Desequilíbrio de nutrientes pode causar episódio conhecido como fome oculta

O quadro é caracterizado pela constante falta de saciedade. A disfunção está associada à falta de vitamina A, de iodo e de ferro. Crianças e adolescentes correm mais riscos de desenvolver a fome oculta

Diminuir Fonte Aumentar Fonte Imprimir Corrigir Notícia Enviar
Revista do CB - Correio Braziliense Publicação:04/12/2013 11:00Atualização:04/12/2013 12:01
Durante um período, a economista Thays Romero se descuidou da alimentação: hoje, ao sinal de fome, a primeira providência é tomar um copo d'água  (Zuleika de Souza/CB/D.A Press)
Durante um período, a economista Thays Romero se descuidou da alimentação: hoje, ao sinal de fome, a primeira providência é tomar um copo d'água
A fome oculta não é muito conhecida, inclusive pelo fato de se configurar mais como um sintoma do que como uma patologia propriamente dita. É o resultado de uma carência nutricional que se manifesta no organismo de diversas formas. A mais comum e que mais afeta a rotina do indivíduo é a constante falta de saciedade, ou seja, mesmo comendo por diversas vezes, a fome não vai embora. Comumente, a disfunção está associada à falta de vitamina A, de iodo e de ferro no organismo.

O nutricionista Murilo Pereira explica que o termo fome oculta é usado popularmente para explicar um estado fisiológico que pode ser resultado de diversos problemas de saúde causadores de um quadro de desnutrição no paciente. “A fome oculta seria um deficit nutricional”, completa.

De acordo com o especialista, o problema surge, na maioria dos casos, da chamada síndrome metabólica: “É o mal do século. As pessoas ingerem alimentos pouco nutritivos e com alto valor calórico”. Simplesmente, as vitaminas e os nutrientes não estão presentes na dieta, o que acarreta distúrbios hormonais, entre eles, a falha na produção do hormônio responsável pela sensação de saciedade.

Nathalya Priscilla Costa Pacheco, nutricionista, explica que todos estão propensos a desenvolver a fome oculta, mas crianças e adolescentes correm mais riscos. Na fase de crescimento, o organismo precisa de nutrientes extras, de forma que a alimentação equilibrada é essencial para evitar uma defasagem. “Quem exagera nos exercícios, não se alimenta de forma condizente, está sob estresse constante também é forte candidato a sofrer do problema, pois, nessas situações, há um aumento do consumo de micronutrientes pelo organismo”, completa a especialista.

Thays Romero de Campos Vasconcelos, 27 anos, acabou desenvolvendo o problema em decorrência da ansiedade e do consumo de alimentos muito calóricos, mas de baixo valor nutritivo. Além da alimentação desregrada, a economista encontrava dificuldade na absorção dos poucos nutrientes que consumia. A falta de saciedade, as unhas fracas e quebradiças e a queda de cabelo foram alertas para Thays, que resolveu procurar um médico. Com uma alimentação balanceada, receitada pelo nutricionista, e aumento significativo no consumo de água, conseguiu regular o organismo. “Acaba que tudo fica mais saudável. Hoje, quando fico ansiosa e como besteira, percebo a diferença na hora”, conta.

Uma das dicas dos profissionais é trocar a ingestão de calorias “vazias” por água. Murilo explica que, muitas vezes, o que o organismo precisa são nutrientes e não comida necessariamente. “O que me ajuda muito é beber água sempre que sinto fome. Troco um doce por um copo d’água. Quase sempre resolve”, acrescenta Thays. Murilo Pereira afirma ainda que, em 80% dos casos, a sede é confundida com fome. “Se você está namorando a geladeira sem saber o que comer, beba água”, brinca o especialista.

A nutricionista Nathalya acrescenta outros sinais que devem ser observados. Entre eles, unhas manchadas, pele opaca ou com acne, rugas precoces, ganho de peso e dificuldade de emagrecimento, além de desânimo e falta de concentração. “Esses dois últimos são causados porque o organismo percebe a carência de vitaminas e minerais e, a fim de recuperar o equilíbrio, envia sinais para o cérebro estimular a fome. O cérebro, por sua vez, dá ordem para consumir alimentos e obter os nutrientes que faltam”, explica.

Nathalya alerta quanto à importância de acompanhamento profissional, pois, apenas com os exames específicos, é possível determinar a causa dos possíveis sintomas. Uma vez detectada a carência de nutrientes, são feitos outros testes para descobrir que tratamento seguir. “Por meio da avaliação de hábitos e histórico alimentar, sinais clínicos e exames bioquímicos, o profissional poderá identificar quais nutrientes estão faltando”, completa. Nathalya lembra que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a síndrome atinge 25% da população mundial.

A base do tratamento da maioria das causas da fome oculta é uma dieta balanceada, com nutrientes e vitaminas. É importante evitar alimentos industrializados, ricos em gordura trans e saturada. A preferência é para os orgânicos, frutas, verduras, cereais e carnes magras. “Quanto menos variabilidade na dieta, maior a chance de desenvolver a carência de nutrientes”, completa Murilo.

COMENTÁRIOS

Os comentários são de responsabilidade exclusiva dos autores.