SAÚDE EM REDE

Entrevista - Christiano Ramos afirma que nova geração perdeu medo da Aids

Militante da luta contra a doença, o presidente da ONG Amigos da Vida concede entrevista à Fundação Assis Chateaubriand e fala sobre a realidade da doença, o preconceito e a necessidade de um forte trabalho de prevenção e informação para que tabus sejam desmistificados


Camila de Magalhães -

Publicação: 02/03/2015 19:00 | Atualização: 02/03/2015 19:51

1. Como você avalia a banalização da Aids?

O que muito me assusta na luta contra a Aids é que também voltou a crescer entre homossexuais adolescentes de forma significativa. Vejo muito que a internet trouxe a informação, mas criou outros problemas, como o acesso fácil ao sexo via chats. As pessoas sabem dos riscos. Mas parece que a nova geração perdeu o medo da Aids. É a doença do século, mas está muito banalizada. Isso muito me preocupa porque a única forma de frear a epidemia é atuar na prevenção.

2. Quais são os outros inimigos da doença, na sua opinião?

 

Hoje o maior inimigo da Aids é o preconceito. Uma grande preocupação relacionada ao preconceito é a morte social. Muitos pacientes não revelam a sorologia com medo de perder emprego, ser discriminado, perder convívio social. Temos várias ações contra empresas que demitiram funcionários em função da sorologia.

Derrubamos editais de emprego que pediam teste de sorologia. As pessoas com HIV têm vida normal e podem exercer qualquer função. Neste biênio 2015-2016, vamos trabalhar uma campanha chamada Mostre-se para viver, para que as pessoas possam revelar sua sorológica e viver igual aos demais. Só não pode dividir objetos perfuro-cortantes e pessoais.

3. De que forma é possível desmistificar tantos tabus?

A melhor arma contra o HIV é a informação, ela desmistifica tabus, mostra a realidade vivida hoje com o HIV-Aids. Usamos a internet e as redes sociais como ferramenta para levar a informação de forma universal. Não é só focar no uso da camisinha. As pessoas sabem da necessidade, mas não usam porque não querem. Não tem desculpa, a distribuição de preservativos está ao alcance de todos. Isso me preocupa porque a única forma de parar a Aids é com prevenção, informando como se pega, o que pode e o que não pode fazer. As dúvidas são grandes, inclusive com sexo oral.

4. Que tipo de ações geram mais impacto para jovens?

Para levar informação a essa nova geração de adolescentes e mudar essa realidade, utilizamos ações culturais que geram maior impacto, como exposições, revistinhas e palestras. Como esses jovens não viram tantas pessoas morrendo na década de 1980, acham que é uma doença com tratamento simples. Mas precisam saber que tomar a medicação não é fácil, tem efeitos colaterais fortes, aumenta o colesterol, pode dar diabetes. A Aids está controlada, mas não tem cura. Não pensem que viver com Aids é fácil. O tratamento inclui um coquetel de alta toxicidade, que fica 24 horas na corrente sanguínea. Não é como um tratamento para gripe.