Mamães e bebês podem malhar juntos em BH
Respeitados os 45 dias depois do parto e a liberação do médico, mulheres podem voltar às atividades físicas. Apesar de ser focado nos benefícios para o corpo e a mente da mulher, treino que inclui bebê também pode auxiliar no desenvolvimento da criança
Valéria Mendes - Saúde Plena
Publicação:25/05/2015 09:00Atualização: 25/05/2015 11:50
Com a chegada do bebê, nasce também a mãe. Por isso, o pós-parto e a licença-maternidade podem ser momentos de muito desamparo, insegurança e solidão e a cultura da maternidade cor-de-rosa representada pelas imagens de mães sorridentes e bebês tranquilos não contribui em nada para o fortalecimento das mães de primeira viagem. Fora do enquadramento para o porta-retrato estão as cólicas, as noites mal dormidas, os percalços da amamentação e o corpo transformado pela gestação. Para se fortalecerem diante dos desafios da maternidade, cada vez mais as mulheres têm se juntado para trocar experiências e informações em grupos na internet, blogs, encontros presenciais e demandado oportunidades de experienciar a licença-maternidade que, no Brasil, varia de quatro a seis meses, fora do modelo casa-pediatra-supermercado-shopping. Um exemplo emblemático é a luta pelo direito de amamentar em público sem constrangimento, mas podemos citar também a possibilidade de mamães e bebês malharem juntos. Em Belo Horizonte, já é possível.
Se para algumas pessoas pode parecer estranho usar o bebê como peso para algum tipo de exercício, a médica pediatra Laura Lima, 29 anos, mãe de Renato, de dez meses, e adepta da malhação ‘mãe e filho’ garante que não há problema. “O bebê só vai ser peso em situações que ele possa ser e uma atividade que é prazerosa para a mãe e para a criança faz o relacionamento fluir”, afirma.
O treino no pós-parto é focado em quatro pilares principais: atenção especial à postura, eliminar os quilos extras da gestação, fechamento da diástase abdominal e recuperação da musculatura do assoalho pélvico, caso seja necessário. “É preciso fortalecer a coluna, principalmente na região das costas, porque é muito comum em razão da amamentação, que a mulher jogue os ombros para frente. A postura correta também impacta a aparência do abdômen. Assim, os exercícios são pensados para proteção da lombar e para o fortalecimento do corpo em geral”, detalha.
O condicionamento físico é trabalhado em circuitos, favorecem a queima de calorias e, consequentemente, a perda de peso. Já a atenção à musculatura do assoalho pélvico auxilia a retomada da atividade sexual. “Com o filho fora da barriga e o abdômen ainda proeminente, a mulher pode não se reconhecer feminina e bonita. A maternidade traz novas configurações para a aparência, mas o foco deve ser cuidar do corpo para ficar bem, sem pressa e sem a fissura em ficar sarada”, observa.
O FIT Mamãe foi pensado para durar quatro meses, mas é comum as mulheres ultrapassarem esse período mesmo com o fim da licença-maternidade. “O normal é que o corpo demore entre seis e nove meses para retornar ao que era, mas a atividade física acelera o resultado. Em quatro meses já é possível notar o início da definição do abdômen e de outros grupos musculares”, explica. A educadora física reforça, no entanto, que a atividade física por si só não garante resultados. Portanto, a mulher precisa também cuidar da alimentação.
Segundo Claudia, os benefícios vão além do físico. “No retorno à vida social no pós-parto, as mulheres se sentem mais acolhidas em espaços com outras mães, seja para trocar experiências, dividir angústias ou conversar sobre o cotidiano da vida mãe e filho”, diz.
A médica anestesista Renata de Andrade Chaves, 31 anos, mãe de João, 4 meses, começou a se exercitar na companhia do filho quando o garotinho tinha dois meses de idade. “Era a única atividade que tínhamos fora de casa até ele completar três meses. Ele chegou assustado, mas as aulas fizeram muita diferença na rotina dele também. Nos dias que a gente vem, o João me dá muito menos trabalho no final do dia e dorme melhor”, relata.
A pediatra Laura Lima também sentiu benefícios para o desenvolvimento do filho, que, segundo ela, ficou mais sociável. “Ele era um pouquinho mais dependente de mim, mas agora vai no colo da professora e de outras mães. As aulas também têm ajudado meu filho a aprender a esperar, a se acostumar com outras pessoas e, apesar de estar na fase da ansiedade da separação, não tem manifestado nenhum sinal”, conta.
Como pediatra, Laura Lima diz que a atividade física em conjunto é também indicada para os casos de mães com dificuldades em estabelecer vínculo com os bebês. “O exercício ajuda a aliviar a ansiedade e a mulher fica mais disposta”, pontua.
Uma dica da pediatra, que malha com o filho desde que ele tinha dois meses, é observar o temperamento da criança na hora de escolher o horário para a prática de exercícios. “O momento reservado para a atividade física não deve coincidir com o horário da soneca. O final da tarde também não é um bom momento, já que usualmente é o período das cólicas e culmina com o acúmulo de pequenos estresses que a criança vivencia ao longo do dia. Se o seu bebê é mais sensível, talvez ele fique incomodado em um ambiente que a mãe não tem tudo controlado”, exemplifica.
Bebê na academia
Tanto o humor quanto as necessidades da criança - como amamentação e sono – devem ser respeitados durante as aulas. Quem já teve a oportunidade de observar como é a dinâmica de um treino 'mãe e bebê juntos', sabe que não é raro que as alunas façam exercícios diferentes ao mesmo tempo, tanto pelas particularidades de cada treino, mas também para se adaptar ao humor e interesse da criança. Se o bebê chora, é sinal que está na hora de mudar o exercício, a posição na sala ou forma de segurá-lo. Se uma criança dorme, a mãe de outro bebê pode ‘emprestá-lo’ à colega da turma. Caso a mulher precise se exercitar com as mãos livres, tem sempre alguém de prontidão para pegar um neném no colo.
A série de exercícios elaborada para a mãe deve ser pensada nos movimentos que são permitidos às crianças de acordo com a idade.“É preciso respeitar as fases de desenvolvimento do bebê, se ele já sustenta o pescoço ou já se fica sentado sozinho. Crianças que já engatinham precisam de espaço para serem livres e ativas”, pontua a pediatra Laura Lima.
Apesar de todas essas ponderações e mesmo levando-se em conta que culturalmente o bem-estar do bebê prevalece sobre o da mãe, o objetivo da atividade física é focado na mulher. “A criança está junto para permitir que a mãe se exercite”, reforça a especialista.
Preocupada com o crescimento da obesidade infantil no Brasil e no mundo, a pediatra Laura Lima cita outro ponto positivo para incluir o bebê na malhação: a importância da imitação (ou exemplo) no desenvolvimento da criança. “Criança que vê a mãe e o pai se exercitarem - e nesse caso específico, participando - está plantando uma sementinha em sua memória motora sobre a importância da atividade física para a saúde. O exemplo arrasta, não basta falar”, sintetiza.
ONDE FAZER:
FIT MAMÃE NO INSTITUTO NASCER
Rua Cícero Ferreira, 81- Serra.
Informações: (31) 3262-3538
FIT MAMÃE NA ACADEMIA A2
Rua Guaicui, 660 - Luxemburgo.
Informações: (31) 3293.8632
Em alguns exercícios de fortalecimento de grupos musculares os bebês são os "pesos" das mamães (FOTO: Maíra Cabral / EM / D. A. Press)
A pediatra Laura Lima é adepta da malhação "mamãe-bebê" (FOTO: Maíra Cabral / EM / D. A. Press)
Para começar a se mexer, no entanto, a especialista reforça que há que se respeitar os 45 dias após o parto e a liberação do médico. Em relação ao neném, de acordo com Laura, não existe uma idade determinada para permitir que a criança saia ou não de casa. “As vacinas são o grande limitador e a principal recomendação é evitar até os seis meses de idade locais fechados com grande aglomeração de pessoas”, explica. Por isso, um dos critérios deve ser turmas pequenas e treino personalizado, que nesse caso, envolve tanto o quadro geral de condicionamento físico da mulher quanto a fase de desenvolvimento da criança.
Saiba mais...
A educadora física e integrante da equipe multiprofissional de saúde do Instituto Nascer, clínica em Belo Horizonte especializada no atendimento à mulher na gestação, parto e pós-parto, Claudia Heringer Henriques é idealizadora do programa FIT Mamãe. As turmas que ela atende têm, no máximo, quatro mulheres (e quatro bebês) e as aulas têm duração entre 50 e 60 minutos. O acompanhamento individual – em estúdio, academia, clínica ou em casa – também é uma alternativa. - Gestantes, atenção para o cuidado com a musculatura pélvica (seja parto normal ou cesariana)
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O treino no pós-parto é focado em quatro pilares principais: atenção especial à postura, eliminar os quilos extras da gestação, fechamento da diástase abdominal e recuperação da musculatura do assoalho pélvico, caso seja necessário. “É preciso fortalecer a coluna, principalmente na região das costas, porque é muito comum em razão da amamentação, que a mulher jogue os ombros para frente. A postura correta também impacta a aparência do abdômen. Assim, os exercícios são pensados para proteção da lombar e para o fortalecimento do corpo em geral”, detalha.
O treino é adaptado às condições físicas da mãe e ao desenvolvimento do bebê (FOTO: Maíra Cabral / EM / D. A. Press)
O FIT Mamãe foi pensado para durar quatro meses, mas é comum as mulheres ultrapassarem esse período mesmo com o fim da licença-maternidade. “O normal é que o corpo demore entre seis e nove meses para retornar ao que era, mas a atividade física acelera o resultado. Em quatro meses já é possível notar o início da definição do abdômen e de outros grupos musculares”, explica. A educadora física reforça, no entanto, que a atividade física por si só não garante resultados. Portanto, a mulher precisa também cuidar da alimentação.
Segundo Claudia, os benefícios vão além do físico. “No retorno à vida social no pós-parto, as mulheres se sentem mais acolhidas em espaços com outras mães, seja para trocar experiências, dividir angústias ou conversar sobre o cotidiano da vida mãe e filho”, diz.
A médica anestesista Renata de Andrade Chaves, 31 anos, mãe de João, 4 meses, começou a se exercitar na companhia do filho quando o garotinho tinha dois meses de idade. “Era a única atividade que tínhamos fora de casa até ele completar três meses. Ele chegou assustado, mas as aulas fizeram muita diferença na rotina dele também. Nos dias que a gente vem, o João me dá muito menos trabalho no final do dia e dorme melhor”, relata.
Não necessariamente todas as mães fazem os mesmos exercícios durante a aula (FOTO: Maíra Cabral / EM / D. A. Press)
"Nos dias que a gente vem, o João me dá muito menos trabalho no final do dia e dorme melhor%u201D - Renata de Andrade Chaves, médica anestesista
A pediatra Laura Lima também sentiu benefícios para o desenvolvimento do filho, que, segundo ela, ficou mais sociável. “Ele era um pouquinho mais dependente de mim, mas agora vai no colo da professora e de outras mães. As aulas também têm ajudado meu filho a aprender a esperar, a se acostumar com outras pessoas e, apesar de estar na fase da ansiedade da separação, não tem manifestado nenhum sinal”, conta.
Como pediatra, Laura Lima diz que a atividade física em conjunto é também indicada para os casos de mães com dificuldades em estabelecer vínculo com os bebês. “O exercício ajuda a aliviar a ansiedade e a mulher fica mais disposta”, pontua.
Uma dica da pediatra, que malha com o filho desde que ele tinha dois meses, é observar o temperamento da criança na hora de escolher o horário para a prática de exercícios. “O momento reservado para a atividade física não deve coincidir com o horário da soneca. O final da tarde também não é um bom momento, já que usualmente é o período das cólicas e culmina com o acúmulo de pequenos estresses que a criança vivencia ao longo do dia. Se o seu bebê é mais sensível, talvez ele fique incomodado em um ambiente que a mãe não tem tudo controlado”, exemplifica.
Bebê na academia
Tanto o humor quanto as necessidades da criança - como amamentação e sono – devem ser respeitados durante as aulas. Quem já teve a oportunidade de observar como é a dinâmica de um treino 'mãe e bebê juntos', sabe que não é raro que as alunas façam exercícios diferentes ao mesmo tempo, tanto pelas particularidades de cada treino, mas também para se adaptar ao humor e interesse da criança. Se o bebê chora, é sinal que está na hora de mudar o exercício, a posição na sala ou forma de segurá-lo. Se uma criança dorme, a mãe de outro bebê pode ‘emprestá-lo’ à colega da turma. Caso a mulher precise se exercitar com as mãos livres, tem sempre alguém de prontidão para pegar um neném no colo.
A série de exercícios elaborada para a mãe deve ser pensada nos movimentos que são permitidos às crianças de acordo com a idade.“É preciso respeitar as fases de desenvolvimento do bebê, se ele já sustenta o pescoço ou já se fica sentado sozinho. Crianças que já engatinham precisam de espaço para serem livres e ativas”, pontua a pediatra Laura Lima.
Apesar de todas essas ponderações e mesmo levando-se em conta que culturalmente o bem-estar do bebê prevalece sobre o da mãe, o objetivo da atividade física é focado na mulher. “A criança está junto para permitir que a mãe se exercite”, reforça a especialista.
Preocupada com o crescimento da obesidade infantil no Brasil e no mundo, a pediatra Laura Lima cita outro ponto positivo para incluir o bebê na malhação: a importância da imitação (ou exemplo) no desenvolvimento da criança. “Criança que vê a mãe e o pai se exercitarem - e nesse caso específico, participando - está plantando uma sementinha em sua memória motora sobre a importância da atividade física para a saúde. O exemplo arrasta, não basta falar”, sintetiza.
O objetivo da atividade física é focado na mulher (FOTO: Maíra Cabral / EM / D. A. Press)
ONDE FAZER:
FIT MAMÃE NO INSTITUTO NASCER
Rua Cícero Ferreira, 81- Serra.
Informações: (31) 3262-3538
FIT MAMÃE NA ACADEMIA A2
Rua Guaicui, 660 - Luxemburgo.
Informações: (31) 3293.8632
"Os benefícios vão além do físico" - Cláudia Heringer, educadora física (Maíra Cabral / EM / D. A. Press)