TERCEIRO SETOR

O terceiro setor tem papel de vanguarda e motiva a sociedade

Pesquisador da UnB, Ricardo Wahrendorff Caldas destaca a importância das organizações sem fins lucrativos e fala do cenário do terceiro setor em Brasília


Camila de Magalhães -

Publicação: 02/03/2015 18:01 | Atualização: 02/03/2015 17:32

A cada ano, a sociedade brasileira vem se mobilizando mais em prol de mudanças nas várias esferas sociais. A busca pela melhoria das condições de vida da população é o que norteia o trabalho desenvolvido por milhares de organizações da sociedade civil que compõem o terceiro setor da economia.

Dados da última pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que em 2010 o número de fundações privadas e associações sem fins lucrativos era de 290,7mil, o que representava mais da metade (52,2%) do total de 556,8 mil entidades sem fins lucrativos e uma parte significativa (5,2%) do total de 5,6 milhões de entidades públicas e privadas, lucrativas e não lucrativas cadastradas pelo IBGE.

No Distrito Federal, de 2006 para 2010, houve um aumento de 17,1% no número de fundações privadas e associações sem fins lucrativos. Em 2010, eram 4.371 entidades. Desse total, cerca de 40% realizam projetos voltados para o desenvolvimento social (veja o quadro). A área de cultura e recreação é a que conta com maior número de unidades locais dessas entidades: 441. Em segundo lugar, vem a área de desenvolvimento e defesa de direitos (413), seguida de educação e pesquisa (398), assistência social (388) e saúde (76).



Papel motivacional

Essas instituições realizam um trabalho importante no Distrito Federal e têm boas possibilidades de crescer e atingir um número ainda maior de beneficiados. Para Ricardo Wahrendorff Caldas, professor responsável pela cadeira de Políticas Públicas do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), o terceiro setor pode ter um papel de vanguarda, existe para fazer a diferença. “Você chega em uma comunidade deprimida economicamente, começa a fazer um trabalho, como um laboratório de costura ou reciclagem, e as pessoas começam a perceber oportunidades que não tinham percebido antes”, exemplifica.

'O principal efeito do terceiro setor é estimular outros a seguirem uma ideia nova, plantando-se várias sementes', afirma Wahrendorff (Iano Andrade/CB/D.A Press)
'O principal efeito do terceiro setor é estimular outros a seguirem uma ideia nova, plantando-se várias sementes', afirma Wahrendorff

Nesse sentido, o especialista defende que o principal efeito da atuação do terceiro setor é motivacional. “É estimular outras pessoas a seguirem aquela direção, como um pioneiro que quer criar uma nova cidade e inaugura a pedra fundamental. O principal efeito, sem entrar no método de cada instituição, em geral, é estimular outros a seguirem uma ideia nova, mostrar que é possível fazer alguma coisa, plantando-se várias sementes”, destaca Wahrendorff.

“Não digo que a função do terceiro setor é substituir o Estado, mas ir na vanguarda para mostrar ao Estado que aquelas certas ações são necessárias, chamar a atenção para onde há uma lacuna ou onde o Estado não tem condições de atuar. A partir daí, o Estado começa a atuar como parceiro financiador e começa a criar políticas públicas consolidadas naquele sentido”, avalia.

 

Para a superintendente executiva da Fundação Assis Chateaubriand, Mariana Borges, a responsabilidade sobre as necessidades da sociedade deve ser compartilhada. “Cada setor deve fazer a sua parte e unir esforços para a melhoria da qualidade de vida da população”, defende.

Principais desafios

Os maiores desafios do terceiro setor no Distrito Federal, na avaliação de Ricardo Wahrendorff Caldas, são a profissionalização das organizações – que ainda não atingiram os níveis de São Paulo e Rio de Janeiro – e a melhora da articulação com os setores público e privado.

Para ele, há espaço para se ampliar o investimento social privado em prol de ações mais efetivas. “Conheço casos de projetos culturais criados, em que se procurou a família da pessoa homenageada e não houve interesse da própria família. Foi uma coisa que até me surpreendeu, há um certo provincianismo, uma dificuldade do segmento empresarial se não estiver gerindo um projeto desde o início, meio e fim. Mas isso pode melhorar”, observa o pesquisador da UnB. Também é preciso melhorar a questão das doações para organizações da sociedade civil. “O setor privado em Brasília é muito concentrado e ainda não tem enraizada a tendência de doação de recursos”, afirma Wahrendorff.