médicos especializados, que prestará atendimento ao paciente durante todo o procedimento, incluindo os períodos pré e pós-transplante.
Atualmente, apenas o Hospital das Clínicas, o Socor e a Santa Casa realizam transplantes de medula óssea em Belo Horizonte, que tem uma demanda reprimida. Como o procedimento é complexo e são poucos os hospitais com o serviço, a oferta de leitos é insuficiente. Em Minas Gerais, estima-se que existam pelo menos 60 pacientes do SUS aguardando a vez para poder fazer um transplante autólogo. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil tem 70 centros cadastrados para realizar o transplante de medula óssea e 20 para transplantes com doadores não aparentados.
CONTROLE
A nova estrutura representa uma maior expectativa de vida para os pacientes. Hoje, muitos chegam a morrer na fila de espera por um transplante desse tipo, por falta de leitos, já que o material a ser transplantado vem do próprio paciente. Segundo o hematologista Antonio Vaz de Macedo, há pessoas que ficam mais de um ano na fila, exigindo, assim, mais sessões de quimioterapia. "A quimioterapia feita no período de preparação para o transplante é para controlar a doença. Se não tem a vaga para fazer o transplante, o paciente continua fazendo a químio."
O administrador Marcelo Augusto Andrade Reis, de 68 anos, é o primeiro a se beneficiar da estrutura e começa hoje um transplante autólogo
Saiba mais...
Nesse câncer de medula óssea, a proliferação desordenada dos plasmócitos, uma das células que compõem o sangue, leva a anemia, lesões ósseas, insuficiência renal e hipercaucemia, que é o aumento do cálcio no sangue em decorrência da destruição óssea. Apesar de raro, o mieloma múltiplo é um dos cânceres hematológicos mais comuns, representado ainda pelos linfomas e pela leucemia. Segundo o hematologista Antonio Vaz de Macedo, especialista em transplante de medula óssea, o mieloma múltiplo é um câncer mais comum em idosos, embora também possa acometer pessoas mais jovens.- Câncer da personagem de Marina Ruy Barbosa na novela Amor à vida tem percentual de cura em torno de 90%
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Marcelo levava uma vida normal até o início do ano. Trabalhava, jogava tênis e fazia caminhadas. O checape anual, feito em janeiro, tinha terminado com sucesso, até que uma dor na coluna começou a incomodá-lo. A fisioterapia funcionou até certo ponto: ele já não conseguia dirigir e amarrar o sapato. Uma ressonância alertou o ortopedista e, em pouco tempo, o diagnóstico foi confirmado. A dor na região lombar e a anemia são sintomas clássicos da doença, que pode ser identificada com exames de sangue, de imagem e procedimentos como o mielograma, uma aspiração da medula, além da biópsia óssea.
Casado, pai de três filhos e às vésperas de ser avô, Marcelo está esperançoso com a recuperação, mas, antes disso, enfrentará pelo menos 20 dias de internação. O transplante autólogo de medula óssea não é uma cirurgia, e sim um procedimento em várias fases. A preparação começou há cinco meses, com as sessões de quimioterapia. Marcelo não teve queda de cabelo, mas emagreceu 10 quilos e sentiu as outras reações clássicas ao procedimento, como febre e dormência na mão. A dor que o impedia de realizar atividades rotineiras passou, dando mais conforto ao paciente.
AVANÇOS
Hoje, o tratamento do mieloma múltiplo é feito com quimioterapia e transplante, em casos elegíveis. Para o Sistema Único de Saúde (SUS), o paciente precisa ter no máximo 70 anos e não ter comorbidades significativas. "Não há possibilidade de cura, a não ser em casos excepcionais de transplantes alogênicos, de maior risco e indicado para jovens. Avanços nos últimos 10 anos, com o desenvolvimento de novas terapias, aumentaram a sobrevida dos pacientes em até 15 anos. É uma doença lenta, mas que pode tomar um curso agressivo", explica o hematologista.
Fila mais curta
A unidade de transplantes de medula óssea do Instituto Mário Penna, no Hospital Luxemburgo, foi inaugurada em julho, embora só hoje realize seu primeiro procedimento. São quatro leitos prontos para o funcionamento, dedicados ao procedimento autólogo, feito com células do próprio paciente, de beneficiados do Sistema Único de Saúde (SUS), convênios e particular. A expectativa da instituição é oferecer também o transplante de medula alogênico, realizado com células de um doador compatível, dentro de um ano. Para isso, será necessária nova vistoria do Ministério da Saúde e mais leitos.
O Instituto Mário Penna fornecerá a infraestrutura de internação, a coordenação dos serviços e os atendimentos complementares, como nutrição, exames, apoio psicológico e odontologia. Os transplantes de medula serão realizados no Hospital Luxemburgo, em parceria com a clínica hematológica, responsável pela coleta e criopreservação (congelamento) das células, além de uma equipe de seis médicos especializados, que prestará atendimento ao paciente durante todo o procedimento, incluindo os períodos pré e pós-transplante.
Atualmente, apenas o Hospital das Clínicas, o Socor e a Santa Casa realizam transplantes de medula óssea em Belo Horizonte, que tem uma demanda reprimida. Como o procedimento é complexo e são poucos os hospitais com o serviço, a oferta de leitos é insuficiente. Em Minas Gerais, estima-se que existam pelo menos 60 pacientes do SUS aguardando a vez para poder fazer um transplante autólogo. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil tem 70 centros cadastrados para realizar o transplante de medula óssea e 20 para transplantes com doadores não aparentados.
CONTROLE
A nova estrutura representa uma maior expectativa de vida para os pacientes. Hoje, muitos chegam a morrer na fila de espera por um transplante desse tipo, por falta de leitos, já que o material a ser transplantado vem do próprio paciente. Segundo o hematologista Antonio Vaz de Macedo, há pessoas que ficam mais de um ano na fila, exigindo, assim, mais sessões de quimioterapia. "A quimioterapia feita no período de preparação para o transplante é para controlar a doença. Se não tem a vaga para fazer o transplante, o paciente continua fazendo a químio."
SERVIÇO:
Instituto Mário Penna
Endereço: R. Guaicuí, 20 - Coração de Jesus, Belo Horizonte - MG, 30380-380
Telefone:(31) 3330-9100
Instituto Mário Penna
Endereço: R. Guaicuí, 20 - Coração de Jesus, Belo Horizonte - MG, 30380-380
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