SAÚDE EM REDE

Pesquisas revelam o que os jovens pensam sobre a Aids

Falta de informação é a maior vilã da banalização da doença. Preconceito contra quem tem o vírus também preocupa. Especialistas avaliam a situação


Camila de Magalhães -

Publicação: 02/03/2015 18:03 | Atualização: 02/03/2015 19:49



A falta de informação, aliada ao uso de álcool e drogas e o pensamento de que não estão vulneráveis, leva a atitudes e comportamentos que expõem a saúde sexual e reprodutiva de boa parte dos jovens brasileiros. Isso reflete no aumento do número de casos de soropositivos no Brasil, que está diretamente relacionado ao nível de conhecimento sobre HIV/Aids. Para entender melhor o comportamento de jovens de 18 a 29 anos no país, o Instituto Caixa Seguradora realizou pesquisas, entre 2012 e 2014, em parceria com a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) e o Ministério da Saúde. Foram analisadas 1.208 entrevistas com jovens dessa faixa etária em 16 unidades da Federação, sendo 55% deles mulheres e 45% homens.

 

 

 

 

Quatro entre 10 jovens brasileiros acreditam não ser necessário usar camisinha em um relacionamento estável, de acordo com o estudo Juventude, Comportamento e DST/Aids (veja a pesquisa completa). Além disso, mostrou-se falta de conhecimento sobre as forma de transmissão do HIV/Aids: um em cada cinco considera ser possível contrair a doença se usar os mesmos talheres e/ ou copos de outras pessoas. E 15% acham que doenças como dengue, malária, hanseníase ou tuberculose são Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs). Muitos acreditam que o vírus não é transmitido na primeira relação sexual, entre outros mitos.

 (Arquivo Coletivo de Expressão/Instituto Caixa Seguradora)
Outro dado que impressiona é que 42% não sabem que a camisinha é o único método que previne gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. É o que identificou o estudo Saúde Sexual e Reprodutiva dos Jovens Brasileiros. “Foi bem chocante, muitos engravidam e abortam, o que gera um impacto grande na mortalidade materna, único índice que Brasil não conseguiu reduzir entre as metas do milênio estabelecidas pelas Nações Unidas. A realidade é bastante difícil, não há muito apoio, existe um trabalho no silêncio, na margem”, observa Alice Scartezini, coordenadora de Marketing Social do Instituto Caixa Seguradora.


Barreira para o desenvolvimento sustentável

A falta de informação é preocupante, na opinião de Alice Scartezini. “Muitos jovens não têm nível crítico de prevenção. A saúde sexual é uma das grandes barreiras para o desenvolvimento sustentável no mundo, pois há um conservadorismo muito forte e políticas de saúde esvaziadas”, avalia. “O contexto dificulta tratar o assunto e tem impacto direto na saúde mental, com jovens deprimidos, isolados, sem estrutura de apoio para enfrentar problemas. O suicídio é a terceira causa de morte no país, assunto que não pode ser falado. É algo bastante complicado de administrar.”

A coordenadora defende a necessidade de se focar em diálogos com a juventude, serviço de prevenção, informação de qualidade e dados científicos que ofereçam o empoderamento para o sexo seguro. “Espera-se da juventude um comportamento que ainda não é fomentado. Não se fala na família, na escola, fica entre os pares. Quando o jovem é estimulado, ele traz informação e questiona. Para exigir direitos, ele precisa ter informação segura”, afirma Alice. Ela reforça que é ainda é preciso muito esforço cognitvo, propositivo e mais envolvimento dos vários setores da sociedade, com fomento a parcerias.