Arte marcial não competitiva, Aikido cresce, mas ainda atrai poucas mulheres
Está na hora de mudar isso. Saiba mais sobre o Aikido, arte marcial japonesa que não inclui em seu vocabulário a agressão, a competição e a subjugação do outro
Letícia Orlandi - Saúde Plena
Publicação:28/05/2013 08:45Atualização: 31/07/2013 15:13
Pressão para conseguir encaixar um golpe, ganhar cada ponto e vencer a luta. Lutar pelo primeiro, segundo e terceiro lugares. Derrotar o adversário. Competir para ser o melhor de uma categoria. Nada disso define o Aikido, arte marcial não competitiva criada no Japão na década de 1940 pelo mestre Morihei Ueshiba (1883-1969).
Embora exija precisão de movimentos e rigor técnico, o Aikido não é um esporte de rendimento ou de competição. Bem, na verdade, você compete: com você mesmo. Muito utilizado no treinamento de corporações policiais e em cursos de defesa pessoal, é uma atividade que começou com os homens, mas que hoje é mais praticada pelas mulheres. Só que no Japão. No Brasil, essa realidade é bem diversa, com predominância masculina.
Em Belo Horizonte, uma das opções para a prática de Aikido é o Bu Toku Den (casa das virtudes da guerra), no Bairro Prado, coordenado por Alcino Lagares Côrtes Costa, coronel da Reserva da Polícia Militar, professor de Educação Física e de Filosofia e sensei de Aikido faixa preta 4.º Dan (saiba mais aqui) e pelo filho dele, Rômulo Lagares de Souza Cortes, faixa preta 3º Dan. No tatami, é possível encontrar perfis bem diferentes entre os alunos e os aspirantes.
Formada no Teatro Universitário da UFMG em 2012, Idylla Silmarovi foi à aula experimental de Aikido por indicação de um amigo. Ela praticou Kung Fu durante 10 meses, mas o mestre mudou de cidade e ela ficou ‘órfã’. “Acho que a arte marcial tem relação direta com meu trabalho de atriz, com o controle da energia, a resistência corporal e a mudança de estado”, explica Idylla. Junto com ela, o namorado André Campos, estudante de Ciências Sociais. “Vim pela curiosidade e pela filosofia da arte marcial, mais do que pela atividade física. E também pelas técnicas de defesa pessoal”, afirma.
Já o profissional de Marketing Max Lothian Porto, de 40 anos, que começou a praticar o Aikido em meados de maio, buscou a atividade pela necessidade de um esporte regular e também pela vontade, desde os tempos da infância, de praticar uma arte marcial. “Meu primeiro contato com Aikido foi pelos filmes do Steven Seagal (clique para saber mais). A partir daí, pesquisei e assisti a alguns vídeos na internet. Finalmente, agora tenho a oportunidade e o tempo para realizar esse desejo”, explica Max. Além dele, uma estudante de 15 anos e um policial do Departamento de Homicídios também estão na turma, mas vamos conhecê-los mais adiante.
Rômulo explica que o Aikido tem como princípio a integração entre corpo, mente e espírito. Bem, você já deve ter ouvido essa promessa em outros lugares, mas como ela fuciona aqui? É simples, mas nem por isso fácil. O espírito, neste caso, nada tem a ver com esoterismo ou religião, e sim com a força de vontade para decidir começar algo. Se você está acomodado na mesma situação há algum tempo e tem dificuldade em sair disso, talvez o Aikido seja o seu lugar. “É necessário renovar esse voto, essa decisão, todos os dias. Se você repete sempre uma coisa boa, isso vai se fortalecendo dentro de você. Por isso sempre lembramos de uma virtude – a humildade – e nos ajoelhamos antes de entrar no dojo (local onde se treinam artes marciais japonesas)”, define Lagares.
O foco não está na rapidez; e sim no desenvolvimento constante. “O Aikido é o caminho para equilibrar a energia vital. Segundo seu criador, a arte marcial disciplina a mente para harmonizar o movimento do universo por meio do exercício do corpo”, resume o sensei. O novato Max parece já ter pegado o espírito da coisa: “é uma arte marcial muito completa e, ao mesmo tempo, muito suave. O praticante não precisa ter força física e serve para qualquer pessoa, criança, homem, mulher, idoso... Aplicamos princípios dinâmicos, físicos, filosóficos e naturais. Um exemplo: você se movimenta como uma árvore ao vento, que não pode ser quebrada, por ser flexível, mesmo contra a mais forte tempestade. Ela sabe se dobrar e acompanhar o movimento do vento”, ensina o aluno, pelo visto mais um apaixonado pelo Aikido.
Desenvolvimento social
Para além da técnica, o Aikido tem desdobramentos no tecido social. Aliás, ele é considerado o ápice da evolução humanitária de uma arte marcial. Seus praticantes acreditam que, quanto mais tolerância e respeito, mais benefícios a sociedade terá. Óbvio, não? “Há um respeito muito grande entre os praticantes, entre os alunos e professores, e também em relação ao espaço. Fazemos uma reverência ao criador da arte, que tem sua foto colocada na parede do dojo - e aos princípios e técnicas ensinados”, comenta o aluno Max.
Daí a grande aplicabilidade do Aikido para formação de forças policiais. “Os princípios do Aikido não incluem a derrota sobre o outro ser humano. A vitória não vem da subjugação do outro. A verdadeira vitória, a definitiva, é sobre si próprio. A evolução vem da fortaleza interior, não da fraqueza alheia”, diz o sensei. O Bu Toku Den de Belo Horizonte é o único a oferecer essa formação aos guardas municipais da capital mineira, além de já formar boa parte dos policiais militares e, agora, está chegando aos poucos à Polícia Civil.
Na técnica ensinada aos guardas e policiais, o objetivo é neutralizar o indivíduo que estiver em situação de risco ou impondo uma situação de risco. “Ensinamos que a maior eficácia da ação depende de zelar pela integridade do ser humano”, define o sensei. Alcino Lagares, presidente da Federação Mineira de Aikido, foi o responsável por incluir, em 2002, esses princípios na Política Nacional de Segurança Pública.
Fabiano José de Assis Júnior é policial civil do Departamento de Homicídios e pratica Aikido há oito anos. Ele é faixa preta 1° Dan. As artes marciais estão na vida dele desde sempre. O pai praticava Jiu-jitsu e, por essa influência, ele se interessou também pelo Taekwondo, que praticou durante 13 anos. Mas, para sua rotina profissional, encontrou no Aikido um grande aliado. “É uma arte marcial que nos ensina a vencer a violência, e não o cidadão. Ensina a neutralizar a atitude violenta, sem ferir ou subjugar. Isso me deixa mais seguro e mais tranquilo”, afirma Fabiano.
Ele conta que já usou as técnicas do Aikido algemar pessoas detidas e também para um ‘salvamento’. “Uma vez, estava passando por um viaduto no centro de Belo Horizonte e vi uma pessoa pendurada. Em princípio, imaginei que seria alguém instalando uma faixa. Depois, vi que se tratava de um cidadão, alterado pelo álcool, que ameaçava se jogar. Parei o carro, liguei o giroflex (luzes de alerta da viatura) para sinalizar e, com as técnicas de imobilização que aprendi, consegui retirá-lo de lá sem que ninguém se machucasse”, relata.
Prova de que arte marcial está no sangue é que, há três anos e meio, a filha de Fabiano começou a frequentar as aulas. “Para completar os benefícios que eu já tinha, a presença dela aqui estreitou nossos laços, melhorou nossa comunicação e nos tormou mais amigos. Além disso, fico um pouco mais seguro por ela saber se defender”, comemora o policial.
A estudante Larissa Oliveira de Assis, de 15 anos, não hesita em reconhecer que era muito nervosa e gritava com as pessoas próximas por motivos banais. Além disso, se alimentava mal, comendo ‘porcarias’ – salgadinhos, refrigerante, doces. “Quando dizem que Aikido é melhor para o corpo e mente, é verdade. Além de me sentir mais segura e calma, hoje não tenho mais anemia – os exames de sangue estão normais”, revela a estudante, que passou a se alimentar de forma balanceada e saudável.
Larissa só tem uma frustração: não consegue convencer as amigas a serem suas colegas de Aikido. “Acho que é por preconceito e desconhecimento. Elas acham que é uma luta e pronto; e não uma arte marcial de não violência”, define, mostrando, com a pouca idade, a segurança pregada pelo sensei nas aulas. Mas ela não desiste e, no Facebook, tenta incentivar as desconfiadas.
Indicações
Antes dos 8, quando a criança ainda está formando suas articulações, a prática não é indicada. Mas a partir daí, está liberada para todos. Pela natureza do Aikido, não há um grande choque inicial e não há necessidade de separar os alunos de diferentes níveis. Mas os iniciantes são acompanhados com cuidado redobrado e não há imposição de um ritmo.
A técnica é indicada também para bailarinos profissionais em busca de melhor postura, tonificação de músculos, atenção aos movimentos e respiração e combate ao stress. Outro benefício da prática é o desenvolvimento da atenção difusa. Com o tempo, sem desviar o olhar, o aluno é capaz de perceber a posição dos pés, das mãos, do tronco e também o olhar do outro, antecipando a intenção do movimento seguinte.
Para o calouro Max, os ensinamentos podem ajudar a controlar o temperamento e melhorar as relações interpessoais. “Além da flexibilidade, do condicionamento físico, da função cardiorrespiratória, de fortalecimento das juntas ósseas, do controle postural e da concentração. Agora neste início, tenho algumas dificuldades para executar os movimentos, desde o aquecimento e até mesmo como sentar em cima dos próprios pés, em posição de reverência. Mas todos me asseguraram que isso é passageiro”, detalha o aluno.
“Eu sei que o caminho é longo e não é fácil, mas como o próprio sensei serenamente me explicou, é um processo contínuo, que ele tenta trilhar até hoje também, mesmo com tantos anos de experiência. O negócio é persistir e trilhar esse caminho de autoconhecimento e conhecimento do outro da melhor forma possível”, resume.
Para os alunos iniciantes, o traje é o quimono. A partir da faixa marrom, para homens; e da faixa laranja, para mulheres, usa-se uma calça-saia preta (veja nas fotos) sobre ele.
É um traje tradicional, com vincos que representam as virtudes samurais, mas sua função não é só estética. “Ele ajuda a camuflar o movimento dos pés e pressiona o centro psicofísico do corpo, localizado quatro dedos abaixo do umbigo. Quando você passa a ver o mundo a partir daí, você se torna mais forte, percebe melhor o fluxo de energia e dá mais importância a esse centro do que ao coração, por exemplo”, explica Rômulo.
Sempre tive dificuldades com lutas, porque me sinto desconfortável em bater nas outras pessoas. Simples assim. Por mais que um esporte vinculado à luta não seja uma agressão gratuita – existe todo o conceito do esporte, claro - , já havia passado por outras aulas e não consegui me adaptar. Mas não se preocupem – vou, sim, fazer aulas de boxe e afins aqui nesta série Manual do Iniciante.
Mas o que me encanta no Aikido é isso. A possibilidade de se defender, sem agredir. Isso é lindo, gente! Aquele que, em outras lutas, seria um adversário a ser subjugado, aqui é alguém cuja energia será utilizada para executar o golpe com precisão.
Por outro lado, a violência contra a mulher assusta muito. Segundo a Organização das Nações Unidas, cerca de 70% das mulheres sofrerão algum tipo de violência no decorrer de sua vida. E, de acordo com o Banco Mundial, as mulheres de 15 a 44 anos correm mais risco de sofrer estupro e violência doméstica do que de câncer, acidentes de carro, guerra e malária.
Ninguém deve reagir a um assalto. Os órgãos de segurança pública dão conta de que 80% das vítimas que reagem contra criminosos armados acabam baleadas. Mas e em situações de agressão sexual e de violência doméstica, quando o bandido – ainda que seja uma pessoa conhecida – não está armado?
Não consigo parar de pensar nisso, ainda mais depois que uma pessoa querida foi atacada na rua quando ia para o trabalho. Por pouco o pior não aconteceu; e por sorte o agressor desistiu diante dos gritos da vítima. Imediatamente imaginei: e se fosse comigo? Será que eu conseguiria controlar minha reação, meu medo e minhas atitudes?
Em seguida, pensei sobre a aula de Aikido que havia acabado de fazer, pensei na paixão com que todos encaram a arte marcial. E percebi também que poderia ser uma forma de adquirir algumas habilidades que vejo em outra pessoa querida – que, não por acaso, é sensei de aikido e pratica a arte marcial há nove anos.
Se, como ouvi durante as aulas, o que importa não é o jeito de mover os pés, e sim como a sua mente caminha, alguém que “não consegue parar de pensar” sobre alguma coisa pode fazer uso desses princípios, não é?
Quer ir também?
O quê? Aikido
Onde? BuTokuDen - Rua Ituiutaba, 363, Prado - próximo à Academia De Polícia Militar (www.aikidomg.com.br)
Preço? Taxa de matrícula de R$50 e mensalidade de R$136, podendo fazer no minimo três horários. O sensei Rômulo Lagares brinca que, se a pessoa quiser, dá para fazer até 16 x por semana.
Investimento em equipamentos? Para a aula experimental, basta uma roupa confortável, que não impeça movimento de braços e pernas. Mas o aluno regular deve adquirir o quimono, que custa entre R$100 e R$150, em lojas especializadas, como a Shiroi, na Rua Barão de Cocais, 144 - Sagrada Família (31 3463-3535 ou 2552-7335).
Os quimonos de Judô e Karatê também podem ser usados, mas o de Taekwondo, por exemplo, que é mais fino, não suporta a pegada.
Pré-requisitos: Ter mais de 8 anos de idade
Contraindicações: Ter menos de 8 anos de idade
Dicas: Limpar a cabeça de pensamentos negativos e adotar uma nova atitude durante a aula. Assim como o iniciante Max, tive dificuldade em realizar alguns movimentos e em ficar sentada da maneira correta, mas percebi claramente que o problema estava na forma como eu estava pensando sobre cada técnica. Os senseis me chamaram a atenção, durante alguns movimentos, para adotar uma atitude positiva.
Avaliação final: Ainda que você esteja aplicando um golpe que vai derrubar alguém, o clima da aula de Aikido é de uma grande família. Ainda que você esteja tentando imobilizar seu parceiros de luta, a sensação é de acolhimento. A avaliação final é de “pessoa melhor”. Domo Arigato Gozai Mashita, amigos do Aikido.
Muito utilizado no treinamento de corporações policiais e em cursos de defesa pessoal, o Aikido reúne perfis bem diferentes
Pressão para conseguir encaixar um golpe, ganhar cada ponto e vencer a luta. Lutar pelo primeiro, segundo e terceiro lugares. Derrotar o adversário. Competir para ser o melhor de uma categoria. Nada disso define o Aikido, arte marcial não competitiva criada no Japão na década de 1940 pelo mestre Morihei Ueshiba (1883-1969).
Embora exija precisão de movimentos e rigor técnico, o Aikido não é um esporte de rendimento ou de competição. Bem, na verdade, você compete: com você mesmo. Muito utilizado no treinamento de corporações policiais e em cursos de defesa pessoal, é uma atividade que começou com os homens, mas que hoje é mais praticada pelas mulheres. Só que no Japão. No Brasil, essa realidade é bem diversa, com predominância masculina.
Veja mais fotos da aula de Aikido
Em Belo Horizonte, uma das opções para a prática de Aikido é o Bu Toku Den (casa das virtudes da guerra), no Bairro Prado, coordenado por Alcino Lagares Côrtes Costa, coronel da Reserva da Polícia Militar, professor de Educação Física e de Filosofia e sensei de Aikido faixa preta 4.º Dan (saiba mais aqui) e pelo filho dele, Rômulo Lagares de Souza Cortes, faixa preta 3º Dan. No tatami, é possível encontrar perfis bem diferentes entre os alunos e os aspirantes.
Formada no Teatro Universitário da UFMG em 2012, Idylla Silmarovi foi à aula experimental de Aikido por indicação de um amigo. Ela praticou Kung Fu durante 10 meses, mas o mestre mudou de cidade e ela ficou ‘órfã’. “Acho que a arte marcial tem relação direta com meu trabalho de atriz, com o controle da energia, a resistência corporal e a mudança de estado”, explica Idylla. Junto com ela, o namorado André Campos, estudante de Ciências Sociais. “Vim pela curiosidade e pela filosofia da arte marcial, mais do que pela atividade física. E também pelas técnicas de defesa pessoal”, afirma.
Ídylla chegou ao Aikido motivada pela carreira de atriz. Ela trouxe o namorado André, mais interessado em aprender técnicas de defesa pessoal
Já o profissional de Marketing Max Lothian Porto, de 40 anos, que começou a praticar o Aikido em meados de maio, buscou a atividade pela necessidade de um esporte regular e também pela vontade, desde os tempos da infância, de praticar uma arte marcial. “Meu primeiro contato com Aikido foi pelos filmes do Steven Seagal (clique para saber mais). A partir daí, pesquisei e assisti a alguns vídeos na internet. Finalmente, agora tenho a oportunidade e o tempo para realizar esse desejo”, explica Max. Além dele, uma estudante de 15 anos e um policial do Departamento de Homicídios também estão na turma, mas vamos conhecê-los mais adiante.
Rômulo explica que o Aikido tem como princípio a integração entre corpo, mente e espírito. Bem, você já deve ter ouvido essa promessa em outros lugares, mas como ela fuciona aqui? É simples, mas nem por isso fácil. O espírito, neste caso, nada tem a ver com esoterismo ou religião, e sim com a força de vontade para decidir começar algo. Se você está acomodado na mesma situação há algum tempo e tem dificuldade em sair disso, talvez o Aikido seja o seu lugar. “É necessário renovar esse voto, essa decisão, todos os dias. Se você repete sempre uma coisa boa, isso vai se fortalecendo dentro de você. Por isso sempre lembramos de uma virtude – a humildade – e nos ajoelhamos antes de entrar no dojo (local onde se treinam artes marciais japonesas)”, define Lagares.
O sensei Rômulo Lagares: integração entre corpo, mente e espírito
Desenvolvimento social
Para além da técnica, o Aikido tem desdobramentos no tecido social. Aliás, ele é considerado o ápice da evolução humanitária de uma arte marcial. Seus praticantes acreditam que, quanto mais tolerância e respeito, mais benefícios a sociedade terá. Óbvio, não? “Há um respeito muito grande entre os praticantes, entre os alunos e professores, e também em relação ao espaço. Fazemos uma reverência ao criador da arte, que tem sua foto colocada na parede do dojo - e aos princípios e técnicas ensinados”, comenta o aluno Max.
Saiba mais...
E como isso se manifesta na prática? Harmonização de conflitos. “De forma diferente de outras lutas, que acabam se identificando com ações violentas, o Aikido está focado nas virtudes do Budô, ou seja, a guerra contra a violência. Não bloqueamos a agressão. E não revidamos. O objetivo dos golpes é conduzir essa energia agressiva para formar seres humanos melhores”, confirma Rômulo.-
Veja mais fotos
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Daí a grande aplicabilidade do Aikido para formação de forças policiais. “Os princípios do Aikido não incluem a derrota sobre o outro ser humano. A vitória não vem da subjugação do outro. A verdadeira vitória, a definitiva, é sobre si próprio. A evolução vem da fortaleza interior, não da fraqueza alheia”, diz o sensei. O Bu Toku Den de Belo Horizonte é o único a oferecer essa formação aos guardas municipais da capital mineira, além de já formar boa parte dos policiais militares e, agora, está chegando aos poucos à Polícia Civil.
Na técnica ensinada aos guardas e policiais, o objetivo é neutralizar o indivíduo que estiver em situação de risco ou impondo uma situação de risco. “Ensinamos que a maior eficácia da ação depende de zelar pela integridade do ser humano”, define o sensei. Alcino Lagares, presidente da Federação Mineira de Aikido, foi o responsável por incluir, em 2002, esses princípios na Política Nacional de Segurança Pública.
A estudante Larissa e o pai, o policial Fabiano: prática da arte marcial estreitou laços
Ele conta que já usou as técnicas do Aikido algemar pessoas detidas e também para um ‘salvamento’. “Uma vez, estava passando por um viaduto no centro de Belo Horizonte e vi uma pessoa pendurada. Em princípio, imaginei que seria alguém instalando uma faixa. Depois, vi que se tratava de um cidadão, alterado pelo álcool, que ameaçava se jogar. Parei o carro, liguei o giroflex (luzes de alerta da viatura) para sinalizar e, com as técnicas de imobilização que aprendi, consegui retirá-lo de lá sem que ninguém se machucasse”, relata.
Prova de que arte marcial está no sangue é que, há três anos e meio, a filha de Fabiano começou a frequentar as aulas. “Para completar os benefícios que eu já tinha, a presença dela aqui estreitou nossos laços, melhorou nossa comunicação e nos tormou mais amigos. Além disso, fico um pouco mais seguro por ela saber se defender”, comemora o policial.
A estudante Larissa Oliveira de Assis, de 15 anos, não hesita em reconhecer que era muito nervosa e gritava com as pessoas próximas por motivos banais. Além disso, se alimentava mal, comendo ‘porcarias’ – salgadinhos, refrigerante, doces. “Quando dizem que Aikido é melhor para o corpo e mente, é verdade. Além de me sentir mais segura e calma, hoje não tenho mais anemia – os exames de sangue estão normais”, revela a estudante, que passou a se alimentar de forma balanceada e saudável.
Larissa só tem uma frustração: não consegue convencer as amigas a serem suas colegas de Aikido. “Acho que é por preconceito e desconhecimento. Elas acham que é uma luta e pronto; e não uma arte marcial de não violência”, define, mostrando, com a pouca idade, a segurança pregada pelo sensei nas aulas. Mas ela não desiste e, no Facebook, tenta incentivar as desconfiadas.
Ainda alvo de preconceito no Brasil, o Aikido, no Japão, é mais praticado por mulheres. Larissa faz sua parte e tenta mobilizar as amigas nas redes sociais
Indicações
Antes dos 8, quando a criança ainda está formando suas articulações, a prática não é indicada. Mas a partir daí, está liberada para todos. Pela natureza do Aikido, não há um grande choque inicial e não há necessidade de separar os alunos de diferentes níveis. Mas os iniciantes são acompanhados com cuidado redobrado e não há imposição de um ritmo.
A técnica é indicada também para bailarinos profissionais em busca de melhor postura, tonificação de músculos, atenção aos movimentos e respiração e combate ao stress. Outro benefício da prática é o desenvolvimento da atenção difusa. Com o tempo, sem desviar o olhar, o aluno é capaz de perceber a posição dos pés, das mãos, do tronco e também o olhar do outro, antecipando a intenção do movimento seguinte.
A postura correta sobre o tatami, que inicialmente incomoda os novatos, invoca postura e humildade
Para o calouro Max, os ensinamentos podem ajudar a controlar o temperamento e melhorar as relações interpessoais. “Além da flexibilidade, do condicionamento físico, da função cardiorrespiratória, de fortalecimento das juntas ósseas, do controle postural e da concentração. Agora neste início, tenho algumas dificuldades para executar os movimentos, desde o aquecimento e até mesmo como sentar em cima dos próprios pés, em posição de reverência. Mas todos me asseguraram que isso é passageiro”, detalha o aluno.
Max Porto: sonho de praticar uma arte marcial
Para os alunos iniciantes, o traje é o quimono. A partir da faixa marrom, para homens; e da faixa laranja, para mulheres, usa-se uma calça-saia preta (veja nas fotos) sobre ele.
É um traje tradicional, com vincos que representam as virtudes samurais, mas sua função não é só estética. “Ele ajuda a camuflar o movimento dos pés e pressiona o centro psicofísico do corpo, localizado quatro dedos abaixo do umbigo. Quando você passa a ver o mundo a partir daí, você se torna mais forte, percebe melhor o fluxo de energia e dá mais importância a esse centro do que ao coração, por exemplo”, explica Rômulo.
Antes de começar a aula, é importante fazer a reverência ao mestre Morihei Ueshiba e aos princípios do Aikido, além de agradecer pela oportunidade
Mas o que me encanta no Aikido é isso. A possibilidade de se defender, sem agredir. Isso é lindo, gente! Aquele que, em outras lutas, seria um adversário a ser subjugado, aqui é alguém cuja energia será utilizada para executar o golpe com precisão.
Por outro lado, a violência contra a mulher assusta muito. Segundo a Organização das Nações Unidas, cerca de 70% das mulheres sofrerão algum tipo de violência no decorrer de sua vida. E, de acordo com o Banco Mundial, as mulheres de 15 a 44 anos correm mais risco de sofrer estupro e violência doméstica do que de câncer, acidentes de carro, guerra e malária.
Ninguém deve reagir a um assalto. Os órgãos de segurança pública dão conta de que 80% das vítimas que reagem contra criminosos armados acabam baleadas. Mas e em situações de agressão sexual e de violência doméstica, quando o bandido – ainda que seja uma pessoa conhecida – não está armado?
Não consigo parar de pensar nisso, ainda mais depois que uma pessoa querida foi atacada na rua quando ia para o trabalho. Por pouco o pior não aconteceu; e por sorte o agressor desistiu diante dos gritos da vítima. Imediatamente imaginei: e se fosse comigo? Será que eu conseguiria controlar minha reação, meu medo e minhas atitudes?
Em seguida, pensei sobre a aula de Aikido que havia acabado de fazer, pensei na paixão com que todos encaram a arte marcial. E percebi também que poderia ser uma forma de adquirir algumas habilidades que vejo em outra pessoa querida – que, não por acaso, é sensei de aikido e pratica a arte marcial há nove anos.
Se, como ouvi durante as aulas, o que importa não é o jeito de mover os pés, e sim como a sua mente caminha, alguém que “não consegue parar de pensar” sobre alguma coisa pode fazer uso desses princípios, não é?
Quer ir também?
Para os alunos iniciantes, o traje é o quimono. A partir da faixa marrom, para homens; e da faixa laranja, para mulheres, usa-se uma calça-saia preta
Onde? BuTokuDen - Rua Ituiutaba, 363, Prado - próximo à Academia De Polícia Militar (www.aikidomg.com.br)
Preço? Taxa de matrícula de R$50 e mensalidade de R$136, podendo fazer no minimo três horários. O sensei Rômulo Lagares brinca que, se a pessoa quiser, dá para fazer até 16 x por semana.
Investimento em equipamentos? Para a aula experimental, basta uma roupa confortável, que não impeça movimento de braços e pernas. Mas o aluno regular deve adquirir o quimono, que custa entre R$100 e R$150, em lojas especializadas, como a Shiroi, na Rua Barão de Cocais, 144 - Sagrada Família (31 3463-3535 ou 2552-7335).
Os quimonos de Judô e Karatê também podem ser usados, mas o de Taekwondo, por exemplo, que é mais fino, não suporta a pegada.
Pré-requisitos: Ter mais de 8 anos de idade
Contraindicações: Ter menos de 8 anos de idade
Dicas: Limpar a cabeça de pensamentos negativos e adotar uma nova atitude durante a aula. Assim como o iniciante Max, tive dificuldade em realizar alguns movimentos e em ficar sentada da maneira correta, mas percebi claramente que o problema estava na forma como eu estava pensando sobre cada técnica. Os senseis me chamaram a atenção, durante alguns movimentos, para adotar uma atitude positiva.
Avaliação final: Ainda que você esteja aplicando um golpe que vai derrubar alguém, o clima da aula de Aikido é de uma grande família. Ainda que você esteja tentando imobilizar seu parceiros de luta, a sensação é de acolhimento. A avaliação final é de “pessoa melhor”. Domo Arigato Gozai Mashita, amigos do Aikido.
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