SAÚDE EM REDE

Como a tecnologia pode ser aliada da saúde

Sites, redes sociais e aplicativos de credibilidade têm papel revelante para informação, conscientização e prevenção de doenças


Camila de Magalhães -

Publicação: 30/01/2015 19:47 | Atualização: 02/02/2015 19:16

Uma tendência que merece olhar especial e pode melhorar a qualidade de vida é o autocuidado para prevenção de doenças. Manter-se informado, repensar algumas ideias, compreender os riscos que envolvem cada situação e faixa etária são atitudes que podem desafogar hospitais e centros de saúde. E uma ferramenta poderosa, que funciona como grande aliada, é a Internet, com seus sites, redes sociais e aplicativos.

 

 

O médico Ricardo Cabral, consultor da Fundação Assis Chateaubriand, atua diretamente na área de tecnologias para a saúde e defende um papel proativo da sociedade, levando as pessoas do papel de paciente para agente. “O sistema de saúde é hospitalocêntrico e cuidadocêntrico, as pessoas esperam ter um problema e buscam que o sistema provenha serviços para a cura, porém o sistema faliu do ponto de vista financeiro e de qualidade”, observa.

Na avaliação dele, não se deve buscar o sistema de saúde todos os dias para “uma solução mágica”. Cabral acredita que uma vida saudável é resultado da construção dos nossos hábitos diários. “A saúde é um objeto do cidadão, que deve ser o ator principal da sua saúde, com conhecimento para fazer as melhores escolhas. Esta é uma atitude inteligente e que não sobrecarrega o sistema. É fundamental que o cidadão adquira informações, faça suas escolhas e adote melhores hábitos. Por exemplo, é comprovado que quem faz mamografia de prevenção morre menos do que as pessoas que não fazem o exame e descobrem o câncer num estágio avançado. Queremos que o sujeito seja dono de suas escolhas e saiba seu calendário de ações preventivas”, alerta.

A tecnologia, cada vez mais acessível, é um instrumento eficiente para a aquisição de conhecimento. Há plataformas, por exemplo, como a Rede Mães de Minas, desenvolvida pela Fundação Assis Chateaubriand e dedicada à educação de gestantes e mães de bebês. Trata-se de um site com recursos de rede social que permite a troca de experiências e disponibiliza aplicativos funcionais diversos. “Quando a pessoa responde a um questionário on-line, desenvolvido por uma equipe de credibilidade, percebe se o risco é maior ou menor e transforma esse dado em conhecimento que pode gerar ação”, exemplifica Ricardo Cabral.

Os resultados da Rede Mães de Minas são positivos, com mais de 4,5 milhões de visitas em dois anos e cerca de 17 mil membros na rede social. A partir da interação com especialistas em saúde, são em média três encaminhamentos para serviços hospitalares por dia. A relação criada entre os moderadores e os pacientes é um contato diferenciado e particularizado.

 

A Rede Mães de Minas também está no Facebook. Siga e saiba mais. 

 

Cuidado com os extremos


No entanto, é preciso ter cautela. A prevenção não significa automedicação ou uma solução pré-pronta, pois a responsabilidade pela própria saúde depende de algumas premissas. E uma das mais importantes é a informação de qualidade.

“A pessoa precisa estar bem informada para que tenha uma conversa boa com o médico e possa tomar decisões junto com ele”, ressalta o consultor da Fundação Assis Chateaubriand. “A gente sabe que o Google é um grande buscador de conteúdo que mudou todo o conceito de informação, mas na verdade aquela informação nem sempre é segura.” A dica é buscar portais e sites de saúde confiáveis. Credibilidade e reputação são dois requisitos essenciais.

Mais do que só informar, o trabalho do médico Ricardo Cabral busca fazer com que as pessoas interajam. De acordo com ele, estudos científicos que demonstram que 8% dos pacientes que estão em redes sociais se adequam melhor ao tratamento quimioterápico do que os pacientes desconectados. “Um dos mecanismos é a educação entre pares. Às vezes, mais do que a opinião que eu possa expressar sobre um tratamento, é importante trocar experiências. Entrar num fórum sobre aquele tratamento, aquela doença é importante porque as pessoas vão se sentir reconhecidas por pares.”

Reconhecimento do risco

Outra estratégia é que as pessoas se reconheçam no risco. Alguém só vai mudar um comportamento, rever hábitos e tomar atitudes, como entrar num grupo de caminhada, caso se reconheça em um grupo de risco cardiovascular, por exemplo. “A mudança depende de energia e vontade. E onde você vai ver isso? A gente criou painéis de informação que mostra o risco que se corre em um gráfico, por exemplo. Essas são estratégias cognitivas e interativas para que a pessoa faça questionamentos sobre seu caso a partir dos resultados”, diz Cabral.

Jovens e HIV

Apesar de os jovens estarem sempre ligados na Internet, afirma o médico, os números de infectados por HIV estão aumentando. “Eles estão conectados, mas isso não está sendo revertido em informação para a saúde. Todo mundo sabe que tem que usar camisinha, porém interiorizar esse conhecimento vai além. Por isso, as estratégias cognitivas têm que ser dinâmicas e diversas para que não só a informação esteja lá, disponível, mas que haja interação e a percepção da importância disso, com aplicativos de celular”, reforça. “A gente precisa de um trabalho que seja apoiado não só por um grupo, e sim que tenha envolvimento de todos, inclusive dos grandes grupos de mídia para fomentar e ajudar a divulgar. Buscar por uma saúde melhor é uma questão social, ecológica e altamente sustentável”, conclui Cabral.

 

Assista à entrevista do médico Ricardo Cabral ao programa Opinião Minas