Bebê a caminho: exames do olhinho, coração, orelhinha e pezinho devem ser feitos ao nascer
Testes podem ser feitos em maternidade, posto de saúde ou laboratório. Porém, eles não definem diagnóstico, apenas levantam suspeitas
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O mais conhecido dos exames neonatais é o teste do pezinho, obrigatório no Brasil desde 2001. “Apesar de não ser definitivo, é capaz de prevenir problemas mais sérios no futuro, porque leva ao tratamento precocemente”, alerta o secretário do Departamento de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) Adauto Dutra Morais Barbosa, professor de neonatologia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Basicamente, o teste do pezinho detecta quatro doenças: hipotireoidismo congênito, fenilcetonúria, anemia falciforme e fibrose cística. Minas Gerais já entrou na fase IV do Programa Nacional de Triagem Neonatal e também oferece o exame para hiperplasia adrenal congênita e deficiência de biotinidase. Dependendo do caso, o médico indica a avaliação de risco de outras doenças mais raras.
Normalmente, o teste do pezinho não é realizado na maternidade. A responsabilidade de levar a criança ao posto de saúde ou a um laboratório particular é dos pais, pois eles recebem alta com o pedido em mãos. “O pediatra é obrigado a solicitar o teste, mas não significa que ele será realizado, a não ser que o recém-nascido passe muito tempo internado na unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal”, pontua Barbosa.
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Os pais também devem saber que o recém-nascido precisa ser submetido aos testes do olhinho e do coraçãozinho ainda na maternidade. Atenta aos procedimentos, a psicóloga Flávia Andrade Franco Portela, de 29 anos, alertou o pediatra, antes de receber alta, de que não haviam feito a avaliação cardíaca do seu filho. “Soube dos exames em dois cursos que fiz durante a gravidez. Quanto mais informação, melhor”, comenta. Na primeira ida ao posto de saúde, Flávia aproveitou para fazer o teste do pezinho e marcar o da orelhinha, que pode ser realizado até um mês depois do nascimento. “É uma tranquilidade saber que dá para agir o mais rápido possível”, completa a mãe do pequeno Caio, que tem duas semanas de vida.
PRÉ-NATAL DE QUALIDADE
De acordo com Adauto Barbosa, os exames de triagem não excluem a necessidade de a gestante fazer um pré-natal de qualidade. “É claro que nem tudo pode ser diagnosticado antes, mas o pré-natal ajudar a neonatologia a fazer um diagnóstico precoce, diminuindo a mortalidade e a morbidade. Hoje, por exemplo, fazemos diagnóstico de cardiopatia congênita intraútero”, comenta. Barbosa se diz assustado com o número de crianças com sífilis congênita, casos em que a mãe não passou por exame ou não se tratou adequadamente. É necessário que todas as gestantes façam exames no pré-natal, incluindo HIV, toxoplasmose, hepatite B e citomegalovírus, menos de 30 dias antes do parto. Caso o resultado seja positivo, o recém-nascido terá que fazer testes específicos ao nascer.
O que eles podem indicar
» TESTE DO OLHINHO
(reflexo vermelho)
É rápido, simples e indolor. Utiliza-se um aparelho chamado oftalmoscópio para analisar o eixo óptico do recém-nascido. O normal é enxergar um reflexo vermelho, mesmo efeito do flash de uma câmera fotográfica, ao mirar a fonte luminosa na direção dos olhos do bebê. Quando o reflexo é branco, semelhante ao do olho de gato, pode haver alguma obstrução do eixo óptico causada por doenças como catarata, glaucoma e retinoblastoma, tumor maligno que se desenvolve na retina. A recomendação é realizar o teste do olhinho com poucas horas de vida do recém-nascido, ainda na maternidade. Exames complementares devem ser feitos por um oftalmologista para confirmar qualquer suspeita.
» TESTE DO CORAÇÃOZINHO
(oximetria de pulso)
Deve ser realizado mesmo que o exame clínico não levante suspeitas, pois consegue detectar cardiopatias congênitas graves não identificadas com a ausculta. Um sensor é aplicado na pele do bebê, sem a necessidade de retirada de sangue. Chamado de oxímetro de pulso, o equipamento mede na mão direita e em um dos pés do recém-nascido a saturação de oxigênio, geralmente acima de 94%, que é a capacidade da hemoglobina de carregar oxigênio. O teste do coraçãozinho costuma ser feito depois de 24 horas do nascimento, já que o processo de adaptação à vida fora do útero pode atrapalhar o resultado. É preciso dar tempo para que ocorram as adequações fisiológicas esperadas logo depois do parto.
» TESTE DA ORELHINHA
(emissões otoacústicas evocadas)
Antigamente restrito a grupos de risco, entre eles filhos de pais com deficiência auditiva e de mães que tiveram rubéola congênita durante a gestação, hoje é indicado para todos os recém-nascidos. Uma espécie de fone é colocado no ouvido do neném para avaliar a probabilidade de haver um problema de audição. O resultado varia de acordo com a maneira como o som emitido é captado. O teste da orelhinha pode ser realizado em até 30 dias depois do nascimento, mas a recomendação dos médicos é submeter o quanto antes o recém-nascido ao exame para que uma possível surdez seja detectada precocemente e o tratamento possa ser iniciado com rapidez, melhorando a qualidade de vida da criança.
» TESTE DO PEZINHO
Detecta uma série de doenças metabólicas, genéticas e infecciosas que podem gerar graves consequências. No exame básico, é possível descobrir a probabilidade de a criança desenvolver hipotireoidismo congênito, fenilcetonúria, anemia falciforme e fibrose cística. Os mais completos incluem, por exemplo, doenças como toxoplasmose e galactosemia. Precisa-se de uma gota de sangue do recém-nascido, normalmente retirada da sola do pé por ser a maneira mais fácil de fazer a coleta. O teste do pezinho deve ser realizado a partir de 48 horas de vida do bebê, para que dê tempo de haver contato com o leite da mãe, até uma semana depois do nascimento. O resultado demora cerca de 10 dias.
hipotireoidismo congênito: a falta de hormônios da tireoide, que normalmente não se manifesta nas primeiras horas de vida, pode comprometer o desenvolvimento mental da criança.
fenilcetonúria: as altas concentrações do aminoácido fenilalanina, presente no leite da mãe, detectadas quando a criança não consegue metabolizá-lo, causam déficit neurológico
anemia falciforme: doença genética que altera a formação de hemoglobinas, fazendo com elas fiquem com forma de foice, dificulta a oxigenação dos tecidos.
fibrose cística: doença incurável que se manifesta nos pulmões, pâncreas e glândulas sudoríparas e necessita de diagnóstico precoce para melhorar a qualidade de vida do paciente.
hiperplasia adrenal congênita: levam à masculinização do corpo da criança, à medida que o mau funcionamento das glândulas suprarrenais ou adrenais faz aumentar a produção de hormônios.
deficiência de biotinidase: é a falta da vitamina biotina, que resulta em convulsões, fraqueza muscular, queda de cabelo, surgimento de espinhas, acidez do sangue e baixa imunidade.
galactosemia: doença genética que dificulta a conversão de galactose (açúcar presente no leite) em glicose, podendo levar, por exemplo, a icterícia, catarata e hipoglicemia.
Mais um exame pode ser incluído na triagem neonatal. A fonoaudióloga Roberta Martinelli, articuladora da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa), propõe a obrigatoriedade do teste da linguinha, que consiste na avaliação do frênulo lingual, pequena membrana que conecta a língua ao assoalho da boca. Ela defende que a língua presa prejudica a amamentação e pode comprometer a fala. Apesar de ter sido aprovada por unanimidade no Senado, necessitando apenas de sanção da Presidência, a proposta ainda é polêmica. A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), por outro lado, alega que a língua é avaliada rotineiramente no primeiro exame físico e não necessariamente uma alteração no frênulo lingual gera consequência imediata para o recém-nascido.
Por que o teste da linguinha deve ser obrigatório?
O objetivo é detectar precocemente as limitações dos movimentos da língua causadas pela língua presa, que podem comprometer funções como sugar, engolir, mastigar e falar. Diversas publicações científicas nacionais e internacionais demonstram a importância da intervenção precoce.
Que tipo de problema ele pode evitar?
Inicialmente, o desmame precoce, uma vez que o impacto da língua presa na amamentação é muito grande. É oportuno ressaltar que bebês com língua presa mamam, mas cansam e não se saciam. Portanto, há um ciclo de alimentação ineficiente e estressante. Normalmente, são bebês que têm um intervalo muito pequeno entre as mamadas. Além disso, as mães relatam incômodo para amamentar e engasgos frequentes durante
o processo.
Como ele funciona?
O teste da linguinha é rápido, indolor e sem custo. Eleva-se a língua do bebê e observam-se as características do frênulo e da língua, bem como o movimento da língua durante o choro.Também é observado como o bebê suga o dedo do avaliador e como suga o mamilo materno.
Na sua visão, os pediatras analisam adequadamente a língua do recém-nascido?
Oque temos visto, na prática clínica, são muitos bebês com ciclo de alimentação ineficiente e muitas crianças, jovens e adultos que passaram pelo exame físico nas maternidades, não foram diagnosticados e apresentam distorções na fala em decorrência da língua presa.O objetivo é padronizar a avaliação para que todos os profissionais da saúde usem os mesmos critérios. O teste da linguinha pode ser realizado por qualquer profissional da saúde qualificado para isso, e não só por fonoaudiólogos.