Técnica semelhante à tatuagem vem conquistando mulheres que passaram pela retirada do seio
Reconstrução da mama é garantida por lei sancionada este ano. No entanto, pacientes enfrentam dificuldades para realizar o procedimento completo: menos de 10% dos cirurgiões plásticos se dedicam à isso
Valéria Mendes - Saúde Plena
Publicação:19/11/2013 08:05Atualização: 22/04/2015 09:55
No entanto, o especialista aponta um déficit enorme de cirurgiões plásticos que permita que a lei seja cumprida. “É um verdadeiro crime. Menos de 10% desses profissionais se dedicam à reconstrução da mama. Aos poucos, os próprios mastologistas estão se qualificando, mas é preciso formar mais médicos capacitados para essa tarefa”, declara.
João Henrique aponta a questão de mercado como a principal razão para essa falta de mão-de-obra. “O apelo mercadológico para a cirurgia estética é mais forte. Esses procedimentos estão no mercado particular. A reconstrução da mama está na medicina suplementar”, afirma. Além disso, o médico explica que o cirurgião plástico não sai da residência sabendo fazer a reconstrução. “Depois de se tornar um especialista, é necessário uma formação adicional. É uma cirurgia mais complexa, sujeita a complicações”, aponta.
Com a nova lei, desde que as condições da paciente sejam favoráveis, as duas cirurgias – retirada e reconstrução – são feitas em um só procedimento. Pode acontecer de a pele não ser suficiente para sustentar a prótese de silicone. Nesses casos, ela é inserida vazia e inflada pouco a pouco. Além do volume, a mulher pode perder também a aréola e o mamilo e essa seria uma outra etapa da cirurgia reparadora. Uma técnica ainda pouco conhecida, realizada fora de ambiente hospitalar e indolor, a micropigmentação paramédica é uma das alternativas que as pacientes têm quando há necessidade de reconstituição da aréola e do mamilo. João Henrique Penna Reis cita também outras técnicas (clique e leia), mas a
micropigmentação vem ganhando cada vez mais adeptas e é recomendada por médicos.
A costureira Soraya Pereira Cardoso Chaves, de 49 anos, e a comerciante Michelle Silveira Cristofori, de 37, tiveram câncer muito antes de essa lei ser sancionada e precisaram retirar uma das mamas. Como parte do tratamento de reconstrução optaram pela micropigmentação paramédica. “Não é tatuagem. O dermógrafo (aparelho usado para colorir a pele) tem metade da rotação de um equipamento de tatuagem e, por isso, não causa dor. Usamos pigmento mineral, glicerinado e hipoalergênico à base de óxido de ferro e de dióxido de titânio”, explica a técnica em micropigmentação Inajá Bessa. Soraya optou pelo procedimento estético, mas Michelle escolheu o enxerto com o tecido da virilha seguido da micropigmentação. “Por mais parecido que seja o tecido da virilha, o efeito nem sempre é satisfatório e muitos médicos encaminham as pacientes para mim”, fala Inajá.
Depoimentos
Soraya descobriu a doença há 13 anos e passou pela mastectomia radical de um dos seios. “As opções que eu tinha eram procedimentos invasivos, cirúrgicos e não me interessaram. Eu preferia ficar sem a aréola e o mamilo que passar por outro procedimento cirúrgico. Dez dias após a reconstituição, fiz a micropigmentação”, conta.
“É duradouro e não é absurdamente caro. De vez em quando tem que retocar porque dá diferença na tonalidade de uma aréola para outra. Fica muito perfeito, quem não sabe da doença não percebe”, afirma. A costureira, que é mãe de duas mulheres, uma de 23 e outra de 21, diz que está muito satisfeita e indica para quem lhe pergunta. “Como meu caso é de sucesso, de cura da doença, muita gente me procurou nesses 13 anos que se já se passaram. Sou muito bem resolvida e digo: ‘faça a micropigmentação porque não é agressivo’. Não tenho nada negativo para dizer”, conclui.
Michelle Silveira Cristofori relembra a situação vivida por ela. “Em 2007 tive o câncer e precisei retirar a mama direita. Não deu para preservar nada. Fiz a mastectomia e o médico já implantou a prótese. Três meses depois fiz a reconstrução da aréola e do bico. O cirurgião retirou tecido da virilha para fazer o enxerto”. A comerciante diz que achou o procedimento cirúrgico tranquilo e comenta: “não é dolorido igual ao da mastectomia. Com dois meses estava 100%, mas é preciso repouso e ter cuidado para o implante pegar”, observa. Como houve diferença de cor de uma mama para outra, o médico de Michelle recomendou a micropigmentação. “Ficou excelente. Meu marido, que é da área médica, elogiou muito o resultado”, conta.
Micropigmentação paramédica: o que é?
Inajá Bessa gosta de metáforas para explicar o ofício que realiza há 17 anos e resultou em clientes de várias partes do Brasil. “O meu trabalho nada mais é que um bordado na costura do médico. Só entro onde a ciência termina, é um acabamento. Faço com a agulha o que um pintor faz com o pincel e gostaria que o SUS cobrisse esse trabalho”, declara.
Ela explica que a técnica consiste na implantação de pequenas quantidades de pigmento via agulha na derme (segunda camada da pele) que reagem com os melanócitos na camada basal e resulta na cor desejada na epiderme (camada externa da pele). Segundo a técnica em micropigmentação paramédica, o procedimento tem durabilidade de aproximadamente dois anos, mas por ser uma região que não sofre muito com a influência dos raios solares, a durabilidade é prolongada. Inajá conta que a maioria de suas pacientes são encaminhadas pelos próprios cirurgiões plásticos. É importante ressaltar que, com essa técnica, os mamilos não tem proeminência. O que o profissional faz é um trabalho de perspectiva que simula o efeito de projeção.
Reconstrução de aréolas e mamilos: opções cirúrgicas
O mastologista João Henrique Penna Reis aponta as alternativas para reconstrução de aréolas e mamilos. “Faz-se um enxerto com áreas do corpo em que a pele tem pigmentação parecida, a virilha ou a parte interna da coxa”, diz. O médico explica que para fazer o mamilo, os cirurgiões usam a pele dessas mesmas regiões. “Dobra-se a pele sobre ela própria, como se a pele abraçasse ela mesma para projetar o mamilo”, detalha. Uma outra opção em casos de mulheres com mamilos mais protuberantes é usar um deles – caso não seja necessária a dupla mastectomia – para transformá-lo em dois. O lóbulo da orelha também pode ser usado para reconstruir o ‘bico’ do seio.
Já existem também próteses de mamilo e aréolas. “Existem em várias cores e formatos diferentes e são autoadesivas. Essa opção é a menos usada, o produto é importado, chegou ao Brasil há pouco tempo e não é bem aceita. As mulheres estão buscando uma solução definitiva e mais próxima do natural possível”, comenta.
Penna observa, entretanto, que não é raro - em casos que as pacientes precisam esperar para fazer a reconstrução – elas desistirem da cirurgia. “Elas se acostumam e deixam de dar importância”, diz.
As técnicas cirúrgicas, segundo Penna, são procedimentos tranquilos. “É superficial, só há interferência na pele e em áreas pequenas. A mulher não toma anestesia geral, tem um índice muito baixo de complicações e não tem dor no pós-operatório”, esclarece. No entanto, é comum as mulheres mesclarem o enxerto com a micropigmentação paramédica porque a pele passa por um sofrimento até o local começar a nutrir essa pele transplantada. “Ela despigmenta, fica mais clara e a micropigmentação pode ser necessária para dar cor”, pontua.
Saiba mais...
A cada ano surgem 52 mil novos casos de câncer de mama no Brasil. De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia – Regional Minas Gerais, João Henrique Penna Reis, quase metade dessas mulheres passará pela retirada de parte da mama, de uma ou das duas delas ou simplesmente vai precisar de um procedimento estético como parte do tratamento. Neste ano, a presidenta Dilma Roussef sancionou a Lei nº 12.802 que obriga o Sistema Único de Saúde (SUS) a realizar cirurgia plástica reparadora naquelas que passaram pela mastectomia (clique e saiba mais).- Cientistas japoneses apresentam aparelho para detectar câncer de mama em casa
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No entanto, o especialista aponta um déficit enorme de cirurgiões plásticos que permita que a lei seja cumprida. “É um verdadeiro crime. Menos de 10% desses profissionais se dedicam à reconstrução da mama. Aos poucos, os próprios mastologistas estão se qualificando, mas é preciso formar mais médicos capacitados para essa tarefa”, declara.
João Henrique aponta a questão de mercado como a principal razão para essa falta de mão-de-obra. “O apelo mercadológico para a cirurgia estética é mais forte. Esses procedimentos estão no mercado particular. A reconstrução da mama está na medicina suplementar”, afirma. Além disso, o médico explica que o cirurgião plástico não sai da residência sabendo fazer a reconstrução. “Depois de se tornar um especialista, é necessário uma formação adicional. É uma cirurgia mais complexa, sujeita a complicações”, aponta.
Com a nova lei, desde que as condições da paciente sejam favoráveis, as duas cirurgias – retirada e reconstrução – são feitas em um só procedimento. Pode acontecer de a pele não ser suficiente para sustentar a prótese de silicone. Nesses casos, ela é inserida vazia e inflada pouco a pouco. Além do volume, a mulher pode perder também a aréola e o mamilo e essa seria uma outra etapa da cirurgia reparadora. Uma técnica ainda pouco conhecida, realizada fora de ambiente hospitalar e indolor, a micropigmentação paramédica é uma das alternativas que as pacientes têm quando há necessidade de reconstituição da aréola e do mamilo. João Henrique Penna Reis cita também outras técnicas (clique e leia), mas a
micropigmentação vem ganhando cada vez mais adeptas e é recomendada por médicos.
A costureira Soraya Pereira Cardoso Chaves, de 49 anos, e a comerciante Michelle Silveira Cristofori, de 37, tiveram câncer muito antes de essa lei ser sancionada e precisaram retirar uma das mamas. Como parte do tratamento de reconstrução optaram pela micropigmentação paramédica. “Não é tatuagem. O dermógrafo (aparelho usado para colorir a pele) tem metade da rotação de um equipamento de tatuagem e, por isso, não causa dor. Usamos pigmento mineral, glicerinado e hipoalergênico à base de óxido de ferro e de dióxido de titânio”, explica a técnica em micropigmentação Inajá Bessa. Soraya optou pelo procedimento estético, mas Michelle escolheu o enxerto com o tecido da virilha seguido da micropigmentação. “Por mais parecido que seja o tecido da virilha, o efeito nem sempre é satisfatório e muitos médicos encaminham as pacientes para mim”, fala Inajá.
Depoimentos
Soraya descobriu a doença há 13 anos e passou pela mastectomia radical de um dos seios. “As opções que eu tinha eram procedimentos invasivos, cirúrgicos e não me interessaram. Eu preferia ficar sem a aréola e o mamilo que passar por outro procedimento cirúrgico. Dez dias após a reconstituição, fiz a micropigmentação”, conta.
“É duradouro e não é absurdamente caro. De vez em quando tem que retocar porque dá diferença na tonalidade de uma aréola para outra. Fica muito perfeito, quem não sabe da doença não percebe”, afirma. A costureira, que é mãe de duas mulheres, uma de 23 e outra de 21, diz que está muito satisfeita e indica para quem lhe pergunta. “Como meu caso é de sucesso, de cura da doença, muita gente me procurou nesses 13 anos que se já se passaram. Sou muito bem resolvida e digo: ‘faça a micropigmentação porque não é agressivo’. Não tenho nada negativo para dizer”, conclui.
Michelle Silveira Cristofori relembra a situação vivida por ela. “Em 2007 tive o câncer e precisei retirar a mama direita. Não deu para preservar nada. Fiz a mastectomia e o médico já implantou a prótese. Três meses depois fiz a reconstrução da aréola e do bico. O cirurgião retirou tecido da virilha para fazer o enxerto”. A comerciante diz que achou o procedimento cirúrgico tranquilo e comenta: “não é dolorido igual ao da mastectomia. Com dois meses estava 100%, mas é preciso repouso e ter cuidado para o implante pegar”, observa. Como houve diferença de cor de uma mama para outra, o médico de Michelle recomendou a micropigmentação. “Ficou excelente. Meu marido, que é da área médica, elogiou muito o resultado”, conta.
Micropigmentação paramédica de aréolas e mamilos
Inajá Bessa gosta de metáforas para explicar o ofício que realiza há 17 anos e resultou em clientes de várias partes do Brasil. “O meu trabalho nada mais é que um bordado na costura do médico. Só entro onde a ciência termina, é um acabamento. Faço com a agulha o que um pintor faz com o pincel e gostaria que o SUS cobrisse esse trabalho”, declara.
Ela explica que a técnica consiste na implantação de pequenas quantidades de pigmento via agulha na derme (segunda camada da pele) que reagem com os melanócitos na camada basal e resulta na cor desejada na epiderme (camada externa da pele). Segundo a técnica em micropigmentação paramédica, o procedimento tem durabilidade de aproximadamente dois anos, mas por ser uma região que não sofre muito com a influência dos raios solares, a durabilidade é prolongada. Inajá conta que a maioria de suas pacientes são encaminhadas pelos próprios cirurgiões plásticos. É importante ressaltar que, com essa técnica, os mamilos não tem proeminência. O que o profissional faz é um trabalho de perspectiva que simula o efeito de projeção.
Reconstrução de aréolas e mamilos: opções cirúrgicas
O mastologista João Henrique Penna Reis aponta as alternativas para reconstrução de aréolas e mamilos. “Faz-se um enxerto com áreas do corpo em que a pele tem pigmentação parecida, a virilha ou a parte interna da coxa”, diz. O médico explica que para fazer o mamilo, os cirurgiões usam a pele dessas mesmas regiões. “Dobra-se a pele sobre ela própria, como se a pele abraçasse ela mesma para projetar o mamilo”, detalha. Uma outra opção em casos de mulheres com mamilos mais protuberantes é usar um deles – caso não seja necessária a dupla mastectomia – para transformá-lo em dois. O lóbulo da orelha também pode ser usado para reconstruir o ‘bico’ do seio.
Já existem também próteses de mamilo e aréolas. “Existem em várias cores e formatos diferentes e são autoadesivas. Essa opção é a menos usada, o produto é importado, chegou ao Brasil há pouco tempo e não é bem aceita. As mulheres estão buscando uma solução definitiva e mais próxima do natural possível”, comenta.
Penna observa, entretanto, que não é raro - em casos que as pacientes precisam esperar para fazer a reconstrução – elas desistirem da cirurgia. “Elas se acostumam e deixam de dar importância”, diz.
As técnicas cirúrgicas, segundo Penna, são procedimentos tranquilos. “É superficial, só há interferência na pele e em áreas pequenas. A mulher não toma anestesia geral, tem um índice muito baixo de complicações e não tem dor no pós-operatório”, esclarece. No entanto, é comum as mulheres mesclarem o enxerto com a micropigmentação paramédica porque a pele passa por um sofrimento até o local começar a nutrir essa pele transplantada. “Ela despigmenta, fica mais clara e a micropigmentação pode ser necessária para dar cor”, pontua.
Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia - Regional Minas Gerais, João Henrique Penna Reis diz que não é raro - após a espera pela reconstrução da mama - que as mulheres desistam da cirurgia