Mais autoexames e mamografias podem diminuir casos de câncer de mama
Outubro Rosa começa mostrando o desafio de diminuir o flagelo do câncer de mama, que este ano deve ter 57 mil novos casos no Brasil
Carolina Cotta - Estado de Minas
Publicação:01/10/2014 09:52Atualização: 01/10/2014 15:27
Nos próximos 30 dias, o Brasil se iluminará de rosa. As principais cidades brasileiras vão ganhar as cores da luta contra o câncer de mama, o segundo tipo mais frequente no mundo, e o mais comum entre as mulheres. O Outubro Rosa é um movimento mundial de conscientização para a importância do diagnóstico precoce da doença. Mais do que admirar importantes monumentos, ele chama as mulheres a olharem para si próprias: está nas mãos delas mudar as estatísticas que crescem a cada ano. Nos próximos 30 dias, o Estado de Minas também se voltará para a doença. Uma série de quatro reportagens vai mostrar os desafios do acesso ao diagnóstico; os impactos no corpo, no emocional e na família; e as opções de tratamento na rede privada e pública.
“Isso se deve a diagnósticos e tratamentos tardios, desinformação e medo. Muitas mulheres ainda enxergam o câncer de mama como uma doença que mutila e mata, entretanto, mais de 90% dos casos são curáveis se descobertos precocemente”, alerta. A esperança está na combinação do autoexame, exame médico e mamografia. Segundo Provenza, o autoexame surgiu para dar chances de o tumor ser tratado na fase mais inicial possível, o que pode evitar, inclusive, a retirada da mama. É também importante ferramenta para a detecção do tumor de intervalo, aquele que aparece no período de tempo entre uma mamografia e outra. “Algumas mulheres têm resultado negativo no exame e três meses depois podem desenvolver o tumor”, comenta.
O problema é que muitas mulheres sequer sabem fazê-lo. O autoexame deve ser feito todo mês, entre o sétimo e o décimo dias após o primeiro dia da menstruação (assista ao vídeo explicativo no em.com.br). A pedagoga Poliana Gomes Pacheco, de 33 anos, nem precisou fazê-lo para perceber um nódulo na mama direita. Enquanto se ensaboava durante o banho, percebeu uma irregularidade abaixo da axila e ligou para o ginecologista em seguida. “Eu estava tentando engravidar, tinha acabado de fazer uma série de exames. Era uma sexta à noite e ele me mandou ir ao consultório na segunda. Eu tinha 30 anos, nunca tinha feito mamografia. Fiquei preocupada, ao mesmo tempo que achava que era muito nova para ter um câncer.”
Mas era, e já em fase avançada. Poliana enfrentou a cirurgia, a quimioterapia e a separação. A localização e o tamanho do tumor exigiram a retirada total da mama e só semana passada ela concluiu uma série de cirurgias para a reconstrução mamária. O medo de morrer, o abalo da feminilidade e a rejeição do companheiro, contudo, deixaram marcas irreparáveis. “Logo depois da cirurgia ele ficou frio. Eu sempre fui muito vaidosa e quando meu cabelo caiu ele começou a ter vergonha de sair comigo, o que abalou ainda mais a minha autoestima. Tive apoio da minha família, mas do meu ex-marido, não. Ele sequer me acompanhava na quimioterapia. Esperei o tratamento terminar e pedi o divórcio”, conta Poliana, hoje uma apaixonada pelas corridas.
MAMOGRAFIA
O autoexame é importante, mas, de forma alguma, substitui a mamografia, a chamada fotografia da mama. Uma série de medidas adotadas pelo Programa Estadual de Controle do Câncer de Mama, lançado em 2012, o transformaram em uma referência nacional. Minas Gerais é o único estado a oferecer a mamografia entre os 40 e 69 anos, já que 25% das mulheres desenvolvem câncer entre 40 e 49 anos. Nos demais estados, a mamografia de rastreamento, que visa detectar novos casos de câncer de mama, só começa aos 50 anos. Além disso, não há mais a necessidade de consultar um médico para pegar o pedido. Mulheres nessa faixa etária só precisam ir à unidade básica de saúde e mostrar o documento para agendar o exame.
Segundo Sérgio Bicalho, coordenador do programa, em 2014, o estado conseguirá duplicar o número de mamografias feitas em 2009. Dos 853 municípios mineiros, apenas 126 têm mamógrafos. Essa deficiência levou à criação das unidades móveis, caminhões equipados com mamógrafos que percorrem todos os municípios onde não era possível fazer o exame. “Os gestores de saúde dos municípios estão habituados a encaminhar pacientes com doenças confirmadas para os centros de tratamento, nunca para rastrear, investigar se há um câncer, por exemplo”, explica Bicalho. É por isso que a secretaria tem planos de ampliar as 10 unidades hoje em funcionamento. Se o tumor for confirmado, o tratamento começa em 30 dias, o que, no passado, levava até 180 dias.
Um mês de cuidados
Outubro terá uma série de ações de promoção do diagnóstico, mas também da autoestima. Uma das novidades da campanha é o Salão da Solidariedade, que vai oferecer corte de cabelo, manicure e pedicure em várias cidades mineiras. As mulheres que desejarem poderão doar seus cabelos para a confecção de perucas destinadas às pacientes em tratamento contra o câncer de mama. A consultora pedagógica e palestrante Mara Alves, do blog Sobreviver (www.sobreviverblog.com.br), está à frente de uma tarde de cuidados que será promovida na Oncomed-BH, no dia 15, aberta ao público. “Além de palestras, faremos workshop de beleza e de alimentação saudável, com profissionais qualificados em cada área. A intenção é proporcionar uma tarde alegre e gostosa. Será um momento para celebrar a vida”, conta.
Mara recebeu o diagnóstico de Linfoma de Hodgkin, um câncer do sistema linfático, em abril. Passado o desespero inicial, percebeu que existem muitos mitos em relação à doença e se deu conta de que precisava aprender a lidar com essa nova realidade. Mara se envolveu com o Outubro Rosa porque vê o câncer como uma doença só. “É preciso conscientizar, alertar, difundir informações que ajudem na prevenção da doença. Sou mulher e minha empatia com quem tem câncer de mama ou qualquer outra variação da doença é enorme. Quero ajudar. E por meio deste envolvimento todo ajudo a mim mesma. Toda a energia gasta nesses projetos faz parte do meu processo de cura”, diz.
Poliana Gomes enfrentou o medo da morte, viu a feminilidade no chão, amargou a rejeição do companheiro e deu a volta por cima: hoje, correr é sua grande paixão
Veja como fazer o autoexame:
Saiba mais...
Na tarde de ontem, durante o lançamento da campanha nos jardins do Palácio da Liberdade, o secretário de estado da Saúde José Geraldo de Oliveira Prado assinou a liberação de uma verba extra de R$ 2,5 milhões ao ano para ultrassons, que podem complementar o diagnóstico em alguns casos. O Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) estima 57.120 novos casos em 2014. Só para Minas Gerais, foram projetados 5.210 casos, 5% a mais que em 2013. Segundo o mastologista e cirurgião plástico Thadeu Rezende Provenza, superintendente da Associação de Prevenção do Câncer na Mulher (Asprecam), em 20 anos, o DataSUS revela um aumento de 120% nas mortes por câncer de mama em Minas.- Retirada total das mamas para tratamento de câncer cresce, mas ainda levanta dúvidas
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“Isso se deve a diagnósticos e tratamentos tardios, desinformação e medo. Muitas mulheres ainda enxergam o câncer de mama como uma doença que mutila e mata, entretanto, mais de 90% dos casos são curáveis se descobertos precocemente”, alerta. A esperança está na combinação do autoexame, exame médico e mamografia. Segundo Provenza, o autoexame surgiu para dar chances de o tumor ser tratado na fase mais inicial possível, o que pode evitar, inclusive, a retirada da mama. É também importante ferramenta para a detecção do tumor de intervalo, aquele que aparece no período de tempo entre uma mamografia e outra. “Algumas mulheres têm resultado negativo no exame e três meses depois podem desenvolver o tumor”, comenta.
O problema é que muitas mulheres sequer sabem fazê-lo. O autoexame deve ser feito todo mês, entre o sétimo e o décimo dias após o primeiro dia da menstruação (assista ao vídeo explicativo no em.com.br). A pedagoga Poliana Gomes Pacheco, de 33 anos, nem precisou fazê-lo para perceber um nódulo na mama direita. Enquanto se ensaboava durante o banho, percebeu uma irregularidade abaixo da axila e ligou para o ginecologista em seguida. “Eu estava tentando engravidar, tinha acabado de fazer uma série de exames. Era uma sexta à noite e ele me mandou ir ao consultório na segunda. Eu tinha 30 anos, nunca tinha feito mamografia. Fiquei preocupada, ao mesmo tempo que achava que era muito nova para ter um câncer.”
Mas era, e já em fase avançada. Poliana enfrentou a cirurgia, a quimioterapia e a separação. A localização e o tamanho do tumor exigiram a retirada total da mama e só semana passada ela concluiu uma série de cirurgias para a reconstrução mamária. O medo de morrer, o abalo da feminilidade e a rejeição do companheiro, contudo, deixaram marcas irreparáveis. “Logo depois da cirurgia ele ficou frio. Eu sempre fui muito vaidosa e quando meu cabelo caiu ele começou a ter vergonha de sair comigo, o que abalou ainda mais a minha autoestima. Tive apoio da minha família, mas do meu ex-marido, não. Ele sequer me acompanhava na quimioterapia. Esperei o tratamento terminar e pedi o divórcio”, conta Poliana, hoje uma apaixonada pelas corridas.
Em sua luta pela cura, Mara Alves também encontra alegria em ajudar outras mulheres
MAMOGRAFIA
O autoexame é importante, mas, de forma alguma, substitui a mamografia, a chamada fotografia da mama. Uma série de medidas adotadas pelo Programa Estadual de Controle do Câncer de Mama, lançado em 2012, o transformaram em uma referência nacional. Minas Gerais é o único estado a oferecer a mamografia entre os 40 e 69 anos, já que 25% das mulheres desenvolvem câncer entre 40 e 49 anos. Nos demais estados, a mamografia de rastreamento, que visa detectar novos casos de câncer de mama, só começa aos 50 anos. Além disso, não há mais a necessidade de consultar um médico para pegar o pedido. Mulheres nessa faixa etária só precisam ir à unidade básica de saúde e mostrar o documento para agendar o exame.
Segundo Sérgio Bicalho, coordenador do programa, em 2014, o estado conseguirá duplicar o número de mamografias feitas em 2009. Dos 853 municípios mineiros, apenas 126 têm mamógrafos. Essa deficiência levou à criação das unidades móveis, caminhões equipados com mamógrafos que percorrem todos os municípios onde não era possível fazer o exame. “Os gestores de saúde dos municípios estão habituados a encaminhar pacientes com doenças confirmadas para os centros de tratamento, nunca para rastrear, investigar se há um câncer, por exemplo”, explica Bicalho. É por isso que a secretaria tem planos de ampliar as 10 unidades hoje em funcionamento. Se o tumor for confirmado, o tratamento começa em 30 dias, o que, no passado, levava até 180 dias.
Um mês de cuidados
Outubro terá uma série de ações de promoção do diagnóstico, mas também da autoestima. Uma das novidades da campanha é o Salão da Solidariedade, que vai oferecer corte de cabelo, manicure e pedicure em várias cidades mineiras. As mulheres que desejarem poderão doar seus cabelos para a confecção de perucas destinadas às pacientes em tratamento contra o câncer de mama. A consultora pedagógica e palestrante Mara Alves, do blog Sobreviver (www.sobreviverblog.com.br), está à frente de uma tarde de cuidados que será promovida na Oncomed-BH, no dia 15, aberta ao público. “Além de palestras, faremos workshop de beleza e de alimentação saudável, com profissionais qualificados em cada área. A intenção é proporcionar uma tarde alegre e gostosa. Será um momento para celebrar a vida”, conta.
Mara recebeu o diagnóstico de Linfoma de Hodgkin, um câncer do sistema linfático, em abril. Passado o desespero inicial, percebeu que existem muitos mitos em relação à doença e se deu conta de que precisava aprender a lidar com essa nova realidade. Mara se envolveu com o Outubro Rosa porque vê o câncer como uma doença só. “É preciso conscientizar, alertar, difundir informações que ajudem na prevenção da doença. Sou mulher e minha empatia com quem tem câncer de mama ou qualquer outra variação da doença é enorme. Quero ajudar. E por meio deste envolvimento todo ajudo a mim mesma. Toda a energia gasta nesses projetos faz parte do meu processo de cura”, diz.
CÂNCER DE MAMA
25%
de todos os tipos de câncer diagnosticados nas mulheres são de mama
4
em cada 5 casos ocorre após os 50 anos
9
em cada 10 casos ocorrem em mulheres sem história familiar da doença
30%
dos casos de câncer de mama podem ser evitados com alimentação saudável, atividade física regular e peso ideal
Fonte: Inca
25%
de todos os tipos de câncer diagnosticados nas mulheres são de mama
4
em cada 5 casos ocorre após os 50 anos
9
em cada 10 casos ocorrem em mulheres sem história familiar da doença
30%
dos casos de câncer de mama podem ser evitados com alimentação saudável, atividade física regular e peso ideal
Fonte: Inca