Será que casar muito jovem dá certo? Veja o que deve ser analisado antes de dizer 'sim'
Para especialistas, a experiência de viver sob o mesmo teto logo depois da adolescência é um desafio que exige uma boa dose de maturidade
Esta matéria está dividida em três partes. Leia também:
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“A única vantagem (de se casar jovem) seria poder comemorar bodas de ouro sem rugas”, brinca a psicóloga. Brincadeiras à parte, a especialista pondera que, talvez, esses jovens tenham convicção de já terem encontrado a pessoa certa — logo, “perder tempo” seria desnecessário. Maduros ou não, todos precisam se preparar, psicológica e financeiramente, para a mudança de vida. “Quem vai dizer quem está certo será o tempo”, conclui a especialista.
Pensar na parte prática da vida ajuda a entender se o momento é o ideal para trocar alianças. Saber que os gastos vão aumentar ajuda a “clarear os aspectos emocionais” do novo arranjo, segundo a psicóloga Marisa de Abreu. Ter em mente que a relação em si não será mais a mesma também evita futuros aborrecimentos. “A convivência diária muda muito a forma como nos relacionamos com o namorado que víamos apenas no fim de semana”, completa Abreu.
Encontrar a pessoa certa é uma sensação maravilhosa, mas nem sempre é o romantismo que impulsiona o casório precoce. Lorena Noronha, psicóloga e terapeuta de casais, diz que a maior parte dos nubentes mais jovens que recebe em seu consultório resolveram casar por conta de gravidez indesejada. “Existe também o fator de querer sair da casa dos pais”, completa. Muitas vezes, ela diz, fica difícil pagar a conta da ‘brincadeira de casinha’. “Ter uma casa própria não é a mesma coisa que brincar de casinha, e casar não é o mesmo que ter um namorado”, justifica Noronha.
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“Percebemos que gostamos da experiência — ficar juntos o tempo inteiro e compartilhar todos os momentos. A partir dali, começamos a nos planejar e preparar as nossas famílias”, completa Carolina. No início, todos os parentes acharam a decisão precipitada. Para a mãe da noiva, tudo não passava de uma fase que não deveria ser levada a sério. Com o tempo, porém, o plano do casamento começou a amadurecer e a ganhar credibilidade entre os familiares.
O lado financeiro ainda preocupa. Atualmente, Carolina está se dedicando aos estudos, enquanto Felipe, que trabalha com telefonia empresarial, segura as contas da casa. “Nosso plano é eu me formar primeiro e, depois, ele investir na educação dele”, conta Carolina. Ela acredita que manter o casamento, mesmo começando tão jovem, é possível. “Meus pais se casaram com 20 anos e estão juntos até hoje. Na época, era normal. Hoje, as pessoas acham que casais de 20 anos são crianças”, observa. Segundo ela, o salário de Felipe é suficiente para sustentá-los sem precisar da ajuda da família.
Ambos citam como maior benefício do casamento a intimidade do casal e a independência em relação aos pais. “Hoje em dia, tomamos nossas decisões e pensamos em conjunto. Mas tudo tem que ser feito com planejamento.” Os projetos incluem comprar uma casa e ter filhos. “A gente já está juntando dinheiro para isso. Quando a Carol começar a trabalhar, a situação vai ficar bem melhor”, diz Felipe.
Saber o momento certo de se casar não é simples, mesmo para quem não é mais tão novo.
Veja o que deve ser analisado antes de dizer “sim”:
-Tenha clareza com relação às consequências práticas da decisão. Saiba que a vida vai mudar em todos os sentidos: financeira, social e emocionalmente.
-Calcule, faça planilhas, planeje-se: coloque no papel gastos como deslocamento, alimentação, aluguel e não se esqueça de guardar um pouco na poupança.
-Coloque no planejamento financeiro quanto há disponível para custos básicos bem como para passeios e viagens.
-Cuidado com o mito “casados e felizes para sempre”. Lembre-se que o mais difícil não é encontrar um(a) parceiro(a), mas reconhecer que relações amorosas, antes de qualquer coisa, precisam ser olhadas e cuidadas.
-A relação não ficará congelada: o casamento é duradouro e as pessoas mudam. As pessoas não avançam somente na idade, mas na profissão, passam a ser pais, trocam de hobby, criam novos laços de amizades, enfrentam doenças e mortes significativas, perda de emprego entre (muitas) outras mudanças.
-Reduza as despesas ao máximo. Leve em consideração quais são as maiores fontes dos gastos — na sua grande maioria, são empréstimos e carros.
-O ponto básico das finanças é não gastar mais do que se ganha. A renda mensal deve cobrir os gastos e ainda sobrar para controle e garantia.
-Trace uma meta dos planos em conjunto. É importante fazer um planejamento para o casal investir.
Fontes: Marisa de Abreu, psicóloga e terapeuta de casais; Ana Reis, terapeuta de casais e de família; Beto Veiga, advogado.
De acordo com o último levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), feito em 2011, os casamentos com pouca idade já foram mais populares. Veja a porcentagem de casamentos entre os novinhos:
15 a 19 anos
A maior porcentagem de casamentos registrada nessa faixa-etária ocorreu em 2004: 18,71%.
A menor ocorreu em 2011: 12,78%.
20 a 24 anos
A maior porcentagem de casamentos registrada nessa faixa-etária ocorreu em 2003: 32,7%.
A menor ocorreu em 2011: 25,38%.