SAIU NO CORREIO BRAZILIENSE

Quebrando barreiras contra o preconceito

Exposição fotográfica destaca histórias de soropositivos que enfrentam a discriminação contra a Aids, têm qualidade de vida e estão empenhadas em conscientizar a sociedade sobre a doença


Camila de Magalhães -

Publicação: 03/12/2014 11:21 | Atualização: 03/12/2014 12:12

Matéria publicada no caderno Cidades do Correio Braziliense em 3 de dezembro de 2014

Pais e filhos visitam a exposição: momento de mergulhar nas vidas de pessoas soropositivas (Minervino Junior/CB/D.A Press)
Pais e filhos visitam a exposição: momento de mergulhar nas vidas de pessoas soropositivas

Um convite para conhecer o cotidiano de João Marcos, Mara, Cláudio, Margarete, José Hélio, Beatriz e tantos outros guerreiros que vivem pelo Brasil. Pessoas com sonhos, desejos e vontade de viver com saúde, liberdade e dignidade. A vida deles, que têm em comum o fato de serem pessoas com HIV, está retratada na exposição Umnovo olhar para a Aids no Brasil: Uma realidade aumentada.

Até 15 de dezembro, quem for à Biblioteca Nacional de Brasília terá a oportunidade de mergulhar em histórias reais de advogados, arquitetos, cantores, seguranças, ativistas e aposentados, entre outros profissionais de seis cidades, que aceitaram compartilhar sua realidade e mostrar o rosto para o mundo como forma de quebrar as barreiras do preconceito. A realização é da ONG Amigos da Vida e conta com apoio da Fundação Assis Chateaubriand.

O desafio de capturar esses momentos ficou com o fotógrafo Gabriel Mestrochirico, que viajou durante dois meses por Manaus, Fortaleza, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul à procura de personagens soropositivos. Segundo ele, vários aceitavam conversar, mas a maioria, quando sabia que as imagens iriam para uma exposição, desistiam. “A parte mais difícil era fazer com que as pessoas entendessem que esse trabalho era justamente para fazer esse preconceito diminuir. Se todo mundo mostrar o rosto, não há razão para ter preconceito, porque todo mundo vai identificar alguém com HIV próximo de si, assim como há pessoas com gripe, pneumonia.”

Entretanto, pessoas como a advogada aposentada de Porto Alegre Beatriz Pacheco, 65 anos, fizeram questão de tornar público o caso. Mãe e avó, ela descobriu que havia sido infectada pelo HIV no fim dos anos 1990 ao identificar um problema de pele. Um dermatologista, ao ver as feridas no corpo dela, solicitou um teste de HIV/Aids. Beatriz estava casada havia um ano com o terceiro marido e resistiu muito no início, por ter um parceiro fixo e não se considerar “promíscua”. Quando recebeu o resultado do teste, ficou descrente. O marido também fez o exame e deu negativo. Diante da situação, o casal se uniu mais e encarou a luta. Desde então, viaja pelo Brasil e o mundo num trabalho de prevenção, com palestras e seminários. “Minha dica é que as pessoas não desistam de ser felizes. É difícil, sim, viver com HIV, porém, existe vida. Não é fácil, o preconceito é muito grande, as medicações são pesadas. Mas não desistir da luta é a única maneira que se tem.”

Beatriz Pachecho e o fotógrafo Mestrochirico (acima): coragem para registrar histórias. Diferencial da exposição é a interatividade por meio de tablets e smartphones (Minervino Junior/CB/D.A Press)
Beatriz Pachecho e o fotógrafo Mestrochirico (acima): coragem para registrar histórias. Diferencial da exposição é a interatividade por meio de tablets e smartphones

Um diferencial da exposição é que é possível interagir com as fotos e saber mais sobre as pessoas fotografadas. Com um aplicativo disponível para smartphones e tablets, basta apontar para algumas das imagens identificadas que aparecem em vídeo pessoas dando seu depoimento. “Dessa forma, você cria uma outra dimensão e já olha para a mesma fotografia com um olhar diferente”, explica o curador Clausem Bonifácio. "Está lançado um novo olhar sobre a Aids no Brasil, onde a máxima é a seguinte: antes nós nos escondíamos para morrer e agora nos mostramos para viver”, completou Christiano Ramos, presidente da ONG Amigos da Vida.

 

Para a superintendente executiva da Fundação Assis Chateaubriand, Mariana Borges, revelar essas realidades e conscientizar as pessoas para a importância da prevenção é fundamental.“A Aids é um grande problema mundial e o combate à disseminação da doença está previsto em um dos oito objetivos do milênio definidos pela ONU. É preciso unir forças nessa luta, mas também combater o preconceito e incluir as pessoas que vivem com HIV na sociedade", ressaltou.

 

Exposição | Um novo olhar sobre a Aids no Brasil – Uma realidade aumentada
Visitação pública: até 15 de dezembro
Horários: segunda a sexta-feira, das 8h às 19h45.
Sábados e domingos, das 8h às 14h
Local: Biblioteca Nacional de Brasília
Informações: www.amigos.org.br/exposicao