Mães de bebês com microcefalia sofrem com a dor do preconceito
Além de lidar com a rotina de tratamento de um filho com a malformação, mulheres são vítimas de comentários intolerantes
Alice de Souza - Diario de Pernambuco
Publicação:19/02/2016 09:56Atualização: 19/02/2016 10:09
Rayana não precisou ir muito longe para descobrir que o preconceito existe. Foi no seio familiar que ouviu frases como “seu filho é um doente, um babão” direcionadas ao filho de quatro meses. “Sinto muita raiva, principalmente porque acontece dentro de casa. Sempre respondo que meu filho não tem nada. A gente enfrenta assim, cortando e pronto”, explica.
O preconceito se apresenta de diversas formas. Dentre as situações mais corriqueiras, estão olhares abusivos, fotos indesejadas e perguntas inconvenientes. “As pessoas ficam perguntando se anda, se fala, se escuta”, afirma Rayana. Questionamentos que sempre vêm acompanhados de um sonoro “Bichinho, né?”.
Esse tipo de comportamento reflete uma sociedade onde são valorizados determinados padrões, explica a professora adjunta do Departamento de Psicologia e Orientação Educacional da UFPE Tícia Cavalcante. “Há uma visão social do que é belo, ‘normal’. As diferenças não são aceitas. Há ainda uma segregação histórica das pessoas com deficiência no Brasil, de sempre associar isso a uma doença. Quando, na verdade, a deficiência é uma condição. Isso implica até nas famílias, pois muitas vêem a situação como uma cruz”, explicou.
A descoberta da maternidade para Marcela Rodrigues, 19, veio acompanhada do medo. Vencer os próprios receios foi uma vitória. “Chorei muito inicialmente, mas depois me acalmei”, conta ela, que ainda não conseguiu afastar de vez a tristeza diante do medo do preconceito que o filho de dois meses sofre.
Como na maioria dos pré-julgamentos diante do diferente, muitas vezes a discriminação acontece de forma velada. “Minha mãe estava com meu filho no braço quando uma vizinha virou para o motorista do carro e disse ‘cuidado, visse, com a cabecinha de microcefalia’, relata Marcela. Entre ela e o marido, o trato é não deixar de fazer nada por causa disso. “Não deixo de sair com o bebê para canto nenhum.”
Enquanto Marcela acredita na força de sua presença, Rayana encontrou uma forma simples de permanecer acreditando na bondade das pessoas. Observar a relação do filho mais velho, de quatro anos, com o pequeno. A criança faz questão de contar a todo mundo que ganhou um irmão. Beija, abraça e diz que ama muito.
A avó Josefa Valdemar segura a neta que tem microcefalia e dá apoio à filha para superar as dificuldades. (Foto: Julio Jacobina/ DP)
Saiba mais...
As barreiras para cuidar do filho com microcefalia são muitas na vida da auxiliar de cozinha Rayana Silva, 23. Acordar de madrugada para pegar o ônibus de Arcoverde ao Recife, em Pernambuco, percorrer hospitais, esperar até 15 horas com o filho no colo para voltar para casa. Diante de todas as dificuldades, uma é ainda difícil de superar: o preconceito. Situações de discriminação têm sido frequentes na rotina das mães de bebês com a malformação.- Brasil tem 5 casos de Guillain-Barré por dia
- Novas evidências relacionam zika vírus à microcefalia
- Pernambuco registra mais um caso de gêmeos em que só um tem microcefalia
- OMS lança plano de US$ 56 milhões para combater zika vírus
- Um vencedor: belorizontino lutador de taekwondo derrota a microcefalia
- Principal teste para detectar zika custa até R$ 1,6 mil e não é coberto por planos
- Pesquisa investiga se outros fatores associados ao zika causam microcefalia
- Especialista afirma que transmissão de zika por doação de sangue é rara
- Zika: o que já se sabe e o que ainda falta saber sobre a doença
- Ministério admite ligação com zika em 40% das notificações de microcefalia
- Empresa dos EUA informa que vacina contra zika funciona em ratos
Rayana não precisou ir muito longe para descobrir que o preconceito existe. Foi no seio familiar que ouviu frases como “seu filho é um doente, um babão” direcionadas ao filho de quatro meses. “Sinto muita raiva, principalmente porque acontece dentro de casa. Sempre respondo que meu filho não tem nada. A gente enfrenta assim, cortando e pronto”, explica.
O preconceito se apresenta de diversas formas. Dentre as situações mais corriqueiras, estão olhares abusivos, fotos indesejadas e perguntas inconvenientes. “As pessoas ficam perguntando se anda, se fala, se escuta”, afirma Rayana. Questionamentos que sempre vêm acompanhados de um sonoro “Bichinho, né?”.
Esse tipo de comportamento reflete uma sociedade onde são valorizados determinados padrões, explica a professora adjunta do Departamento de Psicologia e Orientação Educacional da UFPE Tícia Cavalcante. “Há uma visão social do que é belo, ‘normal’. As diferenças não são aceitas. Há ainda uma segregação histórica das pessoas com deficiência no Brasil, de sempre associar isso a uma doença. Quando, na verdade, a deficiência é uma condição. Isso implica até nas famílias, pois muitas vêem a situação como uma cruz”, explicou.
A descoberta da maternidade para Marcela Rodrigues, 19, veio acompanhada do medo. Vencer os próprios receios foi uma vitória. “Chorei muito inicialmente, mas depois me acalmei”, conta ela, que ainda não conseguiu afastar de vez a tristeza diante do medo do preconceito que o filho de dois meses sofre.
Como na maioria dos pré-julgamentos diante do diferente, muitas vezes a discriminação acontece de forma velada. “Minha mãe estava com meu filho no braço quando uma vizinha virou para o motorista do carro e disse ‘cuidado, visse, com a cabecinha de microcefalia’, relata Marcela. Entre ela e o marido, o trato é não deixar de fazer nada por causa disso. “Não deixo de sair com o bebê para canto nenhum.”
Enquanto Marcela acredita na força de sua presença, Rayana encontrou uma forma simples de permanecer acreditando na bondade das pessoas. Observar a relação do filho mais velho, de quatro anos, com o pequeno. A criança faz questão de contar a todo mundo que ganhou um irmão. Beija, abraça e diz que ama muito.