ESPAÇO CHATÔ

Entrevista - Andréia Porto fala sobre a exposição Trans-feridas-marcas

Obras da artista brasiliense ficam em cartaz no Espaço Chatô até 20 de março


Camila de Magalhães -

Publicação: 18/03/2015 11:46 | Atualização: 18/03/2015 11:54

Andréia Porto: 'O trabalho é colorido, tem muitas questões para se refletir. Todo mundo tem um ponto para se identificar' (Camila de Magalhães/FAC/D.A Press)
Andréia Porto: 'O trabalho é colorido, tem muitas questões para se refletir. Todo mundo tem um ponto para se identificar'
 

Fruto da nova geração artística do Distrito Federal, a exposição Trans-feridas-marcas traz ao Espaço Chatô diversas obras assinadas pela artista plástica brasiliense Andréia Porto. Ela mistura técnicas de desenho com canetas esferográficas e colagens. Em entrevista concedida à Fundação Assis Chateaubriand, Andréia fala sobre os significados de sua arte, inspirações e como começou sua história no mundo dos desenhos. Confira!

Por que o nome Trans-feridas-marcas?

 

São significados partidos. Seria pegar o que dói, magoa e não satisfaz, e transferir isso para uma tela. A ideia é refletir a história dos sentimentos. No decorrer da vida, a gente traz muitas marcas, vamos experimentando muitas coisas. E esse experimentar deixa marcas. Muitos desenhos têm redemoinhos, parece uma tridimensionalidade, mas são marcas. São cortes que não sangram, flutuam bolinhas que chamo de oxigênio. São marcas que a gente tem que digerir e soltar.

As bonecas são marcantes em suas obras. O que elas representam?

 

Comecei a criar as personagens em 2008. Com esse olhinho mais redondo, num cenário mais melancólico, preto e branco. Comecei a desenhá-las por questões emocionais, relacionamentos mal resolvidos. Na verdade, foi um fora mesmo. Todas tinham faces melancólicas. Depois que passou essa fase do abalo, comecei a pensar nas questões de infância, no ambiente escolar. Aquele sentimento de que se eu fosse adulta, não faria.

 

 (Camila de Magalhães/FAC/D.A Press)
Continuei no ambiente melancólico, mas com os micos de infância, com roupas extravagantes de quadrilha, aquelas apresentações de teatro horríveis, que a gente fica super envergonhado, mas acaba fazendo. Muito depois, numa evolução, fiz alguns quadrinhos preto e branco. Fazia num papel pequeno, como se fossem cartões. De repente, houve a necessidade de aumentar as figuras para um papel maior. E veio também a cor e a questão da transformação, com as borboletas, a lagarta, a história da metamorfose.

E qual é a relação com a natureza?

São vários sentidos, de cor, de personalidade, de fases da vida. A questão dos raminhos, gosto muito da linha que faz a evolução do mais rígido, do mais frágil. Eu observo muito a natureza, a própria raiz, que dá a possibilidade de começar com um raminho bem fininho, que vai alargando. Trabalho com arabesco numa imitação do natural da raiz, do desenho da casca da árvore. Vou misturando para ver o que dá. Fui misturando cores, colocando colagens e gostei.

Como começou a sua história com a arte?

Comecei a faculdade de artes por influência de uma professora no ensino fundamental. No 7º ano, eu passei por um tratamento quimioterápico por causa de uma leucemia. Até então, eu era muito danada, bagunceira. Mas me transformei. Quando passei por toda essa fase, fiquei meio receosa de voltar para o ambiente, não tinha a minha fisionomia de antes e fiquei em um cantinho. Comecei a desenhar, copiar figurinhas de chiclete.

Tive uma professora que apresentava para a gente a história de arte. Eu ficava fascinada com os desenhos e pinturas, mas não imaginava o que eu poderia estudar. Me apaixonei porque gostava muito de história. Decidi que queria fazer artes. Acabei me matriculando no curso da Faculdade Dulcina de Morais. Percebi que a arte não era só o estudo do contexto histórico. Fazer arte era uma coisa muito pessoal. É uma sensação que só quem produz artes sabe, é algo muito íntimo, muito pessoal, tem muitos significados. A compreensão é um processo só seu.

Qual é a importância do incentivo de espaço culturais como o Espaço Chatô para apresentar sua arte ao público?

 

Esses espaços são significativos porque a gente quer ser percebido como artista e poucos espaços fazem isso. A gente tem vários espaços, mas poucos que pensam no artista de casa, com uma forma de igualdade. Este é um início de reconhecimento. É um trabalho meu, significativo para mim, e tenho a possibilidade de mostrar para outros.
Pode ser agora uma exposição, pode ser o início de uma história e é legal a gente participar disso. O trabalho é colorido, tem muitas questões para se refletir. Todo mundo tem um ponto para se identificar. Basta querer olhar, apreciar e refletir algo significativo para si.

 

Exposição Trans-feridas-marcas | Por Andréia Porto
De 4 a 20 de março de 2015
Visitação de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h
Espaço Chatô – SIG Quadra 2 lote 340, térreo do bloco 1, Brasília-DF

Entrada gratuita. Classificação livre.
Informações: (61) 3214-1350


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