EUA anunciam R$ 388 milhões para pesquisas sobre o zika
Cientistas investigam como age o vírus que está associado aos casos de microcefalia no Brasil e buscam vacina. OMS faz alerta à Europa sobre alta propagação da doença
AFP - Agence France-Presse
Publicação:30/01/2016 07:55Atualização: 30/01/2016 08:00
Miami – O governo dos Estados Unidos anunciou a criação de um fundo de US$ 97 milhões – equivalente a R$ 388 milhões – para financiar diversos estudos sobre o vírus zika: desde como o contágio ocorre até sobre qual a melhor forma de controlar o mosquito que o transmite, o Aedes aegypti, causador também da dengue e das febres chikungunya e do nilo. No início da semana, o presidente dos EUA, Barack Obama, havia sinalizado com a possibilidade de contribuir com pesquisadores brasileiros que cuidam do tema.
“Na medida em que o zika vírus continua a se espalhar pela América, o risco de que viajantes infectados entrem na Europa aumenta. Casos importados foram registrados em vários países europeus”, confirmou a OMS, em uma referência a casos na Suíça, na Alemanha, na Espanha, na Itália e em outros países. “Ainda que o mosquito Aedes esteja presente em vários países europeus, especialmente no Mediterrâneo, as atuais condições climáticas não são adequadas para suas atividades”, acrescentou o órgão em nota. A sugestão da organização é que os governos “fortaleçam o controle dos vetores, façam monitoramento e preparem laboratórios para detectar o vírus e complicações neurológicas, assim como a comunicação sobre o zika”.
Enquanto o vírus continua sua rápida propagação pelo continente americano – a mesma OMS previu, esta semana, a contaminação de 3 milhões a 4 milhões de pessoas nas Américas –, cientistas e especialistas correm contra o tempo para tentar entender como prevenir, tratar e diagnosticar a nova ameaça transmitida pelo Aedes. Não há vacina contra o zika, que está sendo associado à microcefalia, anomalia cerebral em recém-nascidos, e a casos de síndrome de Guillain-Barré, doença neurológica que provoca fraqueza muscular e paralisia em membros do corpo.
Casos de zika relacionados à microcefalia começaram no Brasil, no fim do ano passado, mais precisamente em Pernambuco. O último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde brasileiro na quarta-feira confirma 270 crianças com microcefalia por infecção congênita, mas não necessariamente causada pelo zika. Estão sob investigação 3.448 casos suspeitos. Os números referem-se a registros de outubro de 2015 ao dia 20 deste mês. Além do zika, a microcefalia pode ter como causa diversos agentes infecciosos, como sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes viral.
Mesmo diante da urgência do mundo por uma vacina contra o zika, ela não estará disponível tão cedo, segundo Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid) dos Estados Unidos. “Esse é um vírus novo, portanto, até hoje não havíamos feito nada a respeito dele”, disse. Novo, novo, o zika não é. Ele foi identificado pela primeira vez em 1947, e provocou seu primeiro caso em humanos em 1952, em Uganda. Mas a maioria dos registros foram leves, com febre e vermelhidão dos olhos em alguns casos mais raros. O fato é que as autoridades de saúde só perceberam sua existência quando da ocorrência de um surto na ilha de Yap, na Micronésia, no Pacífico, em 2007.
De acordo com Fauci, “a vantagem é que já há plataformas de vacinas para usar como um tipo de trampolim”, mencionando duas linhas de pesquisa baseadas em estudos anteriores sobre vacinas para os vírus da dengue e febre do nilo ocidental.
A subdiretora geral do Centro Nacional de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, Anne Schuchat, disse que a relação da rápida propagação do zika e seu efeito nas gravidezes é que deve ser alvo das ações neste momento. Há pesquisadores pedindo foco na prevenção de picadas de mosquitos, principalmente em áreas empobrecidas. “Novos estudos sobre tecnologia, como inseticidas, mosquitos geneticamente modificados, uso de mosquiteiros e desparasitação com ivermectina, devem ser vistos como medidas potenciais para prevenir o vírus e matar o mosquito transmissor”, comentou Peter Hotez, reitor da Escola Nacional de Medicina Tropical do Baylor College of Medicine.
Inovação
Um dos grandes temores atuais relacionados ao zika vírus refere-se aos Jogos Olímpicos 2016, no Rio de Janeiro. Organizadores do evento minimizam os riscos e lembram que agosto, quando as competições serão realizadas, é o mês mais frio e seco do ano, o que dificulta a reprodução dos mosquitos.
Mas Gubbio Soares, virologista da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que isolou pela primeira vez o zika no Brasil, em abril passado, discorda. “Os milhões de pessoas vão coincidir com os milhões de mosquitos. Não diria que ameaçará os jogos, mas vai ser uma fonte de infecção. O grande pecado do Brasil é que o governo brasileiro não combateu o mosquito. E ninguém esperava que um vírus como esse chegaria ao Brasil e se expandiria dessa maneira”, lamenta.
Entre as possibilidades que o virologista enumera para combater o Aedes estão o desenvolvimento de novos produtos contra as larvas que sejam menos contaminantes e o uso de bactérias e mosquitos transgênicos. “Essa tecnologia está sendo desenvolvida no Brasil e permitiria reduzir a população dos insetos pelo cruzamento entre fêmeas selvagens e machos geneticamente modificados que gerariam uma prole incapaz de chegar à vida adulta e se reproduzir. Mas, antes de tudo, precisamos melhorar as condições sanitárias da população. A maioria dos mosquitos hoje se reproduz dentro de casa.”
O Aedes aegypti é também transmissor da dengue e das febres chikungunya e do nilo
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“Na medida em que o zika vírus continua a se espalhar pela América, o risco de que viajantes infectados entrem na Europa aumenta. Casos importados foram registrados em vários países europeus”, confirmou a OMS, em uma referência a casos na Suíça, na Alemanha, na Espanha, na Itália e em outros países. “Ainda que o mosquito Aedes esteja presente em vários países europeus, especialmente no Mediterrâneo, as atuais condições climáticas não são adequadas para suas atividades”, acrescentou o órgão em nota. A sugestão da organização é que os governos “fortaleçam o controle dos vetores, façam monitoramento e preparem laboratórios para detectar o vírus e complicações neurológicas, assim como a comunicação sobre o zika”.
Enquanto o vírus continua sua rápida propagação pelo continente americano – a mesma OMS previu, esta semana, a contaminação de 3 milhões a 4 milhões de pessoas nas Américas –, cientistas e especialistas correm contra o tempo para tentar entender como prevenir, tratar e diagnosticar a nova ameaça transmitida pelo Aedes. Não há vacina contra o zika, que está sendo associado à microcefalia, anomalia cerebral em recém-nascidos, e a casos de síndrome de Guillain-Barré, doença neurológica que provoca fraqueza muscular e paralisia em membros do corpo.
Casos de zika relacionados à microcefalia começaram no Brasil, no fim do ano passado, mais precisamente em Pernambuco. O último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde brasileiro na quarta-feira confirma 270 crianças com microcefalia por infecção congênita, mas não necessariamente causada pelo zika. Estão sob investigação 3.448 casos suspeitos. Os números referem-se a registros de outubro de 2015 ao dia 20 deste mês. Além do zika, a microcefalia pode ter como causa diversos agentes infecciosos, como sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes viral.
Mesmo diante da urgência do mundo por uma vacina contra o zika, ela não estará disponível tão cedo, segundo Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid) dos Estados Unidos. “Esse é um vírus novo, portanto, até hoje não havíamos feito nada a respeito dele”, disse. Novo, novo, o zika não é. Ele foi identificado pela primeira vez em 1947, e provocou seu primeiro caso em humanos em 1952, em Uganda. Mas a maioria dos registros foram leves, com febre e vermelhidão dos olhos em alguns casos mais raros. O fato é que as autoridades de saúde só perceberam sua existência quando da ocorrência de um surto na ilha de Yap, na Micronésia, no Pacífico, em 2007.
De acordo com Fauci, “a vantagem é que já há plataformas de vacinas para usar como um tipo de trampolim”, mencionando duas linhas de pesquisa baseadas em estudos anteriores sobre vacinas para os vírus da dengue e febre do nilo ocidental.
A subdiretora geral do Centro Nacional de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, Anne Schuchat, disse que a relação da rápida propagação do zika e seu efeito nas gravidezes é que deve ser alvo das ações neste momento. Há pesquisadores pedindo foco na prevenção de picadas de mosquitos, principalmente em áreas empobrecidas. “Novos estudos sobre tecnologia, como inseticidas, mosquitos geneticamente modificados, uso de mosquiteiros e desparasitação com ivermectina, devem ser vistos como medidas potenciais para prevenir o vírus e matar o mosquito transmissor”, comentou Peter Hotez, reitor da Escola Nacional de Medicina Tropical do Baylor College of Medicine.
Inovação
Um dos grandes temores atuais relacionados ao zika vírus refere-se aos Jogos Olímpicos 2016, no Rio de Janeiro. Organizadores do evento minimizam os riscos e lembram que agosto, quando as competições serão realizadas, é o mês mais frio e seco do ano, o que dificulta a reprodução dos mosquitos.
Mas Gubbio Soares, virologista da Universidade Federal da Bahia (UFBA), que isolou pela primeira vez o zika no Brasil, em abril passado, discorda. “Os milhões de pessoas vão coincidir com os milhões de mosquitos. Não diria que ameaçará os jogos, mas vai ser uma fonte de infecção. O grande pecado do Brasil é que o governo brasileiro não combateu o mosquito. E ninguém esperava que um vírus como esse chegaria ao Brasil e se expandiria dessa maneira”, lamenta.
Entre as possibilidades que o virologista enumera para combater o Aedes estão o desenvolvimento de novos produtos contra as larvas que sejam menos contaminantes e o uso de bactérias e mosquitos transgênicos. “Essa tecnologia está sendo desenvolvida no Brasil e permitiria reduzir a população dos insetos pelo cruzamento entre fêmeas selvagens e machos geneticamente modificados que gerariam uma prole incapaz de chegar à vida adulta e se reproduzir. Mas, antes de tudo, precisamos melhorar as condições sanitárias da população. A maioria dos mosquitos hoje se reproduz dentro de casa.”